Efésios 5:22-24
Examinamos o assunto em geral, e isso devido ao
modo pelo qual o apóstolo no-lo apresenta; é essencial termos isso em mente. O
espírito com que abordamos esta questão é muito importante. Tudo que se faz na
esfera da Igreja é diferente do que se faz fora dela. O mundo, em suas
entidades de debate, discute a questão do casamento, e o faz de maneira
particular - dois lados, pró e contra, defensores e demandantes. Mas não é esta
a maneira como a Igreja encara o problema; ela não enfrenta nenhum problema
desse modo. Aqui, somos confrontados pela autoridade que nos vem da Palavra.
Não nos interessa expressar nossas opiniões; nosso único propósito é entender o
ensino da Palavra. E o fazemos juntos - não um grupo aqui e outra ali, oposição
e governo, por assim dizer, defesa e ataque. Nós nos reunimos com o fim de
encontrar o ensino da Bíblia; e temos visto que certos princípios grandiosos
são formulados com tanta clareza que tudo isso se eleva ao nível da doutrina
cristã em suas maiores alturas. Somos confrontados por alguns dos mais
profundos ensinamentos das Escrituras concernentes à natureza da Igreja cristã.
Tendo examinado aqueles princípios gerais, podemos
agora partir para a aplicação particular. Vocês vêem que a primeira coisa é uma
injunção dada às esposas. Vocês se lembram de que as esposas são colocadas
antes dos esposos por uma única razão, que o apóstolo está tratando da questão
da sujeição. O princípio está no verso 21: “Sujeitando-vos
uns aos outros no temor de Cristo”. Nesta questão de sujeição, diz ele
primeiramente: “Vós, mulheres,
sujeitai-vos (ou sede sujeitas) a vossos maridos, como ao Senhor”. O que
devemos considerar é esta “sujeição”
das esposas aos esposos. O apóstolo não só lhes lembra isso, mas lhes diz claramente
que é dever delas fazê-lo - assim como é dever de todos nós sujeitar-nos uns
aos outros. Eis uma coisa muito especial, diz ele: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos”. Isto é mais evidente
ainda porque eles são seus maridos, seus próprios maridos, e devido ao ensino
sobre toda a questão do casamento. O ponto importante que emerge aqui é esta
questão de sujeição - é o que ele está ressaltando. Portanto, devemos examinar
bem este ponto; e, afortunadamente, o apóstolo nos ajuda a fazê-lo. Não se
trata apenas de uma injunção lançada ao acaso.
Paulo nos dá primeiro o grande motivo para a
sujeição: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor". Precisamos ter uma clara compreensão desta frase, porque ela pode ser,
e tem sido, mal entendida. Não significa: “Vocês, mulheres, sujeitem-se a seus
maridos exatamente da mesma maneira como se sujeitam ao Senhor”. Isto seria ir
longe demais. A sujeição de todas as esposas, e na verdade de todos os crentes
cristãos, homens e mulheres, ao Senhor Jesus Cristo é absoluta. O apóstolo não
diz isso, quanto ao relacionamento das mulheres para com os seus maridos.
Todos nós somos “escravos” de Jesus Cristo; mas nunca se diz que a esposa é
escrava do seu esposo. Nossa relação com o Senhor é de completa, inteira,
absoluta sujeição. As esposas não são exortadas a tal sujeição.
Que significa então? Significa: “Vocês, mulheres, sujeitem-se a seus maridos
porque isso faz parte dos seus deveres para com o Senhor, porque é uma
expressão da sua sujeição ao Senhor”. Noutras palavras, não estarão fazendo
isto somente para o marido, mas, primordialmente,
para o Senhor. É uma repetição do princípio geral estabelecido no verso 21: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de
Cristo”. Em última análise, não o fazem pelo marido; a razão, o motivo
final não jaz aí; a sujeição é “ao Senhor”.
Vocês o fazem por amor a Cristo, porque sabem que é Ele que as exorta, porque é
agradável aos Seus olhos este seu procedimento. Faz parte da sua conduta
cristã, faz parte do seu discipulado. O apóstolo, usando o mesmo tipo de
argumento ao escrever aos coríntios, na primeira epístola, 10:31, diz: “quer comais, quer bebais, ou façais outra
qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus - façam tudo “como ao Senhor”. Tudo que fazemos é por
amor a Ele, para agradá-lO, porque sabemos que Ele quer que o façamos.
