terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A ORDEM DA CRIAÇÃO





Efésios 5:22-24

Examinamos o assunto em geral, e isso devido ao modo pelo qual o apóstolo no-lo apresenta; é essencial termos isso em mente. O espírito com que abordamos esta questão é muito importante. Tudo que se faz na esfera da Igreja é diferente do que se faz fora dela. O mundo, em suas entidades de debate, discute a questão do casamento, e o faz de maneira particular - dois lados, pró e contra, defensores e demandantes. Mas não é esta a maneira como a Igreja encara o problema; ela não enfrenta nenhum problema desse modo. Aqui, somos confrontados pela autoridade que nos vem da Palavra. Não nos interessa expressar nossas opiniões; nosso único propósito é entender o ensino da Palavra. E o fazemos juntos - não um grupo aqui e outra ali, oposição e governo, por assim dizer, defesa e ataque. Nós nos reunimos com o fim de encontrar o ensino da Bíblia; e temos visto que certos princípios grandiosos são formulados com tanta clareza que tudo isso se eleva ao nível da doutrina cristã em suas maiores alturas. Somos confrontados por alguns dos mais profundos ensinamentos das Escrituras concernentes à natureza da Igreja cristã.
Tendo examinado aqueles princípios gerais, podemos agora partir para a aplicação particular. Vocês vêem que a primeira coisa é uma injunção dada às esposas. Vocês se lembram de que as esposas são colocadas antes dos esposos por uma única razão, que o apóstolo está tratando da questão da sujeição. O princípio está no verso 21: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Nesta questão de sujeição, diz ele primeiramente: “Vós, mulheres, sujeitai-vos (ou sede sujeitas) a vossos maridos, como ao Senhor”. O que devemos considerar é esta “sujeição” das esposas aos esposos. O apóstolo não só lhes lembra isso, mas lhes diz claramente que é dever delas fazê-lo - assim como é dever de todos nós sujeitar-nos uns aos outros. Eis uma coisa muito especial, diz ele: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos”. Isto é mais evidente ainda porque eles são seus maridos, seus próprios maridos, e devido ao ensino sobre toda a questão do casamento. O ponto importante que emerge aqui é esta questão de sujeição - é o que ele está ressaltando. Portanto, devemos examinar bem este ponto; e, afortunadamente, o apóstolo nos ajuda a fazê-lo. Não se trata apenas de uma injunção lançada ao acaso.
Paulo nos dá primeiro o grande motivo para a sujeição: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor". Precisamos ter uma clara compreensão desta frase, porque ela pode ser, e tem sido, mal entendida. Não significa: “Vocês, mulheres, sujeitem-se a seus maridos exatamente da mesma maneira como se sujeitam ao Senhor”. Isto seria ir longe demais. A sujeição de todas as esposas, e na verdade de todos os crentes cristãos, homens e mulheres, ao Senhor Jesus Cristo é absoluta. O apóstolo não diz isso, quanto ao relaciona­mento das mulheres para com os seus maridos. Todos nós somos “escravos” de Jesus Cristo; mas nunca se diz que a esposa é escrava do seu esposo. Nossa relação com o Senhor é de completa, inteira, absoluta sujeição. As esposas não são exortadas a tal sujeição.
Que significa então? Significa: “Vocês, mulheres, sujeitem-se a seus maridos porque isso faz parte dos seus deveres para com o Senhor, porque é uma expressão da sua sujeição ao Senhor”. Noutras palavras, não estarão fazendo isto somente para o marido, mas, primordialmente, para o Senhor. É uma repetição do princípio geral estabelecido no verso 21: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Em última análise, não o fazem pelo marido; a razão, o motivo final não jaz aí; a sujeição é “ao Senhor”. Vocês o fazem por amor a Cristo, porque sabem que é Ele que as exorta, porque é agradável aos Seus olhos este seu procedimento. Faz parte da sua conduta cristã, faz parte do seu discipulado. O apóstolo, usando o mesmo tipo de argumento ao escrever aos coríntios, na primeira epístola, 10:31, diz: “quer comais, quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus - façam tudo “como ao Senhor”. Tudo que fazemos é por amor a Ele, para agradá-lO, porque sabemos que Ele quer que o façamos.
