Efésios
5:22-24
O
apóstolo nos dá dois grandes motivos particulares pelos quais as esposas devem
sujeitar-se a seus maridos. Já consideramos o
primeiro deles, segundo o qual esta questão pertence à ordem da natureza. Diz ele: “Porque
o marido é a cabeça da mulher”; Deus ordenou isto quando fez o homem e a
mulher no princípio; e vimos como o Novo Testamento não só confirma isso, mas constantemente retorna a essa
ordenança original de Deus.
Ora,
nisso tudo ainda não dissemos nada de peculiar e especificamente cristão. Que se trata de ensino do Velho Testamento, todos
devem reconhecer, sejam cristãos ou não. Isto é uma
ordenação de Deus com relação à integralidade
da vida. Assim como reconhecemos a família, devemos reconhecer isto. O Deus que ordenou a família ordenou o casamento; e assim
como devemos sujeitar-nos ao estado devemos
dar ouvidos a esta fundamental ordenação de Deus quanto às posições relativas
dos esposos e das esposas, e ao relacionamento que deve substituir entre eles. Pois
bem, até aqui tudo isso é geral. O fato de sermos cristãos não significa que
não temos necessidade do Velho Testamento. Ele continua sendo um alicerce; edificamos sobre ele; é por isso que o apóstolo o coloca em primeiro lugar.
Mas
agora ele passa ao seu segundo motivo, peculiarmente cristão: “O marido é a cabeça da mulher”. Em
seguida
vem o acréscimo cristão: “como também Cristo é a cabeça da igreja”. Isto nos leva mais adiante; não elimina; primeiro, mas
lhe acrescenta algo, e na verdade nos ajuda a entender o primeiro É isso que a
fé cristã faz com relação à vida, em todos os seus aspectos. Só o cristão
pode apreciar realmente a vida em geral neste mundo. Quero dizer que em última
análise, somente o cristão pode realmente desfrutar a natureza. O cristão vê a
natureza de maneira diferente do homem do mundo. Há urra novidade aqui. Ele não
vê apenas a coisa em si; vê o grande Criador e a maravilha dos Seus métodos, a
variedade, a cor, a beleza. Noutras palavras, ser um cristão significa que toda
a perspectiva da vida é enriquecida. Não importa
qual seja, todo e qualquer dom que o homem possua e que manifeste, só
poderá ser verdadeiramente apreciado pelo cristão.
Ele enxerga com maior profundidade, tem entendimento mais completo. Isto
é, a mensagem cristã não apenas
nescenta algo ao que já tínhamos, mas enriquece o que tínhamos e nos dá um
rscemimento mais profundo disso. Aqui veremos que este acréscimo especificamente
cristão não somente nos ajuda a compreender a ordem da natureza já estabelecida, mas, além e acima disso,
acrescenta uma nova qualidade, outro aspecto, por assim dizer, outra ênfase a
toda a questão.
Eis a proposição: “o marido é a cabeça da mulher,
como também Cristo! A
cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador
do corpo”. O que estamos vendo aqui é uma coisa que só o cristão pode entender;
ninguém mais. A pessoa que não
crê no Senhor Jesus Cristo e não conhece o caminho da salvação, obviamente não pode entender o que as
Escrituras querem dizer quando afirmam: “Cristo é a cabeça do corpo, que é a igreja”. Não tem
sentido para ela; não entende absolutamente nada disso. Portanto, tal pessoa
não pode compreender este conceito especificamente cristão do
casamento.
Esta é uma dedução da doutrina cristã da Igreja; portanto, se a pessoa não
entender a doutrina cristã da Igreja, segundo o apóstolo ela não poderá
entender totalmente o conceito cristão do casamento.
Isto
logo nos leva a tirar certas conclusões. A primeira é que, obviamente, fumais o
cristão deve casar-se com pessoa não
cristã. Lemos na Segunda Epistola aos Coríntios: “não vos prendais a um jugo desigual com
os infiéis” (2 Co 6:14). Indubitavelmente nós temos aí uma
referência a esta questão do casamento. Se precisávamos de uma razão para aceitar a
exortação em foco, temo-la aqui. Se crente
se casa com não crente, a situação resultante será que um dos cônjuges terá
este elevado conceito cristão do matrimônio, ao passo que o
outro o ignorará completamente. Já haverá um
defeito no casamento. Não serio os dois um só; não estarão entrando no novo estado da
mesma maneira; já haverá uma divisão. Já haverá uma semente de
discórdia, como o apóstolo o monstra naquela mesma proposição de 2 Coríntios
capítulo 6.
