quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"A SOBREEXCELENTE GRANDEZA DO SEU PODER"

Irmãos esse é o assunto do estudo da reunião de hoje quinta feira dia 28/01/2010. Estude receba do Senhor e compartilhe na reunião aquilo que você ganhou do Senhor.

CAPÍTULO 33

"A SOBREEXCELENTE GRANDEZA DO SEU PODER"

"E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que mani­festou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos."
- Ef 1:19-23

Chegamos à terceira petição particular do apóstolo em favor dos cristãos efésios, e vemos que, como se deu com as outras duas, é introduzida pela palavra qual ("quais"). Mais uma vez devemos ser cuidadosos na interpretação. A Bíblia de Scofield, assim chama­da, introduz estas três petições com o seguinte título geral: "Oração por conhecimento e poder". Sugere com isso que o apóstolo está pedindo duas coisas para estes efésios: primeiro, que tenham certo conhecimento, e depois, que tenham poder. Minha opinião é que essa interpretação é errônea e grave. O apóstolo, aqui, não está orando tanto para que seja dado poder aos efésios, como que conheçam o poder de Deus que já está operando neles. É evidente que as duas coisas são inteiramente diversas, como é demonstrado por todo o contexto.

O objetivo desta seção da Epístola, como já vimos repe­tidamente, é dar segurança e certeza a fim de que os cristãos verda­deiros tenham confiança;
Assim, parece claro que o apóstolo está dando ênfase ao poder de Deus nos santos, e não ao poder que Deus dá aos santos.

Isso imediatamente levanta um problema fundamental de teo­logia e doutrina; na verdade levanta dois possíveis conceitos sobre a salvação cristã. É interessante observar que conceitos diferentes sobre a salvação geralmente são determinados por esta questão de poder:

Um conceito é que a salvação é resultado de algo que eu faço, e mais o poder que nos é dado por Deus. Eu, mais o poder de Deus! É concedido que eu não posso realizar a salvação sem o poder ou a ajuda que Deus me dá, mas esta concepção da salvação é que Deus me ajuda e me habilita a chegar a ela;
O outro conceito é que a salvação é resultado do poder de Deus em ação - em mim e por meu intermédio, e é este conceito que devemos tomar desta passagem particular.

Neste ponto a Versão Padrão Revista inglesa ("RSV") é útil. Em vez de dizer:

"qual a extraordinária grandeza do seu poder para conosco que cremos" (VA), diz:

"Qual a imensurável grandeza do seu poder em nós, que cremos".

O apóstolo está dando ênfase ao poder de Deus em nós. Naturalmente é certo dizer que Deus nos dá força e poder; e necessitamos desse poder constantemente; e em seu lugar e contexto isso deve ser ensinado. Mas aqui o grande objetivo que o apóstolo tem em mente é:

Fazer com que os efésios vejam e compreendam, e nós com eles, a grandeza do poder de Deus em nós, o que Ele está realizando em nós;
O resultado seria que os nossos temores se desvaneceriam, e teríamos nova confian­ça e segurança com respeito a nossa salvação;
Na verdade, esta é, em última instância, a base final da segurança, tanto objetiva como subjetiva - aquela levando a esta.

