segunda-feira, 12 de novembro de 2012

SUBMISSÃO NO ESPÍRITO




Efésios 5:21

“Sujeitando-vos uns aos outros”.

Aí está uma proposição que deve ser cuidadosamente vista em seu cenário e em seu contexto. É importante fazê-lo, para que possamos compreender verdadeiramente o que o apóstolo de fato está dizendo. Noutras palavras, devemos dar atenção à conexão por um momento. Ele não disse: “Sujeitai-vos uns aos outros”; disse: “Sujeitando- vos uns aos outros”. Portanto, não devemos considerá-la uma afirmação ou exortação independente. Não obstante, é patente que o que o apóstolo está fazendo é continuar o que já vinha dizendo e, ao mesmo tempo, introduzir o que vai dizer. Parece-me que essa é a única maneira certa de interpretar esta proposição. É uma espécie de elo de ligação entre o texto anterior e o posterior. Noutras palavras, é uma ilustração suplementar do que ele tinha formulado como princípio fundamental no versículo 18, “E não vos em­briagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito”. Defendo a idéia de que ele ainda tem isso em mente, e se dirige a homens e mulheres cheios do Espírito. Assim, interpretamos esta proposição à luz do versículo 18, com sua exortação para que continuemos sendo cheios do Espírito.

Estou dando ênfase a isto porque nenhum homem tem a menor possibili­dade de fazer o que está neste versículo, a menos que esteja cheio do Espírito. É inútil sair pelo mundo, dizendo: “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo”. O mundo não somente não faz isso; não quer e não pode fazê-lo. Esta é uma exortação sem sentido para quem não está cheio do Espírito. Daí, insisto em que aqui o apóstolo está dando seqüência às duas idéias que tem em mente no verso 18: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda (ou ‘excesso”)”. O bêbado não se submete a ninguém. Ele se afirma a si próprio. Gaba-se. louva-se a si próprio e se acha maravilhoso. Se havemos de sujeitar-nos uns aos outros, temos que ser inteiramente diferentes dos que estão cheios de vinho e vão chegar àquele excesso. E, por outro lado, temos que encher-nos do Espírito.

Aí está, segundo penso, a conexão essencial. Temos de ser diferentes do que temos sido, diferentes do mundo, ser completamente diferentes, em nossas características essenciais, dos homens e mulheres que ainda pertencem aos domínios do mundo. Devemos encher-nos do Espírito. Como demonstramos isso? Até aqui o apóstolo o esteve lustrando com a nossa relação com Deus. Esteve tratando do nosso culto, “Falando entre vós (uns aos outros) em salmos e hinos, e cânticos espirituais: cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração; dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. São cheios do Espírito, diz ele, e vocês encontram em suas reuniões, em suas reuniões conviviais de felicidade e de alegria. Devem expressar todas essas coisas juntos no culto de Deus, em louvor e adoração. Não somente isso, porém, diz ele; devem manifestar este mesmo espírito em seu trato uns com os outros, no companheirismo que têm uns com os outros ao nível puramente humano e terreno. Assim, ele está salientando o seu tema básico, mostrando que os homens e as mulheres cheios do Espírito devem apresentar essa característica em seu relacionamento uns com os outros.

Essa é a maneira de abordar este versículo particular. É indispensável entender exatamente o que significa, porque o apóstolo vai ilustrar esta verdade em três aspectos particulares. Ele formula o princípio e depois, tendo feito isso, diz, aplicando-o a casos particulares: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor... Vós, filhos, sede obedientes a vossos Pais no Senhor, porque isto é justo... Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne”. Como já vimos, estas três colocações são ilustrações separadas e particulares deste princípio fundamental que sempre deve reger a relação dos cristãos, uns com os outros. Notem que a própria maneira como o apóstolo o expressa, confirma o que acabo de dizer sobre a conexão deste versículo com o seu contexto. “Vós, que sois cheios do Espírito, deveis, portanto, cantar juntos, sujeitar-vos uns aos outros, e portar-vos como convém, nas cruciais relações da vida.”

