Capítulo VIII – parte 1
Inspiração
significa inalação. Tanto o escriba quanto a Escritura, tanto o homem de Deus
quanto a palavra de Deus são divinamente inspirados. Na memorável reunião do
Senhor ressuscitado com Seus discípulos na casa com as portas trancadas, lemos
que Ele “soprou sobre eles e
disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Se de alguns perdoardes os pecados,
são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos” (Jo 20.22,23). Bem poderia
a pergunta dos escribas a respeito de Jesus surgir em nosso coração com
respeito aos discípulos: “Quem pode perdoar pecados senão unicamente Deus?” E a
resposta deve ser: “De fato; somente Deus pode perdoar pecados. E é somente
porque o Espírito de Deus, que é Deus, está nos apóstolos, concedendo-lhes as
Suas prerrogativas divinas, que eles são capazes de exercer essa grande
autoridade”.
Contudo,
estamos persuadidos que essa comissão não foi dada a todos os cristãos, embora
todos tenham o Espírito. Olshausen, em seu Comentário,
trata apropriadamente esse assunto: “Aos apóstolos foi concedido o poder,
absoluto e incondicional, de atar e desatar, da mesma forma que a eles foi
concedido o poder de anunciar a verdade sem nenhum erro. Pois para essas duas tarefas eles possuíam
dons espirituais miraculosos”. A única correção que deveríamos fazer é em vez
de dons “miraculosos”, dizer dons “soberanos”. Jesus disse: “O Espírito sopra
onde quer, ouves a sua voz”. Embora os dons miraculosos não tenham sido
restritos apenas aos apóstolos, é provável que Cristo tenha confiado somente a
eles a soberana prerrogativa de perdoar pecados. Por outro lado, dons de cura, operação de milagres,
profecia, discernimento de espíritos, e línguas, foram distribuídos entre a
igreja, “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas,
distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente” (1 Co 12.11). Em
resumo, a ação do Espírito Santo era totalmente soberana na atribuição de
ofícios, e quando Jesus soprou o Espírito Santo sobre os Seus apóstolos, e lhes
concedeu autoridade para perdoar pecados, Ele lhes concedeu uma prerrogativa
que possivelmente não dizia respeito aos demais, embora fossem também habitação
do mesmo Espírito. É senso comum considerar que a ordem dos apóstolos cessou
com a morte daqueles que viram o Senhor e estiveram com Ele até o dia em que
foi assunto ao céu. Mas a razão por que cessou tem sido pouco levada em consideração. Teriam
porventura os apóstolos e seus companheiros sido comissionados para falar pelo
Senhor até que as Escrituras do Novo Testamento — a Sua voz autorizada —
estivessem completas? Se for assim, temos no apostolado uma inspiração
temporária; no evangelho, um estereótipo da inspiração; o primeiro dotado de
autoridade ad interim para perdoar
pecados, e o segundo com a autoridade in
perpetuam. O Novo Testamento, como o genuíno porta-voz do Senhor, anuncia o
perdão a todos aqueles que, em qualquer tempo, se arrependem de fato e creem no
Filho de Deus; e os pregadores de todos os tempos, com a Bíblia na mão, estão
autorizados a fazer essa mesma declaração. Em resposta aos escritores
católicos, os quais argumentam que essa infalibilidade para ensinar e a
autoridade para absolver, conferida aos apóstolos, foi passada por sucessão aos
ministros do clero, parece-nos importante reafirmar que essa autoridade não se
perpetuou em nenhum outro grupo de homens à parte daqueles que são mencionados
nas Escrituras; ela foi concedida aos do Novo Testamento e ali permanece para
todo o sempre. De qualquer forma, historicamente se pode observar o fato que os
apóstolos e profetas da nova dispensação desapareceram, ficando os Evangelhos e
as Epístolas em lugar deles, e daí em diante a divina voz de autoridade do
Espírito pode ser claramente reconhecida unicamente pela palavra escrita. Assim
como o carvão tem sido chamado de “luz solar fóssil”, assim o Novo Testamento
pode ser chamado de “inspiração fóssil”, ou seja, a iluminação sobrenatural que
sobreveio aos apóstolos acumulada e estocada para o uso da igreja no decorrer
das eras.
“Toda
a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para
a correção, para a educação na justiça” (2 Tm 3.16). Assim como o Senhor soprou
o Espírito em certos homens, e com isso lhes concedeu a Sua prerrogativa de
perdoar pecados, assim Ele soprou o Seu Espírito em certos livros e os dotou
com a Sua infalibilidade de ensinar a verdade. Deus não inspirou todos os bons
livros, mas escolheu inspirar um livro, separando-o dessa forma e
distinguindo-o de todos os outros livros. A expressão “a Bíblia é mera
literatura”, usada hoje como argumento contra a bibliolatria, não é verdade.