A
segunda dedução que tiro é que um serviço cristão em conexão com o casamento só é apropriado para cristãos. Este
é um tema amplo, e faz parte do tema da disciplina da Igreja cristã. A situação tomou-se caótica, e às
pessoas que ignoram totalmente o cristianismo é oferecida uma cerimônia
nupcial
religiosa cristã na qual é lida esta proposição apostólica
sobre o marido como cabeça da esposa “como Cristo é a cabeça da igreja”. Isto
não significa absolutamente nada para elas. Deduzo, pois, que não se deve fazer
isso. Não devemos ensinar alta doutrina
cristã aos não cristãos; a estes devemos pregar tão somente o arrependimento e
a necessidade da fé. Eles não têm a menor possibilidade de entender a doutrina concernente ao matrimônio.
A pessoa tem que estar na vida cristã antes de poder entendê-la.
Portanto, eu argumento no sentido de que uma cerimônia nupcial
cristã deve ser reservada única e exclusivamente para nistãos. Realizá-la
para outros é fazer dela uma farsa.
Em terceiro lugar, deduzo que tal cerimônia
é apropriada e correta, e deve ser admitida e
dirigida quando os que se casam são cristãos. O que quero dizer e ;sto: alguns dos puritanos, há 300 anos, em sua violenta
reação contra o
atolicismo romano, decidiram que não deveria haver nenhum serviço religioso
relacionado com o casamento. O casamento, diziam eles, não passa de um contrato
legal. Pois bem, podemos muito bem entender sua reação, e esta conta com a nossa simpatia. A igreja
romana ensinara (e ensina) a falsa e antibíblica idéia de que o matrimônio é sacramento, pelo que os puritanos achavam
que deviam afastar-se tão
longe quanto pudessem dessa idéia. Daí, não quiseram ter nenhum tipo de cerimônia
religiosa. Mas, certamente, à luz do ensino
dc apóstolo aqui, isso foi um erro completo! A reação foi demasiado violenta; foi tão violenta que
se tornou antibíblica. Há aspectos do casamento que requerem um serviço
religioso - o ensino e o entendimento desta porção particular daí Escrituras, e
outros pontos. E como o ensino é que o matrimônio é uma coisa comparável à união mística entre
Cristo e Sua Igreja, digo que é boa ocasiãc para culto e para uma cerimônia
verdadeiramente cristã. O casamento não é
apenas um contrato legal, e devemos ter todo o cuidado, como estive assinalando,
de não permitir que pessoas cujo pensamento é errôneo governem o nossc pensamento e a nossa
conduta. O cristão jamais deve ser apenas uma reação contra alguma coisa; ele deve ser positivo,
deve ser bíblico. Mas há aqueles que, em sua aversão ao catolicismo romano, vão
tão longe para o outro lado que acabam negando as próprias Escrituras que dizem
defender.
Contudo, permitem-me asseverar que, embora o
conceito cristão do casamento sugira aquelas três coisas, não ensina aqui, nem
em nenhum outra lugar, como os católicos romanos ensinam, que o matrimônio
é um sacramen:: Não há nenhum ensino, em
parte alguma da Bíblia, que dê apoio a essa idéia. Desafio quem quer que sej a a mostrar uma
passagem das Escrituras que o faça. O matrimônio não é sacramento. Então, qual é o ensino? E
aquele que é dac: aqui, a saber, esta idéia da união mística. A relação entre marido e
mulher, e entre mulher e marido, é comparável à relação entre Cristo e a
Igreja, e a Igreja e Cristo. Para nosso conforto, o apóstolo diz mais tarde:
“Grande é este mistério!” A relação entre Cristo e a Igreja é um mistério. É um
fato, mas é u~ grande mistério - esta união mística entre a Igreja e Cristo, e o crente individual e Cristo.
Mas, sendo um fato, devemos procurar entendê-lo cada vez mais. Paulo afirma que a relação entre marido e
esposa, e esposa e marido, fl comparável a esse fato. Pertence a essa ordem, e
essa é a maneira pela qual
devemos começar a pensar nela. Aqui somos introduzidos na esfera
desta ala doutrina concernente à Igreja cristã.
O apóstolo, com sua mente lógica, sabe que
não deve haver dificuldade sobre
isso nas mentes destes efésios, porque já os ensinara sobre essa mes doutrina.