Mas, que significa “sujeitando-vos uns aos outros”? Uma tradução me­lhor, talvez, seria: “Sendo sujeitos uns aos outros”. A idéia que obviamente ele tem em mente, em vista da palavra que emprega, é mais ou menos esta: é o quadro de soldados de um regimento, soldados alinhados, sob o comando de um oficial. A característica de um homem nessa posição é que, num sentido, ele já não é mais um indivíduo; é agora membro de um regimento; e todos eles juntos ouvem as ordens e instruções que o oficial lhes dá. Quando um homem se alista no exército ele abre mão do seu direito de determinar sua própria vida e atividade, ou seja, não mais se governa, não mais tem domínio sobre si; ele tem que fazer o que lhe dizem. Não pode sair de folga quando lhe dá na telha, não pode levantar-se de manhã na hora que quer. Está debaixo de autoridade, e as regras mandam nele; e se começar a agir por conta própria, e independentemente dos outros, faz-se culpado de insubordinação e será ade­quadamente punido. Dessa natureza é a palavra que o apóstolo emprega; por­tanto, o que ele diz equivale a isto - que nós, que somos cheios do Espírito, devemos comportar-nos voluntariamente desse modo, em relação uns com os outros. Somos membros do mesmo regimento, somos unidades deste mesmo exército grandioso. Cabe-nos fazer voluntariamente o que o soldado é “forçado” a fazer.

Como funciona isso na prática? Estas coisas têm que ser aplicadas à vida. O Senhor Jesus o expressou aos discípulos: “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes” (João 13:17). O que será que isto envolve? Que significa termos que nos sujeitar, e sujeitar-nos uns aos outros? Em termos negativos significa, evidentemente, certas coisas. Não devemos ser irrefletidos. Muitas aflições da vida, e muitos conflitos, são devidos ao fato de que as pessoas não pensam. Ações impetuosas são a maior causa de conflitos, brigas e infelicidade em todas as esferas da vida. Se as pessoas tão somente pensassem antes de falar, ou antes de olhar, ou antes de agir, que diferença isso faria! Mas o problema com o homem natural é que ele não reflete; tem uma idéia, e logo a expressa; tem um sentimento, e imedia­tamente o quer pôr em ação; mal lhe vem um impulso, e ele age. Portanto, numa colocação negativa, o apóstolo está dizendo que o cristão nunca deve ser uma pessoa destituída de pensamento, nunca deve viver aquele tipo de vida instin­tiva, intuitiva. Paulo já se expressara, “mas como sábios”. E de novo: “Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor(Ef 5:15,17). O sábio pensa, olha antes de pular, reflete antes de falar. É homem governado pelo pensamento e pelo entendimento, pela meditação e por um espírito de ponderação.

Ou, recordando a palavra do apóstolo e a ilustração que ela sugere, deixem-me expressá-lo doutra forma. Embora o cristão continue sendo um indivíduo, jamais deverá ser individualista. No momento em que somos individualistas, erramos. Este princípio, esta característica de ser individua­lista, é impossível, como digo, no exército. É a primeira coisa que tem que ser reprimida pelo homem que vai para o exército. Pode ser um processo muito penoso, mas ele tem que compreender que não poderá mais agir como outrora. Talvez tenha sido um menino estragado em casa - conseguia na hora o que queria, era o mandão. Mas tudo isso tem que cessar. No exército ele terá que submeter-se a outros. Seria impossível comandar um exército composto de in­dividualistas. Tudo isso tem que ser enterrado.

Para exprimir a matéria doutra maneira - temos que parar de ser auto-afirmativos. A auto-afirmação é a antítese do que o apóstolo está dizendo: “Sujeitando-vos uns ao outros no temor de Cristo”. O ego é a causa radical de todos os nossos problemas. O diabo entendeu isso logo no princípio, quando tentou o homem pela primeira vez: “Deus disse que não devem comer isto? Claro que disse, pois sabia que seriam como deuses. Isso é um insulto a vocês; é manter-lhes por baixo. Não se sujeitem a isso; afirmem suas personalidades. Auto-afirmação! Oh, quanto dano está sendo causado neste mundo devido à auto-afirmação! Esta foi a causa das duas guerras mundiais que já tivemos neste século. Isto pode ser nacional, bem como individual - “Meu país, certo ou errado!”- daí as guerras e os conflitos. Mas é a mesma coisa ao nível das relações individuais; todo o problema surge deste horrível ego, sempre desejoso de seguir o seu próprio caminho.

