quarta-feira, 20 de junho de 2012

A convicção do Espírito



Capítulo IX

“Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.8).

Algumas pessoas, baseadas nessas palavras, chegaram a uma conclusão ampla demais: dizem que, a partir do dia de Pentecostes, o Espírito foi derramado de forma universal em todo o mundo, tocando os corações em todos os lugares, entre cristãos e pagãos, entre os evangelizados e os não evangelizados igualmente, despertando neles uma consciência de pecado. Mas não são palavras de nosso Senhor nesse mesmo discurso, com respeito ao Consolador: “o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece” (Jo 14.17)? Devemos associar com estas palavras a limitação imposta por Jesus com respeito ao dom do Paráclito: “se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei”. Os discípulos de Cristo é que se tornariam os recipientes e os distribuidores do Espírito Santo, e a Sua igreja seria mediadora entre o Espírito e o mundo. “Quando ele vier (a vós outros), convencerá o mundo”. E para completar a explicação, podemos ligar essa promessa à Grande Comissão:
 “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”, e concluir que quando o Senhor envia os Seus mensageiros ao mundo, o Espírito da verdade vai com eles, dando testemunho da verdade que eles anunciam, convencendo do pecado que eles reprovam, e revelando a justiça que eles proclamam. Não temos clareza suficiente para dizer que a convicção do Espírito aqui prometido vai além dos lugares evangelizados pela igreja, embora tenhamos todas as razões para crer que ela invariavelmente acompanha a fiel pregação da palavra.
Ser-nos-á útil, então, para uma clara concepção a respeito do assunto, considerarmos o Espírito da verdade como enviado para a Igreja, testificando de Cristo, e trazendo convicção ao mundo.
Assim como é tripla a obra de Cristoprofeta, sacerdote e rei, assim é tripla a convicção produzida pelo Espírito em relação a essa obra de Cristo: (Jo 16.8-11).

“Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado

A convicção do Espírito está relacionada ao testemunho que Cristo deu aos homens nos dias da Sua carne; e diz respeito à obra de intercessão à direita de Deus que Ele agora executa; e também diz respeito ao julgamento que Cristo executará quando vier outra vez para ser nosso juiz.
Ele “convencerá o mundo do pecado”. Por que é preciso que o Espírito Santo opere essa convicção, já que cada ser humano carrega consigo uma consciência, que tão fielmente o lembra dos seus pecados? Explicamos: A consciência dá testemunho da lei; o Espírito dá testemunho da graça. A consciência opera convicção relacionada à lei; o Espírito opera convicção do evangelho. A primeira gera uma convicção que produz desespero; o segundo, uma convicção que gera esperança.

“... do pecado, porque não crêem em mim, descreve o fundamento da convicção operada pelo Espírito Santo. A vinda de Cristo ao mundo tornou possível um pecado até aquele momento desconhecido: “Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado” (Jo 15.22). Parece que o mal precisava da presença do Deus encarnado para manifestar-se plenamente. Daí entendemos o profundo significado da profecia de Simeão: “Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição ..., para que se manifestem os pensamentos de muitos corações” (Lc 2.34,35). Todos os mais odiosos pecados da natureza humana se manifestaram na traição e nas provações e na paixão de nosso Senhor. Naquela “hora e poder das trevas” parece que esses pecados de fato não foram reconhecidos como tal. Mas ao chegar o dia de Pentecostes, com a impressionante luz reveladora do Espírito da verdade, houve grande contrição em Jerusalém — uma contrição cujo aguilhão encontramos na declaração de Pedro: “Jesus, o Nazareno, ... vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”. Não foi aquela profunda convicção, que seguiu o dom do Espírito, quando três mil foram conduzidos ao arrependimento num só dia, uma convicção de pecado porque eles não tinham crido em Cristo?
Quando nos repreende, o Espírito Santo apresenta o outro lado do mesmo fato, chamando-nos ao arrependimento, não por termos participado da crucificação de Cristo, mas por termos recusado participar do Cristo crucificado; não por sermos culpados de levá-lO à morte, mas por termo-nos recusado a crer nEle que foi “entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”. Sempre que por meio da pregação se faz conhecido o fato de que Cristo morreu pelos pecados do mundo, essa culpa se torna possível. O pecado de não crer em Cristo é, por isso, agora, o grande pecado, porque ele sintetiza todos os outros pecados. Ele sofreu por nós as penalidades da lei; de forma que a nossa obrigação, que anteriormente era para com a lei, agora é transferida para ele. Recusar crer nEle, por isso, é repudiar as ordenanças da lei que Ele cumpriu e é repudiar a dívida de infinito amor que, pelo Seu sacrifício, temos para com Ele. No entanto, o Espírito da verdade traz a convicção desse pecado contra o Senhor, não para condenar o mundo, mas para que o mundo, por meio dele, possa ser salvo. Em resumo, como alguém já disse muito bem: Agora, quando pregamos o Evangelho, não promovemos “o assunto do pecado, mas promovemos o Filho”. “Uma vez que Cristo satisfez plenamente a Deus com respeito ao pecado, a questão agora entre Deus e o seu coração é: Você está plenamente satisfeito com Cristo, como a única porção da sua alma? Cristo liquidou todas as outras dívidas para a glória de Deus”. Ao lidar com os judeus culpados, foi o fato histórico que o Espírito Santo argumentou para levá-los à convicção: “Mas vós negastes o Santo e o Justo e ... matastes o Príncipe da vida” (At 3.14,15 – RC). Quando trata conosco, os gentios, Ele usa o fato teológico ou evangélico: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1 Pe 3.18), e vocês estão condenados por não terem crido nEle e por não O terem confessado como Salvador e Senhor. No final, é o mesmo pecado, mas visto de lados opostos, por assim dizer. No primeiro caso, é a culpa de desprezar e rejeitar o Filho de Deus; no outro, é a culpa de não crer nAquele que foi desprezado e rejeitado pelos homens. Contudo, se clamarmos humildemente ao Espírito, Ele nos conduzirá desse primeiro estágio de revelação ao segundo. A respeito da convicção do Espírito é também verdade o que Andrew Fuller afirmou a respeito das doutrinas teológicas: “Elas estão intimamente unidas como elos de uma corrente, de forma que o entendimento de uma implica em alcançar com certeza o entendimento da outra”.

