quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

PROGRAMA COMPARTILHANDO A PALAVRA DE DEUS

Irmãos e irmãs, tem sido uma benção o programa COMPARTILHANDO A PALAVRA DE DEUS. Completamos um mês de programa onde estudamos o livro de Filipenses. Iniciamos na última segunda feira uma nova série de estudos, agora sobre AS BEM AVENTURANÇAS.
Acompanhe o programa e indique para seus amigos e familiares. É de segunda a sexta a partir das 14:00 hs na WEB RÁDIO DMD no endereço www.radiodmd.com.br.
Contamos com sua audiência e participação, você pode escrever um e-mail para compartilhandoapalavradedeus@bol.com.br ou escrever sua mensagem no site da Rádio Dmd, lá no menu pedidos.
Contamos com sua audiência e participação.

"A SOBREEXCELENTE GRANDEZA DO SEU PODER"

Irmãos esse é o assunto do estudo da reunião de hoje quinta feira dia 28/01/2010. Estude receba do Senhor e compartilhe na reunião aquilo que você ganhou do Senhor.

CAPÍTULO 33

"A SOBREEXCELENTE GRANDEZA DO SEU PODER"

"E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que mani­festou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos."
- Ef 1:19-23

Chegamos à terceira petição particular do apóstolo em favor dos cristãos efésios, e vemos que, como se deu com as outras duas, é introduzida pela palavra qual ("quais"). Mais uma vez devemos ser cuidadosos na interpretação. A Bíblia de Scofield, assim chama­da, introduz estas três petições com o seguinte título geral: "Oração por conhecimento e poder". Sugere com isso que o apóstolo está pedindo duas coisas para estes efésios: primeiro, que tenham certo conhecimento, e depois, que tenham poder. Minha opinião é que essa interpretação é errônea e grave. O apóstolo, aqui, não está orando tanto para que seja dado poder aos efésios, como que conheçam o poder de Deus que já está operando neles. É evidente que as duas coisas são inteiramente diversas, como é demonstrado por todo o contexto.

O objetivo desta seção da Epístola, como já vimos repe­tidamente, é dar segurança e certeza a fim de que os cristãos verda­deiros tenham confiança;
Assim, parece claro que o apóstolo está dando ênfase ao poder de Deus nos santos, e não ao poder que Deus dá aos santos.

Isso imediatamente levanta um problema fundamental de teo­logia e doutrina; na verdade levanta dois possíveis conceitos sobre a salvação cristã. É interessante observar que conceitos diferentes sobre a salvação geralmente são determinados por esta questão de poder:

Um conceito é que a salvação é resultado de algo que eu faço, e mais o poder que nos é dado por Deus. Eu, mais o poder de Deus! É concedido que eu não posso realizar a salvação sem o poder ou a ajuda que Deus me dá, mas esta concepção da salvação é que Deus me ajuda e me habilita a chegar a ela;
O outro conceito é que a salvação é resultado do poder de Deus em ação - em mim e por meu intermédio, e é este conceito que devemos tomar desta passagem particular.

Neste ponto a Versão Padrão Revista inglesa ("RSV") é útil. Em vez de dizer:

"qual a extraordinária grandeza do seu poder para conosco que cremos" (VA), diz:

"Qual a imensurável grandeza do seu poder em nós, que cremos".

O apóstolo está dando ênfase ao poder de Deus em nós. Naturalmente é certo dizer que Deus nos dá força e poder; e necessitamos desse poder constantemente; e em seu lugar e contexto isso deve ser ensinado. Mas aqui o grande objetivo que o apóstolo tem em mente é:

Fazer com que os efésios vejam e compreendam, e nós com eles, a grandeza do poder de Deus em nós, o que Ele está realizando em nós;
O resultado seria que os nossos temores se desvaneceriam, e teríamos nova confian­ça e segurança com respeito a nossa salvação;
Na verdade, esta é, em última instância, a base final da segurança, tanto objetiva como subjetiva - aquela levando a esta.

É fascinante observar a maneira pela qual o apóstolo maneja o seu material e elabora o seu argumento. Ele nos deixou clara a natu­reza do chamado e como este se funde no caráter de Deus. Depois ele nos deu um vislumbre da glória transcendental para a qual fomos destinados. E agora ele acentua o poder de Deus agindo em nós. Parece-me que a lógica na sequência destas três petições é como segue: com o seu grande coração pastoral, o apóstolo está preocu­pado com estes efésios. Ele sabe que eles tinham crido, que eles confiavam no Senhor Jesus, e que tinham sido selados com o Espí­rito Santo; não obstante, ele ora sem cessar por eles, e ora no senti­do de que eles penetrem as profundezas do entendimento, do conhecimento e da compreensão da vida cristã e suas possibilida­des. Por isso fez as duas primeiras petições, e esta terceira é inevi­tável.
É inevitável porque ninguém pode ter qualquer concepção dessa herança, dessa glória, para a qual vamos indo, sem imediata­mente tomar consciência de certas coisas. A própria grandeza da glória por um lado, e o nosso estado e condição em pecado por outro, tendem a criar dúvidas dentro de nós. Ouvimos ou lemos as descrições das realidades invisíveis e eternas - o "peso eterno de glória mui excelente" para o qual estamos indo - e, tendo-as com­pletado, inclinamo-nos a voltar-nos e a dizer a nós mesmos: mas, certamente isso tudo não é possível para mim! Certamente não estou apto para tal glória, e nunca estarei! Contrastamo-nos a nós mesmos, e o que sabemos que somos, com o brilho da glória de Deus. Vamos ao capítulo 21 do livro de Apocalipse e lemos sobre o Cordeio no meio, e sobre toda a glória, e sobre o fato de que fora ficam os cães (Ap 22:15) e tudo o que é mau, e dizemos: certamente isso tudo é impossível para nós, é demasiado maravilhoso, é dema­siado glorioso! Com toda a probabilidade essa é a nossa reação imediata. Ou podemos dizer a nós mesmos: como poderei tornar­-me apto para tal glória? Se eu passar o resto da minha vida não fazendo outra coisa senão cultivando e nutrindo o meu ser espiritu­al, alguma vez chegaria a ser apto?
São tais sentimentos que têm levado muitos a se fazerem mon­ges, a segregar-se do mundo e a entregar-se a santa meditação, à oração e ao jejum. Esses pensamentos são quase inevitáveis para quem quer que leve a sério estas coisas. E então eu começo a pensar em minha desobediência, em minha fraqueza, em meu egoísmo e em minha propensão para pecar. Digo a mim mesmo: "Uma coisa é quando estou na casa de Deus e ouço estas coisas, ver como são maravilhosas, e divisá-las e determinar-me a fazer algo sobre elas; porém depois eu sei que muitas vezes tive tais pensamentos e senti­mentos, mas falhei em pô-los em prática. Deliberadamente me de­terminei e decidi buscar estas coisas com todo o meu ser; todavia sou tão desobediente e indigno de confiança! Não posso confiar em mim mesmo, em meus sentimentos, em meu temperamento, em minha disposição, em minhas resoluções. Essa é a espécie de cria­tura que eu sou; e você me confronta com essa glória, essa herança, essa pureza, essa perfeição inefável! É impossível".
Depois passo a considerar o meu frágil corpo, com as sementes da decadência que nele estão; sei que ele está sujeito a enfermida­des; e acho quase impossível acreditar-me e imaginar-me gozando um estado de glória. E depois, em acréscimo a tudo isso, há a vida como a conhecemos neste mundo, com suas circunstâncias variá­veis; aí está o mundo e sua influência sobre nós, os amigos e outros instigando-nos e atraindo-nos para o pecado; aí está a nossa preo­cupação com as coisas terrenas, negócios e atividades, e a necessi­dade de viver de modo a podermos sustentar a nós mesmos e as nossas famílias! Todas estas coisas, as pressões da vida e das circunstâncias, conspiram para me tornar impossível achar tempo para preparar-me para essa glória.
Finalmente, atrás disso tudo, sabemos que somos confrontados por um poderoso adversário, um inimigo por demais astuto, o diabo, "bramando como leão, buscando a quem possa tragar", confrontando-nos em cada esquina, "o acusador dos irmãos", que conhece todas as nossas fraquezas e que, com a sua astúcia, está sempre nos instigando, nos atraindo e nos induzindo ao pecado, ao fracasso e à indolência. Além disso, vemos que entre nós e aquela glória está a realidade da morte, o temível espectro, "o último ini­migo", e o poder da morte e do sepulcro. Não poderemos entrar na glória prometida sem passar pela morte; e sabemos que muitos santos tremiam quando pensavam na dissolução do corpo, na passagem pelo "vale da sombra da morte", e na travessia do último rio.
São esses os pensamentos que povoam nossas mentes, e eles vêm com especialidade aos que veem mais claramente "as riquezas da glória da sua herança nos santos". É por causa disso que pago meu modesto tributo à grandeza do coração pastoral do apóstolo e ao trabalho da sua mente majestosa. Ele nos leva adiante, passo a passo:

Ele sabe que se captarmos o sentido das outras duas coisas pelas quais ele tinha orado, teremos urgente necessidade de mais esta petição.

Ele trata de todos os nossos problemas e dificuldades. Por isso ele ora também para que saibamos:

"qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a ope­ração da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressusci­tando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus".

Se vocês acharam que me demorei demais no vestíbulo deste texto, por assim dizer, minha resposta é que o simples vestíbulo é mais mara­vilhoso que os mais grandiosos palácios do homem. Estamos pres­tes a entrar num dos aposentos mais sublimes do palácio, onde "as abundantes riquezas" da graça de Deus estão armazenadas. O após­tolo está pronto a falar-nos da extraordinária grandeza do poder que Deus está exercendo nos crentes.
Digo que Paulo está pronto a tratar disso, mas então a glória transcendente dos seus pensamentos parece levá-lo para longe do seu objetivo e propósito de ajudar-nos, direto à glória eterna; contu­do é só uma aparente digressão, pois ele nos vem de volta no versículo primeiro do capítulo 2 (Efésios). Seu tema é:

A grandeza do poder de Deus para conosco, ou em nós, os que cremos.

Ao descrever esse poder, ele menciona a ressurreição do Senhor Jesus Cristo dentre os mortos, e a colocação dEle na mais alta posição de poder. O apósto­lo nos diz como Ele foi feito Cabeça da Igreja. Dessa maneira nos é dada, por assim dizer, a doutrina completa da Igreja num pequenino estojo. Mas, tendo feito isso, Paulo retoma ao seu tema predomi­nante no versículo primeiro do capítulo 2 da Epístola.
Seu tema pode ser dividido em duas partes principais:

Primei­ro, a grandeza do poder propriamente dito;
Segundo, como pode­mos estar certos e seguros de que esse grande poder está operando em nós.

Podemos abordar a primeira parte de maneira muito conveni­ente, talvez, na forma de algumas proposições. A primeira é que a salvação é uma demonstração do poder de Deus em nós. Estou cada vez mais convencido de que o maior problema com aqueles de nós que passam tanto da sua vida cristã nos "baixios e nas misérias" da dúvida, da incerteza e da hesitação, é que eles realmente nunca se firmaram neste grande princípio fundamental. Nosso ponto de par­tida sempre deve ser: "Sou o que sou pela graça de Deus", e pelo poder de Deus.

O cristão é fruto da operação de Deus, nada menos, nada mais;
Ninguém pode fazer-se cristão; só Deus faz cristãos. Esse é o real sentido desta terceira petição.

Consideremos, porém, várias declarações de apoio que se encontram noutras partes das Escrituras. "Não me envergonho do evangelho de Cristo", diz o apóstolo na Epístola aos Romanos. Seu motivo para dizê-lo é: "pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16). Diz ele também: "Pregamos a Cristo crucificado", porque está seguro de que Cristo é "poder de Deus, e sabedoria de Deus" (l Co 1:23-24). Aos olhos de Paulo a pregação não tem valor, a não ser que seja em "demonstra­ção do Espírito e de poder"! "O nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza" (l Ts 1:5). Os cristãos, ele nos diz, são feitura de Deus (Ef 2:10). Esta verdade é fundamental para um entendimento da posição cristã. De novo, ao escrever aos filipenses, ele diz: "Aquele que em vós começou a boa obra a aper­feiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Fp 1:6). Ainda na mesma Epístola vemos: "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (2:13). Referindo-se à sua própria pregação, diz o apóstolo: "Para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosa­mente" (Cl 1:29).
No entanto, talvez nenhuma expressão do que é que nos faz cristãos mostre esta ideia com tanta clareza como a declaração de Paulo de que o cristão é "nova criatura" (VA: "nova criação") (2 Co 5:17). Não é nada menos que isso. Não é apenas membro de igreja, não é apenas um bom homem, não é apenas alguém que tomou uma decisão. Uma pessoa pode fazer tudo isso, e ainda não ser cristã. O cristão é alguém que foi criado de novo; e há somente Um que pode criar, a saber, Deus. Requer-se o poder de Deus para se fazer um cristão. Que ideias indignas muitas vezes temos do cris­tianismo e do que é ser cristão! Pensamos muito em termos de nós mesmos, e do que fazemos, do que decidimos, do que assumimos e do que nos propomos fazer. Certamente temos muito a fazer, mas lodo o ensino do Novo Testamento salienta acima de tudo mais que não podemos fazer nada enquanto Deus não faz primeiro algo em nós. "E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados" (Ef 2:1). Estamos todos mortos por natureza, e ninguém pode­rá fazer coisa alguma enquanto não for vivificado, ressuscitado, trazido à vida, criado de novo. Segundo o Novo Testamento, nenhuma categoria é adequada para descrever o que somos em Cristo, exceto este conceito do novo nascimento, da regeneração; e nenhum homem pode dar nascimento a si próprio.

O poder de Deus é o princípio e o fim da salvação; é tudo dEle e do Seu poder.

O segundo princípio lembra-nos a grandeza do poder de Deus. Ao descrevê-lo, o apóstolo empilha superlativo em cima de superlativo, pois a linguagem humana é totalmente inadequada para a tarefa. Ele ora no sentido de que os efésios conheçam "a sobreexcelente grandeza" (VA: "a excessiva grandeza"); não a grandeza, mas a excessiva grandeza. A palavra empregada pelo apóstolo poderia igualmente ser traduzida por "transcendente". O poder de Deus não somente transcende o nosso poder de expres­são; transcende o nosso poder de compreensão! Vejam todos os dicionários do mundo, esgotem todos os vocabulários, e quando os juntar todos, ainda não terão começado a descrever a grandeza do poder de Deus. O apóstolo emprega as melhores expressões dispo­níveis, a "transcendente" grandeza, a "excessiva" grandeza, a "sobreexcelente" grandeza, não são suficientemente específicas para ele. Ele lhes acrescenta algo, dizendo: "segundo a operação da força do seu poder".
Devemos analisar esta nova frase, pois é uma das mais grandi­osas que o próprio Paulo utilizou. Devemos conhecer:

"a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder".

Uma palavra melhor do que "operação" seria "energia". Energia é uma palavra muito mais forte porque dá a impressão de algo eficaz. Não se trata de um mero poder estático ou potencial; energia é poder que foi liberado e está de fato em ação. E poder cinético, poder manifesto, a energia agindo e permeando tudo. Depois vejam esta segunda palavra, força, que significa força de maneira muito especial. A palavra de Paulo sugere uma força que domina, que prevalece, que vence, uma força que, levantando-se contra a resistência, a sobrepuja. É o tipo de força que pode "arrasar" toda alta montanha e pode "exaltar" todo o vale; não há nada que lhe possa resistir. O apóstolo está descrevendo este poder de Deus como "a energia do poder" de Deus, para Quem nada é impossível.
A terceira expressão que aparece na Versão Autorizada como "força" realmente equivale a "poder" (como diz Almeida); o poder essencial de Deus, Sua energia inerente. Mais uma vez devemos assinalar que o apóstolo não está empregando palavras ao acaso, mas há uma definida graduação do uso delas:

Primeiro ele fala de energia, de poder em ação; depois ele diz que essa energia vem de uma força irresistível que, por sua vez, provém do oceano do poder de Deus, da eternidade do ilimitado poder de Deus.

Uma similar descrição do poder de Deus é feita por Isaias, no capítulo 40 da sua profecia. Ele o expressa fazendo uma série de perguntas: a quem podemos assemelhar Deus? Com quem pode­mos compará-lO? E, tendo dito que todas as comparações são inú­teis, prossegue e diz: "Ele é o que está assentado sobre o globo da terra" (versículo 22). Ele contrasta Deus com os ídolos, contrasta-O com os poderes políticos e governamentais, com príncipes e gover­nadores e homens de sabedoria; mas isso tudo nada é, comparado com o poder de Deus. Não há quem lhe possa dar conselho, nem coisa alguma; Ele é tudo em Si e por Si; Ele é sempiterno de energia, força e poder.
O apóstolo Paulo está asseverando que esta energia e força do poder de Deus atua em nós e sobrepuja todos os obstáculos de resistência. Para expô-lo com diferente linguagem, podemos dizer que o apóstolo está dizendo a estes cristãos efésios que ele está orando no sentido de que eles conheçam "a eficácia da força do seu poder"; ou de que conheçam "a energia da força do seu poder" para com eles. Entretanto toda a linguagem é totalmente inadequada para pronunciar tal verdade. A criação de um cristão é resultado da manifestação do poder de Deus em ação. Você já se deu conta de que isso é verdade a seu respeito? Você compreende que é o que é porque este eterno e ilimitado poder de Deus agiu energeticamente em você? E que continua agindo, e continuará a fazê-lo? Quando falamos da "energia da força do poder" do poder de Deus, as nossas mentes giram confusas face à estupenda magnificência e majestade disso tudo. Por isso o apóstolo prossegue para ajudar-nos com uma ilustração. A energia da força do poder de Deus já se havia manifestado de maneira objetiva na ressurreição do Senhor Jesus Cristo dentre os mortos: "Que manifestou em Cristo, ressusci­tando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo o principado, e poder" etc. Bem que podemos perguntar a esta altura: por que o apóstolo escolhe esta ilustração particular? Por que ele demonstra o poder de Deus pela ressurreição de Cristo e não pela Criação? A Criação foi uma notável manifestação do poder de Deus, pois Lhe bastou dizer, "Haja luz" e "houve luz" (Gn 1:3). Seu simples "fiat", Sua Palavra, foi suficiente; e Ele fez tudo do nada. Ou, por que o apóstolo não usou a comparação do poder e força que Deus exerceu na providência? Todos estes globos em suas órbitas nos céus são mantidos e sustentados pelo poder de Deus; tudo é ordenado por Ele. O mundo entraria em colapso se Deus deixasse de sustentá-lo e mantê-lo em ação por Seu poder provi­dencial. Todas as coisas funcionam, e funcionam juntas, porque Deus as fez assim. Ele não as fez apenas, e as largou; Ele continua a energizá-las. O poder de Deus se manifesta na providência e em toda a ordenação da vida do mundo. Ou, por que Paulo não se refe­riu ao poder de Deus manifesto nalguns dos grandes julgamentos da história? Haveria algo que mais significativamente mostre o poder de Deus do que o diluvio, quando as janelas dos céus foram abertas e as montanhas foram cobertas pelas águas? Ou, por que o apóstolo não usou a destruição de Sodoma e Gomorra, ou os extra­ordinários milagres relacionados com o êxodo de Israel do Egito para Canaã - a divisão das águas do Mar Vermelho, a divisão das águas do Jordão? Por que é que ele não escolhe algum desses even­tos, ou de outros similares, mas, em vez disso, a ressurreição do Senhor Jesus Cristo dentre os mortos?
O apóstolo escolhe a ressurreição de Cristo, creio eu, porque é uma demonstração objetiva do poder de Deus. Ele a escolhe também porque é uma perfeita analogia do que nos aconteceu espi­ritualmente. Também ajuda a apresentar a doutrina da nossa união mística com Cristo, e a mostrar que quando Cristo foi ressuscitado, nós fomos ressuscitados com Ele, e estamos assentados com Ele, precisamente agora, nos lugares celestiais (Ef 2:6). Mas, além disso tudo, creio que ele faz essa escolha porque é a prova, acima de todas as outras provas, do fato de que todos os obstáculos e empe­cilhos e inimigos postos em nosso caminho serão sobrepujados.