Ele o fizera no capítulo primeiro da epístola, onde, no fim, ele ora sentido de
que eles conheçam “a sobreexcelente grandeza do seu poder” — d: poder de Deus
para com eles. Explica que se trata do poder que Deus “manifestou em Cristo, ressuscitando-o
dos mortos... E sujeitou todas as coisa; a
seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em
todos”. Lá Paulo os introduzira na
doutrina da Igreja; aqui ele a está aplicando. Quem corre para o fim da epístola sem ler o começo, sempre erra.
O que temos aqui são deduções. Ele fizera
a mesma coisa de novo, e acrescentara um pouco mais à definição,
me capítulo 4, versículos 15
e 16, onde lemos: “Antes, seguindo a verdade
em raridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,
Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado
pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de ele extrai esse
ensino para que eles possam compreender a verdadeira natureza do
casamento cristão.
Qual é
o ponto? É essencialmente este: ele está
salientado a união orgânica, a união vital, a relação
íntima. Ele se referira a “ligações de suprimento”
(lit., grego) no capítulo 4:16, àquelas “bainhas”, por assim dizer, os
nervos e as artérias que levam alimento da cabeça, do
centro, a todos as partes do corpo. Essa é uma
maneira de ressaltar esta união orgânica e vital que existe nutre um esposo e
sua esposa. É uma só vida, e uma só vida da mesma maneira que a vida da Igreja em sua relação com a Cabeça, que
é Cristo. Aqui, naturalmente, o apóstolo está
particularmente interessado num aspecto disso tudo, no aspecto da dependência: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a
vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça
da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja”.
Ele está tratando deste aspecto de dependência e submissão, e introduz mais este elemento para que
tenhamos um claro entendimento de como ele entra, e
porque inevitavelmente entra na composição do assunto. Mais adiante ele irá tratar do outro lado da questão, do
marido com respeito à esposa.
Ao considerarmos esta grande afirmação, somos logo confrontados
por um problema. Vejamo-la de novo: “Porque o marido é a cabeça
da mulher, como também Cristo é a cabeça da
igreja: sendo ele próprio o salvador do carpo”. O problema que tanto ocupa a atenção dos
comentadores, e com razão, é este: por que o apóstolo
acrescenta esta outra afirmação? Por que não diz: o marido é a cabeça da
mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja... Portanto, como a Igreja é
sujeita a Cristo, assim as esposas sejam em tudo sujeitas a seus maridos? Por que será que ele acrescentou:
“sendo ele próprio o salvador do corpo”? Há aqueles - e constituem a maioria,
incluindo até grandes nomes como, por exemplo,
Charles Hodge - que não hesitam em dizer, neste ponto, que este é um acréscimo
puramente independente, e que a referência do apóstolo, quando diz, “sendo ele
próprio o salvador do corpo”, é, evidentemente, que o Senhor Jesus Cristo é o Salvador da Igreja. Dizem eles, ainda, que
isso nada tem que ver com o
marido. Então, por que Paulo o diz? Bem, dizem eles, Paulo disse isso por esta
razão: ele se incumbira de declarar que o marido é a cabeça da mulher, como
Cristo é a cabeça da Igreja, e a simples menção do nome de Cristo o leva a
bradar: “e ele é o salvador do corpo”. Isso nada tem que ver com aquilo sobre o que ele está argumentando no momento,
mas a simples menção do nome de Cristo o leva a dizer esta coisa maravilhosa.
Portanto, eles argumentam que esta é uma frase independente, e que não
se aplica ao relacionamento do marido com sua esposa.
Mas a
argumentação deles não se restringe a isso. Eles têm outro argumento, a que
atribuem grande importância. Baseia-se na palavra traduzida por “portanto” no
início do versículo 24. 0 versículo diz: “Portanto, assim como a igreja está
sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus
maridos”. Eis o ponto que defendem aqui: dizem eles que a tradução “portanto” é
completamente errada; e, de fato, têm razão nisso. Mas, então, eles vão adiante
e afirmam que a tradução deveria ser, “não obstante”. E uma expressão de
contraste, e sempre apresenta um contraste. Daí, afirma que deveríamos ler a frase deste modo, ou de modo semelhante a este:
“Pois o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, e
ele é o Salvador do corpo”. “Não obstante” - embora isso não seja verdade
quanto ao marido, com respeito à esposa, apesar disso - “as mulheres sejam em
tudo sujeitas a seus maridos”. Daí acham que o caso é incontestável; que,
noutras palavras, o apóstolo diz: “Ora, quando digo que Ele é o Salvador do
corpo, esqueci por um momento a minha analogia da relação de Cristo e a Igreja,
e a do marido e sua esposa - “Não obstante” - apesar disso, embora não seja
verdade na esfera do marido e sua esposa, as mulheres devem suj eitar-se a seus maridos, assim como a Igreja é sujeita a
Cristo”.