Assim, logo no inicio, o apóstolo eleva esta
questão muito acima da esfera da controvérsia e nos habilita a abordá-la com o
espírito apropriado. Se desejam, diz ele, agradar ao Senhor Jesus Cristo e
cumprir Suas ordens e Sua vontade, sujeitem-se aos seus maridos. Não pode
existir motivo mais estimulante que esse para qualquer ação; e toda esposa
cristã que se preocupe acima de tudo em agradar ao Senhor Jesus Cristo, não
verá dificuldade nesta passagem; de fato, seu maior prazer será fazer o que
Paulo nos diz aqui. Eu iria mais longe. Jamais talvez tenhamos tido, como povo
cristão, maior oportunidade de mostrar o que o cristianismo significa realmente
do que nesta conjuntura atual, quando a vida neste mundo está cada vez mais
revelando as suas verdadeiras cores. Essa vida está se tomando cada vez mais
caótica, nesta questão do relacionamento matrimonial e em todos os demais
aspectos. Aí está uma gloriosa oportunidade que temos de mostrar que diferença
faz ser cristão. Portanto, mulheres cristãs, diz o apóstolo, vocês têm uma
oportunidade magnífica; podem mostrar
que não são mais pagãs, que não são
mais irreligiosas, que não pertencem
mais ao mundo. E estas outras pessoas
- que vivem como vivem, que afirmam os seus direitos, que exibem a arrogância a
qual leva ao caos que caracteriza a vida atual - quando olharem para vocês,
verão algo tão diferente que dirão: “Que é isto? Por que vocês se comportam
desta maneira? Qual a razão disto?” E a sua resposta não será: “Bem, simplesmente nasci deste jeito”,
mas: “Comporto-me assim porque esta é a
vontade do meu Senhor”. Assim terão imediatamente uma oportunidade para
pregar e expor o evangelho.
É por isso que o apóstolo as exorta a que procedam
deste modo. O ponto presente em sua exortação, que vemos no conteúdo total
deste capítulo e na maior parte do capítulo anterior - é que estes cristãos
devem mostrar em todos os pormenores das suas vidas que, uma vez que alguém se
tomou cristão, é diferente em todos os aspectos. Daí, esta grande
característica da vida cristã pode ser demonstrada pelas esposas com sua
sujeição aos seus esposos. Esse é o grande motivo; e se não formos movidos e
animados por ele, nenhum outro argumento nos atrairá. Se já não estivermos
sujeitos ao Senhor Jesus Cristo e interessados em Seu nome e em Sua honra
acima de tudo mais, todos os outros argumentos nos deixarão impassíveis. O
apóstolo coloca isso primeiro; e nós temos que colocá-lo primeiro.
Havendo dito isso, porém, Paulo prossegue e nos dá
razões particulares, razões adicionais. Aqui de novo vemos a riqueza e a glória
das Escrituras. Há duas grandes
razões subsidiárias, diz ele, pelas quais a esposa cristã deve sujeitar-se ao
seu esposo. A primeira é a que podemos denominar “ordem da criação”; a segunda, que isto é algo que pertence à esfera
da relação da Igreja com o Senhor Jesus Cristo. Ambas as razões estão no
versículo vinte e três: “Porque” -
aqui está a primeira razão - “o marido é
a cabeça da mulher”. A segunda razão é: “Como também Cristo é a cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador
do corpo”.
Observem a primeira razão. É que esta faz parte da
ordem da criação, uma parte das ordenaças de Deus, do decreto de Deus, da
vontade de Deus, daquilo que Deus estabeleceu quanto à esta relação entre
homens e mulheres. Este ensino encontra-se em várias porções das Escrituras.
Vê-se primeiramente no capítulo dois de Gênesis, logo em seguida à criação; e
se pode observar como as referências do Novo Testamento nos remetem de volta
para lá. É o que quero dizer quando afirmo que isto pertence à ordem da
criação. Antes de podermos considerar o casamento do ponto de vista
especificamente cristão, devemos ir aos antecedentes, porque a estes o Novo
Testamento nos envia. Envia-nos ao livro de Gênesis, a toda a questão da
criação. Também nos remete à questão da Queda. O relato desta acha-se no
capítulo três de Gênesis. O versículo crucial é o 16, onde lemos o que Deus disse à mulher por ter ela dado ouvidos a Satanás e à sua
tentação, e por ter comido do fruto proibido. “E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a
tua conceição; com dor terás filhos, e o teu desejo
será para o teu marido, e ele te dominará.”
Esse é um adendo ao capítulo 2, e devemos prestar muita atenção nele.