É fascinante observar a maneira pela qual o apóstolo maneja o seu material e elabora o seu argumento. Ele nos deixou clara a natu­reza do chamado e como este se funde no caráter de Deus. Depois ele nos deu um vislumbre da glória transcendental para a qual fomos destinados. E agora ele acentua o poder de Deus agindo em nós. Parece-me que a lógica na sequência destas três petições é como segue: com o seu grande coração pastoral, o apóstolo está preocu­pado com estes efésios. Ele sabe que eles tinham crido, que eles confiavam no Senhor Jesus, e que tinham sido selados com o Espí­rito Santo; não obstante, ele ora sem cessar por eles, e ora no senti­do de que eles penetrem as profundezas do entendimento, do conhecimento e da compreensão da vida cristã e suas possibilida­des. Por isso fez as duas primeiras petições, e esta terceira é inevi­tável.
É inevitável porque ninguém pode ter qualquer concepção dessa herança, dessa glória, para a qual vamos indo, sem imediata­mente tomar consciência de certas coisas. A própria grandeza da glória por um lado, e o nosso estado e condição em pecado por outro, tendem a criar dúvidas dentro de nós. Ouvimos ou lemos as descrições das realidades invisíveis e eternas - o "peso eterno de glória mui excelente" para o qual estamos indo - e, tendo-as com­pletado, inclinamo-nos a voltar-nos e a dizer a nós mesmos: mas, certamente isso tudo não é possível para mim! Certamente não estou apto para tal glória, e nunca estarei! Contrastamo-nos a nós mesmos, e o que sabemos que somos, com o brilho da glória de Deus. Vamos ao capítulo 21 do livro de Apocalipse e lemos sobre o Cordeio no meio, e sobre toda a glória, e sobre o fato de que fora ficam os cães (Ap 22:15) e tudo o que é mau, e dizemos: certamente isso tudo é impossível para nós, é demasiado maravilhoso, é dema­siado glorioso! Com toda a probabilidade essa é a nossa reação imediata. Ou podemos dizer a nós mesmos: como poderei tornar­-me apto para tal glória? Se eu passar o resto da minha vida não fazendo outra coisa senão cultivando e nutrindo o meu ser espiritu­al, alguma vez chegaria a ser apto?
São tais sentimentos que têm levado muitos a se fazerem mon­ges, a segregar-se do mundo e a entregar-se a santa meditação, à oração e ao jejum. Esses pensamentos são quase inevitáveis para quem quer que leve a sério estas coisas. E então eu começo a pensar em minha desobediência, em minha fraqueza, em meu egoísmo e em minha propensão para pecar. Digo a mim mesmo: "Uma coisa é quando estou na casa de Deus e ouço estas coisas, ver como são maravilhosas, e divisá-las e determinar-me a fazer algo sobre elas; porém depois eu sei que muitas vezes tive tais pensamentos e senti­mentos, mas falhei em pô-los em prática. Deliberadamente me de­terminei e decidi buscar estas coisas com todo o meu ser; todavia sou tão desobediente e indigno de confiança! Não posso confiar em mim mesmo, em meus sentimentos, em meu temperamento, em minha disposição, em minhas resoluções. Essa é a espécie de cria­tura que eu sou; e você me confronta com essa glória, essa herança, essa pureza, essa perfeição inefável! É impossível".
Depois passo a considerar o meu frágil corpo, com as sementes da decadência que nele estão; sei que ele está sujeito a enfermida­des; e acho quase impossível acreditar-me e imaginar-me gozando um estado de glória. E depois, em acréscimo a tudo isso, há a vida como a conhecemos neste mundo, com suas circunstâncias variá­veis; aí está o mundo e sua influência sobre nós, os amigos e outros instigando-nos e atraindo-nos para o pecado; aí está a nossa preo­cupação com as coisas terrenas, negócios e atividades, e a necessi­dade de viver de modo a podermos sustentar a nós mesmos e as nossas famílias! Todas estas coisas, as pressões da vida e das circunstâncias, conspiram para me tornar impossível achar tempo para preparar-me para essa glória.
Finalmente, atrás disso tudo, sabemos que somos confrontados por um poderoso adversário, um inimigo por demais astuto, o diabo, "bramando como leão, buscando a quem possa tragar", confrontando-nos em cada esquina, "o acusador dos irmãos", que conhece todas as nossas fraquezas e que, com a sua astúcia, está sempre nos instigando, nos atraindo e nos induzindo ao pecado, ao fracasso e à indolência. Além disso, vemos que entre nós e aquela glória está a realidade da morte, o temível espectro, "o último ini­migo", e o poder da morte e do sepulcro. Não poderemos entrar na glória prometida sem passar pela morte; e sabemos que muitos santos tremiam quando pensavam na dissolução do corpo, na passagem pelo "vale da sombra da morte", e na travessia do último rio.
São esses os pensamentos que povoam nossas mentes, e eles vêm com especialidade aos que veem mais claramente "as riquezas da glória da sua herança nos santos". É por causa disso que pago meu modesto tributo à grandeza do coração pastoral do apóstolo e ao trabalho da sua mente majestosa. Ele nos leva adiante, passo a passo:

Ele sabe que se captarmos o sentido das outras duas coisas pelas quais ele tinha orado, teremos urgente necessidade de mais esta petição.