Assim, logo no inicio, o apóstolo eleva esta questão muito acima da esfera da controvérsia e nos habilita a abordá-la com o espírito apropriado. Se desejam, diz ele, agradar ao Senhor Jesus Cristo e cumprir Suas ordens e Sua vontade, sujeitem-se aos seus maridos. Não pode existir motivo mais estimu­lante que esse para qualquer ação; e toda esposa cristã que se preocupe acima de tudo em agradar ao Senhor Jesus Cristo, não verá dificuldade nesta pas­sagem; de fato, seu maior prazer será fazer o que Paulo nos diz aqui. Eu iria mais longe. Jamais talvez tenhamos tido, como povo cristão, maior oportunidade de mostrar o que o cristianismo significa realmente do que nesta conjuntura atual, quando a vida neste mundo está cada vez mais revelando as suas verdadeiras cores. Essa vida está se tomando cada vez mais caótica, nesta questão do relacionamento matrimonial e em todos os demais aspectos. Aí está uma gloriosa oportunidade que temos de mostrar que diferença faz ser cristão. Portanto, mulheres cristãs, diz o apóstolo, vocês têm uma oportunidade magnífica; podem mostrar que não são mais pagãs, que não são mais irreligiosas, que não pertencem mais ao mundo. E estas outras pessoas - que vivem como vivem, que afirmam os seus direitos, que exibem a arrogância a qual leva ao caos que caracteriza a vida atual - quando olharem para vocês, verão algo tão diferente que dirão: “Que é isto? Por que vocês se comportam desta maneira? Qual a razão disto?” E a sua resposta não será: “Bem, simplesmente nasci deste jeito”, mas: “Comporto-me assim porque esta é a vontade do meu Senhor”. Assim terão imediatamente uma oportunidade para pregar e expor o evangelho.
É por isso que o apóstolo as exorta a que procedam deste modo. O ponto presente em sua exortação, que vemos no conteúdo total deste capítulo e na maior parte do capítulo anterior - é que estes cristãos devem mostrar em todos os pormenores das suas vidas que, uma vez que alguém se tomou cristão, é diferente em todos os aspectos. Daí, esta grande característica da vida cristã pode ser demonstrada pelas esposas com sua sujeição aos seus esposos. Esse é o grande motivo; e se não formos movidos e animados por ele, nenhum outro argumento nos atrairá. Se já não estivermos sujeitos ao Senhor Jesus Cristo e interessados em Seu nome e em Sua honra acima de tudo mais, todos os outros argumentos nos deixarão impassíveis. O apóstolo coloca isso primeiro; e nós temos que colocá-lo primeiro.
Havendo dito isso, porém, Paulo prossegue e nos dá razões particulares, razões adicionais. Aqui de novo vemos a riqueza e a glória das Escrituras. Há duas grandes razões subsidiárias, diz ele, pelas quais a esposa cristã deve sujeitar-se ao seu esposo. A primeira é a que podemos denominar “ordem da criação”; a segunda, que isto é algo que pertence à esfera da relação da Igreja com o Senhor Jesus Cristo. Ambas as razões estão no versículo vinte e três: “Porque” - aqui está a primeira razão - “o marido é a cabeça da mulher”. A segunda razão é: “Como também Cristo é a cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador do corpo”.
Observem a primeira razão. É que esta faz parte da ordem da criação, uma parte das ordenaças de Deus, do decreto de Deus, da vontade de Deus, daquilo que Deus estabeleceu quanto à esta relação entre homens e mulheres. Este ensino encontra-se em várias porções das Escrituras. Vê-se primeiramente no capítulo dois de Gênesis, logo em seguida à criação; e se pode observar como as referências do Novo Testamento nos remetem de volta para lá. É o que quero dizer quando afirmo que isto pertence à ordem da criação. Antes de podermos considerar o casamento do ponto de vista especificamente cristão, devemos ir aos antecedentes, porque a estes o Novo Testamento nos envia. Envia-nos ao livro de Gênesis, a toda a questão da criação. Também nos remete à questão da Queda. O relato desta acha-se no capítulo três de Gênesis. O versículo crucial é o 16, onde lemos o que Deus disse à mulher por ter ela dado ouvidos a Satanás e à sua tentação, e por ter comido do fruto proibido. “E à mulher disse: Multi­plicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor terás filhos, e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.” Esse é um adendo ao capítulo 2, e devemos prestar muita atenção nele.