“... da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais.” Cristo aperfeiçoaria a justiça em nosso favor somente quando Se assentasse nos lugares celestiais. Assim como Ele foi “entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”, assim Ele tinha de ser entronizado para nossa segurança. É preciso ver Jesus em pé à direita de Deus, para saber que fomos “aceitos no Amado”. Como é belo o clímax da profecia de Isaías a respeito da paixão de Cristo, onde, ao lado da promessa de que “levou sobre si o pecado de muitos”, temos a profecia de que “o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos”! Mas é preciso ser demonstrado que Ele é justo, a fim de que Ele possa justificar; e foi esse o propósito da Sua exaltação. “Ela foi a prova de que Aquele a quem o mundo condenou, Deus justificou – que a pedra que os construtores rejeitaram, Deus a fez pedra de esquina – que Aquele a quem o mundo negou e cravou numa vergonhosa cruz no meio de dois ladrões, Deus aceitou e colocou no Seu próprio trono.”
As palavras “e não me vereis mais”, que tanto confundem os comentaristas, nos parecem ser a verdadeira chave para entender a passagem toda. Por todo o tempo em que o Sumo Sacerdote estava além do véu, sem ser visto pela congregação, ninguém estava certo quanto à sua própria aceitação diante de Deus. Daí a impaciente ansiedade com que aguardavam a saída dele, com a garantia de que Deus tinha aceitado a propiciação oferecida em seu favor. Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, entrou no Santo dos Santos com o Seu próprio sangue. Até que Ele volte na Sua segunda vinda, como poderíamos estar certos de que o Seu sacrifício por nós foi aceito diante de Deus? Não haveria como, a não ser que Ele enviasse alguém que nos fizesse conhecer esse fato. E é precisamente isso que Ele fez ao enviar o Espírito Santo. “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1.3). Ali Ele permanecerá por todo o tempo do grande dia da expiação, que se estende da ascensão até a Sua segunda vinda. Mas para que a Sua igreja tenha imediata segurança quanto à aceitação diante do Pai, por meio do Seu servo justo, Ele envia o Paráclito para atestar o fato; e a presença do Espírito na igreja é prova evidente de que Jesus está no trono; assim como Pedro disse no dia de Pentecostes: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis” (At 2.33).
Agora as palavras de Jesus nos parecem claras. Pelo fato de Ele ter subido até o Pai, para não mais ser visto até a Sua segunda vinda, o Espírito nesse meio tempo desceu para atestar a Sua presença e aprovação com o Pai, como o perfeitamente Justo. Como isso fica evidente na defesa de Pedro diante do Sinédrio: “O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro. Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados. Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem” (At 5.30-32). Por que esse duplo testemunho? A razão é óbvia. Os discípulos podiam dar testemunho da crucificação e da ressurreição de Cristo, mas não podiam dar testemunho da Sua entronização. Esse evento estava além do alcance da visão humana; e por isso o Espírito Santo, que conhecia o fato ocorrido nos céus, precisou ser enviado para testemunhar juntamente com os apóstolos, para que assim o todo da verdade da redenção recebesse plena confirmação. Dessa forma se cumpriu literalmente a promessa que Jesus fez em Seu último discurso: “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio” (Jo 15.26,27).
Como já dissemos, não é apenas a entronização de Cristo, a prova da aprovação do Pai, que precisa ser certificada; mas também a aceitação da Sua obra sacrifical como pleno e satisfatório fundamento da nossa reconciliação com o Pai. E o Espírito procedente de Deus é o único capaz de nos dar essa certeza. Por essa razão, na Epístola aos Hebreus, depois da repetida declaração da exaltação do nosso Senhor à direita de Deus, se acrescenta: “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo” (Hb 10.14,15). Em resumo, Aquele que conhecemos na cruz como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, agora precisamos conhecer, no trono, como Senhor, Justiça Nossa”. Mas embora os anjos e os santos glorificados no céu vejam Jesus, outrora crucificado, mas agora “feito Senhor e Cristo”, nós não O