No meu modo de
ver, há uma resposta adequada a toda esta argumentação. Em primeiro lugar, ela
limita o sentido da palavra “salvador”. Este vocábulo nem sempre tem o sentido
de entregar Cristo Sua vida pela Igreja, com Seu sangue derramado. Este é o
sentido comum (no linguajar cristão), mas não é o único; existe um sentido mais
amplo do temor “salvador”. Há um exemplo disto na Primeira Epístola a Timóteo,
capítulo 4, verso 10: “Porque”, diz o apóstolo, “para isto trabalhamos e
lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o salvador de todos os homens,
principalmente dos fiéis”. Ora, é essa mesma palavra que é empregada aqui,
sobre “o salvador do corpo”. Lá se nos diz que Deus, o Deus vivo, é o salvador
de todos os homens, principalmente dos fiéis. Vocês não podem dizer que isto
significa que todos os homens gozam a salvação num sentido espiritual, porque,
nesse caso, vocês seriam universalistas. Naturalmente, não podem! Pois bem,
então, significa que lá a palavra “salvador” tem outra significação. Quer dizer
“preservador” - aquele que olha por, que cuida de.
Ele é o Preservador de todos os homens, principalmente dos
que crêem. Lembra-nos o Senhor que Deus “faz que o seu sol
se levante sobre maus e bons, r a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5:45); sim,
Ele dá alimento a todos. É neste sentido que Ele é o salvador de
todos
os homens. Assim, por que não atribuir esse
sentido à palavra “salvador” aqui? Ele é Aquele que cuida do corpo e o protege. Essa é a réplica que vocês podem apresentar
contra o citado argumento.
Mas eu tenho ainda outras razões para rejeitar
a exposição que limita esta pequena frase unicamente ao Senhor Jesus Cristo e Sua obra
salvadora. Minha segunda razão é a seguinte; meu argumento é que os versículos
28 e 29, que vêm em seguida, militam em prol da nossa interpretação desta
frase como se aplicando ao marido e à esposa, como também a
Cristo e à Igreja.
Paulo diz: “Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a
seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.
Porque nunca ninguém
aborreceu a sua própria carne”. Bem, que faz ele?
“Antes a alimenta e sustenta” - sim, age como seu salvador, cuida dela, preserva-a. “Porque
nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e
sustenta, como também o Senhor à igreja”, que
é o Seu corpo - etc. Diz ele que o marido deve tratar sua esposa como sua própria carne, seu próprio corpo. Ele não
negligencia o seu corro, mas o alimenta e o sustenta. Noutras palavras, ele é
“o salvador do corpo”. Quão importante é tomar o versículo sempre em seu
contexto! Mesmo
os intérpretes famosos podem cair neste ponto. Eu
argumento que esses
dois versículos propugnam esta
outra interpretação aqui, e que esta não é uma frase isolada e independente, só válida com referência ao Senhor
Jesus Cristo. Paulo ainda
está falando sobre esposos e esposas: “Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja: sendo ele próprio
o salvador corpo”. Isto é verdadeiro em ambos os casos.
Portanto, julgo que, com base em todos esses pontos,
devemos rejeitar a interpretação que diz que esta é uma frase independente, e
que se refere unicamente ao Senhor. Na verdade, por assim dizer, seria
completamente sem propósito neste ponto; seria uma confusão. O apóstolo não é
dado a fazer esse tipo de coisa. Assim, o que lemos é,
pois, que “o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a
cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador do corpo”. Então - “assim como a
igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a
seus maridos.”
Qual
é, então, a doutrina? Evidentemente é esta: a esposa é guardada, preservada,
velada, defendida e sustentada pelo seu esposo. Essa é a relação - como Cristo
alimenta e sustenta a Igreja, assim o esposo alimenta e sustenta sua esposa - e
a esposa deve compreender que essa é a sua posição neste relacionamento. O marido
é o preservador, o salvador do
corpo. A esposa deve começar com esta idéia, e deve agir sempre à luz disso.