A fim de resumir o ensino das Escrituras
concernente a esta importante questão do casamento e da família, podemos
extrair os princípios postos diante de nós nestas várias porções das
Escrituras. Lembrem-se de que estamos tratando essencialmente do “casamento”, e não da posição da mulher
(ou das mulheres) como tal. Certamente temos que deduzir das Escrituras o
ensino quanto às mulheres em geral, e de matérias como a questão das mulheres
adotarem profissões etc. Mas não estou tratando disso, estou tratando
unicamente da questão do casamento. É o que o apóstolo faz aqui; ele está se
dirigindo às esposas. Não está se dirigindo a mulheres não casadas, neste
ponto. Há ensino sobre isso, mas não entra em nosso terreno aqui, a não ser
indiretamente.
O ensino é o seguinte: primeiro, vemos que a ênfase
é dada constantemente ao fato de que o homem foi criado primeiro, não a
mulher. Assim, uma prioridade natural favorece o homem. As Escrituras também
ressaltam o fato de que a mulher foi feita do homem, tirada do homem, e
destinada a ser um auxílio, uma “adjuntora”
para o homem, uma adjuntora que estivesse diante dele - “que lhe fosse idônea”. Nenhum dos animais poderia satisfazer essa
necessidade. “... mas para o homem não se
achava adjuntora que lhe fosse idônea”. E foi porque não se achou “adjuntora” satisfatória para o homem
dentre os animais, que foi criada a mulher. Esse é o ensino básico, e observe,
que o apóstolo lhe dá forte ênfase. O homem foi criado primeiro. Não somente
isso, porém, também foi constituído o senhor
da criação. Ao varão foi dada esta autoridade
sobre a natureza e sobre os animais; o varão é que foi convocado
para dar-lhes nomes. Aí estão indicações de que o varão foi colocado numa posição de liderança, de senhorio, de autoridade e poder. Ele
toma as decisões, ele estabelece as regras.
O apóstolo Pedro sublinha tudo isso com aquela sua
frase significativa na qual diz aos maridos que dêem honra à esposa “como vaso mais fraco” (1 Pe 3:7). Que
será que ele quer dizer com “vaso mais
fraco”? Vê-se claramente que ele quer dizer o que é ensinado com muita
clareza nos primeiros capítulos de Gênesis, e, na verdade, em toda parte na
Bíblia. Quer dizer primordialmente esta questão toda da chefia e liderança do
varão. Falando em termos físicos, o homem é mais forte que a mulher; foi criado para ser mais forte, e é. Eu poderia
entrar em minúcias a respeito. Poderia prová-lo com extrema facilidade, não
meramente do ponto de vista da anatomia, mas ainda mais do ponto de vista da fisiologia. A mulher não foi destinada a ser forte como o homem fisicamente, quanto
aos nervos e às emoções, e em muitos outros aspectos. Ela foi constituída de
maneira diferente; e quando o apóstolo afirma que ela é o “vaso mais fraco”, absolutamente não está falando num sentido
depreciativo. Está simplesmente dizendo que ela é essencialmente diferente do homem, e que o homem sempre
deve ter isso em mente. Ele não deve tratar a mulher como se fosse sua igual - estes aspectos. Deve lembrar que
ela foi criada diferentemente, e que, por conseguinte, deve respeitá-la e honrá-la, defendê-la e protegê-la.
Eis, pois, o ensino fundamental, básico - o homem
deve ser a cabeça da esposa e o chefe da família. Deus o fez desse modo,
dotou-o de faculdades, capacidades que o habilitam a cumprir
isto; e fez a mulher de modo que seja o “complemento”
do homem. Ora, a palavra “complemento”
traz consigo a idéia de sujeição; sua principal função é suprir uma deficiência do homem. É por isso que os
dois se tomam “uma carne”; a mulher é
o complemento do homem. Mas a ênfase é, portanto, esta - que o homem não é responsável somente por si, mas também por sua esposa e por sua família em todas as questões fundamentais.
À esposa cabe auxiliá-lo, apoiá-lo, assisti-lo e fazer tudo que puder para habilitá-lo a agir como o senhor
da criação, posição em que Deus o
colocou. Ela foi trazida à existência com o fim de ajudar o homem a realizar essa grande
e maravilhosa tarefa. Esse é o ensino
básico quanto à relação de esposos e esposas nos termos exarados na própria ordem da criação, as regras fundamentais
quanto à vida do homem neste mundo.
Todavia devemos ir além. Era assim antes da Queda.