A ressurreição do Senhor Jesus Cristo dentre os mortos é prova positi­va e absoluta de que até o "último inimigo" foi vencido e derrotado.

O apóstolo Pedro, no primeiro sermão pregado sob os auspícios da Igreja Cristã, no dia de Pentecoste, em Jerusalém, diz:

"Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela" (At 2:24).

Temos que compreender que, em acréscimo a toda a nossa fraqueza, pecaminosidade e desobedi­ência, o nosso último inimigo é a morte. Não conseguimos compre­ender a grandeza do poder de Deus em nós porque nunca compre­endemos bem o poder da morte. A Bíblia dá constante testemunho do poder da morte. A morte domina todos os homens; homem nenhum pode escapar dela, por mais poderoso que seja. Como o apóstolo diz na Epístola aos Romanos: "A morte passou a todos os homens" (5:12). Não admira que os escritores do Velho Testamento se refiram tão frequentemente a ela e ao seu terrível poder. Eles temiam e tremiam quando pensavam neste poder que estava à espe­ra deles. A morte e o túmulo são para todos.
Ademais, o poder da morte e do Hades é o poder exercido pelo próprio satanás. E por isso que o autor da Epístola aos Hebreus se gloria no fato de que nosso Senhor Jesus Cristo veio, viveu e morreu:

"para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão" (Hb 2:14-­15).

Assim o apóstolo nos faz lembrar que, ressuscitando ao Senhor Jesus Cristo da morte e do túmulo, Deus nos fez esta demonstração e manifestação de que o último inimigo foi vencido. "O último ini­migo que há de ser aniquilado é a morte"; mas Cristo já venceu a morte. "O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Todavia, graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus cristo" (l Co 15:26, 56-57). A morte, o inferno e satanás foram vencidos, e podemos dizer triunfantemente: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" (1 Co 15:55).
Só se pode tirar uma conclusão disso: seja o que for que se possa dizer com verdade da nossa experiência, seja qual for a ver­dade sobre o mundo e suas trevas, seja qual for a verdade a respeito das sementes da decadência, da enfermidade e da morte em nossos corpos, e por maior que seja o poder do ultimo inimigo, podemos estar certos e confiantes nisto, que nada pode impedir o cumpri­mente do propósito de Deus com relação a nós. Não há força que possa frustrá-lO; não há poder ou influência que possa competir com Ele; não há possibilidade de que haja um antagonista que O igua­le. Os inimigos mais poderosos, o diabo, a morte e o inferno, já foram subjugados, e a ressurreição de Cristo é a prova disso.
Temos assim uma prova positiva de que não há nada que seja "difícil demais para o Senhor", e de que "Para Deus nada é impos­sível". Portanto, se pensamos na glória, na perfeição, na maravilha e no encanto do que nos espera, e depois nos sentimos tão indignos e tão fracos que ficamos sem esperança de usufruí-lo, aqui está a resposta:

O Deus que está agindo em nós nos manterá enquanto estivermos aqui, e nos fará aptos para a indescritível glória futura.
É Ele que está fazendo isso, não nós.

"Para Ele nada é impossível", nada pode resistir-Lhe de maneira final. Assim, podemos dizer com Paulo:

"Estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra cria­tura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor!" (Rm 8:38-39),

e então cantar com Augustus Toplady:

A obra que Sua graça começou,
Seu forte braço, eu sei, completará;
Sua promessa é Sim e Amém,
E Ele jamais voltou atrás.
Coisas futuras e coisas de agora,
Nada que há embaixo, nada que há em cima,
Podem levá-LO a evadir Seu propósito
Ou minha alma cortar do Seu amor.

Você se dá conta da extraordinária grandeza do Seu poder em você? Você se dá conta da energia da força do Seu poder que já está agindo em você? E você compreende que uma vez que come­çou, continuará, e continuará até você se achar “santo e irrepreensível, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante” na presença de Deus na glória?

Fonte: O Supremo Propósito de Deus - Exposição sobre Efésios. Por: D.M. Llyod Jhones

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

"AS RIQUEZAS DA GLÓRIA DA SUA HERANÇA NOS SANTOS"

CAPÍTULO 32

"AS RIQUEZAS DA GLÓRIA DA SUA HERANÇA NOS SANTOS"

"Tendo iluminado os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos." - Efésios 1:18

Passamos agora a examinar a segunda metade desta declaração – "e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos". Esta é a segunda das três petições específicas que o apóstolo eleva em favor dos cristãos efésios e, como a primeira, é introduzida pela palavra "quais" (qual). Devemos ter em mente, ao examiná-la, que, como a primeira petição, esta só pode ser entendida pelos que têm "ilumi­nado os olhos do seu entendimento". Ela é igualmente coberta pela oração geral, para que tenham o Espírito de sabedoria e de revela­ção. Sem isso, não seremos capazes de ver estas coisas.
Há duas idéias principais com respeito a esta segunda petição. Alguns sustentam que ela se refere a uma herança pertencente a Deus, à herança de Deus nos santos. A declaração do Velho Testa­mento de que "a porção do Senhor é o seu povo" empresta algum colorido àquela idéia sobre o assunto (Dt 32:9), e há frases no Novo Testamento que significam praticamente a mesma coisa. O apóstolo Pedro, em sua Primeira Epístola, diz aos cristãos:

"Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido" (VA " ... um povo peculiar").

A expressão "povo peculi­ar", como se vê na Versão Autorizada (inglesa), realmente significa "um povo para possessão pessoal de Deus". Por isso há os que dizem que na passagem de Efésios a referência é à soma total do povo de Deus quando for redimido finalmente. Deus está chaman­do do presente mundo mau um povo para Si; Ele o está chamando dentre judeus e gentios. Virá o dia em que a "plenitude dos gentios" terá sido reunida, e igualmente em que "todo o Israel" terá sido salvo. Isso constituirá a totalidade do povo de Deus. Aqueles expositores alegam que, nesta expressão, o apóstolo está olhando para o futuro, para aquele dia, e está orando no sentido de que estes efésios, e todos nós, como cristãos, possamos vir a conhecer a sobreexcelente grandeza da herança de Deus nos santos, em Seu povo. Noutras palavras, a petição é que tenhamos uma pálida con­cepção da magnitude desta gloriosa companhia dos remidos aos quais pertencemos e entre os quais vamos passar a eternidade. Essa é certamente uma explicação possível.
A outra idéia é de que o apóstolo está orando para que os olhos do nosso entendimento sejam iluminados a fim de que venhamos a conhecer o caráter da herança para a qual vamos indo, a herança que Deus está preparando para nós. Esta é a mesma idéia expressa por Paulo na Primeira Epístola aos Coríntios:

"As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam" (2:9).

O apóstolo está orando no sentido de que venhamos a ver mais e mais daquilo que nos aguarda, e que tenhamos mais freqüentes vis­lumbres disso. Ele não quer que estas coisas sejam algo distante e estranho para nós. Seu desejo é que não nos limitemos a olhar as Escrituras e às especificações do documento de posse, mas que pela fé tenhamos vislumbres ocasionais da herança propriamente dita, e, por assim dizer, estejamos com Moisés no alto do Monte Nebo contemplando a terra prometida da nossa herança.
Ambas as explicações são possíveis, e não nos é possível dizer dogmática nem categoricamente que uma está certa e a outra está errada. É questão de preferência pessoal, e, quanto a mim, não hesi­to em adotar a segunda idéia, como fizemos quando expusemos os versículos 11 e 13 aqui de Efésios. Isso porque não me agrada a idéia de que Deus tenha uma herança. Tudo pertence a Deus; o universo inteiro é de Deus. Por isso me parece impróprio empregar a expressão "herança de Deus" neste sentido. Por outro lado, nada pode ser mais apropri­ado do que examinar isso do outro ponto de vista que também se ajusta ao argumento deste capítulo primeiro. Paulo afirma que nós não somente cremos, mas também fomos

"selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, até a reden­ção da possessão adquirida" (VA).

A possessão foi adquirida para nós pelo sangue de Cristo; já somos herdeiros, porém ainda estamos neste mundo. Contudo Deus nos dá o penhor do Espírito, dá-nos uma prelibação, até entrarmos nesta possessão adquirida, até a nossa redenção final. Assim o termo "herança" neste versículo 18 aponta na mesma direção.
Do ponto de vista prático, faz pouca diferença qual das duas explicações adotamos, pois em ambos os casos a oração é para que venhamos a conhecer algo daquele glorioso estado para o qual estamos indo, e para o qual Deus nos está preparando, quando, com todos os remidos, estaremos reunidos em segurança e gozaremos por toda a eternidade os benefícios desta grande salvação.
Tendo assim definido o sentido exato da oração, permitam-me fazer outra pergunta: por que devemos considerar isso? Na verda­de, é certo fazê-lo? A questão surge porque toda esta idéia e ênfase causa desagrado nos dias atuais. Há muitos que dizem: "Isto é típi­co do seu cristianismo. Aqui estamos nós neste conturbado mundo moderno, com tudo o que temos experimentado neste século vinte, com suas duas guerras horríveis, com a discórdia, o tumulto e a incerteza, e a terrível possibilidade doutra guerra mundial, e com todas as possibilidades do uso da energia atômica e, todavia, você nos concita a tomar tempo tentando vislumbrar a eternidade e a vida após a morte. Você deveria estar instando com as pessoas a fazerem o máximo para tentar deter a fabricação de armamentos, e protestar contra a fabricação de armas atômicas. Por que você não dirige apelos aos governos do mundo, e não estimula toda a Igreja Cristã a pôr fim nessas desgraças? O seu ‘castelo no ar’ não é somente inútil; significa que você está abandonando o seu dever. Você está muito longe da vida, está dando as costas às dificuldades. Não seria hora de a Igreja entrar na vida política e tentar construir um mundo melhor?"
Esse é o argumento. O cristianismo, diz ele, é o ópio do povo, uma espécie de "conto para dar ânimo" e fazer as pessoas se senti­rem momentaneamente mais felizes, para levá-las a sentir-se bem, persuadindo-as a voltarem as costas para a realidade e viverem da imaginação e da fantasia nalgum Elísio imaginário. O homem moderno não gosta desta idéia de contemplar o mundo invisível e eterno, desta ênfase ao outro mundo, justamente à realidade a res­peito da qual o apóstolo está orando aqui.
A oposição ao que estou pregando não se restringe ao mundo de fora, ou aos comunistas. Há muitos na igreja que sustentam a mesma idéia. Há alguns hinos que nos dizem que não devemos ser motivados pelo temor do inferno ou pelo desejo de recompensa e de glória; devemos ser altruístas e crer no cristianismo por amor dele próprio. Essa idéia começou a popularizar-se lá pelos fins do século passado, e há muitas expressões dela no presente século. Repete-se constantemente a história de uma anciã de um país do Oriente Médio, que um dia foi vista caminhando e levando dois baldes. Um deles tinha fogo, outro água. Um homem a deteve e lhe perguntou o que fazia com aqueles dois baldes. Ela respondeu que estava levando o fogo para queimar o céu, e a água para inundar o inferno. Isso é considerado excelente. Ainda existem muitos que se opõe à proeminência que damos à pregação da salvação pessoal. Dizem eles que não devemos pensar em nós mesmos e em nossos problemas; devemos estar interessados no estado da sociedade e nas condições sociais. A maldição da posição evangélica, dizem eles, sempre foi que é demasiado pessoal, egocêntrica, estreita e egoísta.
Para responder não precisamos de nada mais que o nosso tex­to. O apóstolo Paulo ora de um modo que refuta diretamente toda essa prosa. Ele ora no sentida de que saibamos "qual seja a esperan­ça da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos". Mas, fora as palavras do apóstolo, não há nada mais fátuo como crítica desta visão do mundo além recomendada nas Escritu­ras, do que o argumento particular que acabei de esboçar. Só a história já por si o prova, sem nenhuma dúvida. Os maiores benfei­tores que este mundo já conheceu, os homens que fizeram o maior bem a este mundo, foram os que mais ênfase deram à importância de se "ver o invisível". Basta ler o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus para achar prova disso. Temos ali uma lista, ou digamos uma gale­ria, dos maiores benfeitores que este mundo já conheceu; é por isso que eles sobressaem na história. E todos eles eram pessoas que, como nos é dito, tinham os seus olhos fixos não tanto neste mundo como no vindouro. Não significa que eles ignoravam este mundo. Não eram monges ou anacoretas vivendo em mosteiros ou no deserto; não subscreviam o falso ensino católico-romano sobre o ascetismo que tanto diaboliza essa questão toda. A alternativa para o conceito popular que está sendo advogado hoje não é o monasticismo. Os "heróis da fé" que constam no capítulo 11 de Hebreus tinham seu ponto de partida no mundo invisível, e depois, à luz desse, eles se aplicam ao mundo presente.
Mas essa verdade não se aplica somente aos grandes persona­gens das Escrituras, e sim também a todo o curso da história. Os hospitais, por exemplo, foram iniciados pelos santos. Sempre houve homens que, tendo uma idéia verdadeira do homem e da vida à luz da eternidade, sempre se preocuparam com o sofrimento humano. O homem que forma os seus conceitos com base numa visão deste mundo, geralmente vive para si e pouco se interessa pelo seu próximo. Foram homens espirituais que geralmente intro­duziram as maiores reformas. Hospitais, educação e cultura, leis trabalhistas e coisas semelhantes surgiram graças aos esforços de santos, geralmente pessoas evangélicas que se interessavam em saber quais "as riquezas da glória da herança de Deus nos santos". Isso é verdade a respeito dos santos católico-romanos mais evangé­licos, bem como dos santos protestantes, mas particularmente destes últimos. Ninguém foi mais preocupado com um viver próprio e decente neste mundo do que João Calvino. A história desse homem e de como ele reformou a vida em Genebra inspirou muitos outros que copiaram as suas idéias, e isso tem constituído a grande força motriz da história da democracia.
Vê-se isso na Inglaterra, na história dos puritanos, que lança­ram os alicerces da grandeza deste país. Os puritanos, liderados politicamente pelo grande Oliver Cromwell, eram todos homens que viviam à luz do invisível. Ninguém tinha mais consciência do invi­sível do que Oliver Cromwell, ou ninguém desejava mais que ele ter os olhos do seu entendimento iluminados para poder conhecer a esperança da vocação de Deus e as riquezas desta glória. Ele era um homem que tinha marcante perspectiva do mundo além, mas isso não significa que ele negligenciava este mundo; ele foi um grande reformador, um grande benfeitor da gente comum, e assim foram todos os seus coadjutores.
Se vocês lerem a história dos séculos dezoito e dezenove, encontrarão um modelo semelhante. Mesmo historiadores secula­res admitem que o Despertamento Evangélico do século dezoito sem dúvida salvou a Inglaterra de uma revolução parecida com a Revolução Francesa; e isso porque os líderes daquele avivamento, tendo visto o verdadeiro sentido da vida à luz da eternidade, procu­raram melhorar a vida neste mundo. Noutras palavras, sempre foi dos avivamentos espirituais que os maiores melhoramentos secula­res vieram.
Vindo para mais perto do nosso tempo, é um simples fato da história que os sindicatos vieram a existir em grande parte como resultado das atividades de homens que tinham sido salvos por este evangelho, e que começaram a ver que os trabalhadores não devi­am viver como animais na embriaguez, no vício e na ignorância. Muitas vezes se diz popularmente que o sindicalismo deve mais ao metodismo do que a Marx. As coisas das quais os homens se gabam e falam muito hoje em dia vieram das mentes e das vidas de homens que compreenderam a importância do mundo vindouro e da vida na eternidade. De fato, não hesito em asseverar que é quan­do os homens se esquecem do mundo por vir que as coisas vão mal neste mundo. Soa bastante prático dizer que devemos concentrar­-nos na política e nas questões sociais; entretanto, se o fizermos sem tomar conhecimento do mundo futuro, se não pusermos as nossas atividades no contexto da eternidade, sempre veremos degenerar­-se este mundo.
Durante os recém passados trinta ou quarenta anos, a ênfase tem recaído neste mundo, e a pregação sobre o céu e a glória tem sido impopular. Mas, vejam como este mundo está hoje; veja o que está acontecendo nele e com ele. Quando os homens se esquecem do mundo por vir e se concentram unicamente na presente vida, este mundo se torna uma espécie de inferno em vida, com a confu­são, a ilegalidade, a imoralidade e o vício desenvolvendo-se a pleno vapor. Somente os homens que têm uma visão completa da vida é que realmente sabem viver neste mundo. O único homem que real­mente respeita a vida neste mundo é o que sabe que este mundo é apenas a antecâmara do mundo vindouro. É somente o homem que sabe que é filho de Deus, e que sabe que este mundo pertence a Deus, que realmente se preocupa com a decência neste mundo. Assim, se vocês quiserem ter uma vida plena e gratificante neste mundo, terão que começar compreendendo que a estrada real rumo a tal vida é levar em consideração o mundo para o qual vamos indo, é meditar "nas riquezas da glória da sua herança nos santos".
Foi necessário tomar tempo respondendo aquele argumento fátuo e tolo. Mas, positivamente, por que devemos examinar estas coisas? Por que devo preocupar-me em saber algo sobre "as rique­zas da glória da sua herança nos santos"? Uma resposta suficiente é o conforto que nos traz. É à luz disso que o apóstolo pode desenvol­ver o seu grande argumento na Epístola aos Romanos, capítulo 8. Diz ele:

"Para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em vós há de ser revelada" (versículo 18).