Mas
podemos ir além. Qual a relação do corpo com a cabeça? O que é verdade sobre a
Igreja em relação a Cristo, é verdade sobre a esposa em relação ao esposo.
Tomemos a ilustração que Paulo usa aqui e nos exemplos que dei anteriormente
sobre a Igreja como o corpo de Cristo, tais como os de 1 Co, capítulo 12, e Rm,
capítulo 12. Qual é o ensino? A esposa é para o esposo o que o corpo é para a
cabeça, o que a Igreja é para Cristo. É de novo a idéia de “complemento”. O
essencial no conceito cristão do matrimônio é esta idéia de integralidade, de
inteireza. Encontramo-la em Gênesis, capítulo 2 - “adjuntora que esteja como
diante dele” (“adjuntora própria para ele”), tirada de Adão, parte dele; sim,
mas complementando-o, compondo uma integralidade. Essa é precisamente a idéia
que você tem inevitavelmente quando pensa no seu corpo, no corpo como um todo.
O corpo não é uma coleção de partes, não é um certo número de dedos, mãos e pés
grudados uns nos outros, e de membros vagamente interligados. Essa noção do
corpo é completamente falsa. O corpo é uma unidade orgânica, vital; é uno; é um
todo. Pois bem, essa é a idéia que temos aqui. O marido e sua mulher não são
separados, não são como dois reinos que mantêm relações diplomáticas, mas
sempre em estado de tensão, e sempre correndo o risco de entrar em conflito.
Esse é o exato oposto do conceito cristão daquilo que o casamento realmente é.
Cristo e a Igreja são um, como o corpo e a cabeça são um. Mas este ideal
coaduna-se com diferentes funções; e é isso que devemos entender - funções
diferentes, propósitos diferentes, deveres
especiais que somente cada parte pode cumprir. Mas é vital
lembrar-nos de que cada parte é parte de um todo, e que todas as ações
separadas são parte integrante de uma ação unificada que leva a um resultado
incorporado.
Permitam-me
desenvolver isto, irmãos, um pouco mais minuciosamente com o fim de esclarecer
esta questão do estado e relação matrimonial. Como isto é importante! Já dei
algumas razões disso. Creio que muita irreligiosidade dos dias atuais é, em
parte, uma reação contra aquele tipo de vida vitoriana na qual muitos maridos e
esposas pareciam ser grandes cristãos, porém dos quais o povo dizia: “Se vocês
os conhecessem em sua vida privada!” Nada causa maior dano ao cristianismo do
que a pessoa não ser a mesma coisa na igreja e no lar, ou na rua e no
escritório. E no lar que se conhece realmente um homem. Quais são as relações
ali? Por essa razão estas coisas são importantes, não somente pelo que são em
si mesmas, mas como parte do nosso testemunho geral como cristãos.
Então,
que é que isto nos ensina sobre o relacionamento entre a esposa e o esposo
nesta questão de sujeitar-se? Parece claro que não ensina uma pura e simples passividade; a esposa não deve ser
inteiramente passiva. E uma interpretação errônea desta convivência dizer que a esposa nunca
deve falar, nunca deve dar opinião, mas deve ficar muda ou calada e
completamente pusiva. Isso é forçar uma analogia e ilustração a ponto de deixá-la
sem sentido. Mas o que significa é isto: a esposa jamais deve
tomar-se culpada de ação iimce pendente. A
analogia do corpo e da cabeça reforça isso. O que compete ao mte c corpo não é
agir independentemente de mim. Eu é que resolvo agir com minha mente, meu cérebro e minha vontade. Meu corpo é o
meio pelo qual eu o expresso. Se o meu
corpo se puser a agir isoladamente de mim, ficarei sofrendo de uma espécie de “convulsão”. É isto exatamente o que
significa “convulsão”: partes do corpo se movem de maneira
irracional. Não é uma ação feita com algum propósito; ele não quer que elas
ajam, mas não pode detê-las; agem independentemente da sua mente e da sua vontade.
Isso é caos, é convulsão. Aqui está
a analogia: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos; sede em tudo sujeitas e obedientes a vossos maridos”. Por
quê? Porque como esposa, e neste
relacionamento, você não age independentemente do seu marido. Se o fizer, será o caos será a convulsão.