Enquanto o homem e a mulher ainda eram perfeitos, enquanto ainda estavam no
Paraíso sem pecado, sem terem eles nenhum defeito, essa era a ordenação de
Deus. Mas, infortunadamente, algo aconteceu - a Queda. Sua importância é
exposta com muita clareza, principalmente pelo apóstolo Paulo na Primeira
Epístola a Timóteo, 2:11-15, no fim da seção. Notem que o apóstolo dá grande
importância ao fato de que foi a mulher que foi enganada e caiu primeiro,
e não o homem. Assim a Queda fez mais outra diferença. Gênesis 3:16 demonstra
isso. Ei-lo outra vez: “E à mulher disse:
(Por isso) multiplicarei grandemente a
tua dor, e a tua conceição”. Daí se pode deduzir que provavelmente o parto
seria sem dor, não fora o pecado e a Queda. “Com dor terás filhos.” Mas, para o nosso propósito agora - “o teu desejo será para o teu marido, e ele
te dominará”. Aí está algo adicional. Não somente reitera o senhorio, a liderança e a chefia já
estabelecidos antes da Queda, saliente isso - “ele te dominará”. Há um novo elemento aqui; a subordinação da
mulher ao homem aumentou como resultado da Queda. Ora, pode-se argumentar
que o edito de Deus foi promulgado por esta razão - que a quintessência da
Queda, do que aconteceu com Eva, foi que ela, sendo confrontada pela insinuação
e pela sugestão do diabo, em vez de
fazer o que devia, o que fizera até então e que fora ensinada a fazer, isto é, procurar Adão e consultá-lo
sobre essa questão, tomou a decisão por conta própria e se
colocou na posição de liderança. Ela enfrentou a situação, em vez de deixar
isso com Adão, e, em conseqüência, caiu. Ela o envolveu igualmente na Queda e,
daí, toda a raça humana caiu. De modo que em certo sentido, o pecado original
consistiu em que a mulher desconsiderou o seu lugar e sua posição na
relação matrimonial, usurpou
autoridade, poder e posição e, com isso, sobrevieram
a calamidade e o caos. Isso não consta apenas em Gênesis 3:16; forma a base do
argumento apostólico quanto às mulheres assumirem autoridade, ensinarem e pregarem, na Primeira Epístola a
Timóteo, capítulo dois.
Esse é o ensino, em sua essência. Mas surge logo
uma objeção, uma objeção que se lê e se ouve com muita freqüência - e, ah, muitas
vezes partindo de pessoas evangélicas que alegam crer nas Escrituras como a
inspirada e infalível Palavra de Deus! Eis o que se ouve tantas vezes: “Ah, mas isso não passa de opinião do
apóstolo Paulo. Obviamente ele era antifeminista e defendia o conceito comum
naquela época sobre as mulheres”. Salienta-se que, naquele tempo, a mulher
estava em posição extremamente baixa. Todos, sem exceção, tinham
essa idéia; a mulher, por assim dizer, era apenas uma “mercadoria”, uma escrava.
E esta verdade abrange até os judeus, sendo que o apóstolo não era nada mais
que um típico judeu rabínico. Assim se desenrola o argumento.
Não é surpreendente que as pessoas que não crêem
nas Escrituras como a Palavra de Deus digam essas coisas. Não hesitam em dizer,
não somente que Paulo estava errado, mas também que o Senhor Jesus Cristo
estava errado. Essas pessoas são a autoridade; elas é que sabem, que entendem.
Não discuto com tais pessoas; simplesmente lhes digo que não posso discutir com elas
porque não se trata de meramente pôr a minha opinião contra a delas. Não há
nada mais que dizer sobre sua opinião - esta não é cristã, de modo nenhum. O
cristão é alguém que se submete inteiramente à revelação bíblica; nada sabe
fora desta. Assim, quando ouvimos este argumento, não somente o deploramos e
nos entristecemos; temos que responder-lhe, e lhe respondemos deste modo:
falando em termos gerais, é mais que certo dizer que no conceito comum no tempo
do Senhor Jesus e do apóstolo Paulo, a mulher era humilhantemente inferior. Mas esse não era o conceito dos judeus,
pois eles tinham estas Escrituras e criam nelas. E é bem certo que não era esse
o conceito do apóstolo Paulo. Notaram o que ele diz em 1 Co 11:11? Suas
palavras são: “nem o varão é sem a mulher,
nem a mulher sem o varão, no Senhor.”
