sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A ANALOGIA DO CORPO




Efésios 5:22-24

O apóstolo nos dá dois grandes motivos particulares pelos quais as esposas devem sujeitar-se a seus maridos. consideramos o primeiro deles, segundo o qual esta questão pertence à ordem da natureza. Diz ele: “Porque o marido é a cabeça da mulher”; Deus ordenou isto quando fez o homem e a mulher no princípio; e vimos como o Novo Testamento não só confirma isso, mas constantemente retorna a essa ordenança original de Deus.
Ora, nisso tudo ainda não dissemos nada de peculiar e especificamente cristão. Que se trata de ensino do Velho Testamento, todos devem reconhecer, sejam cristãos ou não. Isto é uma ordenação de Deus com relação à integralidade da vida. Assim como reconhecemos a família, devemos reconhecer isto. O Deus que ordenou a família ordenou o casamento; e assim como devemos sujeitar-nos ao estado devemos dar ouvidos a esta fundamental ordenação de Deus quanto às posições relativas dos esposos e das esposas, e ao relacionamento que deve substituir entre eles. Pois bem, até aqui tudo isso é geral. O fato de sermos cristãos não significa que não temos necessidade do Velho Testamento. Ele continua sendo um alicerce; edificamos sobre ele; é por isso que o apóstolo o coloca em primeiro lugar.
Mas agora ele passa ao seu segundo motivo, peculiarmente cristão: “O marido é a cabeça da mulher”. Em seguida vem o acréscimo cristão: “como também Cristo é a cabeça da igreja”. Isto nos leva mais adiante; não elimina; primeiro, mas lhe acrescenta algo, e na verdade nos ajuda a entender o primeiro É isso que a fé cristã faz com relação à vida, em todos os seus aspectos. Só o cristão pode apreciar realmente a vida em geral neste mundo. Quero dizer que em última análise, somente o cristão pode realmente desfrutar a natureza. O cristão vê a natureza de maneira diferente do homem do mundo. Há urra novidade aqui. Ele não vê apenas a coisa em si; vê o grande Criador e a maravilha dos Seus métodos, a variedade, a cor, a beleza. Noutras palavras, ser um cristão significa que toda a perspectiva da vida é enriquecida. Não importa qual seja, todo e qualquer dom que o homem possua e que manifeste, só poderá ser verdadeiramente apreciado pelo cristão. Ele enxerga com maior profundi­dade, tem entendimento mais completo. Isto é, a mensagem cristã não apenas nescenta algo ao que já tínhamos, mas enriquece o que tínhamos e nos dá um rscemimento mais profundo disso. Aqui veremos que este acréscimo especi­ficamente cristão não somente nos ajuda a compreender a ordem da natureza já estabelecida, mas, além e acima disso, acrescenta uma nova qualidade, outro aspecto, por assim dizer, outra ênfase a toda a questão.
Eis a proposição: “o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo! A cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador do corpo”. O que estamos vendo aqui é uma coisa que só o cristão pode entender; ninguém mais. A pessoa que não crê no Senhor Jesus Cristo e não conhece o caminho da salvação, obviamente não pode entender o que as Escrituras querem dizer quando afirmam: “Cristo é a cabeça do corpo, que é a igreja”. Não tem sentido para ela; não entende absolutamente nada disso. Portanto, tal pessoa não pode compreender este conceito especificamente cristão do casamento. Esta é uma dedução da doutrina cristã da Igreja; portanto, se a pessoa não entender a doutrina cristã da Igreja, segundo o apóstolo ela não poderá entender totalmente o conceito cristão do casamento.
Isto logo nos leva a tirar certas conclusões. A primeira é que, obviamente, fumais o cristão deve casar-se com pessoa não cristã. Lemos na Segunda Epistola aos Coríntios: “não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis” (2 Co 6:14). Indubitavelmente nós temos aí uma referência a esta questão do casamento. Se precisávamos de uma razão para aceitar a exortação em foco, temo-la aqui. Se crente se casa com não crente, a situação resultante será que um dos cônjuges terá este elevado conceito cristão do matrimônio, ao passo que o outro o ignorará completamente. Já haverá um defeito no casamento. Não serio os dois um só; não estarão entrando no novo estado da mesma maneira; já haverá uma divisão. Já haverá uma semente de discórdia, como o apóstolo o monstra naquela mesma proposição de 2 Coríntios capítulo 6.