Essa é a conclusão do argumento. Os cristãos de Roma estavam passando por um período duro e difícil, e o apóstolo não tem consolo para oferecer-lhes, senão essas pala­vras. Ele admite que as coisas eram más e penosas. O cristianismo sempre é realista; nunca pretende que não há nada errado, nem defende a idéia de que se deve sorrir e dizer que está tudo bem. Antes, ele diz com o apóstolo, nos versículos 19-23 desse mesmo capítulo 8:

"Nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, tam­bém gememos em nós mesmos".

O cristão não é um simplório que dá um sorriso fátuo e finge que não há nada errado; ele nunca tem problema e vive cantando "e agora sou sempre feliz". Essa é a posi­ção, não do cristianismo, e sim de uma falsa psicologia. Acima de todos os demais homens, o cristão sabe que mundo terrível é este; mas também sabe que está apenas "esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo" (Romanos 8:23). É isso que o capacita a proferir a asseveração do versículo 18. O apóstolo diz a mesma coisa aos coríntios, na Segundo Epístola:

"A nossa leve e momen­tânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente" (4:17).

É o "peso eterno da glória mui excelente" que nos dá o conforto e, portanto, o encorajamento e o estímulo para a luta neste mundo. Haveria algo mais encorajador, mais estimu­lante?
Observem o apóstolo enquanto ele desenvolve o seu argumen­to no capítulo 15 da Primeira Epístola aos Coríntios. Ele argumenta que, se não há ressurreição dentre os mortos, e se esta vida é a única, e a morte é o fim da história, então a única conclusão que se pode tirar é:

"Comamos e bebamos, que amanhã morreremos" (versículo 32).

Se não há outra vida, porque me empenhei em lutar contra "as bestas" de Éfeso? (versículo 32), etc. Não há nada que tanto nos anime para a vida cristã, não há maior estímulo para pros­seguirmos nela, do que saber algo das "riquezas da sua herança nos santos". Quanto mais eu as conhecer, mais encorajado serei a aban­donar o pecado, a mortificar a carne e a preparar-me para aquilo que Deus tem à minha espera. E o maior incentivo à santidade e ao viver santo; não há nada que se lhe compare.

"E qualquer que nele tem essa esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro." (l Jo 3:3).

A falta da verdadeira santi­dade escriturística hoje certamente se deve ao fato de que não pas­samos tempo suficiente meditando na glória que nos espera. Esta contemplação da glória é a estrada real para a santidade.
No entanto há um argumento que define a questão uma vez por todas. É o que nos é dito acerca do nosso bendito Senhor. O autor da Epístola aos Hebreus o expõe assim, no capítulo 12:

"Olhando para Jesus, autor e consumador da fé" (versículo 2).

É o que devemos fazer. Temos que fazer uma corrida. Ela exige que

"deixemos todo o embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia, olhando para Jesus, autor e consumador da fé".

Mas o autor tem o cuidado de acrescentar:

"O qual pelo gozo que lhe estava proposto" - à luz do gozo que Lhe estava proposto, por causa do gozo que Lhe esta­va proposto - "suportou a cruz, desprezando a afronta".

Essa era a verdade concernente ao nosso bendito Senhor e Salvador Jesus Cristo quando estava neste mundo. Não desprezou fixar os olhos na "recompensa". Desde que Ele estava com os olhos postos no gozo da glória que O aguardava, passou por tudo, até a cruel morte na cruz; isso O ajudou a prosseguir. E no capítulo 17 do Evangelho Segundo João, como já vimos, Ele ora no sentido de que tenha de novo aquela glória que Ele compartia com o Pai antes da fundação do mundo.
Opor-se à petição do apóstolo que deseja que conheçamos estas coisas, não somente é anti-espiritual, mas também é inteira­mente antibíblico. O apóstolo de fato declara isso na forma de mandamento na Epístola aos Colossenses:

"Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra". (3:2).

A comparação é com a agulha da bússola. Devemos colocar os nosso afetos, mantê-los em ordem e resolutamente fixos "nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra".
Livremo-nos, pois, da falsa espiritualidade que se orgulha de que é extraordinariamente pura porque não está interessada nem no céu nem no inferno. Não se interessar pelo céu é ser diferente do Senhor Jesus Cristo; é ser diferente dos apóstolos; é ser diferente dos maiores santos, das melhores pessoas que este mundo conhe­ceu. Quanto tempo vocês passam pensando no céu? Quantas vezes vocês o contemplam? Vocês têm os olhos do seu entendimento iluminados para conhecer estas coisas? Não hesito em asseverar que quanto mais espirituais formos, mais pensaremos no céu. Quanto mais perto estivermos de Cristo, mais meditaremos na glória que Ele preparou para nós. Esta é uma invariável e infalível prova da verdadeira espiritualidade.
Isso me leva ao derradeiro ponto, e eu pergunto: que coisas são estas que devemos conhecer? Somente o Espírito Santo pode torná­-las claras para nós. Muitos de nós temos que concordar com Richard Baxter quando ele diz: "o meu conhecimento daquela vida é peque­no, os olhos da fé são obscuros". Afinal de contas, quão pouco sabemos destas coisas! Muitos ficam em dificuldade nesta questão. Como pastor, freqüentemente me fazem esta pergunta: "Por que não sabemos mais acerca do céu e da vida para onde vamos? Por que não nos é dito mais a respeito?" Dou uma resposta bem simples. É que a glória é tão maravilhosa, tão magnífica, tão perfeita, que a nossa linguagem humana é incapaz de transmitir uma idéia fiel dela. A glória é tal que, se se fizesse uma tentativa para descrevê-la, visto que o pecado rebaixou tanto a cunhagem do nosso linguajar, tería­mos concepções indignas dela. Tentar descrevê-la seria diminuí-la. Por isso, em Sua misericórdia, Deus não nos disse muita coisa a respeito. Concentremo-nos, porém, no que nos foi dito.
O apóstolo fala das "riquezas da glória" - ele amontoa superla­tivo sobre superlativo. Não existe coisa alguma superior à glória, e, todavia, ele fala das riquezas da glória. Isso nos dá uma concepção desta glória transcendental que ultrapassa até o alcance da nossa imaginação. Tudo o que nos pode ser dito é: "as riquezas da sua glória". Por isso, não se preocupem! O céu é infinitamente mais maravilhoso do que eu e vocês podemos imaginar. Está inteira­mente fora do alcance de todas as nossas categorias; mas algumas coisas nos são ditas. A parte central da glória é que estaremos com Ele.

"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, credes também em mim." ... "Vou preparar-vos lugar. E, se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também" (João 14:1-3).

Isso é sufi­ciente - estar com Ele! Também é como Paulo vê a morte. Ele já não se preocupava com a morte, porque para ele a morte era "estar com Cristo, e isto é ainda muito melhor" (cf. Filipenses 1:23).
Depois, também, o nosso Senhor, em Sua oração sacerdotal, ora fazendo uma petição muito especial a Seu Pai:

"Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste: porque tu me hás amado antes da criação do mundo" (João 17:24).

Sua maior oração por nós é que O vejamos como Ele é, e em Sua glória. Não há nada superior a isso! Assim João também escreve em sua Primeira Epís­tola:

"Ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos" (l João 3:2).

Quando chegarmos a esta glória, os nosso próprios corpos serão transformados.

"(Cristo) trans­formará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso", o corpo da Sua glorificação (Filipenses 3:21).

Seremos perfeitos e estaremos completos, "sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante". Nós sabemos disso!
Ao apóstolo Paulo, no caminho de Damasco, foi dado um vislumbre desta glória. Não admira, pois, que ele escrevera aos efésios falando das "riquezas da glória", porque ali no caminho de Damasco, ele viu o rosto do Senhor ressurreto; e foi tão resplandecente e glorioso que ele ficou cego. A luz era mais brilhante que o sol ao meio-dia, e foi uma manifestação da glória do Senhor. Paulo nunca se esqueceu disso. Como poderia? Mas ele também nos fala de uma ocasião em sua vida, uns catorze anos antes de ele escrever a respeito, em que ele foi elevado ao terceiro céu, "arrebatado ao paraíso". Enquanto esteve lá, "ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar" (2 Coríntios 12:3-4). Foi uma prelibação desta glória, e do céu. Ele nunca esqueceu isso também. Não é surpresa, pois, que ele fale de "um peso eterno de glória mui excelente" .
Depois, no capítulo 21 do livro de Apocalipse, a glória é toda descrita em linguagem simbólica. A cidade celestial era "ouro puro, semelhante a vidro puro" (versículo 18). Não havia templo ali, por­que o próprio Deus lá está. Não havia nem sol, nem lua; não havia estrelas, porque no meio dela o Cordeiro era a luz da cidade. A "face de Jesus Cristo" irradia-se e ilumina tudo. Nós habitaremos lá, em Sua gloriosa presença.
Isso é algo do que Paulo quer dizer quando fala em "tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais quais as riquezas da glória da sua herança nos santos". É para a cidade celestial que eu e vocês vamos indo. O apóstolo Pedro a seu modo o expressa com as palavras:

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós" (l Pedro 1 :3-4).

Notem o que ele diz: é "incorruptível". Não há nada pecami­noso ali, nada que seja indigno. "Incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar." Não podemos imaginar isso; estamos acostumados com um mundo de pecado, e com a morte e a deca­dência. Que belas flores! Mas, olhem para elas amanhã ou depois. Vocês as lançam ao monturo. Há decadência e corrupção em tudo quanto é deste mundo. Aplica-se o mesmo às nossas estruturas físi­cas. Estamos sujeitos à doença, ao envelhecimento, e assim por diante. Todavia não lá - "incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar"! Não haverá tristeza ali, nem lágrimas, nem pecado, nem separação, nem coisa alguma que nos faça infelizes e nos deprima. "As riquezas da glória da sua herança"!
Mas isso é só para "os santos". "Nada que contamine" entra na cidade santa; fora ficam os cães, os adúlteros, os idólatras, os men­tirosos, e tudo o que é abominável. O que venho tentando descrever é somente para os santos. O Senhor Jesus Cristo fala similarmente em Mateus 25:

"Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (versículo 34).

Foi preparado somente para "os santos"; para os que amam os Seus pequeninos, e os visitam na prisão e os alimentam e os vestem, etc. O Reino foi preparado para eles, e para eles somente, antes da fundação do mundo. Paulo declara que lhe fora ordenado chamar pessoas

"das trevas para a luz, e do poder de satanás para Deus, para que recebessem o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim (Cristo)" (Atos 26: 18, cf. VA).

Daí se chega a isto: enquanto estamos nesta vida e neste mundo, um grande processo de separação e de joeiramento está ocorrendo. Deus lança Sua mão e apreende os que deverão ir para esta glória, para esta herança; eles são "chamados santos". Os santos são aqueles que foram separados e postos à parte para Deus pelo Espírito Santo. O resultado é que eles creram no evangelho da salvação em Jesus Cristo, e Este crucificado. Confiam nEle e em Sua obra perfeita, e somente nisso. Todos nós neste momento, ou somos santos, ou somos ímpios. Esta glória da qual estivemos falando é somente para os santos. É para eles; e ninguém nem coisa alguma podem tirá-la deles.

"Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra cria­tura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 8:38-39).

Se você é santo, se você faz parte do povo de Deus, você está indo para esta glória da qual estive falando, e nada pode impedir que isso aconteça. Você sabe se você é santo? Tem certeza de que faz parte do povo de Deus? Certifique-se disso. Depois, tendo-se certificado, demore-se sobre isto, aplique a isto a sua mente, leia as Escrituras, sonde-as, confie-as à memória, repita-as para si próprio diariamente. Diga a si próprio: "É para isso que eu fui destinado, essa é a herança que foi preparada para mim, é assim que eu vou passar a minha eternidade". Quanto tempo você passa fazendo isso? Oremos rogando para nós o que o apóstolo rogou para os efésios. Oremos a Deus por Seu Espírito para que "ilumine os olhos do nosso entendimento", para que estas coisas se tornem reais para nós, e assim não passaremos o nosso tempo pensando neste mundo e nesta vida passageira, mas, antes, naquilo que certamente virá e que é tão glorioso! "As riquezas da glória da sua herança nos santos".
"Pensai", ponde o vosso afeto, o desejo do vosso coração, no Senhor e nas coisas que Ele preparou para aqueles que O amam. "O dia final de glória vem chegando." Há a nossa espera uma glória que "o olho não viu nem o ouvido ouviu", que nunca penetrou o coração do homem nem na imaginação. Procuremos conhecer estas coisas; contemplemo-las; vivamos à luz delas. E então, como homens que as viram, tenhamos a nossa vida neste mundo viven­do-a em seu nível máximo, falando aos outros deste Deus glorioso e do que Ele faz por todos os que nEle confiam, e ajudando da melhor maneira que pudermos, andemos "fazendo o bem" neste mundo fugaz e limitado pelo tempo, como o nosso bendito Senhor fez quando estava aqui.

Fonte: Livro O SUPREMO PROPÓSITO DE DEUS - Por: D.M Lloyd-Jhones

sábado, 16 de janeiro de 2010

O QUE A BÍBLIA FALA DO FIM DESSA ERA?


“Em toda a história, nunca uma data foi tão significativa para tantas culturas e religiões, tantos cientistas e governos. Um cataclisma global ocasiona o fim do mundo”. O dia é 21 de dezembro de 2012, data em que o calendário maia prediz que ocorrerá o final dos tempos, um evento dramatizado no filme “2012”, feito em Hollywood pelo diretor Roland Emmerich e lançado em novembro. O filme apresenta efeitos visuais fantásticos do cataclisma abatendo-se sobre a terra, mostrando o desabamento das construções mais destacadas do mundo – a Basílica de São Pedro em Roma, os arranha-céus de Nova Iorque, a estátua do Cristo Redentor no Rio – à medida que meteoros e inundações destroem a terra. O trailer começa com a pergunta: “Como os governos de nosso planeta conseguiriam preparar seis bilhões de pessoas para o fim do mundo?” Logo aparece a resposta: “Não conseguiriam”. De acordo com o filme “2012”, a Terra se fenderá ao meio, cumprindo uma antiga profecia.
A profecia em questão vem da antiga civilização maia na América Central, que produziu o famoso Calendário Maia. Os maias foram os únicos habitantes nativos das Américas a desenvolverem uma linguagem escrita. Eles também obtiveram progresso notável nas artes, na arquitetura, na matemática e na astronomia, chegando ao auge de seu desenvolvimento durante o período de 250 d.C. a 900 d.C. Por volta de 1200 d.C., a sociedade deles sofreu um colapso, por razões que podemos apenas supor. Quando os conquistadores espanhóis chegaram, os maias ainda ocupavam a região, e ainda falavam a língua maia, mas já não tinham conhecimento de muitas coisas que seus antepassados haviam criado.
Diego de Landa foi um padre católico-romano que visitou o México em 1561 e é tido como infame por ter destruído documentos e artefatos maias de valor incalculável.