A fim de resumir o ensino das Escrituras concernente a esta importante questão do casamento e da família, podemos extrair os princípios postos diante de nós nestas várias porções das Escrituras. Lembrem-se de que estamos tratando essencialmente do “casamento”, e não da posição da mulher (ou das mulheres) como tal. Certamente temos que deduzir das Escrituras o ensino quanto às mulheres em geral, e de matérias como a questão das mulheres adotarem profissões etc. Mas não estou tratando disso, estou tratando unicamente da questão do casamento. É o que o apóstolo faz aqui; ele está se dirigindo às esposas. Não está se dirigindo a mulheres não casadas, neste ponto. Há ensino sobre isso, mas não entra em nosso terreno aqui, a não ser indiretamente.
O ensino é o seguinte: primeiro, vemos que a ênfase é dada constante­mente ao fato de que o homem foi criado primeiro, não a mulher. Assim, uma prioridade natural favorece o homem. As Escrituras também ressaltam o fato de que a mulher foi feita do homem, tirada do homem, e destinada a ser um auxílio, uma “adjuntora” para o homem, uma adjuntora que estivesse diante dele - “que lhe fosse idônea”. Nenhum dos animais poderia satisfazer essa necessidade. “... mas para o homem não se achava adjuntora que lhe fosse idônea”. E foi porque não se achou “adjuntora” satisfatória para o homem dentre os animais, que foi criada a mulher. Esse é o ensino básico, e observe, que o apóstolo lhe dá forte ênfase. O homem foi criado primeiro. Não somente isso, porém, também foi constituído o senhor da criação. Ao varão foi dada esta autoridade sobre a natureza e sobre os animais; o varão é que foi convocado para dar-lhes nomes. Aí estão indicações de que o varão foi colocado numa posição de liderança, de senhorio, de autoridade e poder. Ele toma as decisões, ele estabelece as regras.
O apóstolo Pedro sublinha tudo isso com aquela sua frase significativa na qual diz aos maridos que dêem honra à esposa “como vaso mais fraco” (1 Pe 3:7). Que será que ele quer dizer com “vaso mais fraco”? Vê-se claramente que ele quer dizer o que é ensinado com muita clareza nos primeiros capítulos de Gênesis, e, na verdade, em toda parte na Bíblia. Quer dizer primordialmente esta questão toda da chefia e liderança do varão. Falando em termos físicos, o homem é mais forte que a mulher; foi criado para ser mais forte, e é. Eu poderia entrar em minúcias a respeito. Poderia prová-lo com extrema facilidade, não meramente do ponto de vista da anatomia, mas ainda mais do ponto de vista da fisiologia. A mulher não foi destinada a ser forte como o homem fisicamente, quanto aos nervos e às emoções, e em muitos outros aspectos. Ela foi constituída de maneira diferente; e quando o apóstolo afirma que ela é o “vaso mais fraco”, absolutamente não está falando num sentido depreciativo. Está simplesmente dizendo que ela é essencialmente diferente do homem, e que o homem sempre deve ter isso em mente. Ele não deve tratar a mulher como se fosse sua igual - estes aspectos. Deve lembrar que ela foi criada diferentemente, e que, por conseguinte, deve respeitá-la e honrá-la, defendê-la e protegê-la.
Eis, pois, o ensino fundamental, básico - o homem deve ser a cabeça da esposa e o chefe da família. Deus o fez desse modo, dotou-o de faculdades, capacidades que o habilitam a cumprir isto; e fez a mulher de modo que seja o “complemento” do homem. Ora, a palavra “complemento” traz consigo a idéia de sujeição; sua principal função é suprir uma deficiência do homem. É por isso que os dois se tomam “uma carne”; a mulher é o complemento do homem. Mas a ênfase é, portanto, esta - que o homem não é responsável somente por si, mas também por sua esposa e por sua família em todas as questões fundamentais. À esposa cabe auxiliá-lo, apoiá-lo, assisti-lo e fazer tudo que puder para habilitá-lo a agir como o senhor da criação, posição em que Deus o colocou. Ela foi trazida à existência com o fim de ajudar o homem a realizar essa grande e maravilhosa tarefa. Esse é o ensino básico quanto à relação de esposos e esposas nos termos exarados na própria ordem da criação, as regras fundamentais quanto à vida do homem neste mundo.