A segunda dedução que tiro é que um serviço cristão em conexão com o casamento só é apropriado para cristãos. Este é um tema amplo, e faz parte do tema da disciplina da Igreja cristã. A situação tomou-se caótica, e às pessoas que ignoram totalmente o cristianismo é oferecida uma cerimônia nupcial religiosa cristã na qual é lida esta proposição apostólica sobre o marido como cabeça da esposa “como Cristo é a cabeça da igreja”. Isto não significa absolutamente nada para elas. Deduzo, pois, que não se deve fazer isso. Não devemos ensinar alta doutrina cristã aos não cristãos; a estes devemos pregar tão somente o arrependimento e a necessidade da fé. Eles não têm a menor possibilidade de entender a doutrina concernente ao matrimônio. A pessoa tem que estar na vida cristã antes de poder entendê-la. Portanto, eu argumento no sentido de que uma cerimônia nupcial cristã deve ser reservada única e exclusivamente para nistãos. Realizá-la para outros é fazer dela uma farsa.
Em terceiro lugar, deduzo que tal cerimônia é apropriada e correta, e deve ser admitida e dirigida quando os que se casam são cristãos. O que quero dizer e ;sto: alguns dos puritanos, há 300 anos, em sua violenta reação contra o atolicismo romano, decidiram que não deveria haver nenhum serviço religioso relacionado com o casamento. O casamento, diziam eles, não passa de um contrato legal. Pois bem, podemos muito bem entender sua reação, e esta conta com a nossa simpatia. A igreja romana ensinara (e ensina) a falsa e antibíblica idéia de que o matrimônio é sacramento, pelo que os puritanos achavam que deviam afastar-se tão longe quanto pudessem dessa idéia. Daí, não quiseram ter nenhum tipo de cerimônia religiosa. Mas, certamente, à luz do ensino dc apóstolo aqui, isso foi um erro completo! A reação foi demasiado violenta; foi tão violenta que se tornou antibíblica. Há aspectos do casamento que requerem um serviço religioso - o ensino e o entendimento desta porção particular daí Escrituras, e outros pontos. E como o ensino é que o matrimônio é uma coisa comparável à união mística entre Cristo e Sua Igreja, digo que é boa ocasiãc para culto e para uma cerimônia verdadeiramente cristã. O casamento não é apenas um contrato legal, e devemos ter todo o cuidado, como estive assinalan­do, de não permitir que pessoas cujo pensamento é errôneo governem o nossc pensamento e a nossa conduta. O cristão jamais deve ser apenas uma reação contra alguma coisa; ele deve ser positivo, deve ser bíblico. Mas há aqueles que, em sua aversão ao catolicismo romano, vão tão longe para o outro lado que acabam negando as próprias Escrituras que dizem defender.
Contudo, permitem-me asseverar que, embora o conceito cristão do casamento sugira aquelas três coisas, não ensina aqui, nem em nenhum outra lugar, como os católicos romanos ensinam, que o matrimônio é um sacramen:: Não há nenhum ensino, em parte alguma da Bíblia, que dê apoio a essa idéia. Desafio quem quer que sej a a mostrar uma passagem das Escrituras que o faça. O matrimônio não é sacramento. Então, qual é o ensino? E aquele que é dac: aqui, a saber, esta idéia da união mística. A relação entre marido e mulher, e entre mulher e marido, é comparável à relação entre Cristo e a Igreja, e a Igreja e Cristo. Para nosso conforto, o apóstolo diz mais tarde: “Grande é este mistério!” A relação entre Cristo e a Igreja é um mistério. É um fato, mas é u~ grande mistério - esta união mística entre a Igreja e Cristo, e o crente individual e Cristo. Mas, sendo um fato, devemos procurar entendê-lo cada vez mais. Paulo afirma que a relação entre marido e esposa, e esposa e marido, fl comparável a esse fato. Pertence a essa ordem, e essa é a maneira pela qual devemos começar a pensar nela. Aqui somos introduzidos na esfera desta ala doutrina concernente à Igreja cristã.