Embora Landa estivesse muito interessado na cultura maia, ele abominava determinados aspectos de suas práticas, particularmente os sacrifícios humanos. Em julho de 1562, quando evidências de sacrifícios humanos foram encontradas em uma caverna que continha estátuas sagradas dos maias, Landa ordenou a destruição de cinco mil ídolos. Ele decidiu que os livros dos maias também eram obra do Diabo e certificou-se de que fossem queimados, tendo restado apenas três livros. Conseqüentemente, foi perdida a maior parte do conhecimento e da história dos maias.
O livro mais importante dentre os que restaram é o chamado Códice de Dresden, que recebeu esse nome devido à cidade na Alemanha onde ficou depositado. É um livro estranho, escrito em hieróglifos, que ninguém foi capaz de entender até 1880. Nessa época, Ernst Forstemann, um estudioso alemão que trabalhava na mesma biblioteca em Dresden, conseguiu decifrar o códice do calendário maia. Ele descobriu que o códice continha tabelas astronômicas detalhadas, com cálculos indicando que o ano tinha 365,242 dias, e usava tabelas para predizer os solstícios e os equinócios, as órbitas dos planetas em nosso sistema solar e outros fenômenos celestiais.
Os maias haviam desenvolvido uma maneira extraordinariamente complexa (e muito precisa) de medir a passagem do tempo, que girava em torno de ciclos de 52 anos. No final de cada ciclo, eram realizadas cerimônias religiosas nas quais os sacerdotes executavam um sacrifício humano no topo de um vulcão extinto conhecido hoje como a Colina da Estrela, local situado em Iztapalapa, no México. O propósito era apaziguar os deuses para que eles não destruíssem o mundo com o final do ciclo. Os maias aguardavam pelo sinal que anunciaria a continuidade do mundo por outros 52 anos, que era a passagem da constelação de Plêiades pelo centro dos céus.
Os maias também possuíam um outro calendário, conhecido como o de “Contagem Longa”. O funcionamento dele é bastante complexo e vai além do escopo deste artigo. Na internet há informações em “Contagem Longa” na Wikipedia. A atual Contagem Longa teve início em 3114 a.C. Na mitologia maia, cada ciclo de Contagem Longa é uma era mundial na qual os deuses tentam criar criaturas piedosas e subservientes. A Primeira Era começou com a criação da Terra, que tinha sobre si vegetação e seres vivos. Infelizmente, como eles não possuíam a habilidade da fala, os pássaros e os animais eram incapazes de prestar honra aos deuses e foram destruídos. Na Segunda Era e na Terceira Era, os deuses criaram os humanos do barro e depois da madeira, mas estes também fracassaram em agradar os deuses e foram aniquilados. Estamos atualmente na Quarta Era, que é a Era Final, a era do ser humano moderno, completamente funcional.
A visão popular apresentada no filme de Roland Emmerich é que a presente era termina em 21 de dezembro de 2012. E o que vem depois? A interpretação dele é que o mundo acaba em fogo e em inundação.
Susan Milbrath, curadora de Arte e Arqueologia Latinoamericana do Museu de História Natural da Flórida, declarou: “Nós (a comunidade arqueológica) não temos nenhum registro nem conhecimento de que os maias pensassem que o mundo chegaria ao fim em 2012. Na foto, calendário maia.
Os eruditos questionam isso. Susan Milbrath, curadora de Arte e Arqueologia Latinoamericana do Museu de História Natural da Flórida, declarou: “Nós (a comunidade arqueológica) não temos nenhum registro nem conhecimento de que os maias pensassem que o mundo chegaria ao fim em 2012. Interpretar o dia 21 de dezembro de 2012 como o evento do juízo final é uma invencionice completa e uma oportunidade de ganhar dinheiro para muitas pessoas”. Algumas visões de espiritualidade alternativa baseadas no misticismo da Nova Era e na astrologia vêem a data como sendo um acontecimentos positivo em vez de ser o dia do juízo final: seria a transição da “Era de Peixes, violenta e escura” (i.e., esta era) para a Era de Aquário, “um milênio de amor e luz”.
Para ficar claro: eu não atribuiria nenhum significado à data de 21 de dezembro de 2012. Contudo, embora aceitando as objeções acadêmicas às interpretações populares sobre a cultura maia e deixando o misticismo da Nova Era de lado, o próprio fato de que o filme está sendo feito já diz algo sobre o mundo em que vivemos. As pessoas estão conscientes da possibilidade de que calamidades venham a se abater sobre nós – e Hollywood pegou essa deixa com uma série de filmes sobre catástrofes que estão para ser lançados. The Wall Street Journal, de 31 de julho de 2009, publicou um artigo intitulado “Hollywood Destrói o Mundo”, que dizia:
Uma enxurrada de histórias pós-apocalípticas segue agora em direção às telas de cinemas e de TV. O diretor Roland Emmerich já quase destruiu o mundo por três vezes. Desta vez ele tem a intenção de terminar o trabalho. Em seu filme “2012”, a terra se fende ao meio, cumprindo uma antiga profecia.
O artigo prossegue listando uma série de filmes que estão para ser lançados, sobre uma futura calamidade que destruirá a civilização e como um punhado de pessoas sobram e lutam em um mundo em ruínas buscando sobreviver: The Book of Eli [O Livro de Eli], Day One [O Primeiro Dia], The Colony [A Colônia], e The Road [A Estrada]. Ao apresentar motivos para isso, o artigo diz:
A maioria dos autores dessas histórias diz que está reagindo à ansiedade a respeito de ameaças reais em tempos incertos: os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, duas guerras dos EUA em países estrangeiros, pandemias múltiplas, uma crise financeira global e nova atenção a perigos ambientais. Roland Emmerich afirma: “Ando realmente muito pessimista atualmente”.
Logicamente que não é apenas em Hollywood que as pessoas estão falando sobre um cataclisma que está por vir, ou para destruir o mundo, ou para reformá-lo de forma a ficar irreconhecível. Os noticiários sobre Israel têm apresentado referências à Guerra de Gogue e Magogue, a profecia bíblica encontrada em Ezequiel 38-39 sobre a batalha dos últimos dias, na qual Deus resgatará Israel de uma invasão de nações hostis. Alguns israelenses acreditam que chegou a hora de construírem o Terceiro Templo, profetizado como algo que acontecerá nos “últimos dias” da história. O aiatolá Khamenei, do Irã, conclamou as nações muçulmanas ao redor do mundo para se unirem militarmente em resposta à iminente vinda do salvador messiânico do islã – o Mahdi. Os líderes muçulmanos radicais do Irã acreditam que o Mahdi irá surgir no final da era, proporcionando aos muçulmanos a derrota de Israel e do Ocidente, e que ele governará sobre todo o mundo. Os ambientalistas radicais dizem que o dia do juízo final está chegando rapidamente por causa do aquecimento global. Cristãos evangélicos, como eu, crêem que os acontecimentos globais estão se alinhando exatamente como Jesus Cristo e os profetas bíblicos disseram que aconteceria nos “últimos dias”.
De acordo com o filme “2012”, a Terra se fenderá ao meio, cumprindo uma antiga profecia.
O perigo das versões de Hollywood sobre o fim do mundo
Elas fazem com que as pessoas fiquem tão temerosas da calamidade vindoura que: (1) não vêem nenhuma saída, ou (2) tornam-se céticas com respeito à mensagem verdadeira das profecias bíblicas sobre os últimos dias. As versões múltiplas dos “cenários do fim do mundo” também significam que as pessoas podem colocar as profecias maias, os escritos de Nostradamus, ou as esperanças islâmicas com respeito ao Mahdi no mesmo nível que as profecias da Bíblia.
Ao mesmo tempo, muitas pessoas estão despertando para o fato de que o mundo está realmente ameaçado de desastres vindos de múltiplas frentes – a propagação de armas de destruição em massa, a ameaça de colapso econômico, a dependência do sistema mundial com relação ao petróleo que se extinguirá, a questão ambiental, o conflito no Oriente Médio, a violência e a ilegalidade que se tornam cada vez mais abundantes, a ruptura da vida familiar e a insegurança que milhões estão enfrentando como resultado de tudo isso. Esses fatores levam as pessoas a questionarem:
“Será que o mundo assim como o conhecemos está chegando ao fim?”
De acordo com as profecias bíblicas, está! Todos esses fatos, e outros mais, estão profetizados na Bíblia para acontecerem nos últimos dias desta era. Jesus disse que nos tempos finais, antes de Sua volta, haveria uma época de tamanha dificuldade que, se Deus não a tivesse abreviado, ninguém sobreviveria: “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados” (Mt 24.21-22).
Uma série de profecias do Antigo Testamento enfoca o conflito em torno de Jerusalém (Jl 3; Zc 12-14), e Jesus disse: “Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles. Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade [a palavra grega aqui é “aporia”, que significa “sem nenhuma saída”] por causa do bramido do mar e das ondas; haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados. Então, se verá o Filho do Homem [i.e., Jesus] vindo numa nuvem, com poder e grande glória” (Lc 21.24-27).
No livro do Apocalipse, lemos sobre uma série de desastres que atingirão a terra, o que se ajusta perfeitamente com os problemas do mundo atual. Guerras mundiais e fomes causam mortes em massa (Ap 6.1-8). Árvores e pastagens são queimadas, os peixes do mar morrem como se algo como uma grande montanha fosse atirada ao mar (asteróide?), e águas doces se tornam impróprias para beber (Ap 8.7-11). Surge um regime ditatorial que força as pessoas a aceitarem uma marca e um número (666), sem os quais nada se pode comprar ou vender (Ap 13). Rios secam e as pessoas são afligidas com grande calor (Ap 16). A batalha final do Armagedon reúne os exércitos do mundo em Israel e fecha esta era com o retorno físico do Senhor Jesus Cristo à terra (Ap 16.16; Ap 19.11-21).
As pessoas estão conscientes da possibilidade de que calamidades venham a se abater sobre nós – e Hollywood pegou essa deixa com uma série de filmes sobre catástrofes que estão para ser lançados.
A Bíblia também nos dá grande esperança por causa da Segunda Vinda física do Senhor Jesus Cristo e do livramento de todos os que O recebem como Salvador e Senhor. O cinema-desastre termina sem nenhum sobrevivente, ou com um punhado de sobreviventes se debatendo em um planeta que está para morrer. Na Bíblia, os acontecimentos catastróficos dos últimos dias serão seguidos pelo retorno físico do Senhor Jesus com todos aqueles que colocaram sua confiança nEle. Os sobreviventes da Tribulação que aceitarem Jesus como Salvador viverão em uma terra restaurada durante 1000 anos (o Milênio), em cujo tempo Satanás será amarrado e incapaz de enganar as nações (Ap 20), haverá paz em todo o mundo (Is 2.1-4) e harmonia no mundo natural (Is 11). Este será o prelúdio para a eternidade, quando Deus criará novos céus e nova terra nos quais a justiça habitará (2 Pe 3.13).
O primeiro estágio nesse processo ocorrerá quando o Senhor vier e levar para estarem com Ele todos aqueles que crêem nEle. Não podemos saber exatamente quando isso acontecerá, mas precisamos estar prontos. Jesus disse: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24.36). Paulo escreveu sobre o que acontecerá: “Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor” (1 Ts 4.16-17).
Esse acontecimento ocorrerá “como um ladrão de noite” (1 Ts 5.2), o que significa que acontecerá inesperadamente, sem aviso. Portanto, precisamos nos arrepender (afastar-nos) dos nossos pecados e aceitar Jesus como Salvador e Senhor de nossa vida. Se quiser ser salvo do julgamento de Deus, você deve confiar no Senhor Jesus, que morreu como sacrifício pelos nossos pecados e ressuscitou dentre os mortos para nos dar vida eterna: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). (Tony Pearce, Light for The Last Days - http://www.chamada.com.br/)Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, janeiro de 2010.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Tabernáculo - Os Materiais Santos (Por: Luiz Fontes)


Tipologia

Os materiais foram exatamente especificados por Deus. Qualquer desvio traria morte certa
Os Materiais usados
Nós temos que nos lembrar que os Israelitas saíram do Egito como o povo de Deus. Eles eram os descendentes de Abraão, o primeiro hebreu. É importante lembrar-nos do juramento que Deus fez quando Ele fez a aliança da circuncisão com Abraão:
Gen 15:13-14 - "Então disse a Abrão: Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos,mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza.
E eles realmente saíram com grandes possessões, como diz:
Êxodo 3:20-22 - "Porque eu estenderei a minha mão, e ferirei ao Egito com todas as minhas maravilhas que farei no meio dele; depois vos deixará ir. E eu darei graça a este povo aos olhos dos egípcios; e acontecerá que, quando sairdes, não saireis vazios, porque cada mulher pedirá à sua vizinha e à sua hóspeda jóias de prata, e jóias de ouro, e vestes, as quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas; e despojareis os egípcios."
Êxodo 12:35-36 - "Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme à palavra de Moisés, e pediram aos egípcios jóias de prata, e jóias de ouro, e roupas. E o SENHOR deu ao povo graça aos olhos dos egípcios, e estes lhe davam o que pediam; e despojaram aos egípcios."
Quando os Israelitas vieram ao Monte Sinai, o Senhor os instruiu sobre o que eles deveriam trazer como oferta alçada (dar espontânea e voluntariamente) de maneira que eles pudessem construir o tabernáculo. Note o que Deus falou a respeito do lugar da Sua habitação - o Tabernáculo: (versos mais importantes)
Êxodo 25:1-9 - "ENTÃO falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, que me tragam uma oferta alçada; de todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a minha oferta alçada. E esta é a oferta alçada que recebereis deles: ouro, e prata, e cobre, e azul, e púrpura, e escarlata (carmesim), e linho fino, e pêlos de cabras, e peles de carneiros tintas de vermelho, e peles de texugos, e madeira de acácia, azeite para a luz, especiarias para o óleo da unção, e especiarias para o incenso, pedras de ônix, e pedras de engaste para o éfode e para o peitoral. E me farão um santuário, e habitarei no meio deles. Conforme a tudo o que eu te mostrar para modelo do Tabernáculo, e para modelo de todos os seus pertences, assim mesmo o fareis."
Estes materiais são relacionados exatamente como Deus havia especificado (nada mais e nada menos) porque cada um deles tinha significado simbólico específico, relativo ao verdadeiro Tabernáculo celestial e a Jesus Cristo. Em nada poderia haver o acaso ou a imaginação humana, porque se o Senhor vai morar e lançar a sua tenda entre nós, como homem, então o homem vai aproximar-se do modo d'Ele, e não há exceção. Os detalhes de sua construção seriam um padrão temporal, daquilo Deus faria um dia permanentemente por meio de Jesus Cristo. O Tabernáculo se tornaria um modelo visível de como nós vemos a Deus por meio de Jesus. Olhemos os materiais a serem usados na construção do Tabernáculo e lembremo-nos que agora temos que examinar o simbolismo com um fundo hebraico. O Antigo Testamento está repleto de linguagem simbólica, que pode ser interpretada na luz do contexto da Bíblia hebraica:
Materiais (ordenados por Deus)
Ouro - (Divindade)
De acordo com Ex 38 eles deram 1269 Kg de ouro. O Ouro Puro ao longo das escrituras fala da divindade, que não pode ser imitada pelo homem. Ouro é feito por Deus e vem de Deus. Ouro fala da deidade de Jesus Cristo. Simboliza a glória divina do Senhor Jesus como o "Filho de Deus" e "Deus, o Filho". De acordo com Ex 38 eles deram 1269 Kg de ouro.
Jesus na sua carne em nada era diferente de Jeová. Ele é "Malach Yaweh," Jeová, o Rei. Isaías viu o Senhor poderoso e exaltado nas alturas, como Rei, em toda a Sua glória. João no Novo Testamento fala-nos que era Jesus quem ele viu:
João 12:41 - "Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou dele."
Prata - (Redenção)
De Prata vieram 4350 Kg. Ao longo das Escrituras, a prata figuradamente fala de redenção. Sempre era usada como preço de redenção:
Êxodo 30:16 - "E tomarás o dinheiro das expiações dos filhos de Israel, e o darás ao serviço da tenda da congregação; e será para memória aos filhos de Israel diante do SENHOR, para fazer expiação por vossas almas. "
O Tabernáculo estava apoiado em bases de prata. José e Jesus foram vendidos em preço de prata. Judas foi pago com moedas de prata como dizem as Escrituras. Prata é preço de redenção. Prata é símbolo da redenção realizada por Jesus Cristo. Isto prefigura a preciosidade de Cristo como o resgate para os pecadores. Também note que não há prata alguma mencionada no céu. As pessoas já terão sido redimidas.
Marcos 10:45 - “Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. “
Bronze - (Juízo)
Um total de 3035 kg de bronze foi empregado para uso em lugares onde se necessitava de força excepcional, e a resistência ao calor era importante. O Bronze tem um ponto de fusão a 1, 985ºC. Era importante no altar onde o intenso calor estava presente. O bronze é uma liga de cobre e zinco. Não é metal, pois é uma liga de cobre e zinco.
Bronze representa juízo. Quando Moisés fez a serpente de bronze, falou do poder da serpente, que é julgada através de se elevar o Filho de Deus:
Num 21:9 - “E Moisés fez uma serpente de metal, e pô-la sobre uma haste; e sucedia que, picando alguma serpente a alguém, quando esse olhava para a serpente de metal, vivia.”
O Bronze representa juízo. Simboliza o caráter divino de Cristo que levou n'Ele o fogo da ira de Deus, em santidade e justiça, se tornando oferta pelo pecado.
2 Cor 5:21 - "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus."
Mateus 27:46 - "E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?".
Azul - (Céu)
Tecido de linho bordado com linhas de cor azul, púrpura, e escarlate. O hebreu usava mariscos para extrair o azul. Uma tintura brilhante foi excretada deste molusco. Esta cor luminosa sempre é mencionada primeira. O homem precisou de algo que sugestionasse a idéia de céu como um lugar no qual Deus se revela mais completamente do que na terra. Então a cor azul representa o céu, a cor do céu. O azul sempre foi mencionado ao longo do Tabernáculo para lembrar o homem de que o seu destino é céu, e por causa de nosso Redentor, nós somos destinados a estar na Presença de Deus. O azul fala daquele que vem do alto ("do alto" é uma expressão judaica para o céu). Lembram-se quando a mulher tocou a orla azul das vestes de Jesus? Nós vemos os versos de amor em azul, na vida de nosso Senhor Jesus Cristo que não só era divino em sua origem, mas em seus modos e natureza.
Jo 3:31 - "Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos."
Púrpura - (Realeza)
Os hebreus obtinham esta cor ao misturar o azul e a escarlata juntos. Esta intensa cor vermelho-purpúrea era uma cor de realeza (Real).
Juízes 8:26 - E foi o peso dos pendentes de ouro, que pediu, mil e setecentos siclos de ouro, afora os ornamentos, e as cadeias, e as vestes de púrpura que traziam os reis dos midianitas, e afora as coleiras que os camelos traziam ao pescoço.
A cor púrpura simboliza a Jesus como Rei dos reis e Senhor dos senhores, mas há outra importante verdade. A mistura de azul e escarlata. Azul fala do que vem do alto, e escarlata, como nós veremos, representa sangue e morte, sacrifício. Púrpura é uma combinação de ambos, que falam de Cristo como Deus e Homem, o Homem que veio de céu para morrer. De algum modo misterioso Ele levou consigo a semelhança de carne pecadora. Isaías 33:17 - Os teus olhos verão o rei na sua formosura, e verão a terra que está longe.
Fio de escarlata - (Sacrifício)
A escarlata era extraída de um inseto Oriental (verme) que infesta certas árvores. Eram juntadas, esmagadas, secadas, e transformadas em um pó que produzia uma matiz carmesim brilhante. Escarlata fala de sacrifício e simboliza a Cristo em seus sofrimentos. O Salmo 22, de crucificação traz citações de Jesus, como dizendo - "eu sou um verme". Deus, de alguma maneira deu a Ele mesmo, um corpo de carne e sangue, e então morreu, e dá a Sua vida como um resgate por nós todos, sendo esmagado nos moinhos da justiça de Deus
Efésios 5:2 - “E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.”
Hebreus 9:26 - "De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo."