Este grande apóstolo gloriava-se no fato de que em Cristo Jesus não há bárbaro, cita, servo ou livre, macho nem fêmea (Cl 3:11; Gl 3:28). Constituía parte vital da sua pregação do evangelho dizer: Neste
assunto da salvação, os homens e as mulheres são iguais, e o homem e a mulher
têm igual oportunidade de salvação. Ele se gloriava nisso, e não há ninguém que
fale com mais delicadeza nem mais gloriosamente sobre a condição da mulher e de
sua glória do que o apóstolo Paulo. Ademais, observem que ele não se limita
unicamente a dar-nos uma descrição dos deveres da mulher para com o
seu marido; também nos fala sempre dos deveres do marido para com a
sua mulher; e demonstra que o conceito do marido cristão sobre a condição da
mulher, sobre a mulher em geral e sobre a sua esposa, é mais elevado do que qualquer outra coisa que
o mundo jamais conheceu. Ele coloca todas as coisas em seu devido lugar. Ele
sempre nos dá os dois lados.
No entanto, fora disso tudo, o apóstolo nunca
apresenta estas coisas como sua opinião
pessoal; ele sempre retorna a Gênesis e à ordem da criação. Com efeito, diz
ele: não é minha opinião; é o que Deus
estabeleceu. A única preocupação do apóstolo é que a verdade de Deus seja
conhecida, e que o que Deus ordenou seja posto em prática constantemente.
Portanto, a tendência de dizer que isso “não passa de opinião de Paulo”, é uma
negação das Escrituras. Devemos ver isto com bastante clareza. Se vocês crêem
que a Bíblia é a inspirada e infalível Palavra de Deus, não devem
falar como o mundo fala sobre o apóstolo Paulo; porque, quando ele escreve, não
somente cita as Escrituras mas também escreve como apóstolo inspirado. Quando
emite sua opinião pessoal, sempre tem o cuidado de dizê-lo, e se não avisa que
é sua opinião pessoal, o que escreve é inspirado.
Vocês recordam como o apóstolo Pedro diz aos seus leitores que ouçam o apóstolo
Paulo. Diz ele que algumas pessoas torcem os argumentos de Paulo e os seus
escritos, “e igualmente as outras
Escrituras, para a sua própria perdição” (2 Pe 3:16). O que Paulo escreve é
Escritura; assim, os seus críticos não contestam Paulo, contestam a Deus, contestam o
Espírito Santo. Ao mesmo tempo, colocam-se a si mesmos na contraditória
posição de dizer que crêem na Bíblia somente na medida em que ela não contradiz
aquilo em que eles acreditam como criaturas do século vinte. Isso é uma negação
da crença na autoridade das Escrituras.
Tendo tratado dessa estulta objeção - e não há nada
mais estulto que essa prosa — deixem-me resumir de novo esta doutrina. A mulher,
de acordo com este ensino, a esposa, recebe certa posição. Ser sujeita ao seu
marido não significa que é escrava
dele, não significa que lhe é inferior
em tal condição - nem por um momento! Veremos isso com maior clareza ainda
quando considerarmos os deveres do esposo para com a esposa. O que ele está
dizendo é que a mulher é diferente,
que ela é complemento do homem. O que
ele proíbe é que a mulher procure ser máscula,
isto é, que a mulher procure comportar-se
como homem, ou que procure usurpar o
lugar, a posição e o poder que foram dados por Deus ao varão.
Isso é tudo que ele está dizendo. Não é escravidão; ele esta exortando os seus
leitores a cumprir o que Deus ordenou. Portanto, a esposa deve alegrar-se com a sua posição. Ela foi
feita por Deus para ajudar o homem a
agir como representante de Deus neste
mundo. Ela deve ser a construtora do
lar, a mãe, a auxiliadora do homem, sua consoladora,
alguém com quem ele possa falar e de
quem possa buscar consolo e estímulo - ela é uma auxiliadora
própria para o homem. O homem entende a verdade sobre si mesmo, ela também
entende a verdade sobre si mesma e, assim, ela o complementa e lhe assiste;
e juntos vivem para a glória de Deus e do Senhor Jesus Cristo.
Uma ilustração pode ser de ajuda neste ponto. A
idéia de liderança ou chefia causa tropeço a certas pessoas, porque
estas parecem pensar que necessariamente, isso traz a idéia de uma
inferioridade inerente e essencial. Não só isso, porém. Toda esta idéia de
chefia do homem, do marido, na relação
matrimonial, é comparável de muitas maneiras à relação das tropas com o rei:
chefe. Um exército ficaria
completamente caótico se cada componente tivesse o direito de decidir o que
fazer a cada passo. Como eu já disse, no momento em que um homem se junta
às forças armadas ele cede o seu direito de comando próprio àquele que é
colocado acima dele; e conquanto possa ter suas idéias e opiniões pessoais
agora renuncia a elas; ele se submete e fica em sujeição.
