quarta-feira, 20 de junho de 2012

A inspiração do Espírito


Capítulo VIII – parte 2

A “inerrância das Escrituras”

Quanto à “inerrância das Escrituras”, como se diz, preferimos desconsiderar argumentos menores, dando ênfase à grande razão que nos faz sustentar esse ponto de vista, ou seja: Se é Deus o Espírito Santo quem fala nas Escrituras, então a Bíblia é a palavra de Deus e, como Deus, ela é infalível. Recentemente, um brilhante escritor nos desafiou a mostrar-lhe onde a Bíblia mesma se chama de “a palavra de Deus”[1]. O mais simples estudioso do assunto pode facilmente, com o auxílio de uma concordância, indicar as passagens que fazem isso. Mas nós nos baseamos no fato de que ela não somente é chamada o logos “tou yeou”, “a Palavra de Deus”, mas também é chamada “ta logia tou yeou”, “os oráculos de Deus”. Esses nomes das Escrituras são muito significativos. Não temos necessidade de perguntar aos pagãos a respeito do sentido que eles percebem nas ordens recebidas dos seus deuses; deixemos que o emprego das Escrituras transmitam o seu próprio pensamento: “Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus”[2] (Rm 3.1,2).
Essa expressão abrangente é muito útil à nossa fé. Quando os críticos estão atacando cada detalhe dos livros do Antigo Testamento, o Espírito Santo os autentica diante de nós em sua totalidade. Assim como Abigail orou pela vida de Davi, que fosse “atada no feixe dos que vivem com o SENHOR”, assim aqui um dos apóstolos nos dá os livros da Lei e dos Profetas e dos Salmos atados no feixe da autoridade da inspiração divina. Estevão, de forma semelhante, fala da sua própria nação como quem “recebeu oráculos de vida” (At 7.38 — Tradução Brasileira), e Pedro diz: “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus” (1 Pe 4.11). E não somente isso; os mesmos apóstolos que se submeteram à autoridade do Antigo Testamento como aos oráculos de Deus, eles mesmos alegavam escrever como os oráculos de Deus no Novo Testamento. Paulo diz: “Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor (oráculo de Deus) o que vos escrevo” (1 Co 14.37). João, por sua vez, escreve: “aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve” (1 Jo 4.6). Essas afirmações são grandes demais para serem expressas com referência a escritos falíveis. Se admitirmos as suas premissas, os judeus estavam certos em acusar Jesus de blasfêmia, por dizer-Se igual a Deus. Se Cristo não é Deus, Ele não é nem mesmo um homem bom. E se as Escrituras não são infalíveis, elas são piores do que qualquer texto falível; pois, sendo mera literatura, fazem de si mesmas a palavra de Deus.
E o que diremos se alguém alegar que existem contradições irreconciliáveis neste livro que a si mesmo chama de oráculos de Deus? Duas coisas precisam ser ditas: Primeiro, é de esperar que, se usarmos o “método científico”, esse tipo de contradições deve aparecer e constantemente aumentar. A Bíblia é uma planta sensível, que se fecha ao simples toque da investigação crítica. No mesmo parágrafo em que reivindica que as suas palavras são as palavras do Espírito Santo, ela repudia o método científico como inútil para entender essas palavras: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram” — e insiste que o método espiritual é o único adequado — “Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito” (1 Co 2.9,10). A Bíblia não só não produz rosas para o crítico, mas ela produz os espinhos e abrolhos da desesperançada contradição. “Intellige ut credos verbum meum”, “entendam a minha palavra, para que vocês possam crer nela”; dizia Agostinho aos racionalistas dos seus dias, “sed crede ut intelligas verbum Dei”, “creiam na palavra de Deus, para que vocês possam entendê-la.” A fé possui a chave não só de todos os credos, mas também de todas as contradições. Aquele que começa e avança sob a convicção de que a Bíblia é a infalível palavra de Deus, verá as discrepâncias transformando-se constantemente em harmonias, à medida que avança em seus estudos. E esse comentário nos conduz à segunda reflexão: as contradições do homem podem na realidade ser as harmonias de Deus. Um ouvinte inculto, ao escutar uma composição musical de um dos grandes mestres, poderá detectar discordâncias repetidas na melodia; e na realidade aquilo que é chamado “acidentes” na música são discordâncias, mas discordâncias inseridas de propósito para salientar a harmonia. Dessa forma, à medida que as ditas discrepâncias das Escrituras, uma após a outra, depois de cuidadosamente identificadas e assimiladas pelo ouvido, vão se harmonizando, chegam ao nosso ouvido com especial ênfase e alegre harmonia as palavras do salmista, que fala pelo Espírito Santo: “A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o Testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices”! Aos críticos parece haver um sério erro na afirmação de Estevão, de que Jacó foi enterrado em Siquém (At 7.16) em vez de dizer que foi enterrado no campo de Maquila fronteiro a Manre, como está registrado em Gênesis 50.13, da mesma forma que se pensou que Lucas, em seu Evangelho, tivesse cometido um erro inexplicável quando se referiu a Quirino (Lc 2.1,2). Mas da mesma forma que essa última contradição se desfez, confirmando assim a veracidade das Escrituras quando se fez a investigação necessária, assim também haverá de acontecer com a primeira. E assim também com as alegadas discrepâncias existentes entre o registro num lugar de que o rei Salomão possuía quatro mil estábulos de cavalos, e em outro registro, quarenta mil. Também a declaração de que o rei Josias começou a reinar aos oito anos de idade, e em outro, aos dezoito. E daí? E se admitirmos livremente que não podemos harmonizar essas declarações? Isso não prova que elas não podem ser harmonizadas. A história das contradições que já foram harmonizadas com certeza já provou que “a estultícia de Deus é mais sábia que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens”. Assim também as dissonâncias de Deus são mais harmônicas do que os homens.
Ao concluirmos este capítulo, devemos dizer que a maior prova da infalibilidade das Escrituras é a prova prática: nós já experimentamos que elas são infalíveis. Assim como a moeda do país sempre foi suficiente para comprar o equivalente ao valor nela estampado, assim as profecias e as promessas das Escrituras Sagradas produziram o seu valor de face aos que se esforçaram para prová-las. Se nem sempre o fizeram, é provável que tenha sido por não estarem ainda maduras. Com certeza, há multidões de cristãos que já provaram de tal forma a veracidade das Escrituras, que estão prontos a confiar nelas sem reservas em tudo que prometem com referência ao mundo invisível e quanto à vida futura. “Crê para que possas conhecer, então, é a admoestação que tanto as Escrituras quanto a história reforçam. Adolph Monod, um extraordinário santo, em suas palavras de despedida, afirmou:
Quando eu entrar no mundo invisível, não espero encontrar as coisas diferentes daquilo que a palavra de Deus as apresenta para mim aqui. A voz que espero então ouvir será a mesma que ouço agora na terra, e pretendo dizer: ‘Isto é de fato o que Deus me disse; e quão grato estou porque não esperei ver para só então crer’.”