Linho Fino - (Pureza)
O linho era muito interessante. Feito de um linho egípcio, foi tecido finamente, branco resplandecente, e levou um nome especial, "byssus". Este material era usado para artigos de vestuário para a realeza e pessoas de posição, e foi achado nas tumbas dos Faraós. Foi encontrado em uma tumba, linho com 152 linhas por polegada na urdidura e 72 linhas por polegada no tecido. Linho branco sempre fala de pureza e retidão: Apocalipse 15:6 - "E os sete anjos que tinham as sete pragas saíram do templo, vestidos de linho puro e resplandecente, e cingidos com cintos de ouro pelos peitos."
Apocalipse 3:5 - "O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos."
Apocalipse 19:14 - "E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro".
Os tecido de linho fino branco fala de retidão e simboliza Jesus, o Filho de Homem, imaculado, puro, e sem pecado.
I João 3:3-5 - "E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro. Qualquer que comete pecado, também comete iniqüidade; porque o pecado é iniqüidade. E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado."
Pêlos de Cabras - (Oferta pela maldição do pecado)
As cabras eram comuns naqueles dias, e eles usavam o leite, a carne, a pele era usada para muitas coisas como garrafas de água, etc., e o pêlo delas que era muito longo, escuro e liso, era trançado e tecido em pano. Davi tinha cabelos como pêlos negros de cabra.
A cabra era um animal sacrificial. A coberta de pêlos de cabra era a primeiro cortina sobre o Tabernáculo. Esta cor desbotada nos fala de Jesus na sua humildade e pobreza. Peles de cabra eram usadas pelos pobres, e ao longo da Bíblia representa pobreza extrema.
Hebreus 11:37 - “Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados.”
Lucas 9:58 - “E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.”
E o pêlo fala de Cristo como separado, da mesma maneira que o pêlo teve de ser separado da cabra, assim Cristo teve que sacrificar a Si mesmo, tirando das suas vestes para prover vestes para outros.
Outro ponto interessante sobre a cabra, é que ela era usada no Dia da Expiação. Depois que o sumo sacerdotelevasse o sangue aspergido no Santo dos santos, ele entraria no átrio do Tabernáculo e poria as mãos dele na cabeça do bode expiatório e confessaria em cima dele os pecados do povo. O bode era conduzido então, por um homem já preparado, ao deserto, e lá era deixado livre, significando que lá foram levados os pecados de Israel, que Deus havia perdoado. Isto nos faz lembrar Jesus, humilde e pobre, se tornando por nós maldição, e, que podemos ter os nossos pecados lançados fora, na terra do esquecimento.
2 Coríntios 5:21 - “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.”
Peles de Carneiro tingidas de vermelho (Sacrifício Substitutivo)
Estas estavam costuradas juntamente com tiras de couro para formar a camada protetora seguinte da cobertura do Tabernáculo. Um carneiro é uma ovelha masculina crescida, e o líder do rebanho. Um pastor pode ter um ou dois carneiros em um rebanho de ovelhas para que haja uniformidade. O carneiro sempre está para os olhos do judeu como um animal substituto, fiel até a morte. Por isto, é claro porque Deus proveu um carneiro como um substituto para Isaque, naquele dia quando a fé de Abraão foi manifesta.
Gênesis 22:12-13 - “Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho. Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho.”
As peles de carneiro foram tingidas de vermelho para representar o sacrifício de um substituto. Assim Jesus como o cabeça do gênero humano, o último Adão, sacrificou a Sua própria vida, como um substituto, para todos os que n'Ele crêem.
Hebreus 2:9 - “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” Hebreus 2:17 - “Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo.”
João 1:29 - “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.”
Peles de texugo - (aparência exterior sem atrativo)
Peles de texugo era a coberta final, a cobertura exterior que todos viam. Elas eram resistentes e duráveis e muito simples em sua aparência. Mas como isto fala de Cristo? Fala de Cristo como homem. Não havia nenhuma beleza externa no Tabernáculo, e assim era Cristo quando Ele veio para a terra, quando Ele montou o Seu Tabernáculo entre os homens. Como o profeta predisse:
Isaías 53:1-2 - “QUEM deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do SENHOR? Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos.”
O que Jesus foi para aos judeus? Nada mais que alguém que passou, uma pele de texugo dura. O que é Jesus para o mundo hoje? Nada mais que alguém que passou, uma pele de texugo dura. Mas para nós, que abriram seus corações a Ele, Ele é muito, muito mais. Ele é o Único digno de louvor, Ele é a "Rosa de Sarom", o "Lírio dos Vales", e o "mais Formoso entre os 10.000" para nossas almas. Se qualquer um desejar olhar além da carne exterior que o cobre, verá a transfiguração da glória de Cristo. Alguma coisa boa pode vir de Nazaré?”E Jesus diz, "Vem e vê".
João 1:10-14 - “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”
Madeira de Acácia - (a humanidade Incorruptível) também chamada de Madeira de Cetim
A árvore de Shittah cresce nos desertos do Sinai, e nos desertos ao redor do Mar Morto. A madeira é dura, muito pesada, indestrutível por insetos, e é fina, de belo grão. É notavelmente exuberante em lugares secos e às vezes atinge uma altura de vinte pés. Tem amáveis flores amarelas e resistentes a insetos, sendo que, a madeira da Acácia era usada para fazer caixões para múmias.
A madeira de Acácia fala sem dúvida, da humanidade incorruptível de Cristo, porque nos é dito que a humanidade dele nunca viu a corrupção.
Salmo 16:10 - “Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.”
Ele era o verdadeiramente humano, "Cristo Jesus, homem”. A Bíblia o chama de, "o filho de Maria", e o "filho do homem”. Um corpo foi preparado para Ele:
Hebreus 10:5 - "Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, Mas corpo me preparaste;"
E aquele corpo, Ele ainda possui, em uma forma glorificada. "Este mesmo Jesus" volta agora dos céus para nós, e também nos glorificará:
1 João 3:2 - "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos.” Romanos 8:18-21 - "Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus."
Óleo - (A Unção do Espírito)
O óleo era obtido ao esmagar os frutos da oliveira na terra. Óleo, como nós sabemos, era o líquido usado quando eram ungidos o profeta, o sacerdote, e o rei nos dias do Antigo Testamento. E em passagens como estas:
1 João 2:20 - "E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo."
1 Samuel 16:13 - "Então Samuel tomou o chifre do azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos; e desde aquele dia em diante o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi; então Samuel se levantou, e voltou a Ramá."
Isaías 32:15 - "Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque".
Nós temos base bíblica para ver o óleo como um tipo do Espírito Santo. Na Bíblia a árvore de Oliveira é símbolo de muitas coisas:
a) Beleza
Oséias 14:6 - "Estender-se-ão os seus galhos, e a sua glória será como a da oliveira, e sua fragrância como a do Líbano.”
b) Fertilidade
Salmo 52:8 - "Mas eu sou como a oliveira verde na casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para sempre, eternamente."
c) Riqueza
Juízes 9:9 - "Porém a oliveira lhes disse: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores?"
O Espírito Santo, então, como o óleo de oliva, é o que possui tudo aquilo o homem precisa para a vida e a piedade. Riqueza, fertilidade, e beleza são todos Seus, em uma medida abundante. Jesus foi ungido por Deus como profeta, sacerdote, e rei. Tudo o que Cristo fez estava cheio de riqueza, fertilidade, e beleza porque Ele é o templo do Espírito Santo e cheio de toda a plenitude:
João 3:34 - "Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida."
É interessante que as azeitonas não eram batidas ou apertadas, mas esmagadas. Assim Jesus foi esmagado no Jardim de Getsêmani (Heb. Prensa de Óleo) e então, pela mesma ira de Deus em uma cruz romana, como as Escrituras dizem:
Isaías 53:10 - "Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do SENHOR prosperará na sua mão."
O óleo da unção era restringido apenas para uso no Tabernáculo, qualquer um que violasse a ordem seria morto. O óleo de oliva devia ser puro e nada mais que puro, porque representa o Espírito Santo de Cristo. A palavra o "Cristo" é a fórmula grega para o hebraico "Mashiach" (Messias) os quais significam “o Ungido", literalmente "o que é coberto com óleo". O óleo também foi usado para ungir o Santo Tabernáculo e a sua mobília, e iluminar o candeeiro de ouro.
Especiarias para o óleo e incenso (Doce e suave fragrância para Deus)
Havia três especiarias para serem adicionadas ao puro incenso e ao óleo:
Ex 30:34 - “Disse mais o SENHOR a Moisés: Toma especiarias aromáticas, estoraque, e onicha, egálbano; estas especiarias aromáticas e o incenso puro, em igual proporção;”
a) Estoraque
Um pó das gotas de uma resina endurecida e fragrante encontrada na cortiça do arbusto de Mirra. A palavra significa "uma gota".
b) Onicha
Um pó da cobertura córnea da concha de um molusco idêntico a um marisco encontrado no Mar Vermelho. Quando queimado, este pó libera um aroma penetrante. A palavra hebraica para – "concha aromática". O Mar Vermelho é um bolsão de água morna isolada do Oceano Índico e é conhecido por suas subespécies peculiares de moluscos.
c) Gálbano
Uma resina pungente, castanha que aparece na parte mais baixa do talo de uma planta de Férula. Esta erva encontrada no Mar Mediterrâneo com talos espessos, flores amarelas, e verdes como folhas de samambaia. Tem um cheiro almiscarado, pungente e é valioso porque preserva o odor de um perfume misturado, e permite a sua distribuição por um período longo de tempo.
Nestas especiarias ou perfumes nós vemos a Jesus como o doce aroma, que traz alegria para o coração do Pai. Quando misturado com o óleo de oliva, nós vemos o iluminante e doce trabalho do Espírito de Cristo, e quando misturado com o puro incenso nós vemos a doçura da oração como um "doce aroma aspirado pelas narinas de Deus." Estes perfumes apropriadamente apontam a Cristo.
Jo 8:29 - "E aquele que me enviou está comigo. O Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada."
Ef 5:2 - "E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave."
2 Cor 2:15-16 - "Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo?"

SÉRIE DE NOTAS SOBRE O PENTATEUCO – C. H. MACKINTOSH

— CAPÍTULO 25 —

O TABERNÁCULO

A Ordem Divina

Este capítulo é o começo de um dos mais ricos filões da mina inesgotável de inspiração — um veio no qual cada pancada do alvião descobre riquezas incontáveis. Sabemos qual é o único alvião com o qual podemos trabalhar numa tal mina, a saber, o ministério distinto do Espírito Santo. A natureza humana nada pode fazer aqui. A razão é cega e a imaginação completamente inútil; a inteligência mais elevada, em vez de estar em estado de interpretar os símbolos sagrados, parece-se mais a um morcego ante o resplen­dor do sol, chocando-se contra os objetos que é inteiramente incapaz de discernir. Devemos obrigar a razão e a imaginação a ficarem a parte, enquanto, com um coração puro, um olhar sensato e pensamentos reverentes entramos nos recintos santos e contem­plamos fixamente o mobiliário cheio de significado. Deus o Espírito Santo é o único que nos pode guiar através dos recintos da casa do Senhor e de interpretar para as nossas almas o verdadeiro significado de tudo que se apresenta à nossa vista. Querer dar a sua explicação com o auxílio de faculdades não santificadas seria mais absurdo do que tentar reparar um relógio com as tenazes e o martelo de um ferreiro. "As figuras das coisas que estão no céu" (Hb 9:23) não podem ser interpretadas pela mente natural, ainda mesmo a mais cultivada. Devem ser lidas à luz do céu. O mundo não tem nenhuma luz que possa revelaras suas belezas. Aquele que produziu as figuras é o único que pode explicar o que elas significam. E Aquele que deu os símbolos é quem pode interpretá-los.
Para a vista do homem parecerá que há irregularidade na maneira como o Espírito apresenta o mobiliário do tabernáculo; mas, na realidade, como poderia esperar-se, existe a mais perfeita ordem, a precisão mais notável e a exatidão mais minuciosa. Desde o capítulo 25 ao capítulo 30, inclusive, temos uma parte distinta do Livro do Êxodo. Esta parte subdivide-se em duas partes, das quais a primeira termina no versículo 19 do capítulo 27, e a segunda no fim do capítulo 30. A primeira começa com a descrição da arca do concerto, dentro do véu, e termina com o altar de bronze e o átrio no qual o altar devia ser posto. Quer dizer, dá-nos, em primeiro lugar, o trono do juízo do Senhor, sobre o qual Ele se assentava como Senhor de toda a terra; e este trono conduz-nos àquele lugar onde o Senhor encontra o pecador em virtude e com base na obra de uma expiação consumada. Depois, na segunda parte temos a maneira de o homem se aproximar de Deus—os privilégios, as honras, e as responsabilidades daqueles que, como sacerdotes, podem aproximar-se da presença Divina para prestarem culto e gozarem da Sua comunhão. Deste modo a ordem é perfeita e bela. Como poderia ser de outro modo, visto que é divinal A arca e o altar de bronze apresentam, em certo sentido, dois extremos. A primeira era o trono de Deus estabelecido em "justiça e juízo" (SI 89:14). A última era o lugar onde o pecador podia aproximar-se, porque "a misericórdia e a verdade" iam adiante do rosto de Jeová. O homem, por si mesmo, não ousava aproximar-se da arca para se encontrar com Deus, porque o caminho do santuário não estava ainda desco­berto (Hb 9:8). Porém, Deus podia vir ao altar de bronze para encontrar o pecador. "A justiça e o juízo" não podiam admitir o pecador no santuário; mas a misericórdia e a verdade podiam fazer sair Deus—não envolto naquele resplendor irresistível e majestade com que costumava brilhar do meio das colunas místicas do Seu trono—"os querubins de glória"—, mas rodeado daquele ministé­rio gracioso que nos é apresentado, simbolicamente, no mobiliário e nas ordenações do tabernáculo.
Tudo isto nos pode muito bem recordar o caminho que percor­reu Aquele bendito Senhor que é o antítipo de todos estes símbolos —a substância destas sombras. Ele desceu do trono eterno de Deus no céu até à profundidade da cruz no Calvário. Deixou toda a glória do céu pela vergonha da cruz, a fim de poder conduzir o Seu povo remido, perdoado e aceite por Si Mesmo, e apresentá-lo inculpável diante daquele próprio trono que Ele havia abandona­do por amor deles. O Senhor Jesus preenche, em Sua própria Pessoa e obra, todo o espaço entre o trono de Deus e o pó da morte, assim como a distância entre o pó da morte e o trono de Deus. N'Ele Deus desceu, em perfeita graça, até ao pecador, e n'Ele o pecador é conduzido, em perfeita justiça, até Deus. Todo o caminho, desde a arca ao altar, está marcado com as pegadas do amor; e todo o caminho desde o altar de bronze até a arca de Deus estava salpicado com sangue da expiação; e todo adorador ao passar por esse caminho maravilhoso vê o nome de Jesus impresso em tudo que se oferece à sua vista. Que este nome venha a ser o mais precioso de nossos corações!
Vamos proceder agora ao exame dos capítulos que se seguem.
É interessante notar que a primeira coisa que o Senhor revela a Moisés é o Seu propósito gracioso de ter um santuário ou santa habitação no meio do Seu povo — um santuário formado de materiais que indicavam Cristo, a Sua Pessoa, a Sua obra, e o fruto precioso dessa obra, como os vemos à luz, no poder e diversas mercês do Espírito Santo. Além disso, estes materiais eram o fruto fragrante da graça de Deus — as ofertas voluntárias de corações consagrados. Jeová, cuja Majestade o céu dos céus não poderia conter (lRs 8:27), achava o Seu agrado em habitar numa tenda erigida para Si por aqueles que nutriam o desejo ardente de saudar a Sua presença no meio deles. Este tabernáculo pode ser considerado de duas manei­ras; primeira, como uma "figura das coisas celestiais"; e, segunda, como uma figura profundamente significativa do corpo de Cristo. Os vários materiais de que se compunha este tabernáculo serão apresentados à nossa consideração à medida que formos desenro­lando o assunto. Portanto, vamos considerar os três assuntos mais importantes que este capítulo põe diante de nós, a saber: a arca, a mesa e o castiçal.


A Arca e seu Conteúdo

A arca do concerto ocupa o primeiro lugar nas comunicações divinas feitas a Moisés. Asua posição no tabernáculo era, também, notável. Encerrada dentro do véu, no lugar santíssimo, formava a base do trono de Jeová. O seu próprio nome apresentava à alma a sua importância. Uma arca, tanto quanto podemos compreender o significado da palavra, é destinada a guardar intacto o que é posto dentro dela. Foi numa arca que Noé e sua família, com todas as espécies de animais da criação, foram transportados com segurança sobre as ondas do juízo que cobriu a terra. Uma arca, como lemos no princípio deste livro, foi o vaso da fé para preservar um menino formoso das águas da morte. Quando, portanto, lemos da "arca do concerto" somos levados a crer que era destinada por Deus aguardar intacto o Seu concerto, no meio de um povo dado ao erro. Nesta arca, como sabemos, foram depositadas as segundas tábuas da lei. Quan­to às primeiras foram quebradas ao pé do monte, mostrando que o concerto do homem era de todo abolido—que o seu trabalho nunca poderia, de qualquer modo, formar a base do trono de governo de Jeová. "Ajustiça e o juízo são a habitação desse trono", quer seja no seu aspecto terrestre, quer no celestial. A arca não podia conter as tábuas quebradas dentro do seu interior sagrado. O homem podia falhar no cumprimento dos votos que havia feito voluntariamen­te; porém a lei de Deus tem de ser conservada em toda a sua integridade divina e perfeição. Se Deus estabelecia o Seu trono no meio do Seu povo, só o podia fazer de uma maneira digna de Si. O princípio do Seu juízo e governo deve ser perfeito.
"E farás varas de madeira de cetim, e as cobrirás com ouro. E meterás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas aarca" (versículos 13e 14). A arca do concerto devia acompanhar o povo em todas as suas peregrinações. Nunca se deteve enquanto eles se mantiveram como um exército em viagem ou no conflito: foi adiante deles até ao meio do Jordão; foi o seu ponto de reunião em todas as guerras de Canaã; era a garantia segura e certa do poder para onde quer que ia. Nenhum poder do inimigo podia subsistir diante daquilo que era a expressão bem conhecida da presença e poder de Deus. A arca devia ser a companheira inseparável de Israel no deserto; e as "varas" e as "argolas" eram a expressão exata do seu caráter ambulante.


A Arca no Templo

Contudo, a arca não deveria viajar sempre. As "aflições" de Davi(Sl 132:1) bem como as guerras de Israel deviam ter um fim. A oração, "Levanta-te, Senhor, no teu repouso, tu e a arca da tua força" (SI 132:8) devia ainda de ser feita e atendida. Esta petição sublime teve o seu cumprimento parcial nos dias auspiciosos de Salomão, quando "os sacerdotes trouxeram a arca do concerto do Senhor ao seu lugar, ao oráculo da casa, ao lugar santíssimo, até debaixo das asas dos querubins. Porque os querubins estendiam ambas as asas sobre o lugar da arca e cobriam a arca e os seus varais por cima. E os varais sobressaíram tanto que as pontas dos varais se viam desde o santuário diante do oráculo, porém de fora não se viam; e ficaram ali até ao dia de hoje' (1 Rs 8:6 - 8). A areia do deserto devia ser trocada pelo piso de ouro do templo (1 Rs 6:30). As peregrinações da arca haviam chegado ao seu termo: "adversário não havia, nem algum mau encontro", e, portanto, fizeram sobressair os varais.
Esta não era a única diferença entre a arca no tabernáculo e no templo. O apóstolo, falando da arca na sua habitação do deserto, descreve-a como "a arca do concerto, coberta de ouro toda em redor, em que estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha florescido, e as tábuas do concerto" (Hb 9:4). Estes eram os objetos que a arca continha durante as suas jornadas no deserto—o vaso de maná era o memorial da fidelidade do Senhor em prover a todas as necessidades dos Seus remidos através do deserto, e a vara de Aarão era "um sinal para os filhos rebeldes" para acabar com "as suas murmurações" (Compare-se Ex 16:32 - 34 e Nm 17:10). Porém, quando chegou o momento em que "os varais" deviam ser retirados, logo que as peregrinações e as guerras de Israel terminaram, quando "a casa magnífica em excelência" (1 Cr 22:5) foi terminada, quando o sol da glória de Israel havia chegado, em figura, ao zénite com o esplendor e a magnificência do reino de Salomão, então os memoriais das necessidades e faltas do deserto desapareceram, e nada ficou senão aquilo que constituía o fundamento eterno do trono do Deus de Israel e de toda a terra. "Aia arca, nada havia, senão só as duas tábuas de pedra que Moisés ali pusera junto a Horebe" (I Rs 8:9).
Mas toda esta glória devia ser obscurecida pelas nuvens carregadas do fracasso humano e o descontentamento de Deus. Os pés devasta­dores dos incircuncisos haviam ainda de atravessar as ruínas dessa magnífica casa, e o desaparecimento do seu brilho e da sua glória devia provocar o assobio dos estranhos (1 Reis 9:8). Este nãoéomomento de continuar em pormenor este assunto; limitar-me-ei a referir ao leitor a última menção que a Palavra de Deus faz da " arca do concerto" —uma passagem que nos transporta a uma época em que a loucura humana e o pecado não perturbarão mais o lugar de repouso da arca, e em que a arca não será guardada num tabernáculo de cortinas nem tampouco num templo feito por mãos. "E tocou o sétimo anjo a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam-. Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre. Eos vinte e quatro anciãos, que estão assentados em seus tronos diante de Deus, prostraram-se sobre seu rostoe adoraram aDeus, dizendo: Graças tedamos, Senhor, DeusTodo-poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o teu grande poder e reinaste. E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra. E abriu-se no céu o templo de Deus, e a arca do seu concerto foi vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos, e grande saraiva" (Ap 11.15 -19).