vemos. Por isso está escrito que “ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo” (1 Co 12.3). Assim também nos é dito que “Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1); mas só podemos conhecer Cristo dessa forma por meio do “outro Paráclito” enviado da parte do Pai. Temos a promessa de que “quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido” (Jo 16.13). Depois de ouvir no céu as declarações de que Cristo é digno, e contemplar Aquele que por um pouco foi feito menor do que os anjos para provar a morte, agora “coroado de glória e de honra”, o Espírito Santo transmite o que vê e ouve à igreja que está na terra. Dessa forma, assim como Cristo, na Sua vida terrena, por meio da Sua brilhante e evidente santidade, “foi justificado em espírito”; assim nós, reconhecendo que Ele está na glória em nosso favor, e foi feito “justiça de Deus” por nós, somos também “justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6.11).
Assim, embora não seja visto pela igreja durante todo o tempo em que exerce Seu ministério de Sumo Sacerdote, nosso Senhor enviou à igreja Um cuja função é dar testemunho de tudo o que Ele é e de tudo o que está fazendo enquanto se encontra no céu, a fim de termos “ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele” e que assim possamos nos achegar com ousadia ao trono da graça. “... querendo com isto dar a entender o Espírito Santo” — o que não podia ser feito sob a antiga aliança — “que o caminho do Santo Lugar” (Hb 9.8) já se manifestou.
E, contudo – estranho paradoxo – nesse mesmo discurso em que Cristo diz aos Seus discípulos que eles não mais O veriam, Ele diz: “Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis; porque eu vivo, vós também vivereis” (Jo 14.19), palavras que se referem ao tempo em que Cristo permanecerá além do véu. Mas agora é por meio da visão interior, que o mundo não possui, que eles O verão. E eles O verão pelo mundo, visto que Cristo disse: “o mundo não pode receber (ao Espírito Santo), porque não o vê, nem o conhece”. E contudo o Espírito seria enviado “para convencer o mundo” “do pecado, da justiça e do juízo”. Como explicaremos isso? Quando o sol desaparece no horizonte à noite, o mundo, nosso hemisfério, não mais o vê; contudo a lua o vê, e durante toda a noite capta a sua luz e a lança sobre nós. Assim o mundo não vê a Cristo nas graciosas provisões de redenção que Ele mantém para nós no céu, mas por meio da iluminação do Consolador, a igreja O vê; como está escrito: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito” (1 Co 2.9,10). E a igreja, ao ver essas coisas, comunica ao mundo aquilo que ela vê. Cristo é tudo e em todos; e o Espírito O recebe e O reflete para o mundo por meio do Seu povo.
“... do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado. Cremos que aqui temos um maior avanço na revelação do evangelho, e não uma menção da doutrina do juízo futuro, como ensinam algumas pessoas. Reafirmamos nossa convicção de que em todo este discurso o Espírito Santo nos é revelado como uma boa nova da Graça, e não como um delegado da Lei. Ouça novamente o apóstolo Pedro apontando Àquele que ressuscitou de entre os mortos e Se assentou nas alturas. Ele diz: “por meio dele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés” (At 13.39). Justificação, no sentido evangélico, é outro nome para uma antecipação do julgamento e o fim da condenação. Quando Cristo foi entronizado, encerrou-se toda e qualquer questão a respeito do pecado, e toda e qualquer reivindicação da lei transgredida foi satisfeita. E embora não haja nenhum rebaixamento nas exigências do decálogo, contudo pelo fato de Cristo ser “o fim da lei ..., para justiça de todo aquele que crê”, agora a graça reina “pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor”. É um estranho paradoxo apresentado em Isaías: “pelas suas pisaduras fomos sarados”, como se nos fosse dito que os golpes do pecado obtiveram a remissão dos pecados. E foi isso que aconteceu. Se o Espírito Santo nos apresenta as feridas do Cristo moribundo para nos condenar, Ele imediatamente nos apresenta as feridas do Cristo exaltado para nos confortar. O Seu corpo glorificado é o certificado dado pela morte quanto ao perdão da dívida, a quitação plena e rasa, assegurando-nos que todos os castigos merecidos pela transgressão foram sofridos, e que o pecador foi absolvido.