Todavia devemos ir além. Era assim antes da Queda. Enquanto o homem e a mulher ainda eram perfeitos, enquanto ainda estavam no Paraíso sem pecado, sem terem eles nenhum defeito, essa era a ordenação de Deus. Mas, infortunadamente, algo aconteceu - a Queda. Sua importância é exposta com muita clareza, principalmente pelo apóstolo Paulo na Primeira Epístola a Timóteo, 2:11-15, no fim da seção. Notem que o apóstolo dá grande importância ao fato de que foi a mulher que foi enganada e caiu primeiro, e não o homem. Assim a Queda fez mais outra diferença. Gênesis 3:16 demonstra isso. Ei-lo outra vez: “E à mulher disse: (Por isso) multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição”. Daí se pode deduzir que provavelmente o parto seria sem dor, não fora o pecado e a Queda. “Com dor terás filhos.” Mas, para o nosso propósito agora - “o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”. Aí está algo adicional. Não somente reitera o senhorio, a liderança e a chefia já estabelecidos antes da Queda, saliente isso - “ele te dominará”. Há um novo elemento aqui; a subordinação da mulher ao homem aumentou como resultado da Queda. Ora, pode-se argumentar que o edito de Deus foi promulgado por esta razão - que a quintessência da Queda, do que aconteceu com Eva, foi que ela, sendo confrontada pela insinuação e pela sugestão do diabo, em vez de fazer o que devia, o que fizera até então e que fora ensinada a fazer, isto é, procurar Adão e consultá-lo sobre essa questão, tomou a decisão por conta própria e se colocou na posição de liderança. Ela enfrentou a situação, em vez de deixar isso com Adão, e, em conseqüência, caiu. Ela o envolveu igualmente na Queda e, daí, toda a raça humana caiu. De modo que em certo sentido, o pecado original consistiu em que a mulher desconsiderou o seu lugar e sua posição na relação matrimonial, usurpou autoridade, poder e posição e, com isso, sobrevieram a calamidade e o caos. Isso não consta apenas em Gênesis 3:16; forma a base do argumento apostólico quanto às mulheres assumirem autoridade, ensinarem e pregarem, na Primeira Epístola a Timóteo, capítulo dois.
Esse é o ensino, em sua essência. Mas surge logo uma objeção, uma objeção que se lê e se ouve com muita freqüência - e, ah, muitas vezes partindo de pessoas evangélicas que alegam crer nas Escrituras como a inspirada e infalível Palavra de Deus! Eis o que se ouve tantas vezes: “Ah, mas isso não passa de opinião do apóstolo Paulo. Obviamente ele era antifeminista e defendia o conceito comum naquela época sobre as mulheres”. Salienta-se que, naquele tempo, a mulher estava em posição extremamente baixa. Todos, sem exceção, tinham essa idéia; a mulher, por assim dizer, era apenas uma “merca­doria”, uma escrava. E esta verdade abrange até os judeus, sendo que o apóstolo não era nada mais que um típico judeu rabínico. Assim se desenrola o argumento.
Não é surpreendente que as pessoas que não crêem nas Escrituras como a Palavra de Deus digam essas coisas. Não hesitam em dizer, não somente que Paulo estava errado, mas também que o Senhor Jesus Cristo estava errado. Essas pessoas são a autoridade; elas é que sabem, que entendem. Não discuto com tais pessoas; simplesmente lhes digo que não posso discutir com elas porque não se trata de meramente pôr a minha opinião contra a delas. Não há nada mais que dizer sobre sua opinião - esta não é cristã, de modo nenhum. O cristão é alguém que se submete inteiramente à revelação bíblica; nada sabe fora desta. Assim, quando ouvimos este argumento, não somente o deploramos e nos entriste­cemos; temos que responder-lhe, e lhe respondemos deste modo: falando em termos gerais, é mais que certo dizer que no conceito comum no tempo do Senhor Jesus e do apóstolo Paulo, a mulher era humilhantemente inferior. Mas esse não era o conceito dos judeus, pois eles tinham estas Escrituras e criam nelas. E é bem certo que não era esse o conceito do apóstolo Paulo. Notaram o que ele diz em 1 Co 11:11? Suas palavras são: “nem o varão é sem a mulher, nem a mulher sem o varão, no Senhor.” Este grande apóstolo gloriava-se no fato de que em Cristo Jesus não há bárbaro, cita, servo ou livre, macho nem fêmea (Cl 3:11; Gl 3:28). Constituía parte vital da sua pregação do evangelho dizer: Neste assunto da salvação, os homens e as mulheres são iguais, e o homem e a mulher têm igual oportunidade de salvação. Ele se gloriava nisso, e não há ninguém que fale com mais delicadeza nem mais gloriosamente sobre a condição da mulher e de sua glória do que o apóstolo Paulo. Ademais, observem que ele não se limita unicamente a dar-nos uma descrição dos deveres da mulher para com o seu marido; também nos fala sempre dos deveres do marido para com a sua mulher; e demonstra que o conceito do marido cristão sobre a condição da mulher, sobre a mulher em geral e sobre a sua esposa, é mais elevado do que qualquer outra coisa que o mundo jamais conheceu. Ele coloca todas as coisas em seu devido lugar. Ele sempre nos dá os dois lados.