O Propiciatório

Segue-se por sua ordem o propiciatório. "Também farás um propiciatório de ouro puro; o seu cumprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura, de um côvado e meio. Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubim na extremidade de uma parte e o outro querubim na extremidade da outra parte; de uma só peça com o propiciatório farás os querubins nas duas extremidades dele. Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas o propiciatório; as faces deles, uma defronte da outra; as faces dos querunbins estarão voltadas para o propiciatório. E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houveres posto na arca o Testemunho, que eu te darei. E ali virei a ti e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do Testemunho), tudo que eu te ordenar para os filhos de Israel" (versículos 17 a 22).
Jeová declara aqui o Seu desígnio misericordioso de descer do monte ardente para tomar o Seu lugar sobre o propiciatório. Podia fazer isto, visto que a tábuas da lei estavam guardadas intactas na arca, e os símbolos do Seu poder, tanto na criação como na providên­cia, se elevavam à direita e à esquerda como acessórios inseparáveis deste trono em que o Senhor Se havia assentado — um trono de graça fundado na justiça e sustido pela justiça e o juízo. Ali brilha a glória do Deus de Israel. Dali emanavam os Seus mandamentos suavizados e tornados agradáveis pela origem graciosa de onde saíam— à semelhança do sol do meio-dia, cujos raios ao passarem através de uma nuvem vivificam e fecundam sem que o seu resplendor nos cegue.
"Os seus mandamentos não são pesados" quando recebidos do propiciatório, porque estão ligados com a graça que dá ouvidos para ouvir e o poder para obedecer.


O Único Lugar de Encontro

A arca e o propiciatório, considerados em conjunto como um todo, são para nós uma figura admirável de Cristo, em Sua Pessoa e Sua obra. Havendo engrandecido a lei, na Sua vida, e tornando-a honrosa, veio a ser, por meio da morte, a propiciação ou propiciatório para todo aquele que crê. A misericórdia de Deus só podia repousar numa base de perfeita justiça:".. .a graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rm5:21). O único lugar próprio para o encontro entre Deus e o homem é aquele onde a graça e a justiça se encontram e se harmonizam perfeitamente. Nada senão a justiça perfeita podia agradar a Deus; e nada senão a graça perfeita pode convir ao pecador. Mas onde poderiam estes atributos encontrar-se4 Somente na cruz. E ali que a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram (SI 85:10). E assim que a alma do pecador crente encontra paz. Vê que a justiça de Deus e a sua justificação repousam sobre o mesmo fundamen­to, isto é: a obra consumada por Cristo. Quando o homem, sob a influência poderosa da verdade de Deus, toma o seu lugar como pecador, Deus pode, no exercício da graça, tomar o Seu como Salvador, e então toda a questão se acha solucionada, porque havendo a cruz respondido a todas as exigências da justiça divina, os rios da graça podem correr sem impedimento. Quando o Deus justo e o pecador se encontram sobre uma plataforma salpicada de sangue tudo está solucionado para sempre — solucionado de maneira a glorificar Deus perfeitamente e salvar o pecador para toda a eternidade. Seja Deus verdadeiro, ainda que todo o homem seja mentiroso; e quando o homem é levado inteiramente ao ponto mais baixo da sua condição moral diante de Deus e está pronto a aceitar o lugar que a verdade de Deus lhe designa, então reconhece que Deus Se revelou como o Justo justificador. Isto deve dar paz à consciência; e não apenas paz, mas concede a capacidade de comungar com Deus e de ouvir os Seus santos preceitos no conhecimento daquela relação em que a graça divina nos introduziu.
Por isso, "o lugar santíssimo" oferece-nos uma cena verdadeira­mente admirável. A arca, o propiciatório, os querubins, a glória! Que espetáculo para o sumo sacerdote de Israel quando entrava dentro do véu! Que o Espírito de Deus abra os olhos do nosso entendimento de modo a podermos compreender melhor o profun­do significado destes símbolos preciosos.


A Mesa do Pão da Proposição

Moisés recebe em seguida instruções quanto "à mesa dos pães da proposição", ou pães de apresentação. Sobre esta mesa estava disposto o alimento dos sacerdotes de Deus. Durante sete dias os doze pães de "flor de farinha com incenso" estavam dispostos na presença do Senhor, depois do que, sendo substituídos por outros, eram o alimento dos sacerdotes, que comiam deles no lugar santo (veja-se Lv 24:5-9).
Escusado será dizer que esses doze pães simbolizam "o homem Cristo Jesus". A "fiorde farinha" da qual eram compostos, mostra a Sua perfeita humanidade, enquanto que "o incenso" indica a inteira consagração dessa humanidade a Deus. Se Deus tem os Seus sacerdotes ministrando no lugar santo, terá certamente uma mesa para eles, e uma mesa bem fornecida também. Cristo é a mesa e o pão sobre ela. A mesa pura e os doze pães mostram Cristo, presente incessantemente diante de Deus em toda a excelência da Sua imaculada humanidade e como alimento para a família sacerdotal. Os "sete dias" mostram a perfeição do gozo divino em Cristo; e os "doze pães" exprimem este gozo no homem e pelo homem. É possível que exista também a ideia de ligação de Cristo com as doze tribos de Israel e os doze apóstolos do Cordeiro.


O Candelabro

O castiçal de ouro puro vem a seguir, porque os sacerdotes de Deus têm necessidade de Luz bem como de alimento: e têm tanto uma coisa como a outra em Cristo. Neste castiçal não se faz menção de outra coisa que não seja ouro. "Tudo será de uma só peça, obra batida de ouro puro" (versículo 36). "As sete lâmpadas", as quais se "acenderão para alumiar defronte dele", exprimem a perfeição da luz e energia do Espírito, baseadas e ligadas com a eficácia perfeita da obra de Cristo. Aobra do Espírito Santo nunca poderá ser separada da obra de Cristo. Isto é indicado, de um modo duplo, nesta magnífica imagem do castiçal de ouro. As sete lâmpadas estando ligadas à cana de ouro batido indicam-nos a obra cumprida por
Cristo como a única base da manifestação do Espírito na Igreja. O Espírito Santo não foi dado antes de Jesus ter sido glorificado (comparem-se João 7:39 com Atos 19:2 a 6). Em Apocalipse, capí­tulo 3, Cristo é apresentado à igreja de Sardes como Aquele que tem "os sete espíritos". Quando o Senhor Jesus foi exaltado à destra de Deus, então derramou o Espírito Santo sobre a Sua Igrej a, a fim de que ela pudesse brilhar segundo o poder e a perfeição da sua posição no lugar santo, a sua própria esfera de ser, de ação e de culto.
Vemos, também, que uma das funções particulares de Arão consistia em acender e espevitar essas sete lâmpadas. "E falou o SENHORa Moisés, dizendo: Ordena aos filhos de Israel que te tragam azeite de oliveira puro, batido, para a luminária, para acender as lâmpadas continuamente. Arão as porá em ordem perante o Senhor continuamente, desde a tarde até à manhã, fora do véu doTestemunho, na tenda da congregação; estatuto perpétuo é pelas vossas gerações. Sobre o castiçal puro porá em ordem as lâmpadas, perante o Senhor, continuamente" (Lv 24:1-4). Desta maneira, podemos ver como a obra do Espírito Santo na Igreja está ligada com a obra de Cristo na terra e a Sua obra no céu. "As sete lâmpadas" estavam no tabernáculo, evidentemente, mas a atividade e diligên­cia do sacerdote eram necessárias para as manter acesas e espevitadas. O sacerdote necessitava continuamente dos "espevitadores" e dos "apagadores" para remover tudo que pudesse impedir o livre curso do "azeite batido". Esses espevitadores e apagadores eram igual­mente feitos de "ouro batido" porque todas essas coisas eram o resultado imediato da operação divina. Se a Igreja brilha, é unica­mente pela energia do Espírito, e esta energia está fundada em Cristo, que, em virtude do desígnio eterno de Deus, veio a ser, em Seu sacrifício e sacerdócio, o manancial e poder de todas as coisas para a Sua Igreja. Tudo é de Deus. Quer olhemos para dentro desse véu misterioso e contemplemos a arca com a sua coberta e as duas figuras significativas, ou admiremos o que está da parte de fora desse véu, a mesa pura e o castiçal puro, com os seus vasos e respectivos utensílios — tudo nos fala de Deus, quer seja revelando-Se em ligação com o Filho ou o Espírito Santo.
A chamada celestial coloca o leitor cristão no próprio centro de todas estas preciosas realidades. O seu lugar não está apenas no meio das" figuras das coisas que estão no céu", mas no meio das "próprias coisas celestiais". Tem "ousadia para entrar no santuário pelo sangue de Jesus". É sacerdote para Deus. O pão da proposição lhe pertence. O seu lugar é à mesa pura, para comer o pão sacerdotal, na luz. do Espírito Santo. Nada o poderá privar desses privilégios divinos. São seus para sempre. Esteja em guarda contra tudo que possa privá-lo dogozo deles. Guarde-se contra toda a irritabilidade, a cobiça, de todo o sentimento e imaginações. Domine a sua natureza, lance o mundo fora de seu coração, afugente Satanás. Que o Espírito Santo encha inteiramente a sua alma de Cristo. Então será praticamente santo e sempre ditoso. Dará fruto, e o Pai celestial será glorificado, e o seu gozo será completo.



— CAPÍTULO 26 —

A ESTRUTURA DO
TABERNÁCULO


Os Materiais


Esta parte do livro do Êxodo inclui a descrição das cortinas e da cobertura do tabernáculo, nas quais a mente espiritual discerne as sombras das várias fases e traços do caráter de Cristo. "E o tabernáculo farás de dez cortinas de linho fino torcido, e pano azul,e púrpura, e carmesim; com querubins as farás, de obra esmerada". Aqui temos os diferentes aspectos do "homem Jesus Cristo" (1 Tm 2:5). O "linho fino torcido" representa a pureza imaculada da Sua vida e do Seu caráter; enquanto que o "azul, púrpura e carmesim" no-Lo apresentam como "o Senhor do céu", que deve reinar segundo os desígnios divinos, mas Cuja realeza deve ser o resultado dos Seus sofrimentos. Desta forma, temos n'Ele um homem puro, homem celestial, régio e sofredor. Os diferentes materiais mencionados aqui não eram apenas limitados às "cortinas" do tabernáculo, como deviam ser também usados para o "véu" (versículo 31), a "coberta" da porta da tenda" (versículo 36), a coberta da "porta do pátio" (capítulo 27:16), e "os vestidos do ministério" e "os vestidos santos para Arão" (capítulo 39:1). Em suma, era Cristo em todo as partes, Cristo em tudo, somente Cristo (¹).
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(¹) A expressão "puro e resplandecente" (Ap 19:8) dá força e formosura peculiar ao símbolo que o Espírito Santo nos apresenta no "linho fino torcido". Com efeito, não é possível encontrar-se um emblema mais exato de natureza imaculada.


O LinhoTorcido


O "linho fino torcido", como figura da humanidade imaculada de Cristo, abre um manancial precioso e abundante de pensamento para a inteligência espiritual: dá-nos um tema sobre o qual nunca é demais meditar. A verdade quanto à humanidade de Cristo deve ser recebida com toda a exatidão escriturai, mantida com energia espiritual, guardada com santo zelo e confessada com poder celestial. Se estivermos enganados quanto a este ponto de capital importân­cia não podemos estar dentro da verdade sobre coisa alguma. É uma verdade essencial e fundamental, e se não for recebida, defendida e confessada tal qual Deus a revelou na Sua santa Palavra, todo o edifício não terá solidez. Nada pode ser mais deplorável que o relaxamento que parece prevalecer e predominar nos pensamentos e expressões de alguns sobre esta doutrina tão importante. Se houvesse mais reverência pela palavra de Deus, haveria um conhe­cimento dela mais perfeito; e, deste modo, evitar-se-iam essas declarações erróneas e irrefletidas que certamente devem entriste­cer o Espírito de Deus, Cuja incumbência é testemunhar de Jesus. Quando o anjo anunciou a Maria as boas novas do nascimento do Salvador, ela disse-lhe: "Como se fará isto, visto que não conheço varão"?- "A sua fraca inteligência era incapaz de compreender, muito menos profundar, o estupendo mistério de "Deus manifestado em carne" (l Tm 3:16). Mas note-se com atenção a resposta do anjo— resposta dada não a umespírito céptico, mas a um coração piedoso, embora ignorante. "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lc 1:34-35). Maria imaginava, sem dúvida que este nascimento deveria ter lugar segundo os princípios ordinários da geração. Mas o anjo corrige o seu equívoco, e, corrigindo-o, anuncia uma das maiores verdades da revelação. Declara que o poder divino estava prestes a formar UM HOMEM VERDADEIRO—" o segundo homem, o Senhor do céu" (1 Co 15:47): um homem cuja natureza seria divinamente pura, inteiramente incapaz de receber ou de comunicar a mais pequena mancha. Este Ser santo foi formado, à "semelhança da carne do pecado", sem pecado na carne. Participou inteiramente da carne e do sangue sem uma partícula ou sombra de mal ligado com eles.
Esta verdade é de primacial importância, nunca será retida com fidelidade e firmeza excessiva. A incarnação do Filho, a segunda Pessoa da Trindade eterna, a Sua entrada misteriosa em carne pura e sem mácula, formada pelo poder do Altíssimo, no ventre da virgem, é o fundamento do "mistério da piedade" (ITm 3:16), do qual a cimalha é o Deus-homem glorificado no céu, a Cabeça, Representante e Modelo da Igreja remida de Deus. A pureza essen­cial da Sua humanidade satisfez perfeitamente as exigências de Deus; enquanto que a sua realidade correspondia às necessidades do homem. Era homem, porque só um homem podia responder pela ruína do homem. Porém, era homem tal que podia dar satisfação a todas as exigências do trono de Deus. Era um homem imaculado, verdadeiro homem, em quem Deus podia achar o Seu agrado, e em quem o homem podia apoiar-se sem reservas.
Não é preciso recordar ao leitor esclarecido que tudo isto, separado da morte e ressurreição, é perfeitamente inútil para nós. Nós tínhamos necessidade não somente de um Cristo incarnado, mas de um Cristo crucificado e ressuscitado. Na verdade, Ele fez-se carne para ser crucificado; mas é por Sua morte e ressurreição que a Sua incarnação veio a ser eficaz para nós. É um erro moral crer que Cristo tomou o homem em união consigo na incarnação. Isto era impossível. Ele Próprio ensina expressamente o contrário. "Na verdade, na verdade vos digo que se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica cie só; mas se morrer dá muito fruto" (Jo 12:24). Não podia haver nenhuma união entre carne santa e pecaminosa, pura e impura, corruptível e incorruptível, mortal e imortal. A morte é a única base de união entre Cristo e os Seus membros eleitos. É em ligação com as palavras "levantai-vos, vamos" (Mc 14:42) que o Senhor diz: "Eu sou a videira, vós as varas" (Jo 15:5). Porque "se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte... o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito" (Rm 6:5-6). "No qual também estais circuncidados, com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão de Cristo. Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder deDeus, que o ressuscitou dos mortos" (Cl 2:11-12).
Os capítulos 6 de Romanos e 2 de Colossenses nos dão um relato pormenorizado da verdade sobre este importante assunto. Foi unicamente como morto e ressuscitado que Cristo e o Seu povo puderam tornar-se em um. O verdadeiro grão de trigo tinha de cair na terra e morrer antes que a espiga pudesse ser formada e recolhida no celeiro celestial.
Porém, embora isto seja uma verdade claramente revelada nas Escrituras, é igualmente claro que a incarnação formava, por assim dizer, os alicerces do glorioso edifício; e as cortinas de "linho fino" apresentam-nos, em figura, a beleza moral do "Homem Jesus Cristo". Já vimos a maneira como Ele foi concebido; e, ao longo do curso da Sua vida aqui na terra, encontramos exemplos e mais exemplos da mesma imaculada pureza. Passou quarenta dias no deserto, sendo tentado pelo diabo, mas nada em Sua natureza respondeu às vis sugestões do tentador. Podia tocar os leprosos sem ser contaminado. Podia tocar o esquife de um defunto sem contrair o fedor da morte. Podia passar incólume pela atmosfera mais contaminada. Era, quanto à Sua humanidade, como um raio de sol que vinha da fonte de luz, o qual pode passar, sem ser atingido, pelo ambiente de maior contaminação. Foi perfeitamente único em natureza, caráter e constituição.
Só Ele podia dizer: "Não permitirás que o teu santo veja corrupção" (Sl 16:10). Isto estava em relação com a Sua humanida­de, que, sendo perfeitamente santa e pura, podia levar o pecado. "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pe 2:24). Não no madeiro, como alguns querem ensi-nar-nos, mas "sobre o madeiro". Foi na cruz que Cristo levou os nossos pecados, e somente ali. "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5:21).