O apóstolo, com sua mente lógica, sabe que não deve haver dificuldade sobre isso nas mentes destes efésios, porque já os ensinara sobre essa mes doutrina. Ele o fizera no capítulo primeiro da epístola, onde, no fim, ele ora sentido de que eles conheçam “a sobreexcelente grandeza do seu poder” — d: poder de Deus para com eles. Explica que se trata do poder que Deus “manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos... E sujeitou todas as coisa; a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos”. Lá Paulo os introduzira na doutrina da Igreja; aqui ele a está aplicando. Quem corre para o fim da epístola sem ler o começo, sempre erra. O que temos aqui são deduções. Ele fizera a mesma coisa de novo, e acrescentara um pouco mais à definição, me capítulo 4, versículos 15 e 16, onde lemos: “Antes, seguindo a verdade em raridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de ele extrai esse ensino para que eles possam compreender a verdadeira natureza do casamento cristão.
Qual é o ponto? É essencialmente este: ele está salientado a união orgânica, a união vital, a relação íntima. Ele se referira a “ligações de supri­mento” (lit., grego) no capítulo 4:16, àquelas “bainhas”, por assim dizer, os nervos e as artérias que levam alimento da cabeça, do centro, a todos as partes do corpo. Essa é uma maneira de ressaltar esta união orgânica e vital que existe nutre um esposo e sua esposa. É uma só vida, e uma só vida da mesma maneira que a vida da Igreja em sua relação com a Cabeça, que é Cristo. Aqui, naturalmente, o apóstolo está particularmente interessado num aspecto disso tudo, no aspecto da dependência: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja”. Ele está tratando deste aspecto de dependência e submissão, e introduz mais este elemento para que tenhamos um claro entendimento de como ele entra, e porque inevitavelmente entra na composição do assunto. Mais adiante ele irá tratar do outro lado da questão, do marido com respeito à esposa.
Ao considerarmos esta grande afirmação, somos logo confrontados por um problema. Vejamo-la de novo: “Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador do carpo”. O problema que tanto ocupa a atenção dos comentadores, e com razão, é este: por que o apóstolo acrescenta esta outra afirmação? Por que não diz: o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja... Portanto, como a Igreja é sujeita a Cristo, assim as esposas sejam em tudo sujeitas a seus maridos? Por que será que ele acrescentou: “sendo ele próprio o salvador do corpo”? Há aqueles - e constituem a maioria, incluindo até grandes nomes como, por exemplo, Charles Hodge - que não hesitam em dizer, neste ponto, que este é um acréscimo puramente independente, e que a referência do apóstolo, quando diz, “sendo ele próprio o salvador do corpo”, é, evidentemen­te, que o Senhor Jesus Cristo é o Salvador da Igreja. Dizem eles, ainda, que isso nada tem que ver com o marido. Então, por que Paulo o diz? Bem, dizem eles, Paulo disse isso por esta razão: ele se incumbira de declarar que o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, e a simples menção do nome de Cristo o leva a bradar: “e ele é o salvador do corpo”. Isso nada tem que ver com aquilo sobre o que ele está argumentando no momento, mas a simples menção do nome de Cristo o leva a dizer esta coisa maravilhosa. Portanto, eles argumentam que esta é uma frase independente, e que não se aplica ao relacionamento do marido com sua esposa.
Mas a argumentação deles não se restringe a isso. Eles têm outro argumento, a que atribuem grande importância. Baseia-se na palavra traduzida por “portanto” no início do versículo 24. 0 versículo diz: “Portanto, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos”. Eis o ponto que defendem aqui: dizem eles que a tradução “portanto” é completamente errada; e, de fato, têm razão nisso. Mas, então, eles vão adiante e afirmam que a tradução deveria ser, “não obstante”. E uma expressão de contraste, e sempre apresenta um contraste. Daí, afirma que deveríamos ler a frase deste modo, ou de modo semelhante a este: “Pois o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, e ele é o Salvador do corpo”. “Não obstante” - embora isso não seja verdade quanto ao marido, com respeito à esposa, apesar disso - “as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos”. Daí acham que o caso é incontestável; que, noutras palavras, o apóstolo diz: “Ora, quando digo que Ele é o Salvador do corpo, esqueci por um momento a minha analogia da relação de Cristo e a Igreja, e a do marido e sua esposa - “Não obstante” - apesar disso, embora não seja verdade na esfera do marido e sua esposa, as mulheres devem suj eitar-se a seus maridos, assim como a Igreja é sujeita a Cristo”.