Ou imaginem uma comissão sendo nomeada para
considerar dado assunto. São designados alguns homens. A primeira coisa que
fazem é nomear um presidente. Naturalmente! Por quê? Porque é preciso haver
alguma autoridade. Não se poderá fazer transações se não houver uma Presidência
à qual dirigir-se, e temos que obedecer ao comando do Presidente. Aqui, de
novo, não entra em cena a questão da inferioridade. Simplesmente significa que,
para agir eficientemente, é preciso ter um líder. Tomemos uma Câmara dos
Comuns recém-formada. A primeira coisa que fazem é indicar um Orador; e o
trabalho do Orador consiste justamente em ocupar o assento da Presidência e
exercer controle, impor a sua autoridade. De novo, não quer dizer que ele é o
maior homem da Câmara dos Comuns, e que todos os demais lhe são inferiores.
Não! Em sua sabedoria, e porque nenhuma resolução poderá ser tomada sem isso,
eles colocam alguém nesta posição de autoridade. Pois bem, a Bíblia ensina que
Deus colocou o homem, o marido, nessa posição. Portanto, diz o
apóstolo às esposas: “Vós, mulheres,
sujeitai-vos a vossos maridos”, porque o
marido foi nomeado chefe.
Mas um argumento maior ainda se acha em 1 Coríntios
capítulo 11, onde se nos diz que o homem, o marido, é a cabeça da mulher, que Cristo
é a Cabeça do homem e que Deus é a
Cabeça de Cristo. Este argumento é incontestável. Em que sentido Deus é a
Cabeça de Cristo? A resposta está naquilo que às vezes denominamos Economia da
Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são co-iguais e co-eternos. Então,
como pode o Pai (Deus) ser a Cabeça de Cristo? Quanto ao propósito da salvação,
o Filho subordinou-Se ao Pai, e o Espírito subordinou-Se ao Filho e ao Pai. É
uma subordinação voluntária para que a salvação fosse levada a cabo. É
essencial para a execução da obra. Disse o Filho: “Eis-me aqui, envia-me”. Foi voluntário. Ele põe de lado este
aspecto da igualdade, toma-Se um servo do Seu pai, e o Pai O envia - a
Cabeça de Cristo e Deus (1 Coríntios 11:3). Esse é o modo como Paulo o coloca:
“Como a Cabeça de Cristo é Deus, assim
Cristo é a Cabeça do homem, e o homem é a cabeça da mulher”; portanto, “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos
maridos, como ao Senhor”.
Essa é a exposição positiva deste tremendo ensino
que, somente ele, nos dá um genuíno conceito sobre casamento. Diga-se de
passagem, tenho lidado com um argumento, outra vez um argumento estulto,
apresentado muitas e muitas vezes. Diz alguém: “Você sabe, isso está
completamente errado; conheço muitos casos em que a esposa é uma pessoa muito
mais capaz do que o esposo, muito mais talentosa em todos os aspectos. Você está
dizendo que uma mulher tão brilhantemente dotada tem que sujeitar-se a seu
marido, a um hornem que lhe é inteiramente inferior?” Há somente uma resposta
para esse argumento: a pessoa que o
formula está argumentando contra Deus. Deus não ignora esse caso. O que
Deus diz é que, se essa mulher talentosa e brilhante não se sujeitar a seu
marido, estará pecando. Sejam quais
forem os seus talentos, ela deve sujeitar-se a seu consorte.
Neste ponto farei dois comentários. Mulher nenhuma,
sejam quais forem os seus talentos, tem o direito de sequer pensar em desposar dado indivíduo, se não estiver preparada para lhe ser sujeita. Trata-se
de uma sujeição voluntária, como Cristo Se sujeitou e Se subordinou. Ela deve
portar-se da mesma maneira e, a menos que esteja preparada para fazê-lo, a
menos que esteja convicta de que poderá submeter-se ao homem em vista, não
deverá desposá-lo (casar-se). Se entrar na vida
matrimonial com qualquer outra idéia, estará indo contra a vontade de Deus e
estará cometendo pecado.