No entanto, fora disso tudo, o apóstolo nunca apresenta estas coisas como sua opinião pessoal; ele sempre retorna a Gênesis e à ordem da criação. Com efeito, diz ele: não é minha opinião; é o que Deus estabeleceu. A única preocupação do apóstolo é que a verdade de Deus seja conhecida, e que o que Deus ordenou seja posto em prática constantemente. Portanto, a tendência de dizer que isso “não passa de opinião de Paulo”, é uma negação das Escrituras. Devemos ver isto com bastante clareza. Se vocês crêem que a Bíblia é a inspirada e infalível Palavra de Deus, não devem falar como o mundo fala sobre o apóstolo Paulo; porque, quando ele escreve, não somente cita as Escrituras mas também escreve como apóstolo inspirado. Quando emite sua opinião pessoal, sempre tem o cuidado de dizê-lo, e se não avisa que é sua opinião pessoal, o que escreve é inspirado. Vocês recordam como o apóstolo Pedro diz aos seus leitores que ouçam o apóstolo Paulo. Diz ele que algumas pessoas torcem os argumentos de Paulo e os seus escritos, “e igualmente as outras Escrituras, para a sua própria perdição” (2 Pe 3:16). O que Paulo escreve é Escritura; assim, os seus críticos não contestam Paulo, contestam a Deus, contestam o Espírito Santo. Ao mesmo tempo, colocam-se a si mesmos na contraditória posição de dizer que crêem na Bíblia somente na medida em que ela não contradiz aquilo em que eles acreditam como criaturas do século vinte. Isso é uma negação da crença na autoridade das Escrituras.
Tendo tratado dessa estulta objeção - e não há nada mais estulto que essa prosa — deixem-me resumir de novo esta doutrina. A mulher, de acordo com este ensino, a esposa, recebe certa posição. Ser sujeita ao seu marido não significa que é escrava dele, não significa que lhe é inferior em tal condição - nem por um momento! Veremos isso com maior clareza ainda quando consid­erarmos os deveres do esposo para com a esposa. O que ele está dizendo é que a mulher é diferente, que ela é complemento do homem. O que ele proíbe é que a mulher procure ser máscula, isto é, que a mulher procure comportar-se como homem, ou que procure usurpar o lugar, a posição e o poder que foram dados por Deus ao varão. Isso é tudo que ele está dizendo. Não é escravidão; ele esta exortando os seus leitores a cumprir o que Deus ordenou. Portanto, a esposa deve alegrar-se com a sua posição. Ela foi feita por Deus para ajudar o homem a agir como representante de Deus neste mundo. Ela deve ser a construtora do lar, a mãe, a auxiliadora do homem, sua consoladora, alguém com quem ele possa falar e de quem possa buscar consolo e estímulo - ela é uma auxiliadora própria para o homem. O homem entende a verdade sobre si mesmo, ela também entende a verdade sobre si mesma e, assim, ela o complementa e lhe assiste; e juntos vivem para a glória de Deus e do Senhor Jesus Cristo.
Uma ilustração pode ser de ajuda neste ponto. A idéia de liderança ou chefia causa tropeço a certas pessoas, porque estas parecem pensar que necessariamente, isso traz a idéia de uma inferioridade inerente e essencial. Não só isso, porém. Toda esta idéia de chefia do homem, do marido, na relação matrimonial, é comparável de muitas maneiras à relação das tropas com o rei: chefe. Um exército ficaria completamente caótico se cada componente tivesse o direito de decidir o que fazer a cada passo. Como eu já disse, no momento em que um homem se junta às forças armadas ele cede o seu direito de comando próprio àquele que é colocado acima dele; e conquanto possa ter suas idéias e opiniões pessoais agora renuncia a elas; ele se submete e fica em sujeição.