Literatura é a letra; a Escritura é a letra inspirada pelo Espírito. Aquilo que
Jesus disse para justificar a Sua doutrina do novo nascimento é igualmente
aplicável à doutrina da inspiração: “O que é nascido da carne é carne; e o que
é nascido do Espírito é espírito”. Eduque, desenvolva e refina o homem natural
até o mais alto grau, e ele ainda assim não será um homem espiritual; pelo novo
nascimento, o Espírito Santo o renova e passa a habitar nele. Assim acontece
também com a literatura; por mais alta que seja a sua forma, por mais sublimes
que sejam as suas idéias, não é a Escritura. A Escritura é literatura habitada
pelo Espírito de Deus. A ausência do Espírito Santo de qualquer escrito é o
abismo intransponível entre ele e a Sagrada Escritura. Quando nosso Senhor Se
refere à Sua própria doutrina, usa essa mesma linguagem, ao falar do novo
homem, para distingui-la de qualquer outro ensino comum. Ele diz: “O espírito é
o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito
são espírito e são vida” (Jo 6.63).
Eram palavras e, nesse aspecto, literatura; mas eram palavras divinamente
inspiradas e por isso eram a Escritura. Enfim, aquilo que faz da palavra de Deus
um livro único, separado de todos os outros escritos, é aquilo que também faz
distinção entre o homem de Deus e o homem comum: a habitação do Espírito Santo.
É por essa razão que podemos dizer com verdade a respeito da Bíblia, não
meramente que ela foi inspirada, mas
que ela é inspirada; que o Espírito
Santo ainda agora sopra dentro dela, fazendo dela não apenas uma voz de
autoridade quanto às doutrinas, mas também concedendo vida por meio do seu
conteúdo, de forma que aqueles que recebem as suas promessas pela fé foram
“regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a
palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pe 1.23).
Temos
considerado neste livro, até agora, as variadas obras e ofícios do Paráclito.
Agora estamos considerando que o Espírito Santo não apenas age, mas também
fala. Ouçamos as repetidas afirmações desse fato. Por sete vezes o nosso Senhor
glorificado diz no Apocalipse: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7). O Paráclito aqui na terra
responde ao Paráclito lá no céu, de forma que à voz vinda do céu — “Escreve:
Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor” — ouve-se a
resposta: “Sim, diz o Espírito, para
que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham” (Ap 14.13).
Isso está de acordo com o caráter geral das Escrituras quanto ao seu Autor.
Quando se refere ao Antigo Testamento, Pedro diz: “Irmãos, convinha que se
cumprisse a Escritura que o Espírito
Santo proferiu anteriormente por boca de Davi, acerca de Judas, que foi o
guia daqueles que prenderam Jesus” (At 1.16). Nosso Senhor reconhece claramente
a voz do Espírito na voz do salmista: “O próprio Davi falou, pelo Espírito Santo” (Mc 12.36). E outra vez: “O Espírito do SENHOR fala por meu
intermédio, e a sua palavra está na minha língua. Disse o Deus de Israel, a
Rocha de Israel a mim me falou” (2 Sm 23.2,3), e: “Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se
ouvirdes a sua voz” (Hb 3.7).
E
o que se pode dizer? A linguagem não serve para expressar os pensamentos? A
diferença entre pensar e dizer são simplesmente as palavras. Por isso, se o
Espírito Santo “diz”, haveremos de
encontrar nas palavras das Escrituras
o exato sentido daquilo que Ele diz. Consequentemente, a inspiração verbal se
apresenta como absolutamente essencial para nos comunicar o perfeito pensamento
de Deus. E embora muitos considerem ridícula a ideia, como mecânica e
desprezível, a conduta e o método utilizado pelos acadêmicos de todas as
crenças mostram o quanto ela é aceita. Por que, então, o minucioso e contínuo
estudo das palavras das Escrituras
por parte de todos os expositores, e a sua incansável busca das nuanças do
sentido de cada palavra, e a sua atenção aos mínimos detalhes da linguagem, e
às sutis diferenças existentes em cada modo e tempo e acento? Os acadêmicos que
falam de modo inconseqüente sobre a teoria da inspiração literal das
Escrituras, são os que, pelo seu próprio método de estudo e exegese, ratificam
de maneira mais categórica a doutrina que negam. E depois não devemos esquecer
o que pretendemos dizer quando afirmamos que a linguagem é a expressão do
pensamento. As palavras estabelecem a amplitude e a forma das ideias. Assim
como a moeda corresponde exatamente ao molde onde foi estampada, assim o
pensamento corresponde à palavra por meio da qual foi enunciado. Modifique a
linguagem por pouco que seja, e com isso você modificará o pensamento.