Ou
permitam-me subdividir o ponto ainda mais. A esposa não
deve agir antes do marido. O ensino todo indica que ele é
a cabeça, é ele que exerce o controle
definitivo. Assim, ela não somente não age independentemente dele; não age
antes dele. Todavia, deixem-me salientar isso
também: assim como é
certo dizer que ela não deve agir antes dele, é
igualmente certo dizer que ela não pecisa retardar a ação,
não deve “fazer cera”, não deve recusar-se
a
agir. Voltemos à analogia do corpo. Pensemos em alguém que sofreu
um derrame. Esta pessoa quer agir, mas o membro está paralisado, de
modo que ele não consegue. Embora a
pessoa esteja querendo movimento,
este não ocorre – o braço não está bem,
resiste ao movimento. Esta
é uma parte do ensino; a sejeição
envolve a idéia de que a mulher
não agirá antes do seu marido, nem tampouco retardará nem impedirá a ação,
não paralisará a ação.
Estes pontos são vitais em todo este relacionamento matrimonial; e é
porque as pessoas não percebem e não sabem estas coisas que o casamento está
decaindo por toda parte ao redor de nós. Independência, agir antes, não
agir, “fazer cera”, recusar-se, é o
errado; e tudo isso porque os homens e as mulheres não entendem este conceito
cristão do casamento.
Podemos
resumi-lo assim:
o ensino é que a iniciativa e a liderança cabem em última instância ao marido,
mas a ação deve ser sempre
coordenada. É esse : sentido dessa figura - ação coordenada, mas a cabeça execendo a liderança. Isto não
sugere nenhum sentimento de inferioridade. A esposa não é inferior ao marido; é
diferente. Ela tem a sua própria e peculiar posição, cheia de honra e respeito.
Por isso, depois, o homem recebe a incumbência de alimentar e sustentar sua
esposa, amá-la e cuidar dela, respeitá-la
e honrá-la. Isto não e - volve inferioridade. O que Paulo
está ensinando é que toda mulher cristã que dg mpreender tudo isso, gostará de agradar seu
marido, ser-lhe benéfica, auxiliá- lo, assessorá-lo, habilitá-lo
a exercer as suas funções. Não estará fingindo quando prometer “obedecer” (ou
“ser submissa”) durante a cerimônia nupcial. Que coisa triste! - recentemente
um amigo me contou que um clérigo que
ia ministrar numa cerimônia matrimonial dissera que não ia usar a expressão “e
obedecer”. Achava que estava sendo moderno, que com isso atrairia “os homens da
rua” - mostrando que, afinal de contas, o cristianismo não é estreito! Ele não
percebeu que estava rejeitando a doutrina bíblica. E quão completamente
incoerente tais pessoas são! Suponho que um homem como esse, se estivesse num
jogo de futebol, se gabaria do espírito de equipe. Embora estejam jogando
individualmente e todos tenham habilidade, os jogadores dão de si dizendo que
só um deles é o capitão. Cada um deles diz: “Não sou o capitão, eu me submeto ao capitão”. Isso
é maravilhoso, é o espírito de equipe; cada jogador obedece ao capitão. Mas
vocês não diriam isso com relação ao casamento! Isso é depreciativo para a
mulher, é antiquado, é Paulo, é o fariseu duro, isso é legalismo, é o Velho
Testamento! Entretanto, isso nega a doutrina toda, e é até incoerente em sua
pseudo-modemidade. A esposa cristã, compreendendo estas coisas, quer dizer, “e
obedecer-lhe” (“e ser-lhe submissa”),
“amá-lo, cuidar dele e obedecer- lhe”. Naturalmente! Por que está se casando?
Não seria para constituir “uma só carne”, uma integralidade? Não seria para
partilhar esta ação coordenada, esta inteireza, que deve ser demonstrada ao
mundo? Isso não é escravidão; é viver como a Igreja vive com relação ao seu
Senhor; isso manifesta o espírito essencial do cristianismo.