Ou imaginem uma comissão sendo nomeada para considerar dado as­sunto. São designados alguns homens. A primeira coisa que fazem é nomear um presidente. Naturalmente! Por quê? Porque é preciso haver alguma autoridade. Não se poderá fazer transações se não houver uma Presidência à qual dirigir-se, e temos que obedecer ao comando do Presidente. Aqui, de novo, não entra em cena a questão da inferioridade. Simplesmente significa que, para agir eficien­temente, é preciso ter um líder. Tomemos uma Câmara dos Comuns recém-formada. A primeira coisa que fazem é indicar um Orador; e o trabalho do Orador consiste justamente em ocupar o assento da Presidência e exercer controle, impor a sua autoridade. De novo, não quer dizer que ele é o maior homem da Câmara dos Comuns, e que todos os demais lhe são inferiores. Não! Em sua sabedoria, e porque nenhuma resolução poderá ser tomada sem isso, eles colocam alguém nesta posição de autoridade. Pois bem, a Bíblia ensina que Deus colocou o homem, o marido, nessa posição. Portanto, diz o apóstolo às esposas: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos”, porque o marido foi nomeado chefe.
Mas um argumento maior ainda se acha em 1 Coríntios capítulo 11, onde se nos diz que o homem, o marido, é a cabeça da mulher, que Cristo é a Cabeça do homem e que Deus é a Cabeça de Cristo. Este argumento é incontestável. Em que sentido Deus é a Cabeça de Cristo? A resposta está naquilo que às vezes denominamos Economia da Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são co-iguais e co-eternos. Então, como pode o Pai (Deus) ser a Cabeça de Cristo? Quanto ao propósito da salvação, o Filho subordinou-Se ao Pai, e o Espírito subordinou-Se ao Filho e ao Pai. É uma subordinação voluntária para que a salvação fosse levada a cabo. É essencial para a execução da obra. Disse o Filho: “Eis-me aqui, envia-me”. Foi voluntário. Ele põe de lado este aspecto da igualdade, toma-Se um servo do Seu pai, e o Pai O envia - a Cabeça de Cristo e Deus (1 Coríntios 11:3). Esse é o modo como Paulo o coloca: “Como a Cabeça de Cristo é Deus, assim Cristo é a Cabeça do homem, e o homem é a cabeça da mulher”; portanto, “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor”.
Essa é a exposição positiva deste tremendo ensino que, somente ele, nos dá um genuíno conceito sobre casamento. Diga-se de passagem, tenho lidado com um argumento, outra vez um argumento estulto, apresentado muitas e muitas vezes. Diz alguém: “Você sabe, isso está completamente errado; conheço muitos casos em que a esposa é uma pessoa muito mais capaz do que o esposo, muito mais talentosa em todos os aspectos. Você está dizendo que uma mulher tão brilhantemente dotada tem que sujeitar-se a seu marido, a um hornem que lhe é inteiramente inferior?” Há somente uma resposta para esse argumento: a pessoa que o formula está argumentando contra Deus. Deus não ignora esse caso. O que Deus diz é que, se essa mulher talentosa e brilhante não se sujeitar a seu marido, estará pecando. Sejam quais forem os seus talentos, ela deve sujeitar-se a seu consorte.
Neste ponto farei dois comentários. Mulher nenhuma, sejam quais forem os seus talentos, tem o direito de sequer pensar em desposar dado indivíduo, se não estiver preparada para lhe ser sujeita. Trata-se de uma sujeição voluntária, como Cristo Se sujeitou e Se subordinou. Ela deve portar-se da mesma maneira e, a menos que esteja preparada para fazê-lo, a menos que esteja convicta de que poderá submeter-se ao homem em vista, não deverá desposá-lo (casar-se). Se entrar na vida matrimonial com qualquer outra idéia, estará indo contra a vontade de Deus e estará cometendo pecado.