Este problema, por sua vez, leva a outro. Tal pessoa sempre tende a ser ditatorial - mais uma manifestação do ego - a “ter domínio” sobre os outros. Em sua primeira epístola, capítulo 5, Pedro escreve: “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu”. Ele se dirige aos presbíteros porque esta tentação confronta particularmente o homem que se torna presbítero. Ele é um homem capaz, possui qualidades de liderança e, portanto, galga esta posição; e, em razão da sua liderança, está particularmente exposto a este perigo. “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu... Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente: nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho.” Não deve haver nenhum dominador na igreja; os presbíteros devem ser exemplos para o rebanho. Exercer domínio é sempre uma tentação, um perigo, para esses homens; e quanto mais claras forem as idéias do homem, mais exposto ele estará a esta tentação particular. Mas vocês não devem cair nessa tentação, diz o apóstolo; deve “sujeitar-se uns aos outros”.

Um último modo de expressar esta consideração negativa. Se tenho muito orgulho da minha opinião, então, o fato de alguém se atrever a questioná-la ou de pô-la em dúvida será um grosseiro insulto a mim - não à verdade, mas a mim. O que importa é o que eu creio. Daí, este homem se ressente das críticas e não tolera os pontos de vista dos outros. Não quer ouvi-los e, de fato, fica ofendido com eles. É excessivamente sensível. Que coisa extraordinária é este “ego”! Que louca moléstia é o egocentrismo! Afeta a perspectiva toda de um homem, todas as partes dele - seu intelecto, sua vida emocional, afetiva, sua ação, sua vontade, a volição - tudo fica envolvido. Vejam a descrição desta pessoa - egoísta, egocêntrica, opiniática, propensa a ser ditatorial, hiper- sensível. Que sucede depois? O que vem em seguida é que este homem está sempre ameaçando renunciar. Acha que está sendo contestado, que as pessoas não confiam nele, que não vão fazer o que ele diz, ou não vão dar valor ao que ele pensa. É injusto - e, portanto, ele vai partir, vai renunciar! O apóstolo está escrevendo a respeito da vida da Igreja, e diz: não devem ser assim; arruinarão a Igreja se forem assim, e se estiverem sempre “caindo fora”. É essa, pois, a maneira negativa de interpretar as palavras, “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.”

Contudo, que significam essas palavras positivamente? Elas são, natu­ralmente, a exata antítese de tudo que estive dizendo; e ainda mais. “Enchei-vos do Espírito”. Significa que “os olhos do vosso entendimento são iluminados”, com relação à verdade. A que isto leva? Eis como funciona. Aqui está uma solução para todos os nossos problemas - problemas pessoais, individuais, relações interpessoais no casamento, no trabalho. Essa é apenas uma ilustração deste grande princípio.. Se estivermos certos quanto ao princípio, resolveremos não somente esse problema; resolveremos muitos outros também.

A maneira cristã funciona deste jeito: se os olhos do entendimento foram iluminados, a primeira coisa que aprendemos é a verdade sobre nós mesmos. Significa que nos damos conta de que não há esperança para nós, estamos todos perdidos, todos condenados, todos pecadores - todos e cada um de nós. “Não há um justo, nem um sequer” (Rm 3:10). O homem que vê que isso é verdade pára de gabar-se imediatamente. Não se gaba da sua moralidade, bondade, boas obras, boas realizações, conhecimento, erudição ou de outra coisa qualquer. Se tão somente soubéssemos a verdade a respeito de nós mesmos, estes problemas de relações seriam resolvidos logo. É só o evangelho que consegue isso. O evangelho nos reduz ao mesmo nível, a cada um de nós. Não há diferença, “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23). “Judeu e gentio” são uma coisa só; não há nenhuma raça soberana, nenhum povo superior, absolutamente nenhum - todos são idênticos. Seja qual for a verdade a nosso respeito individualmente, somos todos reduzidos ao mesmo nível.

Paulo faz uma soberba colocação disto quando escreve aos coríntios (I Co 4:7): “Porque, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” Não é maravilhoso? Eis aí um homem a jactar-se do seu grande cérebro, grande mente, capacidade, e a desprezar os outros. Espera um momento, diz Paulo. De que se orgulha? Produziu sozinho esse cérebro, gerou-o, trouxe-o à existência? Que tem você que não tenha recebido? O que faz você diferente dos outros? Você fez a diferença? Claro que não; tudo que tem, recebeu; é dom de Deus. Se tem um grande cérebro, muito bem, não se gabe disso, mas dá graças a Deus por ele. E isso o manterá humilde. Alguns se orgulham da sua boa aparência; mas foram eles que a produziram? Outros se orgulham de sua habilidade, neste ou naquele aspecto - na música, nas artes ou na oratória - porém, onde a obtiveram? No momento em que compreendemos que todas estas coisas são dádivas, paramos de jactar-nos, deixamos de orgulhar-nos desta insensata maneira.