“As palavras de Cristo”
(extra)
“As palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (João 6:63).

Ele desejava ensinar aos discípulos duas coisas. Primeiro, que palavras são sementes vivas com poder para germinar, para brotar, assegurando sua própria vitalidade, revelando sua própria natureza, e provando seu poder naqueles que as recebem e as guardam em seus corações. Ele não queria que eles fossem desencorajados se não compreendessem tudo de uma vez. Suas palavras são espírito e vida; elas não eram destinadas apenas para entendimento, mas para a própria vida. Vindas no poder do Espírito, mais altas e profundas que todo pensamento, elas penetrariam a própria raiz de nossa vida. Elas têm em si mesmas a vida divina operando com uma energia divina a verdade que elas expressam, conduzindo aqueles que a recebem à experiência delas. Segundo, como uma conseqüência disto, Suas palavras requerem uma natureza espiritual para recebê-las. Sementes precisam de um solo congênere: deve haver vida no solo tanto quanto na semente. Não só na mente ou nos sentimentos ou até mesmo na vontade apenas, mas a Palavra deve ser conduzida através desses meios para dentro da vida. O centro desta vida é nossa natureza espiritual, com a consciência como sua voz; lá a autoridade da Palavra deve ser reconhecida. Mas mesmo isso não é suficiente: a consciência habita no homem como um cativo entre poderes que ela não pode controlar. É o Espírito que vem de Deus, o Espírito que traz vida, e através da Palavra assimila a verdade e o poder em nós. Ela nos salvará do erro. Ela nos preservará de esperar desfrutar dos ensinamentos do Espírito sem a Palavra ou nos tornarmos mestres no ensino da Palavra sem o Espírito.
O Espírito Santo tem incorporado através dos tempos os pensamentos de Deus na Palavra escrita, e vive agora, por esse propósito, em nossos corações – revelar o poder e o significado dessa Palavra.