No meu modo de ver, há uma resposta adequada a toda esta argumentação. Em primeiro lugar, ela limita o sentido da palavra “salvador”. Este vocábulo nem sempre tem o sentido de entregar Cristo Sua vida pela Igreja, com Seu sangue derramado. Este é o sentido comum (no linguajar cristão), mas não é o único; existe um sentido mais amplo do temor “salvador”. Há um exemplo disto na Primeira Epístola a Timóteo, capítulo 4, verso 10: “Porque”, diz o apóstolo, “para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis”. Ora, é essa mesma palavra que é empregada aqui, sobre “o salvador do corpo”. Lá se nos diz que Deus, o Deus vivo, é o salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis. Vocês não podem dizer que isto significa que todos os homens gozam a salvação num sentido espiritual, porque, nesse caso, vocês seriam universalistas. Natu­ralmente, não podem! Pois bem, então, significa que lá a palavra “salvador” tem outra significação. Quer dizer “preservador” - aquele que olha por, que cuida de. Ele é o Preservador de todos os homens, principalmente dos que crêem. Lembra-nos o Senhor que Deus “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, r a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5:45); sim, Ele dá alimento a todos. É neste sentido que Ele é o salvador de todos os homens. Assim, por que não atribuir esse sentido à palavra “salvador” aqui? Ele é Aquele que cuida do corpo e o protege. Essa é a réplica que vocês podem apresentar contra o citado argumento.
Mas eu tenho ainda outras razões para rejeitar a exposição que limita esta pequena frase unicamente ao Senhor Jesus Cristo e Sua obra salvadora. Minha segunda razão é a seguinte; meu argumento é que os versículos 28 e 29, que vêm em seguida, militam em prol da nossa interpretação desta frase como se aplicando ao marido e à esposa, como também a Cristo e à Igreja. Paulo diz: “Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne”. Bem, que faz ele? “Antes a alimenta e sustenta” - sim, age como seu salvador, cuida dela, preserva-a. “Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja”, que é o Seu corpo - etc. Diz ele que o marido deve tratar sua esposa como sua própria carne, seu próprio corpo. Ele não negligencia o seu corro, mas o alimenta e o sustenta. Noutras palavras, ele é “o salvador do corpo”. Quão importante é tomar o versículo sempre em seu contexto! Mesmo os intérpretes famosos podem cair neste ponto. Eu argumento que esses dois versículos propugnam esta outra interpretação aqui, e que esta não é uma frase isolada e independente, só válida com referência ao Senhor Jesus Cristo. Paulo ainda está falando sobre esposos e esposas: “Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador corpo”. Isto é verdadeiro em ambos os casos.
Portanto, julgo que, com base em todos esses pontos, devemos rejeitar a interpretação que diz que esta é uma frase independente, e que se refere unicamente ao Senhor. Na verdade, por assim dizer, seria completamente sem propósito neste ponto; seria uma confusão. O apóstolo não é dado a fazer esse tipo de coisa. Assim, o que lemos é, pois, que “o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador do corpo”. Então - “assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.”
Qual é, então, a doutrina? Evidentemente é esta: a esposa é guardada, preservada, velada, defendida e sustentada pelo seu esposo. Essa é a relação - como Cristo alimenta e sustenta a Igreja, assim o esposo alimenta e sustenta sua esposa - e a esposa deve compreender que essa é a sua posição neste rela­cionamento. O marido é o preservador, o salvador do corpo. A esposa deve começar com esta idéia, e deve agir sempre à luz disso.