Entretanto, é somente o Espírito que pode levar o homem a este ponto. O mundo faz exatamente o contrário; ele gradua os homens. “Vocês não devem ser assim”, diz Paulo - “isso é embebedar-se com vinho. Encham-se do Espírito, e se encherem do Espírito, entenderão que tudo que têm lhes é dado por Deus, e não têm nada de que se gabarem. De algum modo o Espírito os levará a entender que, com tudo que têm, ainda são pobres, ignorantes, falíveis e ainda fracassam, e muito. “Vocês”, diz ele aos de Corinto, “vocês”, que se enfatuam com o seu conhecimento, o que sabem realmente? Ainda são apenas bebês em Cristo. Não pude alimentá-los com alimento sólido, só lhes pude dar leite, porque ainda são bebês - e ainda se jactam do seu conhecimento” O meio de solucionar estas dificuldades nas relações é saber a verdade acerca de nós mesmos. No momento em que começamos a tomar conhecimento desta verdade, vemos que não passamos de crianças, que estamos apenas no começo.

Não somente isso, porém. Ele nos ajuda a compreender que somos membros de um só corpo. Esse tema aparece logo no início desta epístola. “Sujeitando-vos uns aos outros”. - Por quê? Porque sois todos partes e membros de um corpo. O apóstolo introduziu essa noção no fim do primeiro capítulo, e a desenvolveu no capítulo 4, versos 11 a 16. E, como já disse, esse é o grande tema de 1 Co capítulo 12: “Ora, vós sois d corpo de Cristo, e seus membros em particular” (versículo 27). Se você compreender isso, compreenderá também que o que é realmente importante não e que você é uma parte, e sim que é uma parte do todo. O todo tem maior mportância que a parte. Noutras palavras, isto o levará a considerar sempre o corpo e o bem dele, em vez de apenas o seu benefício particular e pessoal. Seguramen­te a maioria dos problemas de hoje se deve ao fato de que somos demasiadamen­te individualistas em toda a nossa idéia da salvação. Graças a Deus, a salvação é pessoal, é individual. As pessoas estão sempre pensando em si nesmas e tendo em vista a si mesmas. Vêm à igreja para conseguir alguma coisa para si mesmas. Procuremos ter uma fiel concepção da Igreja, esta grande entidade na qual fomos colocados. Somos apenas pequenas partes, membros, porções; portanto, pensemos no todo, não numa parte. O homem que está no exército não está lutando por si próprio, está lutando por seu país - esse é o argumento.

No momento em que um homem começar a compreender todas estas coisas, estará preparado para renunciar aos seus direitos, aos seus direitos pessoais individualistas. É preciso que ele entenda esta concepção da Igreja como o corpo de Cristo, e o grande privilégio de ser uma pequenina parte ou porção dele. Então, ele não pensará primordialmente em seus direitos: agora estará interessado no desenvolvimento e no progresso do todo, de cada uma das outras partes também - daquele que está perto dele, e assim por diante. Juntos eles vêem esta grande unidade, esta unidade orgânica e vital do todo. O homem que enxerga isso não se preocupa mais com os seus direitos como tais, nem fica a falar deles, isso deixa de existir. Ademais, ele está pronto a ouvir, pronto a aprender. Com­preendendo que não possui o monopólio de toda a verdade, e que as outras pessoas também têm suas opiniões e idéias, ele está sempre disposto a ouvi-las, está sempre disposto a aprender. Ele não rejeita automaticamente as coisas; é paciente, compreensivo, e se alguém lhe diz, “Mas, amigo, espere um pouco, eu acho...”, ele o ouvirá, ele lhe dará a devida atenção. Não lhe cortará a palavra de imediato; dará à pessoa ampla oportunidade para expor a sua posição. Noutras palavras, ele é a antítese daquele homem que descrevi em termos negativos.