Eis meu segundo comentário: às vezes penso que uma
das coisas mais maravilhosas que já tive o privilégio de testemunhar foi um
acontecimento do tipo a que estou me referindo. Durante bom número de anos, preguei
habitualmente em certa igreja num dos distritos, e depois de pregar costumava
passar a noite na residência do ministro e sua esposa. Sempre era muito
interessante, pois, desde a minha primeira visita me ficou evidente que, do
ponto de vista da habilidade pura e simples, não havia comparação entre o
marido e a esposa. Esta era uma mulher excepcionalmente capaz e brilhante. O
marido não era destituído de dons, mas estes pertenciam à esfera da
personalidade - ele era excepcionalmente gentil,
bondoso, humano e cortês. Mas,
quanto à pura capacidade intelectual, não havia comparação. De fato, seu
histórico acadêmico - ambos tinham formação universitária - tinha comprovado
isto. A esposa se graduara numa matéria que bem poucas mulheres assumiam naquela
época em particular, e ela fora classificada entre os do primeiro nível. O
esposo, que escolhera uma matéria de estudo muito mais fácil, conseguira apenas
graduar-se em segundo nível. Digo que não havia como questionar, no que diz respeito à capacidade - sua
percepção de questões intelectuais e seu entendimento me impressionaram, e me ficaram cada vez mais evidentes à medida que os conhecia melhor. Mas o
que quero dizer é que não sei se alguma vez vi algo mais maravilhoso que o modo
pelo qual aquela mulher sempre colocava o
seu marido em sua posição verdadeiramente bíblica. Ela o fazia de maneira
muito inteligente e sutil. Ela colocava argumentos na boca dele, mas sempre de
tal modo que dava a idéia de que eram dele, e não dela! Há um aspecto divertido
nisso, mas estou relatando o fato como uma das coisas mais comoventes e mais
tremendas que já experimentei. Ela não era apenas uma mulher capaz, era uma mulher cristã e estava acionando o princípio segundo o qual
o marido é a cabeça. A ele sempre cabia determinar a decisão, embora fosse ela quem lhe fornecia as razões. Ela
agia como uma auxiliadora idônea para
ele. Ela possuía as qualidades que a ele faltavam; ela o complementava e o suplementava.
Mas o marido era o chefe, e os filhos
eram sempre encaminhados a ele. Ela velava
pela posição do marido.
Permitam-me demonstrar a importância de perceber,
captar e compreender este ensino. Por que isso tudo é tão importante, e
especialmente hoje em dia? É porque a falta de compreensão e de execução deste
ensino é a causa da maioria dos problemas do mundo atual. O problema básico do
mundo de hoje é problema de autoridade. O caos no mundo se deve ao fato de que,
em todas as áreas da vida, as pessoas perderam todo o respeito pela autoridade,
quer entre nações ou entre regiões, na indústria, em casa, nas escolas, ou em
toda e qualquer parte. A perda da autoridade! E, em minha opinião, tudo
começa realmente no Lar e na relação matrimonial. Por isso me aventuro a indagar se um estadista cujo casamento se arruinou tem de
fato o direito de falar sobre os problemas do mundo. Se ele falha na esfera
para a qual lhe foi dada a maior competência, que direito tem de falar sobre as
outras? Ele deveria retirar-se da vida pública. O verdadeiro colapso começa
em casa, e no relacionamento conjugal. Estou afirmando que o espantoso
aumento do divórcio que vem ocorrendo desde a segunda guerra mundial
(disseram-me que no momento está diminuindo um pouco, mais opino que isso é
apenas temporário e pode ser explicado) é devido a uma única coisa, a saber,
que os homens e as mulheres não entendem este ensino escriturístico sobre o
casamento e sobre esposos e esposas.
A mesma falta de entendimento é também a explicação
da ruína da família e da vida doméstica, de novo tão evidente nos dias atuais.
A família está deixando de ser o centro que era. Os membros da família estão
sempre fora de casa, nalgum
lugar, e freqüentemente estão fora até alta hora da
noite. A vida familiar, com a sua maravilhosa coesão - esta unidade
fundamental da vida - está desaparecendo. Encontramos aqui, também, a
explicação do desgoverno e da indisciplina existentes entre os filhos
e, daí, a principal explicação da delinqüência juvenil. Até pela estatística
se pode provar isso! Os jovens que se tornaram delinqüentes quase
invariavelmente são filhos de lares desfeitos, de casamentos desfeitos.
Nunca lhes foi dada uma “chance”, como dizemos. Eles foram criados numa
atmosfera de incerteza, indecisão e conflito, onde a esposa é contra o esposo, e o esposo contra a
esposa, e eles se tornam cínicos já
em seus tenros anos. Não respeitam pai e mãe, não respeitam nada e ninguém. O
lugar onde a criança deveria ter confiança e deveria poder buscar autoridade, liderança e direção,
desapareceu; não há mais nada ali e, assim, a pobre criança vem a ser um
delinqüente. Ela foi criada nesta atmosfera de conflito entre pai e mãe, marido e mulher.