Mas podemos ir além. Qual a relação do corpo com a cabeça? O que é verdade sobre a Igreja em relação a Cristo, é verdade sobre a esposa em relação ao esposo. Tomemos a ilustração que Paulo usa aqui e nos exemplos que dei anteriormente sobre a Igreja como o corpo de Cristo, tais como os de 1 Co, capítulo 12, e Rm, capítulo 12. Qual é o ensino? A esposa é para o esposo o que o corpo é para a cabeça, o que a Igreja é para Cristo. É de novo a idéia de “complemento”. O essencial no conceito cristão do matrimônio é esta idéia de integralidade, de inteireza. Encontramo-la em Gênesis, capítulo 2 - “adjuntora que esteja como diante dele” (“adjuntora própria para ele”), tirada de Adão, parte dele; sim, mas complementando-o, compondo uma integrali­dade. Essa é precisamente a idéia que você tem inevitavelmente quando pensa no seu corpo, no corpo como um todo. O corpo não é uma coleção de partes, não é um certo número de dedos, mãos e pés grudados uns nos outros, e de membros vagamente interligados. Essa noção do corpo é completamente falsa. O corpo é uma unidade orgânica, vital; é uno; é um todo. Pois bem, essa é a idéia que temos aqui. O marido e sua mulher não são separados, não são como dois reinos que mantêm relações diplomáticas, mas sempre em estado de tensão, e sempre correndo o risco de entrar em conflito. Esse é o exato oposto do conceito cristão daquilo que o casamento realmente é. Cristo e a Igreja são um, como o corpo e a cabeça são um. Mas este ideal coaduna-se com diferentes funções; e é isso que devemos entender - funções diferentes, propósitos diferentes, deveres especiais que somente cada parte pode cumprir. Mas é vital lembrar-nos de que cada parte é parte de um todo, e que todas as ações separadas são parte integrante de uma ação unificada que leva a um resultado incorporado.
Permitam-me desenvolver isto, irmãos, um pouco mais minuciosamente com o fim de esclarecer esta questão do estado e relação matrimonial. Como isto é importante! Já dei algumas razões disso. Creio que muita irreligiosidade dos dias atuais é, em parte, uma reação contra aquele tipo de vida vitoriana na qual muitos maridos e esposas pareciam ser grandes cristãos, porém dos quais o povo dizia: “Se vocês os conhecessem em sua vida privada!” Nada causa maior dano ao cristianismo do que a pessoa não ser a mesma coisa na igreja e no lar, ou na rua e no escritório. E no lar que se conhece realmente um homem. Quais são as relações ali? Por essa razão estas coisas são importantes, não somente pelo que são em si mesmas, mas como parte do nosso testemunho geral como cristãos.
Então, que é que isto nos ensina sobre o relacionamento entre a esposa e o esposo nesta questão de sujeitar-se? Parece claro que não ensina uma pura e simples passividade; a esposa não deve ser inteiramente passiva. E uma interpretação errônea desta convivência dizer que a esposa nunca deve falar, nunca deve dar opinião, mas deve ficar muda ou calada e completamente pusiva. Isso é forçar uma analogia e ilustração a ponto de deixá-la sem sentido. Mas o que significa é isto: a esposa jamais deve tomar-se culpada de ação iimce pendente. A analogia do corpo e da cabeça reforça isso. O que compete ao mte c corpo não é agir independentemente de mim. Eu é que resolvo agir com minha mente, meu cérebro e minha vontade. Meu corpo é o meio pelo qual eu o expresso. Se o meu corpo se puser a agir isoladamente de mim, ficarei sofrendo de uma espécie de “convulsão”. É isto exatamente o que significa “convulsão”: partes do corpo se movem de maneira irracional. Não é uma ação feita com algum propósito; ele não quer que elas ajam, mas não pode detê-las; agem independentemente da sua mente e da sua vontade. Isso é caos, é convulsão. Aqui está a analogia: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos; sede em tudo sujeitas e obedientes a vossos maridos”. Por quê? Porque como esposa, e neste relacionamento, você não age independentemente do seu marido. Se o fizer, será o caos será a convulsão.