Mas podemos ir além. Digo que este homem está pronto a sofrer, e até a sofrer injustiça, se necessário for, por amor da verdade, por amor da “causa”, por amor do “corpo”. Paulo expressa isso de forma final e definitiva em sua grandiosa proclamação: “A caridade (o amor) é sofredora, é benigna: não é invejosa... (1 Cor. 13:4-8). É o que o apóstolo aqui nos diz que devemos pôr em prática: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Não se enfatuem, não sejam suspeitosos. Livrem- se do ego, encham-se de amor, creiam, sejam pacientes e benignos. De fato posso resumir tudo isso expressando-o neste termos: o único homem que pode sujeitar-se a outro no temor de Cristo é aquele que realmente está cheio do Espírito, porque o homem que está cheio do Espírito é aquele que mostra e demonstra o fruto do Espírito. E o fruto do Espírito é “caridade (amor), gozo, paz...”. Se um homem tem essas características, não criará dificuldades nem problemas. Ele será o tipo de homem que se sujeitará prontamente, de boa vontade e voluntariamente, sempre pelo amor dos outros e pelo bem da “causa”. O único homem capaz de fazer isto é aquele que apresenta o fruto do Espírito por ser cheio do Espírito.

Isto se demonstra mediante um número infindável de meios. Darei uma só ilustração, bastante prática aliás. Em 1 Coríntios capítulo 14, versículo 29 a 32, o apóstolo escreve: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”. Que ilustração perfeita! Eis o problema, em Corinto: um homem se levantava e se punha a falar. Estava tão cheio de assuntos, e achava que somente ele tinha o que falar, que continuava falando, sem parar. Contudo, outro homem tinha uma verdade, e queria falar; no entanto, o primeiro não lhe dava oportunidade. Ora, diz o apóstolo, está errado. “Mas”, diz o primeiro homem, “estou cheio do Espírito, não posso evitá-lo, estou cheio de assuntos, não posso refrear-me”. Pode, sim, afirma Paulo, “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”. Controle-se, e quando vir que outro homem tem algo para dizer, e você já teve a sua oportunidade, sente-se, deixe-o falar. E esse homem, por sua vez, fará o mesmo com o terceiro. “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”. Considerem a matéria juntos. Essa é a maneira de evitar estes problemas, diz o apóstolo: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.”

Essa é, pois, a exposição do que o apóstolo está dizendo. Eu expus o que Paulo diz; mas, lembrem-se do que eu disse no princípio, que isso deve ser tomado em seu contexto, e que somente é verdadeiro em seu contexto. Quero dizer - esse é o tipo de texto que está sofrendo muito abuso hoje em dia. “Sujeitem-se”, dizem eles, “uns aos outros no temor de Cristo”. O mesmo Pedro, que fora tão proeminente, estava errado em seu ensino, neste ponto. Que fez o apóstolo Paulo? Sujeitou-se a Pedro, no temor de Cristo, e disse, “Bem, quem sou eu para discutir com Pedro? Afinal de contas, ele foi um dos mais íntimos dos que pertenciam ao grupo que estava com Cristo. Eu nunca estive com Cristo, durante Sua vida na carne; nesse tempo eu era um blasfemo e um fariseu. Quem sou eu para levantar-me contra um grande homem como Pedro? Não devo falar nada, devo ficar em silêncio e orar; e então devemos trabalhar juntos, num espírito de amizade e cooperação?” Que coisa espantosa! Ao contrário, Paulo diz: “... lhe resisti na cara...” (Gl 2:11). Ele repreendeu a Pedro em público porque Pedro estava errado, e todo o futuro da Igreja estava em perigo. Vocês vêem como é importante examinar uma proposição em seu contexto, e quão extremamente perigoso é isolar do seu contexto qualquer proposição como esta. Pode levar à negação do ensino do Novo Testamento. Vou dar um último exemplo, tirado da Segunda Epístola de João, versos 10 e 11, onde o assunto é exposto com muita clareza: “Se alguém vem ter conosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras”. Isso significa culpa por associação, e não devemos sujeitar-nos a ele.

“Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” não significa que você deve acomodar-se a ensinos e doutrinas errôneos, que não deve dizer nada quando a falsidade está sendo propagada. Não! Aí está, parece-me, o significado do que o apóstolo diz nesta importante e vital proposição.

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