Da
mesma forma que o ultra espiritualismo interpreta as palavras de Paulo “um
corpo espiritual” como se significasse um fantasma [quando na verdade a ênfase
está tanto em swma (soma) como em pneumaticon
(pneumatichon), significando evidentemente um corpo espiritual]; assim também algumas pessoas, quando interpretam a expressão “a letra mata”, adulteram as Escrituras, dizendo-nos que a coisa principal é o pensamento de Deus, e que a linguagem é totalmente secundária. Mas Lutero sabiamente nos lembra que “Cristo não disse a respeito do Seu Espírito, mas a respeito das Suas palavras, que elas são espírito e são vida”.
(pneumatichon), significando evidentemente um corpo espiritual]; assim também algumas pessoas, quando interpretam a expressão “a letra mata”, adulteram as Escrituras, dizendo-nos que a coisa principal é o pensamento de Deus, e que a linguagem é totalmente secundária. Mas Lutero sabiamente nos lembra que “Cristo não disse a respeito do Seu Espírito, mas a respeito das Suas palavras, que elas são espírito e são vida”.
Negar
que é o Espírito Santo quem fala nas Escrituras é um posicionamento
compreensível; mas se admitirmos que Ele
fala, só poderemos entender os Seus pensamentos se ouvirmos as Suas
palavras. É verdade que Ele pode gerar em nós sentimentos
profundos demais para serem expressos, como quando “o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos
inexprimíveis” (Rm 8.26). Mas a idéia que realmente é compreensível é a idéia
que se expressa por meio da fala. Para as mentes finitas, pelo menos, as
palavras é que são os meios que tornam compreensíveis os pensamentos. É
evidente que Jesus reivindica para o Seu ensino não apenas inspiração, mas
inspiração verbal, quando Ele diz que as Suas palavras são “espírito e vida”. Esse também é o parecer de Paulo,
ao falar da inspiração do Espírito Santo: “Mas Deus no-lo revelou pelo
Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as
profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o
seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém
as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do
mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos
foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo
Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais” (1 Co 2.10-13).
O
que dizer daqueles que afirmam que essa teoria torna a inspiração puramente
mecânica, fazendo dos escritores humanos das Escrituras meros estenógrafos,
cuja função é apenas transcrever as palavras do Espírito, à medida que são
ditadas? É preciso admitir que as Escrituras dão larga margem para apoiar essa
ideia. Considere-se o caso de um estudante que transcreveu a palestra de um
eminente filósofo, e que agora estuda com diligência para entender o sentido
daquilo que foi dito e que ele escreveu. Temos de entender que ele foi um aluno
e não um mestre; que ele não originou nem os pensamentos nem as palavras da
palestra, mas foi um discípulo cuja ocupação era entender aquilo que ele mesmo
transcreveu, para dessa forma ser capaz de comunicá-lo aos outros. Não há como
negar que é essa a exata figura do que encontramos nesta passagem das
Escrituras: “Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e
inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou
quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles
estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e
sobre as glórias que os seguiriam” (1 Pe 1.10,11). Ali estavam os
escritores inspirados, esforçando-se para compreender o sentido daquilo que
eles mesmos tinham escrito. Se eram profetas com relação aos homens, eles com
toda certeza eram alunos com relação a Deus. Feitas todas as concessões quanto
às peculiaridades dos escritores, eles necessariamente foram relatores daquilo
que ouviram, em vez de terem formulado aquilo que foram levados a compreender.
Isso também é semelhante à atitude de Cristo — fez-se um ouvinte para tornar-se
um mestre: “tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (Jo 15.15);
fez-se um relator para tornar-Se um revelador: “porque eu lhes tenho
transmitido as palavras que me deste” (Jo 17.8).
Em
nossos dias, os eruditos são muito zelosos quanto ao elemento humano da
inspiração; mas é o elemento soberano que mais impressiona aquele que estuda
com cuidado esse assunto. “O Espírito sopra onde quer.” Com respeito à
regeneração pelo Espírito Santo, temos a expressa declaração de que isso ocorre
não “da vontade da carne, nem da vontade
do homem, mas de Deus”; e com respeito à inspiração do Espírito, o ensino é
igualmente claro: “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens
santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21).