O Azul

"Azul" é a cor etérea e indica o caráter celestial de Cristo, o Qual, a despeito de ter entrado em todas as circunstâncias de verdadeira e autêntica humanidade—exceto o pecado—era "o Senhor do céu"
(1 Co 15:47). Sendo homem verdadeiro, andou sempre com o senti­mento da Sua própria dignidade, como estrangeiro celestial: jamais olvidou donde tinha vindo, onde estava ou para onde ia. A fonte de todo o Seu gozo estava nas alturas. A terra não podia fazê-lo mais rico nem mais pobre. Achou que este mundo era "uma terra seca e cansada, onde não havia água" (Sl 63:1); e, por isso, o Seu espírito só podia dessedentar-se nas alturas. Era inteiramente celestial: "...ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu" (Jo3:16).


A Púrpura

"Púrpura" indica realeza, e mostra-nos Aquele que havia "nascido rei dos judeus", que Se apresentou como tal à nação judaica e foi rejeitado; que fezumaboa confissão perante Pôncio Pilatos, decla-rando-Se rei, quando, para a visão humana, não havia um simples traço de realeza. "Tu dizes que eu sou rei" (Jo 18:37). E ".. .vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do poder e vindo sobre as nuvens do céu" (Mt 26:64). E, por fim, a inscrição sobre a Sua cruz, em hebraico, grego e latim—a linguagem da religião, da ciência e do governo—declara, perante todo o mundo, que Ele era "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus". A terra negou-Lhe os Seus direitos — desgraçada­mente para ela—mas não aconteceu o mesmo com o céu: ali os Seus direitos foram plenamente reconhecidas. Foi recebido como um vencedor nas moradas eternas da luz, coroado de glória e honra, e assentou-Se, por entre aclamações dos exércitos celestiais, no trono da majestade nas alturas, até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés. "Por que se amotinam as nações e os povos imaginam coisas vãs£ Os reis da terra se levantam, e os príncipes juntos se mancomunam contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. Então, lhes falará na sua ira, e no seu furor o confundirá. Eu, porém, ungi o meuRei sobre o meu santo monte Sião. Recitarei o decreto: O SENHORme disse: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e os confins da terra por tua possessão.
Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. ServiaoSENHOR com temore alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a sua ira. BEM-AVENTURADOS TODOS AQUELES QUE NELE CONFIAM" (Salmo 2).

O Carmesim

O "carmesim", quando genuíno, é produzido pela morte e f ala-nos dos sofrimentos de Cristo:".. .Cristo padeceu por nós na carne" (1 Pe 4:1). Sem morte, tudo teria sido inútil. Podemos admirar "o azul" e a "púrpura", mas sem o "carmesim" o tabernáculo teria perdido um aspecto importante. Foi por meio da morte que Cristo destruiu aquele que tinha o império da morte. O Espírito Santo, pondo diante de nós uma figura admirável de Cristo — o verda­deiro tabernáculo —, não podia omitir aquela fase do Seu caráter que constitui o fundamento da Sua união com o Seu corpo, a Igreja, o Seu direito ao trono de Davi e o senhorio de toda a criação. Em suma, o Espírito não somente nos mostra o Senhor Jesus, nestas cortinas simbólicas, como homem imaculado, homem real, mas também como homem sofredor; aquele que, por meio da morte, adquiriu o direito àquilo que, como homem, tinha direito nos desígnios divinos.

A Primeira Cortina

Contudo, as cortinas do tabernáculo não são apenas a expressão dos diferentes aspectos do caráter de Cristo, como põem também em evidência a unidade e firmeza desse caráter. Cada um desses aspectos está exposto na sua própria perfeição; e nunca interfere com ou prejudica a beleza de outro. Tudo era harmonia perfeita aos olhos de Deus e foi assim apresentado no "modelo que no monte se mostrou" a Moisés e na sua reprodução no meio do povo. "Cinco cortinas se enlaçarão à outra; e as outras cinco cortinas se enlaçarão uma com a outra" (versículo 3). Tal era a proporção e firmeza em todos os caminhos de Cristo, como homem perfeito, andando pelo mundo, em qualquer situação ou relação que O considerarmos. Quando atua segundo um desses caracteres, não encontramos absolutamente nada que seja incompatível com a integridade divina de outro. Ele foi, em todo o tempo, em todo o lugar e em todas as circunstâncias, o homem perfeito. Nada n'Ele faltava a essa encantadora e bela proporção que Lhe era própria, em todos os Seus atos. "Todas estas cortinas serão de uma medida"(versículo 2).
Um par de cinco cortinas pode muito bem simbolizar os dois aspectos principais do caráter de Cristo atuando a favor de Deus e do homem. Vemos os mesmos dois aspectos na lei, a saber, o que era devido a Deus e o que era devido ao homem; de forma que, quanto a Cristo, se olharmos de passagem, vemos que Ele podia dizer, "a tua lei está dentro do meu coração" (SI 40); e se pensarmos na Sua conduta, vemos esses dois elementos ordenados com perfeita pre­cisão, e não só ordenados, mas inseparavelmente unidos pela graça celestial e a energia divina que habitaram na Sua gloriosa Pessoa.
"E farás laçadas de pano azul na ponta de uma cortina, na extremidade, na juntura; assim também farás na ponta da extremi­dade da outra cortina, na segunda juntura... Farás tàmbémcinqúen-ta colchetes de ouro, e ajuntarás com estes colchetes as cortinas, uma com a outra e será um tabernáculo" (versículos 4 e 6). Nas "laçadas" de azul e nos "colchetes de ouro" temos a manifestação daquela graça celestial e energia divina em Cristo que Lhe proporcionou ligar e harmonizar perfeitamente as reivindicações de Deus e as pretensões do homem; de forma que, satisfazendo tanto umas como outras, Ele nunca, nem por um momento, perturbou o Seu caráter. Quando os homens astutos e hipócritas o tentaram com a pergunta: "É lícito pagar o tributo a César, ou não?" a Sua resposta foi, "Dai... a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (Mt 22:17-21).
Nem foi apenas César, mas o homem em todas as suas relações que recebeu a resposta a todas as suas pretensões em Cristo. Da mesma maneira que reuniu na Sua Pessoa a natureza de Deus e humana, satisfez em Seus passos de perfeição as exigências de Deus e as pretensões do homem. Seria muito interessante seguir, através da narrativa do evangelho, a exemplificação do princípio sugerido pelas "laçadas de azul" e os "colchetes de ouro"; devo, porém, deixar que o leitor prossiga este estudo sob a direção do Espírito Santo, o Qual deseja alargar-Se sobre cada aspecto d 'Aquele bendito Senhor que é Seu propósito exaltar.

A Cortina de Pêlos de Cabras

A primeira cortina (na verdade, um par de cinco cortinas) era encoberta por outras de "pêlos de cabras" (versículos 7 a 13). Sua beleza estava escondida para os de fora por aquilo que indicava aspereza e severidade. Para aqueles que tinham o privilégio de entrar no recinto sagrado nada era visível senão o "azul", a púrpu­ra", o "camersim" e o "linho fino torcido"—a exposição combinada das virtudes e excelência desse tabernáculo divino no qual Deus habitou atrás do véu: isto é, Cristo, por Cuja carne, o antítipo de todas estas coisas, os raios dourados da natureza divina brilharam tão delicadamente que o pecador podia vê-los acabrunhado pelo seu brilho deslumbrante.
Quando o Senhor Jesus passou por este mundo, quão poucos foram aqueles que realmente o conheceram! Quão poucos tiveram os olhos ungidos com colírio celestial para penetrarem e apreciarem o profundo mistério do Seu caráter! Quão poucos viram o "azul", a "púrpura", o "carmesim" e o "linho fino torcido"! Foi só quando a fé trouxe o homem à sua presença que Ele pôde consentir que o esplendor daquilo que Ele era brilhasse — deixou que a glória atravessasse a nuvem. Para a visão natural era como se houvesse uma reserva e severidade à Sua volta, que era justamente simboli­zada pelas "cortinas de pêlos de cabras". Tudo isto era o resultado da Sua profunda separação e apartamento, não dos pecadores pes­soalmente, mas dos pensamentos e máximas dos homens. Nada tinha em comum com o homem, nem estava dentro do âmbito da natureza humana compreendê-Lo. "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer"; e quando um daqueles que haviam sido trazidos confessou o Seu nome, disse-lhe que não fora a carne que lho revelara, "mas meu Pai que está nos céus" (compare Jo 6:44 e Mt 16:17). Ele era "como raiz de uma terra seca", sem "parecer" nem "formosura" para atrair a vista ou satisfazer o coração do homem. A corrente da opinião pública nunca poderia correr na direção d'Aquele que, passando rapidamente pelo palco deste mundo, ia envolto numa "cortina de pêlos de cabras". Jesus não foi popular. A multidão pôde segui-Lo por um momento, porque, para ela, o Seu ministério estava ligado com "os pães e os peixes", que respondiam à sua necessidade; mas estava igualmente tão pronta a clamar: "Tira, tira, crucifica-o" como a exclamar "Hosana ao Filho de Davi!"(Mt 21:9). Que os cristãos, os servos de Cristo, os pregadores do evangelho se lembrem disto! Quetodosnós ecadaumem particular se lembre sempre das "cobertas de pêlos de cabras".

A Cortina de Peles de Carneiros Tintas de Vermelho

Porém se as peles de cabras representavam o rigor da separação de Cristo do mundo, as "peles de carneiro, tintas de vermelho, representam a Sua consagração e afeto a Deus, mantidos mesmo até à morte. Ele foi o único servo perfeito que trabalhou na vinha de Deus. Teve um só fim, que prosseguiu com firme propósito desde a manj edoura até à cruz, e este foi glorificar o Pai e consumar a Sua obra. "Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai1?-" Era a linguagem da Sua mocidade e o cumprimento desses "negó­cios" era o fim da Sua vida. A Sua comida era fazer a vontade d'Aquele que o tinha enviado e cumprir a Sua obra (Jo 4:34). As "peles de carneiro tintas de vermelho" formam uma parte tão distinta do Seu hábito normal como os "pêlos de cabras". A sua devoção por Deus separava-O dos hábitos dos homens.

A Cortina de Peles de Texugo

"As peles de texugo" parece indicarem a santa vigilância com que o Senhor Jesus estava em guarda contra a aproximação de tudo que era hostil ao fim que absorvia toda a Sua alma. Ele tomou a Sua posição ao lado de Deus e manteve-a com uma persistência que nenhuma influência dos homens ou demónios, da terra ou do inferno, pôde j amais vencer. A coberta de peles de texugo estava por "cima" (versículo 14), ensinando-nos que o aspecto proeminente do caráter do "Homem Cristo Jesus" era a determinação de ser uma testemunha de Deus na terra. Foi o verdadeiro Nabote, que preferiu dar a Sua vida a renunciar à verdade de Deus, ou abandonar aquilo para que havia tomado o Seu lugar neste mundo.
A cabra, o carneiro e o texugo devem ser considerados como representando certos aspectos naturais e simbolizando também certas qualidades morais, e devem tomar-se em conta na sua aplicação ao caráter de Cristo. A vista humana só podia distinguir o aspecto natural, porém não podia ver nada da graça moral, beleza e dignidade que se ocultavam debaixo da forma exterior do desprezado e humilde Jesus de Nazaré. Quando os tesouros de sabedoria divina fluíam dos Seus lábios, a interrogação daqueles que O ouviam era esta: "Não é este o carpinteirou" (Mc 6:3). "Como sabe este letras, não as tendo aprendido"?-" (Jo 7:15). Quando declarava que era o Filho de Deus e afirmava a Sua divindade eterna, respondiam-lhe: "Ainda não tens cinquenta anos", ou pegavam "em pedras para lhe atirar" (Jo 8:57- 59). Em suma, a confissão dos fariseus, "este não sabemos donde é" (Jo 9:29) era verdadeira.
Seria completamente impossível, num volume como este, se­guir o desenrolar dos aspectos preciosos do caráter de Cristo, que nos mostra o relato do evangelho. Dissemos o bastante para abrir ao leitor um manancial de meditação espiritual e dar uma ideia dos tesouros preciosos que estão envolto nas cortinas e cobertas do tabernáculo. O mistério de Cristo, motivos secretos de ação e suas perfeições inerentes — a Sua aparência exterior desprovida de atrativos —, aquilo que Ele era em Si Mesmo, o que era para Deus, e o que era para os homens, o que era segundo o juízo da fé e no parecer da natureza, tudo isto estava agradavelmente relatado aos ouvidos circuncidados pelas cortinas de azul, púrpura, carmesim e linho fino torcido, bem como na cobertura de peles.

As Tábuas e suas Bases de Prata

"As tábuas para o tabernáculo" (versículo 15) eram feitas da mesma madeira que era usada na "arca do concerto". Demais, debaixo das tábuas havia bases de prata proveniente do resgate—os "colche­tes" e as "molduras" eram igualmente de prata (compare-se atenta-mente o capítulo 30:ll a l6 com o capítulo 38:25a28). O vigamento da tenda do tabernáculo descansava todo sobre bases daquilo que indicava a expiação ou o resgate da alma; enquanto que os "colchetes" e as "molduras" da parte superior reproduziam o mesmo pensamen­to. As bases de prata estavam metidas na areia e os colchetes e as molduras estavam em cima. Qualquer que seja a profundidade a que penetrarmos ou a altura que alcançarmos acharemos esta verdade gloriosa e eterna brasonada: "JÁ ACHEI RESGATE" Qó 33:24). Bendito seja Deus, não somos resgatados "com coisas corruptíveis, como prata ou ouro,.. .mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado" (IPe 1:19).


Os Véus que Fecharam as Entradas

O tabernáculo estava dividido em três partes distintas: "O lugar santíssimo", "o santuário" e "o pátio do tabernáculo". A entrada para cada uma destas partes era feita dos mesmos materiais, "azul, púrpura, carmesim e linho fino torcido" (compare-se o capítulo 26:31 e 36 com 27:16). A sua interpretação é simples: Cristo é a única porta de entrada aos vários campos de glória que hão de ser ainda revelados, quer seja na terra, no céu ou no céu dos céus.
"Toda a família nos céus e na terra" (Ef 3:15) será posta sob a Sua autoridade e introduzida na felicidade e glória eternas, em virtude da expiação que Ele fez. Isto é bem claro e não exige esforço de imaginação para ser compreendido. Sabemos que é verdadeiro, e quando conhecemos a verdade que é simbolizada, o símbolo é facilmente compreendido. Se os nossos corações estivessem cheios de Cristo, não nos perderemos na nossa inter­pretação do tabernáculo e seus acessórios. Não é de um intelecto cheio de criticismo que precisamos neste estudo, mas de um coração cheio de amor porjesus e uma consciência em paz pelo sangue da cruz.
Que o Espírito Santo nos prepare para o estudo destas coisas com um maior interesse e inteligência! Que Ele abra os nossos olhos para que contemplemos as maravilhas da lei.




— CAPÍTULO 27 —

O ALTAR DE COBRE
E O ÁTRIO






O Altar de Incenso não Mencionado

Deparamos agora com o altar de cobre que estava à porta do tabernáculo, e quero chamar a atenção do leitor para a ordem seguida pelo Espírito Santo nesta parte do livro. Já fizemos notar que a passagem compreendida entre o capítulo 25 e o versículo 19 do capítulo 27 forma uma parte distinta, que nos dá uma descrição da arca e do propiciatório, da mesa e do castiçal, das cortinas e do véu, e, por fim, do altar de cobre edopátioemque estava esse altar colocado. Lendo os versículos 15 do capítulo 35, 25 do capítulo 37 e 26 do capítulo 40, vemos que o altar do incenso está mencionado entre o castiçal e o altar de cobre. Ao passo que, quandoo Senhor dá instruções a Moisés, o altar de cobre é introduzido imediatamente depois do castiçal e das cortinas do tabernáculo. Ora, visto que deve haver uma razão divina para esta diferença, é privilégio de todo o estudioso inteligente e aplicado da Palavra de Deus indagar qual era essa razão.
Qual é a razão, portanto, por que o Senhor, quando dá instrução quanto aos adornos do "santuário", omite oaltarde incensoepassa ao altar de cobre que estava à porta do tabernáculo*?- A razão, presumo, é simplesmente esta: descreve primeiro a maneira em que há de manif estar-Se ao homem, e depois indica a forma de o homem se aproximar de Si. Tomou o Seu lugar no trono; como o "Senhor de toda a terra" (Js 3:11 e 13): os raios da Sua glória estavam ocultos atrás do véu—figura da carne de Cristo (Hb 10:20); porém, fora do véu, estava a manifestação de Si Mesmo, em ligação com o homem, na "mesa pura", e, pela luz e poder do Espírito Santo, representados no castiçal. Depois vem o caráter de Cristo como homem aqui na terra, representado nas cortinas e nas cobertas do tabernáculo. E finalmente temos o altar de cobre como a grande exibição do lugar de encontro entre o Deus santo e o pecador. Isto leva-nos, com efeito, à extremidade, de onde voltamos, na companhia de Arão e seus filhos, ao santuário, o lugar normal dos sacerdotes, onde estava o altar do incenso. Desta forma a ordem é notavelmente formosa. Do altar de ouro, não se faz menção antes que haja sacerdote para queimar incenso sobre ele, porque o Senhor mostrou a Moisés o modelo das coisas nos céus segundo a ordem em que estas coisas devem ser atendidas pela fé. Por outra parte, quando Moisés dá instruções às consagrações (capítulo 35), quando dá conta dos trabalhos de Bezaleel e Aoliabe (capítulos 37 e 38), e quando levanta o tabernáculo (capítulo 40), segue simplesmente a ordem em que os utensílios estavam colocados.


O Altar de Cobre

O prosseguimento deste estudo tão interessante, e o confronto das passagens acima mencionadas, recompensarão amplamente o leitor. Passemos agora ao altar de cobre.
Este altar era o lugar onde o pecador se aproximava de Deus, pelo poder e em virtude do sangue da expiação. Estava colocado à porta do tabernáculo da "tenda da congregação", e sobre ele era derramado todo o sangue dos sacrifícios. Era construído de "madeira de cetim e cobre". A madeira era a mesma do altar de ouro do incenso, mas o metal era diferente, e a razão desta diferença é obvia. O altar de bronze era o lugar onde o pecado era tratado segundo o juízo divino. O altar de ouro era o lugar onde o perfume precioso da aceitabilidade de Cristo subia para o trono de Deus. A "madeira de cetim", como figura da humanidade de Cristo, era a mesma num caso e no outro; porém no altar de cobre vemos Cristo sob o fogo da justiça divina; no altar de ouro vemos como Ele satisfaz os afetos divinos. No primeiro, o fogo da ira divina foi apagado, no último, o fogo do culto sacerdotal é aceso. A alma deleita-se de encontrar Cristo tanto num como no outro; porém o altar de cobre é o único que responde às necessidades de uma consciência culpada, como a primeira coisa para um pobre pecador desamparado, necessitado e convicto. Não é possível haver paz sólida, quanto à questão do pecado, enquanto o olhar da fé não descansar em Cristo como o antítipo do altar de cobre. É necessário que eu veja o meu pecado reduzido a cinzas na fornalha desse altar, antes de poder gozar de paz de consciência na presença de Deus. É quando sei, pela fé no testemunho de Deus, que Ele Próprio tratou do meu pecado na Pessoa de Cristo, no altar de cobre—que deu satisfação a todas as Suas justas exigências —, que tirou o meu pecado da Sua santa presença, de modo que nunca mais pode voltar, que posso gozar paz divina e eterna — e não antes.