Mas, deixem-me dizer uma palavra final. Observaram que o fim da
exortação é, “De sorte que (então, agora então), assim como a igreja está
sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus
marido”? “Em tudo”! Realmente seria isso que significa? Aqui respondemos de
novo em termos da analogia das Escrituras em sua inteireza. Quando as
Escrituras fazem uma ampla e geral afirmação como essa, sempre esperam que a
interpretemos à luz do seu próprio ensino. Assim, quando lemos aqui a afirmação de que a esposa deve
ser sujeita a seu marido em tudo, equivale
exatamente a dizer que o cristão deve ser sujeito ao Estado, aos
poderes que existem, como em Rm capítulo 13 e noutros lugares. Significaria
então, que a esposa terá que fazer literalmente tudo que o seu marido lhe
disser que faça, em todas as circunstâncias e condições? Claro que não! Isso
seria declarar ridículas as Escrituras. Há condições aqui. Quais? Eis uma
delas: uma regra fundamental das Escrituras é que ninguém, homem ou mulher, jamais
deve agir contra a própria consciência. Dentro da relação conjugal, dentro dos
termos do casamento, o marido não tem direito de mandar na consciência da sua
esposa.
Aqui
poderíamos citar um bom número de casos deveras interessantes. Às vezes há
muita confusão entre obedecer à consciência e manter uma opinião. Não são a
mesma coisa. As Escrituras nos exortam a obedecer à consciência em todas as
circunstâncias; isso porém não é a mesma coisa que ficar agarrado à própria
opinião. Deixem-me dar uma ilustração disto. Da leitura do livro do Dr. John
Macleod sobre a teologia escocesa, lembro-me de um caso muito interessante que
ensina justamente este ponto. Havia uma discussão na Escócia, no século
dezoito, sobre a relação do cristão com o governo local, e uma parte da igreja
dividiu-se em duas seções, conhecidas como as seções “Cidadão” e “ “Anticidadão”. Foi tema
de grande controvérsia. Havia um ministro, de nome
James Scott, cuja esposa era verdadeiramente notável. Seu nome era Alison. Era
filha daquele extraordinário homem, Ecenezer Erskine, um dos fundadores da Secessão, na Escócia. Alison tinha personalidade
forte e era esposa de um homem competente. Scott e sua esposa discordaram nesse ponto - ele fazendo parte do partido “
Anticidadão” e ela do partido “Cidadão”.
Surgiram muitas situações difíceis, e o Sr. Scott participou de uma reunião sinodal que de fato censurou e depôs o pai, o
tio e cunhado de sua esposa - ato deveras
corajoso da parte dele. Depois disso feito, teve que ir para casa e contar à
esposa o que fizera. Em reposta, Alison Scott fez esta famosa declaração: “James Scott, você continua sendo o
meu marido, mas não é mais o meu pastor”. E também
pôs isso em prática, pois que todo domingo ia uma
das igrejas do partido “Cidadão”, e não à igreja na qual o seu marido
dirigia o culto e pregava. Que é que vocês fariam com
um caso como esse? Eu não hesito em dizer que
Alison Scott estava inteiramente errada, porque estava pondo a opinião acima da consciência.
Certamente aí está um exemplo em que, por todos os motivos, ela devia ter-se
sujeitado à liderança
e à direção do seu marido. Não teria violado sua
consciência; era pura questão de opinião. Digo e repito que nunca devemos cometer o engano de confundir
consciência com opnião. A mulher pode dar opinião,
mas quando vê que o seu marido está determinado,
deve cumprir a decisão dele.
Permitam-me
dar outra ilustração para contrabalançar a que acabei de contar. Uma das mais extraordinárias e comoventes
experiências que tive desde que sou pastor da
Capela de Westminster, deu-se há uns dezoito meses, se bem ame lembro. Eu
estava pregando à noite, no primeiro domingo após o meu regresso das férias de
verão; o texto era, “Somos embaixadores da parte de Cristo” (2 Co 5.20). Dei ênfase ao aspecto da vocação do embaixador, e
assim por diante. Saí do púlpito para o meu gabinete, e logo me foi conduzida uma mulher
que evidentemente estava muito agitada. Disse-me que o sermão tinha sido pregado para ela. Fazia uns dez anos que se casara.
O marido sentiu que estava sendo chamado para
o ministério e renunciou a seu cargo de professor
numa escola. Ela não concordou, de jeito nenhum. Fez tudo que pôde para impedir seu marido, mas este continuou convicto e foi
avante em seu propósito, passando a haver uma grave crise em sua vida conjugal.
Contudo, durante o culto aquela mulher ficou profundamente convicta sobre a
questão, e me procurou
para confessar isto e dizer-me que ia correr para o telefone mais próximo e
telefonar ao marido, que estava na região oeste do país para submeter-se, no
domingo subseqüente, a um exame para entrar no ministério. Ela viu que estivera errada em fincar o pé em
sua opinião e, deste modo, opor- se ao propósito de
Deus para a vida do marido. Não era consciência; era insistência numa opinião.