Ou permitam-me subdividir o ponto ainda mais. A esposa não deve agir antes do marido. O ensino todo indica que ele é a cabeça, é ele que exerce o controle definitivo. Assim, ela não somente não age independentemente dele; não age antes dele. Todavia, deixem-me salientar isso também: assim como é certo dizer que ela não deve agir antes dele, é igualmente certo dizer que ela não pecisa retardar a ação, não deve “fazer cera”, não deve recusar-se a agir. Voltemos à analogia do corpo. Pensemos em alguém que sofreu um derrame. Esta pessoa quer agir, mas o membro está paralisado, de modo que ele não consegue. Embora a pessoa esteja querendo movimento, este não ocorre – o braço não está bem, resiste ao movimento. Esta é uma parte do ensino; a sejeição envolve a idéia de que a mulher não agirá antes do seu marido, nem tampouco retardará nem impedirá a ação, não paralisará a ação. Estes pontos são vitais em todo este relacionamento matrimonial; e é porque as pessoas não percebem e não sabem estas coisas que o casamento está decaindo por toda parte ao redor de nós. Independência, agir antes, não agir, “fazer cera”, recusar-se, é o errado; e tudo isso porque os homens e as mulheres não entendem este conceito cristão do casamento.
Podemos resumi-lo assim: o ensino é que a iniciativa e a liderança cabem em última instância ao marido, mas a ação deve ser sempre coordenada. É esse : sentido dessa figura - ação coordenada, mas a cabeça execendo a liderança. Isto não sugere nenhum sentimento de inferioridade. A esposa não é inferior ao marido; é diferente. Ela tem a sua própria e peculiar posição, cheia de honra e respeito. Por isso, depois, o homem recebe a incumbência de alimentar e sustentar sua esposa, amá-la e cuidar dela, respeitá-la e honrá-la. Isto não e - volve inferioridade. O que Paulo está ensinando é que toda mulher cristã que dg mpreender tudo isso, gostará de agradar seu marido, ser-lhe benéfica, auxiliá- lo, assessorá-lo, habilitá-lo a exercer as suas funções. Não estará fingindo quando prometer “obedecer” (ou “ser submissa”) durante a cerimônia nupcial. Que coisa triste! - recentemente um amigo me contou que um clérigo que ia ministrar numa cerimônia matrimonial dissera que não ia usar a expressão “e obedecer”. Achava que estava sendo moderno, que com isso atrairia “os homens da rua” - mostrando que, afinal de contas, o cristianismo não é estreito! Ele não percebeu que estava rejeitando a doutrina bíblica. E quão completamente incoerente tais pessoas são! Suponho que um homem como esse, se estivesse num jogo de futebol, se gabaria do espírito de equipe. Embora estejam jogando individualmente e todos tenham habilidade, os jogadores dão de si dizendo que só um deles é o capitão. Cada um deles diz: “Não sou o capitão, eu me submeto ao capitão”. Isso é maravilhoso, é o espírito de equipe; cada jogador obedece ao capitão. Mas vocês não diriam isso com relação ao casamento! Isso é deprecia­tivo para a mulher, é antiquado, é Paulo, é o fariseu duro, isso é legalismo, é o Velho Testamento! Entretanto, isso nega a doutrina toda, e é até incoerente em sua pseudo-modemidade. A esposa cristã, compreendendo estas coisas, quer dizer, “e obedecer-lhe” (“e ser-lhe submissa”), “amá-lo, cuidar dele e obedecer- lhe”. Naturalmente! Por que está se casando? Não seria para constituir “uma só carne”, uma integralidade? Não seria para partilhar esta ação coordenada, esta inteireza, que deve ser demonstrada ao mundo? Isso não é escravidão; é viver como a Igreja vive com relação ao seu Senhor; isso manifesta o espírito essencial do cristianismo.
Mas, deixem-me dizer uma palavra final. Observaram que o fim da exortação é, “De sorte que (então, agora então), assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus marido”? “Em tudo”! Realmente seria isso que significa? Aqui respondemos de novo em termos da analogia das Escrituras em sua inteireza. Quando as Escrituras fazem uma ampla e geral afirmação como essa, sempre esperam que a interpretemos à luz do seu próprio ensino. Assim, quando lemos aqui a afirmação de que a esposa deve ser sujeita a seu marido em tudo, equivale exatamente a dizer que o cristão deve ser sujeito ao Estado, aos poderes que existem, como em Rm capítulo 13 e noutros lugares. Significaria então, que a esposa terá que fazer literalmente tudo que o seu marido lhe disser que faça, em todas as circunstâncias e condições? Claro que não! Isso seria declarar ridículas as Escrituras. Há condições aqui. Quais? Eis uma delas: uma regra fundamental das Escrituras é que ninguém, homem ou mulher, jamais deve agir contra a própria consciência. Dentro da relação conjugal, dentro dos termos do casa­mento, o marido não tem direito de mandar na consciência da sua esposa.