Eis meu segundo comentário: às vezes penso que uma das coisas mais maravilhosas que já tive o privilégio de testemunhar foi um acontecimento do tipo a que estou me referindo. Durante bom número de anos, preguei habitu­almente em certa igreja num dos distritos, e depois de pregar costumava passar a noite na residência do ministro e sua esposa. Sempre era muito interessante, pois, desde a minha primeira visita me ficou evidente que, do ponto de vista da habilidade pura e simples, não havia comparação entre o marido e a esposa. Esta era uma mulher excepcionalmente capaz e brilhante. O marido não era destituído de dons, mas estes pertenciam à esfera da personalidade - ele era excepcionalmente gentil, bondoso, humano e cortês. Mas, quanto à pura capacidade intelectual, não havia comparação. De fato, seu histórico aca­dêmico - ambos tinham formação universitária - tinha comprovado isto. A esposa se graduara numa matéria que bem poucas mulheres assumiam naquela época em particular, e ela fora classificada entre os do primeiro nível. O esposo, que escolhera uma matéria de estudo muito mais fácil, conseguira apenas graduar-se em segundo nível. Digo que não havia como questionar, no que diz respeito à capacidade - sua percepção de questões intelectuais e seu entendi­mento me impressionaram, e me ficaram cada vez mais evidentes à medida que os conhecia melhor. Mas o que quero dizer é que não sei se alguma vez vi algo mais maravilhoso que o modo pelo qual aquela mulher sempre colocava o seu marido em sua posição verdadeiramente bíblica. Ela o fazia de maneira muito inteligente e sutil. Ela colocava argumentos na boca dele, mas sempre de tal modo que dava a idéia de que eram dele, e não dela! Há um aspecto divertido nisso, mas estou relatando o fato como uma das coisas mais comoventes e mais tremendas que já experimentei. Ela não era apenas uma mulher capaz, era uma mulher cristã e estava acionando o princípio segundo o qual o marido é a cabeça. A ele sempre cabia determinar a decisão, embora fosse ela quem lhe fornecia as razões. Ela agia como uma auxiliadora idônea para ele. Ela possuía as qualidades que a ele faltavam; ela o complementava e o suplementava. Mas o marido era o chefe, e os filhos eram sempre encaminhados a ele. Ela velava pela posição do marido.
Permitam-me demonstrar a importância de perceber, captar e compreen­der este ensino. Por que isso tudo é tão importante, e especialmente hoje em dia? É porque a falta de compreensão e de execução deste ensino é a causa da maioria dos problemas do mundo atual. O problema básico do mundo de hoje é problema de autoridade. O caos no mundo se deve ao fato de que, em todas as áreas da vida, as pessoas perderam todo o respeito pela autoridade, quer entre nações ou entre regiões, na indústria, em casa, nas escolas, ou em toda e qualquer parte. A perda da autoridade! E, em minha opinião, tudo começa realmente no Lar e na relação matrimonial. Por isso me aventuro a indagar se um estadista cujo casamento se arruinou tem de fato o direito de falar sobre os problemas do mundo. Se ele falha na esfera para a qual lhe foi dada a maior competência, que direito tem de falar sobre as outras? Ele deveria retirar-se da vida pública. O verdadeiro colapso começa em casa, e no relacionamento conjugal. Estou afirmando que o espantoso aumento do divórcio que vem ocorrendo desde a segunda guerra mundial (disseram-me que no momento está diminuindo um pouco, mais opino que isso é apenas temporário e pode ser explicado) é devido a uma única coisa, a saber, que os homens e as mulheres não entendem este ensino escriturístico sobre o casamento e sobre esposos e esposas.
A mesma falta de entendimento é também a explicação da ruína da família e da vida doméstica, de novo tão evidente nos dias atuais. A família está deixando de ser o centro que era. Os membros da família estão sempre fora de casa, nalgum lugar, e freqüentemente estão fora até alta hora da noite. A vida familiar, com a sua maravilhosa coesão - esta unidade fundamental da vida - está desaparecendo. Encontramos aqui, também, a explicação do desgoverno e da indisciplina existentes entre os filhos e, daí, a principal explicação da delin­qüência juvenil. Até pela estatística se pode provar isso! Os jovens que se tornaram delinqüentes quase invariavelmente são filhos de lares desfeitos, de casamentos desfeitos. Nunca lhes foi dada uma “chance”, como dizemos. Eles foram criados numa atmosfera de incerteza, indecisão e conflito, onde a esposa é contra o esposo, e o esposo contra a esposa, e eles se tornam cínicos já em seus tenros anos. Não respeitam pai e mãe, não respeitam nada e ninguém. O lugar onde a criança deveria ter confiança e deveria poder buscar autoridade, lideran­ça e direção, desapareceu; não há mais nada ali e, assim, a pobre criança vem a ser um delinqüente. Ela foi criada nesta atmosfera de conflito entre pai e mãe, marido e mulher.