Ele trata de todos os nossos problemas e dificuldades. Por isso ele ora também para que saibamos:

"qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a ope­ração da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressusci­tando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus".

Se vocês acharam que me demorei demais no vestíbulo deste texto, por assim dizer, minha resposta é que o simples vestíbulo é mais mara­vilhoso que os mais grandiosos palácios do homem. Estamos pres­tes a entrar num dos aposentos mais sublimes do palácio, onde "as abundantes riquezas" da graça de Deus estão armazenadas. O após­tolo está pronto a falar-nos da extraordinária grandeza do poder que Deus está exercendo nos crentes.
Digo que Paulo está pronto a tratar disso, mas então a glória transcendente dos seus pensamentos parece levá-lo para longe do seu objetivo e propósito de ajudar-nos, direto à glória eterna; contu­do é só uma aparente digressão, pois ele nos vem de volta no versículo primeiro do capítulo 2 (Efésios). Seu tema é:

A grandeza do poder de Deus para conosco, ou em nós, os que cremos.

Ao descrever esse poder, ele menciona a ressurreição do Senhor Jesus Cristo dentre os mortos, e a colocação dEle na mais alta posição de poder. O apósto­lo nos diz como Ele foi feito Cabeça da Igreja. Dessa maneira nos é dada, por assim dizer, a doutrina completa da Igreja num pequenino estojo. Mas, tendo feito isso, Paulo retoma ao seu tema predomi­nante no versículo primeiro do capítulo 2 da Epístola.
Seu tema pode ser dividido em duas partes principais:

Primei­ro, a grandeza do poder propriamente dito;
Segundo, como pode­mos estar certos e seguros de que esse grande poder está operando em nós.

Podemos abordar a primeira parte de maneira muito conveni­ente, talvez, na forma de algumas proposições. A primeira é que a salvação é uma demonstração do poder de Deus em nós. Estou cada vez mais convencido de que o maior problema com aqueles de nós que passam tanto da sua vida cristã nos "baixios e nas misérias" da dúvida, da incerteza e da hesitação, é que eles realmente nunca se firmaram neste grande princípio fundamental. Nosso ponto de par­tida sempre deve ser: "Sou o que sou pela graça de Deus", e pelo poder de Deus.

O cristão é fruto da operação de Deus, nada menos, nada mais;
Ninguém pode fazer-se cristão; só Deus faz cristãos. Esse é o real sentido desta terceira petição.