Por isso, parece claro o significado dessa última consideração: “... do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.” Relembre as palavras de Jesus quando se viu face a face com a cruz: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso” (Jo 12.31). Finalmente, “o acusador dos irmãos” não tem mais voz e é expulso da corte real. A morte de Cristo é a morte da morte, e também do autor da morte. “... para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hb 2.14,15). Se é misteriosa a relação de Satanás com nosso julgamento e condenação, temos entretanto clareza (por esta passagem bíblica e por outras) quanto ao fato de que Cristo, pela Sua cruz, nos libertou do seu domínio. Temos de crer que Jesus disse literalmente a verdade quando afirmou: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24). Na cruz, Cristo julgou o pecado e libertou aqueles que creem nEle; e no céu Ele os defende contra toda tentativa de sentença por causa da transgressão da lei. “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). É dessa forma que a tripla convicção conduz o pecador aos três estágios da obra redentora de Cristo, passando do juízo e da condenação para a eterna aceitação diante do Pai.
Numa impressionante antítese a isso tudo, temos uma ocasião no livro de Atos em que se vê a tripla convicção da consciência, quando Paulo esteve diante de Félix: “Dissertando ... acerca da justiça, do domínio próprio e do Juízo vindouro” (At 24.25). Aqui foi posto às claras o pecado de uma vida depravada quando o apóstolo falou sobre a castidade; foram demonstradas as exigências da justiça; e foi apresentada a certeza do juízo vindouro; e o único efeito produzido foi que “ficou Félix amedrontado”. É isso o que sempre acontece sob a convicção da consciência — há remorso, mas não há paz. Temos também outro instrutivo contraste nas Escrituras, entre o testemunho do Espírito e o testemunho da consciência. “O próprio Espírito testifica (summarturei) com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16). Essa é a segurança da filiação, com toda a persuasão interior de liberdade da condenação que ela transmite da parte de Deus. Por outro lado, existe a convicção dos pagãos, que possuem apenas a lei escrita em seus corações: “testemunhando-lhes (summarturoushs) também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens” (Rm 2.15,16). A consciência pode “acusar”, e o quanto isso é verdade em todo o mundo os missionários cristãos podem atestar com freqüência; e a consciência pode “defender”, que é o método proposto por pensamentos de culpa; mas a consciência não consegue justificar. É somente o Espírito da verdade, que o Pai enviou a este mundo, que pode fazer isso. Podemos contrastar a obra dessas duas testemunhas da seguinte forma:

·                       A consciência convence - O Consolador convence.
·                       Do pecado cometido - Do pecado cometido.
·                       Da justiça impossível de alcançar - Da justiça imputada.
·                       Do juízo realizado - Do juízo iminente.

Felizmente essas duas testemunhas podem ser harmonizadas, como de fato o foram pela expiação que reconciliou o homem consigo mesmo, tanto quanto o reconciliou com Deus. É muito significativo que na Epístola aos Hebreus, quando somos convidados a nos aproximar de Deus, que a condição para isso seja “tendo o coração purificado de má consciência”. Assim como o sumo sacerdote levava o sangue para dentro do Santo dos Santos, na antiga dispensação, assim o Espírito introduz o sangue de Cristo no santuário interior do nosso espírito na mais excelente economia da nova dispensação, para que possamos purificar “a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo” (Hb 9.14). Bendito o homem que dessa forma se reconcilia consigo mesmo e com Deus, de forma que pode dizer: “Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência” (Rm 9.1). A consciência do crente habitando no Espírito, assim como a sua vida está “oculta com Cristo em Deus”, tendo ambos a mesma mente e produzindo o mesmo testemunho — esse é o propósito da redenção e essa é a vitória do sangue da expiação.







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