Na verdade, há outros aspectos desta tendência que me parecem mais sinistros ainda. Não é um fato, cada vez mais presente, que os varões estão abrogando sua posição e se afastando dela, deixando de cumprir os seus deveres como maridos e pais por pura preguiça e egoísmo? Os maridos estão cada vez mais deixando a disciplina da vida doméstica a cargo das esposas, das mães. Eles não podem ser incomodados; chegam em casa cansados do trabalho e pedem a suas esposas que mantenham os filhos longe deles e que respondam às suas perguntas. Acaso não é o que está acontecendo cada vez mais? O marido está deliberadamente deixando vaga a posição em que Deus o colocou. Isso está acontecendo entre cristãos, porém muito mais entre não cristãos. O marido está abandonando a sua posição e, em sua preguiça, a está deixando com a esposa.
Depois, por outro lado, o feminismo tem levado à agressividade da parte da esposa, da mãe. Ela está se posicionando como igual ao pai, e está minando a influência do pai sobre a mente dos filhos. O infeliz resultado é a abordagem totalmente falsa e errônea de toda a questão. Não digo isto com espírito crítico. Estamos vendo isto crescentemente neste país (Inglaterra), mas nem um pouco na extensão com que se vê nos Estados Unidos da América. Ali se vê o que mais ou menos se pode chamar sociedade matriarcal, e o homem está sendo cada vez mais considerado como aquele que fornece dólares, o assalariado, o homem que traz o dinheiro necessário. A mulher, a mãe, é a pessoa que sabe das coisas, é a cabeça do lar, e os filhos olham para ela. Este falso e anti-bíblico conceito do homem e da mulher, do pai e da mãe, leva a uma sociedade matriarcal que, ao que me parece, é sumamente perigosa. O resultado é, naturalmente, o cresci­mento do crime e de todos os terríveis problemas sociais com que estão pelejando naquele país. Daí, uma vez que influenciam todos os outros países por meio dos seus filmes e doutras diversas maneiras, esta atitude está se propa­gando pelo mundo inteiro. Uma sociedade matriarcal, com a mulher como cabeça e centro do lar, é uma negação do ensino bíblico e, de fato, é uma repetição do antigo pecado de Eva.
O problema está sendo crescentemente reconhecido. Por isso foram cons­tituídos os Conselhos de Orientação Matrimonial e outras organizações seme­lhantes. Entretanto - que pena! - geralmente focalizam os problemas em termos da psicologia. Todavia, se vocês examinarem a vida conjugal de muitos desses psicólogos, levarão um choque. Estas pessoas que dão conselhos sobre como adentrar o estado matrimonial, e como preservar e manter o casamento, não conseguem aplicar o ensino aos seus próprios casamentos. Naturalmente, não conseguem! Não é questão de psicologia. O que é preciso não é apenas um pouco de bom senso, prudência e espírito de camaradagem, e de dar e receber. Os homens e as mulheres sabem tudo sobre isso, e sempre souberam; mas não conseguem praticá-lo. Não, há somente uma esperança. Enquanto Deus não for aceito como a Autoridade, e o homem e a mulher não se submeterem a Ele, enquanto não fizerem todas as coisas “como ao Senhor”, e não puserem em ação a mesma espécie de chefia que Deus exerce sobre Cristo, e Cristo sobre o homem, não haverá esperança. É na medida em que os homens e as mulheres nestes últimos cem anos têm-se apartado crescentemente da autoridade da Bíblia, que este terrível mal social, este problema social terrível, se evidencia cada vez mais. Sei que me dirão: “É óbvio que você quer retomar àquele tipo de marido e pai vitoriano, severo, repressivo e autoritário”. Isso está completa­mente errado! Bem sei que grande parte do problema moderno se deve a uma reação contra a mentalidade vitoriana, e eu também condeno a mentalidade vitoriana como condeno a situação atual. Devemos retomar à Bíblia. Não defendo um retorno à idéia vitoriana. O que digo é: voltem para Deus, voltem para Cristo, voltem para a revelação presente na fidedigna Palavra de Deus. Observem de novo o Seu plano perfeito - o homem e, ao seu lado, a mulher completando-o, sua auxiliadora apropriada, idônea; amando-se um ao outro, acatando-se, respeitando-se, honrando-se um ao outro, mas nunca confundindo as duas esferas.
Que Deus, por Sua graça, nos capacite não somente a enxergar o ensino, mas também a sujeitar-nos ao ensino.

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