Consideremos, porém, várias declarações de apoio que se encontram noutras partes das Escrituras. "Não me envergonho do evangelho de Cristo", diz o apóstolo na Epístola aos Romanos. Seu motivo para dizê-lo é: "pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16). Diz ele também: "Pregamos a Cristo crucificado", porque está seguro de que Cristo é "poder de Deus, e sabedoria de Deus" (l Co 1:23-24). Aos olhos de Paulo a pregação não tem valor, a não ser que seja em "demonstra­ção do Espírito e de poder"! "O nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza" (l Ts 1:5). Os cristãos, ele nos diz, são feitura de Deus (Ef 2:10). Esta verdade é fundamental para um entendimento da posição cristã. De novo, ao escrever aos filipenses, ele diz: "Aquele que em vós começou a boa obra a aper­feiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Fp 1:6). Ainda na mesma Epístola vemos: "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (2:13). Referindo-se à sua própria pregação, diz o apóstolo: "Para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosa­mente" (Cl 1:29).
No entanto, talvez nenhuma expressão do que é que nos faz cristãos mostre esta ideia com tanta clareza como a declaração de Paulo de que o cristão é "nova criatura" (VA: "nova criação") (2 Co 5:17). Não é nada menos que isso. Não é apenas membro de igreja, não é apenas um bom homem, não é apenas alguém que tomou uma decisão. Uma pessoa pode fazer tudo isso, e ainda não ser cristã. O cristão é alguém que foi criado de novo; e há somente Um que pode criar, a saber, Deus. Requer-se o poder de Deus para se fazer um cristão. Que ideias indignas muitas vezes temos do cris­tianismo e do que é ser cristão! Pensamos muito em termos de nós mesmos, e do que fazemos, do que decidimos, do que assumimos e do que nos propomos fazer. Certamente temos muito a fazer, mas lodo o ensino do Novo Testamento salienta acima de tudo mais que não podemos fazer nada enquanto Deus não faz primeiro algo em nós. "E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados" (Ef 2:1). Estamos todos mortos por natureza, e ninguém pode­rá fazer coisa alguma enquanto não for vivificado, ressuscitado, trazido à vida, criado de novo. Segundo o Novo Testamento, nenhuma categoria é adequada para descrever o que somos em Cristo, exceto este conceito do novo nascimento, da regeneração; e nenhum homem pode dar nascimento a si próprio.

O poder de Deus é o princípio e o fim da salvação; é tudo dEle e do Seu poder.

O segundo princípio lembra-nos a grandeza do poder de Deus. Ao descrevê-lo, o apóstolo empilha superlativo em cima de superlativo, pois a linguagem humana é totalmente inadequada para a tarefa. Ele ora no sentido de que os efésios conheçam "a sobreexcelente grandeza" (VA: "a excessiva grandeza"); não a grandeza, mas a excessiva grandeza. A palavra empregada pelo apóstolo poderia igualmente ser traduzida por "transcendente". O poder de Deus não somente transcende o nosso poder de expres­são; transcende o nosso poder de compreensão! Vejam todos os dicionários do mundo, esgotem todos os vocabulários, e quando os juntar todos, ainda não terão começado a descrever a grandeza do poder de Deus. O apóstolo emprega as melhores expressões dispo­níveis, a "transcendente" grandeza, a "excessiva" grandeza, a "sobreexcelente" grandeza, não são suficientemente específicas para ele. Ele lhes acrescenta algo, dizendo: "segundo a operação da força do seu poder".
Devemos analisar esta nova frase, pois é uma das mais grandi­osas que o próprio Paulo utilizou. Devemos conhecer:

"a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder".

Uma palavra melhor do que "operação" seria "energia". Energia é uma palavra muito mais forte porque dá a impressão de algo eficaz. Não se trata de um mero poder estático ou potencial; energia é poder que foi liberado e está de fato em ação. E poder cinético, poder manifesto, a energia agindo e permeando tudo. Depois vejam esta segunda palavra, força, que significa força de maneira muito especial. A palavra de Paulo sugere uma força que domina, que prevalece, que vence, uma força que, levantando-se contra a resistência, a sobrepuja. É o tipo de força que pode "arrasar" toda alta montanha e pode "exaltar" todo o vale; não há nada que lhe possa resistir. O apóstolo está descrevendo este poder de Deus como "a energia do poder" de Deus, para Quem nada é impossível.
A terceira expressão que aparece na Versão Autorizada como "força" realmente equivale a "poder" (como diz Almeida); o poder essencial de Deus, Sua energia inerente. Mais uma vez devemos assinalar que o apóstolo não está empregando palavras ao acaso, mas há uma definida graduação do uso delas:

Primeiro ele fala de energia, de poder em ação; depois ele diz que essa energia vem de uma força irresistível que, por sua vez, provém do oceano do poder de Deus, da eternidade do ilimitado poder de Deus.