Digo que jamais devemos violar a consciência, mas também digo que devemos estar
prontos a submeter-nos nas questões de opinião. A posição da mulher na relação
matrimonial não deve ser pressionada a ponto de levá-la a ir contra a sua
consciência; tampouco deve ela permitir que o seu marido a leve a cometer
pecado. Se o marido estiver tentando fazer que a esposa cometa pecado, ela
deverá dizer: “Não!” Não dizer isso é tomar as Escrituras ridículas. Se o
marido perdesse o equilíbrio mental e se tomasse insano, evidentemente ela não
lhe obedeceria em tudo. As Escrituras nunca são ridículas; as Escrituras trazem
em seu conteúdo o seu sentido; e aí estão estes limites inevitáveis.
O
quarto ponto que defendo é que a esposa não deve sujeitar-se a seu marido a
ponto de deixá-lo interferir em sua relação com Deus e com o Senhor Jesus
Cristo. Até este limite ela deve fazer tudo, mas isso não!
Finalmente,
o adultério rompe o relacionamento conjugal; e se o marido se fizer culpado de
adultério, a esposa não estará mais obrigada a prestar-lhe obediência em tudo.
Poderá divorciar-se dele; as Escrituras lhe permitem agir assim. Terá o direito
de fazê-lo porque o adultério rompe a unidade, rompe o relacionamento. Estarão
separados daí em diante, e deixarão de ser um só. Ele terá rompido a unidade,
desfazendo-se da união. Portanto, não devemos interpretar esta porção das
Escrituras como se ensinasse que a mulher está irrevogável e inevitalmente
presa a um marido adúltero pelo resto da sua vida. Ela pode resolver que sim -
cabe a ela decidir. Tudo que estou dizendo é que esta passagem bíblica não
manda isso, não o torna inevitável. Noutras palavras, há certos limites para
estas questões.
Aí estão, pois, como as vejo, as principais deduções desta
ilustração maravilhosa. A grande verdade salientada é que a esposa deve ir até
os últimos limites da sujeição ao seu marido, por amor a Cristo e pelas razões
dadas, sob pena de violar os princípios que acabamos de formular. À esposa que
acaso esteja em dificuldades nesta questão, tomo a liberdade de sugerir certos
auxílios práticos. Se você está em dificuldade, faça a si mesma as seguintes
perguntas: por que me casei
com este homem? O que aconteceu? Isso não poderia ser reparado? Procure
recuperar aquele objetivo, no espírito de Cristo e do evangelho. “Ah, mas é
impossível”, você dirá, “não conseguirei”. Bem, então digo-lhe: como cristã
tenha pena do homem, ore por ele. Ponha em prática o ensino do apóstolo Pedro,
em sua primeira epístola, capítulo 3, onde ele diz claramente às esposas que
sejam sujeitas a seus maridos, e não somente aos que são cristãos: “Vós,
mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns
não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra;
considerando a vossa vida casta, em temor”. Tente pôr isso em prática; procure
ganhar seu marido com humildade e mansidão. “O enfeite delas não seja o
exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de
vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível trajo de um
espírito manso e quieto, que é preciso diante de Deus.” Faça tudo que
puder, vá até aos limites, vá além dos limites mínimos estabelecidos por estes
princípios. E, finalmente, faça a si mesma esta pergunta: poderei sinceramente comparecer, com minha atual atitude e
condição, perante o Senhor que apesar de mim, da
minha vileza e da minha pecaminosidade, veio do céu, enfrentou
a cruz do Calvário e Se entregou ali por mim? Se você puder encará-lO tudo bem;
nada terei que dizer. Mas se você sentir condenada em Sua presença, quanto à sua
atitude, quanto ao seu relacionamento nalgum aspecto, vá acertar isso. De maneira que, quando voltar a
Ele de novo, estará com a consciência tranqüila, com espírito aberto, e poderá
regozijar-se em Sua santa presença. Esta
é uma questão cristã; é semelhante à relação da
Igreja com Cristo, o corpo e a cabeça. Tão logo vejamos as coisas nestes
termos, não haverá problemas; isso é um grande privilégio, é uma coisa que Deus
contempla com agrado e prazer. “Vós,
mulheres, sede sujeitas” - “um espírito manso e quieto, que é
precioso diante de Deus”, e, por mais que você tenha que sofrer aqui na terra,
sua recompensa no céu será grandiosa.
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