Aqui poderíamos citar um bom número de casos deveras interessantes. Às vezes há muita confusão entre obedecer à consciência e manter uma opinião. Não são a mesma coisa. As Escrituras nos exortam a obedecer à consciência em todas as circunstâncias; isso porém não é a mesma coisa que ficar agarrado à própria opinião. Deixem-me dar uma ilustração disto. Da leitura do livro do Dr. John Macleod sobre a teologia escocesa, lembro-me de um caso muito interes­sante que ensina justamente este ponto. Havia uma discussão na Escócia, no século dezoito, sobre a relação do cristão com o governo local, e uma parte da igreja dividiu-se em duas seções, conhecidas como as seções “Cidadão” e “ “Anticidadão”. Foi tema de grande controvérsia. Havia um ministro, de nome James Scott, cuja esposa era verdadeiramente notável. Seu nome era Alison. Era filha daquele extraordinário homem, Ecenezer Erskine, um dos fundadores da Secessão, na Escócia. Alison tinha personalidade forte e era esposa de um homem competente. Scott e sua esposa discordaram nesse ponto - ele fazendo parte do partido “ Anticidadão” e ela do partido “Cidadão”. Surgiram muitas situações difíceis, e o Sr. Scott participou de uma reunião sinodal que de fato censurou e depôs o pai, o tio e cunhado de sua esposa - ato deveras corajoso da parte dele. Depois disso feito, teve que ir para casa e contar à esposa o que fizera. Em reposta, Alison Scott fez esta famosa declaração: “James Scott, você continua sendo o meu marido, mas não é mais o meu pastor”. E também pôs isso em prática, pois que todo domingo ia uma das igrejas do partido “Cidadão”, e não à igreja na qual o seu marido dirigia o culto e pregava. Que é que vocês fariam com um caso como esse? Eu não hesito em dizer que Alison Scott estava inteiramente errada, porque estava pondo a opinião acima da consciência. Certamente aí está um exemplo em que, por todos os motivos, ela devia ter-se sujeitado à liderança e à direção do seu marido. Não teria violado sua consciência; era pura questão de opinião. Digo e repito que nunca devemos cometer o engano de confundir consciência com opnião. A mulher pode dar opinião, mas quando vê que o seu marido está determinado, deve cumprir a decisão dele.
Permitam-me dar outra ilustração para contrabalançar a que acabei de contar. Uma das mais extraordinárias e comoventes experiências que tive desde que sou pastor da Capela de Westminster, deu-se há uns dezoito meses, se bem ame lembro. Eu estava pregando à noite, no primeiro domingo após o meu regresso das férias de verão; o texto era, “Somos embaixadores da parte de Cristo” (2 Co 5.20). Dei ênfase ao aspecto da vocação do embaixador, e assim por diante. Saí do púlpito para o meu gabinete, e logo me foi conduzida uma mulher que evidentemente estava muito agitada. Disse-me que o sermão tinha sido pregado para ela. Fazia uns dez anos que se casara. O marido sentiu que estava sendo chamado para o ministério e renunciou a seu cargo de professor numa escola. Ela não concordou, de jeito nenhum. Fez tudo que pôde para impedir seu marido, mas este continuou convicto e foi avante em seu propósito, passando a haver uma grave crise em sua vida conjugal. Contudo, durante o culto aquela mulher ficou profundamente convicta sobre a questão, e me procurou para confessar isto e dizer-me que ia correr para o telefone mais próximo e telefonar ao marido, que estava na região oeste do país para submeter-se, no domingo subseqüente, a um exame para entrar no ministério. Ela viu que estivera errada em fincar o pé em sua opinião e, deste modo, opor- se ao propósito de Deus para a vida do marido. Não era consciência; era insistência numa opinião. Digo que jamais devemos violar a consciência, mas também digo que devemos estar prontos a submeter-nos nas questões de opinião. A posição da mulher na relação matrimonial não deve ser pressionada a ponto de levá-la a ir contra a sua consciência; tampouco deve ela permitir que o seu marido a leve a cometer pecado. Se o marido estiver tentando fazer que a esposa cometa pecado, ela deverá dizer: “Não!” Não dizer isso é tomar as Escrituras ridículas. Se o marido perdesse o equilíbrio mental e se tomasse insano, evidentemente ela não lhe obedeceria em tudo. As Escrituras nunca são ridículas; as Escrituras trazem em seu conteúdo o seu sentido; e aí estão estes limites inevitáveis.