Uma similar descrição do poder de Deus é feita por Isaias, no capítulo 40 da sua profecia. Ele o expressa fazendo uma série de perguntas: a quem podemos assemelhar Deus? Com quem pode­mos compará-lO? E, tendo dito que todas as comparações são inú­teis, prossegue e diz: "Ele é o que está assentado sobre o globo da terra" (versículo 22). Ele contrasta Deus com os ídolos, contrasta-O com os poderes políticos e governamentais, com príncipes e gover­nadores e homens de sabedoria; mas isso tudo nada é, comparado com o poder de Deus. Não há quem lhe possa dar conselho, nem coisa alguma; Ele é tudo em Si e por Si; Ele é sempiterno de energia, força e poder.
O apóstolo Paulo está asseverando que esta energia e força do poder de Deus atua em nós e sobrepuja todos os obstáculos de resistência. Para expô-lo com diferente linguagem, podemos dizer que o apóstolo está dizendo a estes cristãos efésios que ele está orando no sentido de que eles conheçam "a eficácia da força do seu poder"; ou de que conheçam "a energia da força do seu poder" para com eles. Entretanto toda a linguagem é totalmente inadequada para pronunciar tal verdade. A criação de um cristão é resultado da manifestação do poder de Deus em ação. Você já se deu conta de que isso é verdade a seu respeito? Você compreende que é o que é porque este eterno e ilimitado poder de Deus agiu energeticamente em você? E que continua agindo, e continuará a fazê-lo? Quando falamos da "energia da força do poder" do poder de Deus, as nossas mentes giram confusas face à estupenda magnificência e majestade disso tudo. Por isso o apóstolo prossegue para ajudar-nos com uma ilustração. A energia da força do poder de Deus já se havia manifestado de maneira objetiva na ressurreição do Senhor Jesus Cristo dentre os mortos: "Que manifestou em Cristo, ressusci­tando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo o principado, e poder" etc. Bem que podemos perguntar a esta altura: por que o apóstolo escolhe esta ilustração particular? Por que ele demonstra o poder de Deus pela ressurreição de Cristo e não pela Criação? A Criação foi uma notável manifestação do poder de Deus, pois Lhe bastou dizer, "Haja luz" e "houve luz" (Gn 1:3). Seu simples "fiat", Sua Palavra, foi suficiente; e Ele fez tudo do nada. Ou, por que o apóstolo não usou a comparação do poder e força que Deus exerceu na providência? Todos estes globos em suas órbitas nos céus são mantidos e sustentados pelo poder de Deus; tudo é ordenado por Ele. O mundo entraria em colapso se Deus deixasse de sustentá-lo e mantê-lo em ação por Seu poder provi­dencial. Todas as coisas funcionam, e funcionam juntas, porque Deus as fez assim. Ele não as fez apenas, e as largou; Ele continua a energizá-las. O poder de Deus se manifesta na providência e em toda a ordenação da vida do mundo. Ou, por que Paulo não se refe­riu ao poder de Deus manifesto nalguns dos grandes julgamentos da história? Haveria algo que mais significativamente mostre o poder de Deus do que o diluvio, quando as janelas dos céus foram abertas e as montanhas foram cobertas pelas águas? Ou, por que o apóstolo não usou a destruição de Sodoma e Gomorra, ou os extra­ordinários milagres relacionados com o êxodo de Israel do Egito para Canaã - a divisão das águas do Mar Vermelho, a divisão das águas do Jordão? Por que é que ele não escolhe algum desses even­tos, ou de outros similares, mas, em vez disso, a ressurreição do Senhor Jesus Cristo dentre os mortos?
O apóstolo escolhe a ressurreição de Cristo, creio eu, porque é uma demonstração objetiva do poder de Deus. Ele a escolhe também porque é uma perfeita analogia do que nos aconteceu espi­ritualmente. Também ajuda a apresentar a doutrina da nossa união mística com Cristo, e a mostrar que quando Cristo foi ressuscitado, nós fomos ressuscitados com Ele, e estamos assentados com Ele, precisamente agora, nos lugares celestiais (Ef 2:6). Mas, além disso tudo, creio que ele faz essa escolha porque é a prova, acima de todas as outras provas, do fato de que todos os obstáculos e empe­cilhos e inimigos postos em nosso caminho serão sobrepujados.