O
estilo das Escrituras apresenta, sem dúvida, as características pessoais e as
idiossincrasias dos diversos escritores, assim como a luz dentro de uma
catedral assume várias tonalidades quando passa pelos vitrais coloridos; mas
dizer que os pensamentos da Bíblia são do Espírito, e que a linguagem é dos
homens, cria um dualismo na revelação que não se justifica. Damos nosso pleno
aval à citação de um eminente escritor a respeito desse assunto: “A opinião de
que somente o assunto da Bíblia é que procede do Espírito Santo, enquanto a sua
linguagem ficou a cargo da livre escolha dos diversos escritores, resulta num
conceito irracional que é a grande falácia de muitas teorias da inspiração, ou
seja: havia dois agentes espirituais em operação, um dos quais produziu a
fraseologia da forma externa, enquanto o outro criou na alma os conceitos e
pensamentos que essa fraseologia expressava. Pelo contrário, o Espírito Santo,
como a eficaz causa primária, envolve
toda a atividade daqueles que Ele inspira, fazendo da linguagem deles a palavra de Deus”.
Se
alguém argumentar que as citações que o Novo Testamento faz do Antigo raramente
são ipsissima verba, pelo contrário
em muitas ocasiões a linguagem é grandemente mudada, é preciso
contra-argumentar mostrando igualmente quão importantes muitas vezes são essas
alterações. Se foi o Espírito Santo quem dirigiu a escrita de ambos os livros,
Ele tinha um direito soberano de alterar a fraseologia, se fosse necessário, de
um livro para o outro. Na opinião de muitos estudiosos, é intencional e
inspirada a mudança de “Virá o Redentor a
Sião e aos de Jacó que se converterem, diz o SENHOR” em Isaías 59.20 para “E,
assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador” em Romanos 11.26. Assim também a
citação de Amós 9.11, “Naquele dia, levantarei o tabernáculo caído de Davi”,
mencionada em Atos 15.16 (RC): “Depois disto, voltarei e reedificarei o
tabernáculo de Davi, que está caído” — parece que a linguagem foi projetada
para tornar claro o seu significado no cenário em que foi proferida. Poderíamos
citar muitos outros exemplos onde o divino Autor das Escrituras remodelou as
Suas próprias palavras. Por outro lado,
a constante repetição das mesmas palavras e frases nos livros da Bíblia por
mais separados que estivessem no tempo e nas circunstâncias em que foram
escritos, é forte indício de uma mesma fonte a expressar-Se por meio de uma
variedade de caligrafias diferentes. Não há dúvida de que a individualidade dos
escritores foi preservada, só que a individualidade deles estava subordinada à
soberana individualidade do Espírito Santo. Com a palavra escrita ocorreu o
mesmo que ocorreu com a Palavra encarnada. Pelo fato de Cristo ser Deus, Ele é
mais humano do que qualquer outro homem que o mundo jamais viu; e porque a
Bíblia é sobrenatural, ela é natural como nenhum outro livro que jamais foi
escrito; a sua divindade a eleva acima das falhas de estilo que são fruto da
consciência própria e da ambição. Quer leiamos no Antigo Testamento a história
do servo de Abraão procurando uma noiva para Isaque, ou a narrativa encontrada
no Novo Testamento do Cristo ressuscitado andando com os Seus discípulos até
Emaús, a inimitável simplicidade de estilo nos faria pensar que estamos ouvindo
a voz de anjos que jamais pecam em pensamento, e por isso não podem pecar em
estilo, se não soubéssemos que essa é a fraseologia típica do Espírito Santo.
Um
eminente teólogo alemão escreveu uma frase tão profundamente significante que a
reproduzimos aqui em itálico: “Temos toda
a razão de falar de uma linguagem do Espírito Santo. Isso porque salta aos
nossos olhos na Bíblia como o divino Espírito, o agente da revelação, criou
para Si mesmo um dialeto religioso inteiramente peculiar, totalmente distinto
do modo de falar das pessoas que fazem parte do cenário bíblico”. Essa
declaração parece tão verdadeira, que nos parece inteiramente impossível
encontrar o exato sentido de muitos dos termos do Novo Testamento grego em dicionários
do grego clássico. Embora a forma verbal de ambos seja igual, é possível que o
espírito inspirado tenha dado novo significado a palavras antigas, que para
utilizar um dicionário secular para traduzir oráculos sagrados, é quase como
pedir a uma pessoa não regenerada que interprete os mistérios da vida
regenerada. Será que desconhecemos o fenômeno que ocorre com diversas palavras
inglesas, por causa do progresso e das descobertas, tanto que é preciso
identificar-se com “o espírito da época” para conseguir compreendê-las? Dessa
maneira, igualmente, mesmo no trabalho da crítica verbal, é essencial que se
possua o espírito de Cristo para conseguir traduzir as palavras de Cristo.
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