Na verdade, há outros aspectos desta tendência que me parecem mais sinistros ainda. Não é um fato, cada vez mais presente, que
os varões estão abrogando sua posição e se afastando dela, deixando de cumprir
os seus deveres como maridos e pais por pura preguiça e egoísmo? Os maridos estão
cada vez mais deixando a disciplina da vida doméstica a cargo das
esposas, das mães. Eles não podem ser incomodados; chegam em casa cansados do trabalho e pedem a suas
esposas que mantenham os filhos longe deles e que respondam às suas perguntas.
Acaso não é o que está acontecendo cada vez mais? O marido está deliberadamente
deixando vaga a posição em que Deus o
colocou. Isso está acontecendo entre cristãos, porém muito mais entre não cristãos.
O marido está abandonando a sua
posição e, em sua preguiça, a está
deixando com a esposa.
Depois, por outro lado, o feminismo tem levado à
agressividade da parte da esposa, da mãe. Ela está se posicionando como igual
ao pai, e está minando a influência do pai sobre a mente dos filhos. O infeliz
resultado é a abordagem totalmente falsa e errônea de toda a questão. Não digo
isto com espírito crítico. Estamos vendo isto crescentemente neste país
(Inglaterra), mas nem um pouco na extensão com que se vê nos Estados Unidos da
América. Ali se vê o que mais ou menos se pode chamar sociedade matriarcal, e o
homem está sendo cada vez mais considerado como aquele que fornece dólares, o
assalariado, o homem que traz o dinheiro necessário. A mulher, a mãe, é a pessoa
que sabe das coisas, é a cabeça do lar, e os filhos olham para ela. Este falso
e anti-bíblico conceito do homem e da mulher, do pai e da mãe, leva a uma
sociedade matriarcal que, ao que me parece, é sumamente perigosa. O resultado é, naturalmente, o crescimento
do crime e de todos os terríveis problemas sociais com que estão pelejando
naquele país. Daí, uma vez que influenciam todos os outros países por meio dos
seus filmes e doutras diversas
maneiras, esta atitude está se propagando pelo mundo inteiro. Uma sociedade matriarcal, com a mulher como cabeça e centro do lar, é uma negação
do ensino bíblico e, de fato, é uma repetição do antigo pecado de Eva.
O problema está sendo crescentemente reconhecido.
Por isso foram constituídos os Conselhos de Orientação Matrimonial e outras
organizações semelhantes. Entretanto - que pena! - geralmente focalizam os
problemas em termos da psicologia. Todavia, se vocês examinarem a vida conjugal
de muitos desses psicólogos, levarão um choque. Estas pessoas que dão conselhos
sobre como adentrar o estado matrimonial, e como preservar e manter o
casamento, não conseguem aplicar o ensino aos seus próprios casamentos.
Naturalmente, não conseguem! Não é questão de psicologia. O que é preciso não é
apenas um pouco de bom senso, prudência e espírito de camaradagem, e de dar e receber. Os homens e as
mulheres sabem tudo sobre isso, e sempre souberam; mas não conseguem
praticá-lo. Não, há somente uma esperança. Enquanto Deus não for aceito como a Autoridade,
e o homem e a mulher não se submeterem
a Ele, enquanto não fizerem todas as coisas “como ao Senhor”, e não puserem em ação a mesma espécie de chefia que Deus exerce sobre Cristo, e
Cristo sobre o homem, não haverá esperança. É na medida em que os homens e as
mulheres nestes últimos cem anos têm-se apartado crescentemente da autoridade
da Bíblia, que este terrível mal social, este problema social terrível, se
evidencia cada vez mais. Sei que me dirão: “É
óbvio que você quer retomar àquele tipo de marido e pai vitoriano, severo,
repressivo e autoritário”. Isso está completamente errado! Bem sei que
grande parte do problema moderno se deve a uma reação contra a mentalidade
vitoriana, e eu também condeno a mentalidade vitoriana como condeno a situação
atual. Devemos retomar à Bíblia. Não defendo um retorno à idéia vitoriana. O
que digo é: voltem para Deus, voltem para Cristo, voltem para
a revelação presente na fidedigna Palavra de Deus. Observem de novo o Seu
plano perfeito - o homem e, ao seu lado, a mulher completando-o, sua auxiliadora apropriada, idônea;
amando-se um ao outro, acatando-se, respeitando-se, honrando-se um ao outro,
mas nunca confundindo as duas esferas.
Que Deus, por Sua graça, nos capacite não somente a
enxergar o ensino, mas também a sujeitar-nos ao ensino.
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