A ressurreição do Senhor Jesus Cristo dentre os mortos é prova positi­va e absoluta de que até o "último inimigo" foi vencido e derrotado.

O apóstolo Pedro, no primeiro sermão pregado sob os auspícios da Igreja Cristã, no dia de Pentecoste, em Jerusalém, diz:

"Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela" (At 2:24).

Temos que compreender que, em acréscimo a toda a nossa fraqueza, pecaminosidade e desobedi­ência, o nosso último inimigo é a morte. Não conseguimos compre­ender a grandeza do poder de Deus em nós porque nunca compre­endemos bem o poder da morte. A Bíblia dá constante testemunho do poder da morte. A morte domina todos os homens; homem nenhum pode escapar dela, por mais poderoso que seja. Como o apóstolo diz na Epístola aos Romanos: "A morte passou a todos os homens" (5:12). Não admira que os escritores do Velho Testamento se refiram tão frequentemente a ela e ao seu terrível poder. Eles temiam e tremiam quando pensavam neste poder que estava à espe­ra deles. A morte e o túmulo são para todos.
Ademais, o poder da morte e do Hades é o poder exercido pelo próprio satanás. E por isso que o autor da Epístola aos Hebreus se gloria no fato de que nosso Senhor Jesus Cristo veio, viveu e morreu:

"para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão" (Hb 2:14-­15).

Assim o apóstolo nos faz lembrar que, ressuscitando ao Senhor Jesus Cristo da morte e do túmulo, Deus nos fez esta demonstração e manifestação de que o último inimigo foi vencido. "O último ini­migo que há de ser aniquilado é a morte"; mas Cristo já venceu a morte. "O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Todavia, graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus cristo" (l Co 15:26, 56-57). A morte, o inferno e satanás foram vencidos, e podemos dizer triunfantemente: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" (1 Co 15:55).
Só se pode tirar uma conclusão disso: seja o que for que se possa dizer com verdade da nossa experiência, seja qual for a ver­dade sobre o mundo e suas trevas, seja qual for a verdade a respeito das sementes da decadência, da enfermidade e da morte em nossos corpos, e por maior que seja o poder do ultimo inimigo, podemos estar certos e confiantes nisto, que nada pode impedir o cumpri­mente do propósito de Deus com relação a nós. Não há força que possa frustrá-lO; não há poder ou influência que possa competir com Ele; não há possibilidade de que haja um antagonista que O igua­le. Os inimigos mais poderosos, o diabo, a morte e o inferno, já foram subjugados, e a ressurreição de Cristo é a prova disso.
Temos assim uma prova positiva de que não há nada que seja "difícil demais para o Senhor", e de que "Para Deus nada é impos­sível". Portanto, se pensamos na glória, na perfeição, na maravilha e no encanto do que nos espera, e depois nos sentimos tão indignos e tão fracos que ficamos sem esperança de usufruí-lo, aqui está a resposta:

O Deus que está agindo em nós nos manterá enquanto estivermos aqui, e nos fará aptos para a indescritível glória futura.
É Ele que está fazendo isso, não nós.

"Para Ele nada é impossível", nada pode resistir-Lhe de maneira final. Assim, podemos dizer com Paulo:

"Estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra cria­tura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor!" (Rm 8:38-39),

e então cantar com Augustus Toplady:

A obra que Sua graça começou,
Seu forte braço, eu sei, completará;
Sua promessa é Sim e Amém,
E Ele jamais voltou atrás.
Coisas futuras e coisas de agora,
Nada que há embaixo, nada que há em cima,
Podem levá-LO a evadir Seu propósito
Ou minha alma cortar do Seu amor.

Você se dá conta da extraordinária grandeza do Seu poder em você? Você se dá conta da energia da força do Seu poder que já está agindo em você? E você compreende que uma vez que come­çou, continuará, e continuará até você se achar “santo e irrepreensível, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante” na presença de Deus na glória?

Fonte: O Supremo Propósito de Deus - Exposição sobre Efésios. Por: D.M. Llyod Jhones

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