Q    Se você deseja ser cheio do Espírito, seja cheio da Palavra.
Q    Se você deseja ter a vida divina do Espírito dentro de você se fortificando em cada parte da sua natureza, permita que a palavra de Cristo habite em você ricamente.
Q    Se você deseja que o Espírito cumpra seu ofício de trazer à mente no exato momento e aplicar com precisão divina à sua necessidade aquilo que Jesus disse, permita que as palavras de Cristo residam em você.
Q    Se você deseja que o Espírito lhe revele a vontade de Deus em cada circunstância da vida, decidindo o que você deve fazer em meio a comandos e princípios conflitantes com precisão inerrante, sugerindo a Sua vontade conforme a sua necessidade, tenha a Palavra vivendo em você, pronta para que Ele a use.
Q    Se você deseja ter a Palavra eterna como sua luz, permita que a Palavra escrita seja transcrita em seu coração pelo Espírito Santo.

“As palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida”.

Tome-as e faça delas um tesouro: é através delas que o Espírito manifesta Seu poder vivificante. Não pense nem por um momento que a Palavra pode desabrochar vida em você, a menos que o Espírito dentro de você a aceite e aproprie-se dela na vida interior. Muitos pensam que se soubessem exatamente o que Ela significa, a conseqüência natural seria a bênção que a Palavra pretendia trazer. Não é o caso. A Palavra é uma semente. Em toda semente há uma parte na qual a vida está escondida. Pode-se ter a mais perfeita semente em substância, mas a menos que ela seja exposta em um solo adequado à ação do sol e umidade, pode nunca chegar à vida.
Esta é uma das sérias lições que a história dos Judeus no tempo de Cristo nos ensina. Eles eram extraordinariamente zelosos, assim acreditavam, pela Palavra de Deus e pela honra e mesmo assim veio a ser que todo o seu zelo era por sua interpretação humana da Palavra de Deus. Jesus lhes disse: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (João 5:39-40). Eles de fato criam nas Escrituras para levá-los à vida eterna, e ainda assim nunca viram que essas palavras testificavam a Cristo e por isso não foram a Ele. Eles estudaram e aceitaram as Escrituras na luz e poder de sua razão e entendimento humanos ao invés de na luz e poder do Espírito de Deus como sua vida.
A fraqueza na vida de tantos crentes que lêem e conhecem consideravelmente as Escrituras é porque não sabem que é o Espírito que vivifica, e que a carne – entendimento humano, mesmo que inteligente, mesmo que determinado – para nada serve. Eles pensam que têm nas Escrituras a vida eterna. Mas conhecem pouco do Cristo vivo no poder do Espírito como sua verdadeira vida.

“A eterna Palavra e o eterno Espírito são inseparáveis. Assim como a palavra criadora e o Espírito criador (Gênesis 1:2-3; Salmo 33:6)”.

“A Palavra e o Espírito trabalham juntos na redenção (João 1:1-3,14)”.

“Na Palavra escrita: “as palavras que eu vos tenho dito são espírito”. Assim, a palavra pregada pelos apóstolos foi no poder do Espírito (I Tessalonicenses 1:5). Conforme lemos e meditamos na Palavra de Deus, devemos depender do Espírito Santo para interpretá-la para os nossos corações.”

Ezequiel 33:31
E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como Meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra;
Eles chegam diante de você como costumavam vir à minha presença no templo. Eles se assentam e ouvem o que você diz, mas não colocam uma palavra em prática.
 e 32
E eis que tu és para eles como uma canção de amores, canção de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.

Você não passa de um divertimento para eles, como um cantor que canta belas canções de amor, ou como um músico que toca bem o seu instrumento. Ouvem o que você fala, mas não põem uma palavra em prática.

“que o Senhor tenha misericórdia de nós”


[1] Dr. R. F. Horton, em “Verbum Dei” (Palavra de Deus).
[2] Quando o apóstolo chama o Antigo Testamento de “oráculos de Deus”, claramente reconhece que os livros que o compõem são divinamente inspirados. A igreja dos judeus recebeu o encargo de guardar esses oráculos até a chegada de Cristo. Agora, as Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos estão sob a tutela da igreja cristã. — Dr. Philip Schaff.

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