O quarto ponto que defendo é que a esposa não deve sujeitar-se a seu marido a ponto de deixá-lo interferir em sua relação com Deus e com o Senhor Jesus Cristo. Até este limite ela deve fazer tudo, mas isso não!
Finalmente, o adultério rompe o relacionamento conjugal; e se o marido se fizer culpado de adultério, a esposa não estará mais obrigada a prestar-lhe obediência em tudo. Poderá divorciar-se dele; as Escrituras lhe permitem agir assim. Terá o direito de fazê-lo porque o adultério rompe a unidade, rompe o relacionamento. Estarão separados daí em diante, e deixarão de ser um só. Ele terá rompido a unidade, desfazendo-se da união. Portanto, não devemos interpretar esta porção das Escrituras como se ensinasse que a mulher está irrevogável e inevitalmente presa a um marido adúltero pelo resto da sua vida. Ela pode resolver que sim - cabe a ela decidir. Tudo que estou dizendo é que esta passagem bíblica não manda isso, não o torna inevitável. Noutras palavras, há certos limites para estas questões.
Aí estão, pois, como as vejo, as principais deduções desta ilustração maravilhosa. A grande verdade salientada é que a esposa deve ir até os últimos limites da sujeição ao seu marido, por amor a Cristo e pelas razões dadas, sob pena de violar os princípios que acabamos de formular. À esposa que acaso esteja em dificuldades nesta questão, tomo a liberdade de sugerir certos auxílios práticos. Se você está em dificuldade, faça a si mesma as seguintes perguntas: por que me casei com este homem? O que aconteceu? Isso não poderia ser reparado? Procure recuperar aquele objetivo, no espírito de Cristo e do evangelho. “Ah, mas é impossível”, você dirá, “não conseguirei”. Bem, então digo-lhe: como cristã tenha pena do homem, ore por ele. Ponha em prática o ensino do apóstolo Pedro, em sua primeira epístola, capítulo 3, onde ele diz claramente às esposas que sejam sujeitas a seus maridos, e não somente aos que são cristãos: “Vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra; considerando a vossa vida casta, em temor”. Tente pôr isso em prática; procure ganhar seu marido com humildade e mansidão. “O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorrup­tível trajo de um espírito manso e quieto, que é preciso diante de Deus.” Faça tudo que puder, vá até aos limites, vá além dos limites mínimos estabelecidos por estes princípios. E, finalmente, faça a si mesma esta pergunta: poderei sinceramente comparecer, com minha atual atitude e condição, perante o Senhor que apesar de mim, da minha vileza e da minha pecaminosidade, veio do céu, enfrentou a cruz do Calvário e Se entregou ali por mim? Se você puder encará-lO tudo bem; nada terei que dizer. Mas se você sentir condenada em Sua presença, quanto à sua atitude, quanto ao seu relacionamento nalgum aspecto, vá acertar isso. De maneira que, quando voltar a Ele de novo, estará com a consciência tranqüila, com espírito aberto, e poderá regozijar-se em Sua santa presença.  Esta é uma questão cristã; é semelhante à relação da Igreja com Cristo, o corpo e a cabeça. Tão logo vejamos as coisas nestes termos, não haverá problemas; isso é um grande privilégio, é uma coisa que Deus contempla com agrado e prazer. “Vós, mulheres, sede sujeitas” - “um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus”, e, por mais que você tenha que sofrer aqui na terra, sua recompensa no céu será grandiosa.



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