O Ouro e o Cobre

Quero fazer aqui uma observação sobre o significado do "ouro" e do "cobre" nos utensílios do tabernáculo. O "ouro" é símbolo da justiça divina, ou da natureza divina no "Homem Jesus Cristo". "Cobre" é o símbolo da justiça, pedindo o julgamento do pecado, como no altar de cobre; ou o julgamento da impureza, como na pia de cobre. Isto explica a razão por que dentro da tenda do tabernáculo tudo era ouro — a arca, o propiciatório, a mesa, o castiçal e o altar do incenso. Todas estas coisas eram os símbolos da natureza divina e da excelência pessoal inerente do Senhor Jesus Cristo. Por outro lado, fora da tenda do tabernáculo tudo era cobre—o altar de cobre e os seus utensílios, a pia e a sua base.
É preciso que as exigências da justiça, quanto ao pecado e à impureza, sejam divinamente satisfeitas antes que possa haver alguma alegria pelos preciosos mistérios da Pessoa de Cristo, tais como nos são revelados no interior do santuário de Deus. É quando posso ver todo o pecado e impureza perfeitamente julgados e lavados que posso, como sacerdote, aproximar-me e adorar no santuário, e gozar a plena manifestação da formosura e perfeição do Deus Homem, Cristo Jesus.
O leitor poderá, com muito proveito, prosseguir com a aplicação deste pensamento em pormenor, não apenas no estudo do tabernáculo e o templo, mas também em várias passagens da Palavra de Deus; por exemplo, no capítulo 1 de Apocalipse Cristo aparece "cingido pelos peitos com um cinto de ouro" e tendo os Seus "pés semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha". O "cinto de ouro" é o símbolo da Sua justiça intrínseca. Os pés semelhantes a latão reluzente" são a expressão do juízo inflexível sobre o mal- o Senhor não pode tolerar o mal, antes pelo contrário, tem de esmagá-lo debaixo dos Seus pés.
Tal é o Cristo com Quem temos de tratar. Julga o pecado, mas salva o pecador. A fé vê o pecado reduzido a cinzas no altar de cobre; vê toda a impureza lavada na pia de cobre; e, finalmente, goza de Cristo, tal como é revelado, no secreto da presença divina, pela luz e poder do Espírito Santo. A fé acha-O no altar de ouro, em todo o valor da Sua intercessão. Alimenta-se d'Ele à mesa pura. Reconhece-O na arca e no propiciatório como Aquele que responde a todas as exigên­cias da justiça divina, e, ao mesmo tempo, satisfaz todas as necessi­dades humanas. Contempla-O no véu, como todas as figuras místi­cas. Vê escrito o Seu nome precioso em todas as coisas. Oh, que os nossos corações estejam sempre prontos a apreciar e louvar este Cristo incomparável e glorioso!
Nada pode ser de tanta importância como o conhecimento claro da doutrina do altar de cobre; quero dizer, como é ensinada por meio dele. E devido à falta de clareza sobre este ponto que muitas almas se lamentam toda a vida. A questão da sua culpa nunca foi clara e completamente liquidada no altar de cobre. Nunca chegaram a realizar pela fé que o Próprio Deus liquidou para sempre, na cruz, a questão dos seus pecados. Buscam paz para as suas consciências atribuladas na regeneração e a sua evidência—os frutos do Espírito, a sua disposição, sentimentos e experiência —, coisas muito boas e valiosas em si, mas que não formam o fundamento da paz. E o conhecimento daquilo que Deus tem feito no altar de cobre que enche a alma de paz. As cinzas no altar contam-me a história que TUDO ESTÁ CUMPRIDO. Os pecados do crente foram todos tirados pela própria mão do amor redentor. "Aquele que não conhe­ceu pecado, o fez pecado por nós, para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co5:21).Todoopecadodeve ser julgado, porém os pecados do crente já foram julgados na cruz; por isso ele está perfeitamente justificado. Supor que pode existir qualquer coisa contra o crente, mesmo o mais fraco, é negar toda a obra da cruz. Os pecados e as iniquidades do crente foram todos tirados pelo Próprio Deus, e portanto foram perfeitamente quitados. Desapareceram com a vida que o Cordeiro de Deus derramou na morte.
Certifique-se o leitor de que o seu coração está inteiramente fundado na paz que Jesus fez pelo sangue da sua cruz.



— CAPÍTULO 28 —

AS VESTES
DOS SACERDOTES


Estes capítulos mostram-nos o Sacerdócio em todo o seu valor e eficácia, e estão cheios de interesse. A própria palavra "sacerdó­cio" desperta no coração um sentimento da mais profunda grati­dão pela graça que não só nos abriu um caminho para entrarmos na presença de Deus, como nos deu o necessário para ali nos mantermos, segundo o caráter e as exigências dessa posição eleva­da e santa.


O Sacerdócio de Arão

O sacerdócio de Arão era um dom de Deus por um povo que, por natureza própria, estava distante e necessitava de alguém que aparecesse em seu nome continuamente na Sua presença. O capítulo 7 da epístola aos Hebreus ensina-nos que a ordem do sacerdócio estava ligada com a lei, que fora estabelecida segundo "a lei do mandamento carnal" (versículo 16) e que fora impedida de permanecer pela morte (versículo 23) e que os sacerdotes dessa ordem estavam sujeitos às fraquezas humanas. Portanto, esta ordem não podia dar perfeição, e por isso devemos bendizer a Deus por não ter sido instituída com "juramento". O juramen­to de Deus só podia fazer-se em ligação com aquilo que devia durar eternamente, e isto era o sacerdócio perfeito, imortal, e intransmissível do nosso grande e glorioso Melquizedeque, que dá ao Seu sacrifício e ao Seu sacerdócio todo o valor, e a dignidade e glória da Sua incomparável Pessoa. O simples pensamento de que temos um tal sacrifício e um tal Sacerdote faz com que o coração palpite com as mais vivas emoções de gratidão.


O Éfode e as Pedras Preciosas

Mas devemos prosseguir com o exame dos capítulos que ainda temos à nossa frente. Em capítulo 28 temos as vestes sacerdotais, e em capítulo 29 trata-se dos sacrifícios. Aquelas estão mais em ligação com as necessidades do povo, enquanto que estes se relacionam com os direitos de Deus. As vestes representam as diversas funções e atributos do cargo sacerdotal. O "éfode" era o manto sacerdotal, e estando inseparavelmente ligado às umbreiras e ao peitoral, ensina-nos, clara­mente, que a força dos ombros do sacerdote e o afeto do seu coração estavam inteiramente consagrados aos interesses daqueles que repre­sentava, e a favor dos quais levava o éfode. Estas coisas, que eram simbolizadas em Arão, são realizadas em Cristo. O Seu poder onipo-tente e amor infinito pertencem-nos eternamente e incontestavel­mente. Os ombros que sustém o universo protegem até o mais fraco e obscuro membro da congregação redimida a preço de sangue. O coração de Jesus bate com afeto imorredouro até mesmo pelo membro menos considerado da assembleia redimida.
Os nomes das doze tribos, gravados sobre pedras preciosas, eram levados tanto sobre os ombros como sobre o peito do sumo sacerdote (vide versículos 9al2,15a29).A excelência peculiar de uma pedra preciosa consiste no fato que quanto mais intensa é a luz que sobre ela incide, tanto maior é o seu brilho esplendente. A luz nunca pode obscurecer uma pedra preciosa; apenas aumenta e desenvolve o seu brilho. As doze tribos, tanto uma como outra, a maior como a menor, eram levadas continuamente à presença do Senhor sobre o peito e os ombros de Arão. Eram todas, e cada uma em particular, mantidas na presença divina em todo este resplendor perfeito da formosura inalterável que era próprio da posição em que a graça perfeita do Deus de Israel as havia colocado. O povo era represen­tado diante de Deus pelo sumo sacerdote. Quaisquer que fossem as suas fraquezas, os seus erros, ou faltas, os seus nomes resplandeciam sobre o "peitoral" com imarcescível esplendor. O Senhor havia-lhes dado esse lugar, e quem poderia arrancá-los dali1?- Jeová tinha-os posto assim, e quem podia pô-los de outra formai Quem teria podido penetrar no santuário para arrebatar de sobre o coração de Arão o nome de uma das tribos de Israel? Quem teria podido manchar o brilho que rodeava esses nomes no lugar onde Deus os havia colocado? Ninguém. Estavam fora do alcance de todo o inimigo — longe da influência de todo o mal.
Quão animador é para os filhos deDeus,quesão provados, tentados, zurzidos e humilhados, pensar que Deus os vê sobre o coração de Jesus! Perante os Seus olhos, eles brilham sempre em todo o fulgor de Cristo, revestidos de toda agraça divina. O mundo não pode vê-los assim; mas Deus vê-os desta maneira, enistoestátodaa diferença. Os homens, ao considerarem os filhos de Deus, vêem apenas as suas imperfeições e defeitos, porque são incapazes de ver qualquer coisa mais; de sorte que o seu juízo é sempre falso e parcial. Não podem ver as jóias brilhantes com os nomes dos remidos gravados pela mão do amor imutável de Deus. É certo que os cristãos deveriam ser cuidadosos em não dar ocasião a que os homens do mundo falem injuriosamente; deviam procurar, fazendo bem, tapar a boca à ignorância dos homens maus (lPe2:15). Seao menos compreendessem, pelo poder do Espírito Santo, a graça em que brilham sem cessar, aos olhos de Deus, realizariam certamente as características de uma vida de santidade prática, pureza moral e engrandecimento perante os olhos dos homens. Quanto mais compreendermos, pela fé, a verdade objetiva, ou tudo o que somos em Cristo, tanto mais profunda, prática e real será a obra subjetiva em nós, e maior será a manifestação do efeito moral na nossa vida e caráter.
Mas, graças aDeus, não temos que ser julgados pelos homens, mas por Ele Próprio: e misericordiosamente mostra-nos o nosso sumo sacerdote levando o nosso juízo sobre o seu coração diante do Senhor continuamente (versículo 30). Esta segurança dá paz profunda e sólida ao coração—uma pazque nada pode abalar. Podemos ter de confessar elamentar as nossas faltasedefeitosconstantes;anossa vista pode estar, por vezes, obscurecida de tal maneira por lágrimas de um verdadeiro arrependimento que não possa ver o brilho das pedras preciosas com os nossos nomes gravados, e todavia eles estãonelas. Deus os vê, e isto é suficiente. É glorificado pelo seu brilho; brilho que não é conseguido por nós, mas com que Ele nos dotou. Nada tínhamos senão trevas, tristeza, e deformidades; mas Deus deu-nos brilho, pureza e beleza. A Ele seja dado o louvor pelos séculos dos séculos!


O Cinto

O "cinto" é o símbolo bem conhecido do serviço; e Cristo é o Servo perfeito—o Servo dos desígnios divinos e das necessidades profundas e variadas do Seu povo. Com espírito de sincera dedicação, que nada podia impedir, Ele cingiu-se para a Sua obra; e quando a fé vê assim o Filho de Deus cingido julga, certamente, que nenhuma dificuldade é grande demais para Si. No símbolo que temos perante nós vemos que todas as virtudes, méritos, e glórias de Cristo, na Sua natureza divina e humana, entram plenamente no Seu caráter de servo. "E o cinto de obra esmerada, do seu éfode, que estará sobre ele, será da mesma obra, da mesma obra de ouro, e de pano azul e de púrpura, e de camesim e de linho fino torcido" (versículo 8). A fé disto deve satisfazer todas as necessidades da alma e os mais ardentes desejos do coração. Não vemos Cristo apenas como a vítima imolada no altar, mas também como o cingido Sumo Sacerdote sobre a casa de Deus. Bem pode, pois, o apóstolo inspirado dizer, "cheguemo-nos,... retenha­mos... consideremo-nos uns aos outros" (Hb 10:19-24).





O Peitoral de Juízo. O Urim e o Tumim


"Também porás no peitoral do juízo Urim e Tumim", (luzes e perfeições) "para que estejam sobreocoraçãodeArão,quandoentrar diante do Senhor; assim, Arão levará o juízo dos filhos de Israel sobre o seu coração, diante do Senhor, continuamente" (versículo 30). Aprendemos em várias passagens da Escritura que o Urim estava relacionado com a comunicação da mente de Deus, quanto às diferen­tes questões que se levantavam nos pormenores da história de Israel. Assim, por exemplo, na nomeação de Josué, lemos; "E se porá perante Eleazar, o sacerdote, o qual por ele consultará, segundo o juízo de Urim, perante o Senhor" (Num. 27:21). "E de Levi disse: Teu Tumim e teu Urim (as tuas perfeições e luzes) são para o teu amado... ensinaram os teus juízos a Jacó e a tua lei a Israel" (Dt 33:8 -10). "E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor lhe não respondeu, nem por sonhos, nem porUrim, nem por profetas" (1 Sm 28:6). "E otirsata lhes disse que não comessem das coisas sagradas, até que houvesse sacerdote com
Urim e com Tumim"(Ed 2:63). Vemos assim que o sumo sacerdote não só levava o juízo da congregação perante o Senhor, como comu­nicava tambémo juízo do Senhor àcongregação—solenes, importan­tes, e preciosas funções! É o que temos, com perfeição divina, no nosso "grande sumo sacerdote, ...que penetrou nos céus" (Hb 4:14). Leva continuamente o j uízo do Seu povo sobre o coração, e, por intermédio do Espírito Santo, comunica-nos o conselho de Deus a respeito dos pormenores mais insignificantes da nossa vida diária. Não temos necessidade de sonhos ou visões: se andarmos em Espírito, desfrutare­mos toda a certeza que pode conceder o perfeito "Urim" sobre o coração do nosso Sumo Sacerdote.


O Manto do Éfode

"Também farás o manto do éfode todo de pano azul... e nas suas bordas farás romãs de pano azul, de púrpura e de carmesim, ao redor das suas bordas; e campainhas de ouro no meio delas, ao redor. Uma campainha de ouro e uma romã, outra campainha de ouro e outra romã haverá nas bordas do manto ao redor, e estará sobre Arão, quando ministrar, para que se ouça o seu sonido, quando entrar no satuário diante do Senhora quando sair, para que não morra" (versículos 31 a35).
O manto azul do "éfode" exprime o caráter celestial do nosso Sumo Sacerdote, que penetrou nos céus, para além do alcance da visão humana; porém, pelo poder do Espírito Santo, há um testemunho da verdade de estar vivo na presença de Deus; e não apenas um testemu­nho, mas fruto também. "Uma compainha de ouro e uma romã, outra campainha de ouroe outra romã". Tal é a ordem cheia de beleza. O verdadeiro testemunho da grande verdade que Jesus vive sempre para interceder por nós estará sempre ligado com fertilidade no Seu serviço. Oh, se ao menos pudéssemos compreender mais profunda­mente estes mistérios preciosos e santos! (¹).
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(¹) É desnecessário advertir que existe uma propriedade divina e significativa em todas as figuras que nos são apresentadas na Palavra de Deus. Assim, por exemplo, a "romã", quando aberta verifica-se que consiste de um número de sementes contidas num líquido vermelho. Certamente, isto fala por si. Que a espiritualidade, e não a imaginação, faça o seu juízo.


A Lâmina de Ouro

"Também farás uma lâmina de ouro puro e nela gravarás, à maneira degravuras de selos.- SANTIDADEAO SENHOR. E atá-la-ás comum cordão de fio azul, de maneira que esteja na mitra; sobre a frente da mitra estará. E estará sobre a testa de Arão, para que Arão leve a iniquidade das coisas santas, que os filhos de Israel santificarem em todas as ofertas de suas coisas santas; e estará continuamente na sua testa, para que tenham aceitação perante o Senhor" (versículos 36 a 38). Eis aqui uma verdade importante para a alma. A lâmina de ouro sobre a testa de Arão era figura da santidade do Senhor Jesus Cristo: "e estará CONTINUAMENTE NA SUA testa, para que TENHAM aceitação perante o Senhor". Que descanso para o cora­ção por entre as flutuações da nossa experiência! O nosso Sumo Sacerdote está sempre na presença de Deus por nós. Somos represen­tados pore aceites n'Ele. A Sua santidade pertence-nos. Quanto mais profundamente conhecermos a nossa própria vileza e fraquezas, tanto mais experimentaremos a verdade humilhante que em nós não habita bem algum, e mais fervorosamente bendiremos o Deus de toda a graça por esta verdade consoladora: "estará continuamen­te na sua testa, para que tenham aceitação perante o Senhor".
Se o leitor for um daqueles que são frequentemente tentados e sobrecarregados com dúvidas e temores, com altos e baixos no seu estado espiritual, com tendências a contemplar o seu pobre coração, frio, inconstante e rebelde—se for tentado com incerteza excessiva e falta de santidade —, deve apoiar-se de todo o coração sobre esta verdade preciosa: que o seu Sumo Sacerdote representa-o diante do trono de Deus. Deve fixar os seus olhos na lâmina de ouro e ler, na inscrição gravada nela, a medida da sua aceitação eterna perante Deus. Que o Espírito Santo o ajude a provar a doçura peculiar e o poder mantenedor desta doutrina divina e celestial!


As Vestes dos Filhos de Arão

"Também farás túnicas aos filhos de Arão, e f ar-Ihes-ás cintos; também lhes farás tiaras, para glória e ornamento... faze-lhes também calções de linho, para cobrirem a carne nua... e estarão sobre Arão e sobre seus filhos, quando entrarem na tenda da congregação ou quando chegarem ao altar para ministrar no san­tuário, para que não levem iniquidade e morram." Aqui, Arão e seus filhos representam em figura Cristo e a Igreja—são a expressão das qualidades intrínsecas, essenciais, pessoais e ternas de Cristo; en­quanto que as "túnicas" e "tiaras" dos filhos de Arão representam aquelas graças de que está revestida a Igreja, em virtude da sua ligação com a Cabeça da família sacerdotal.
Podemos ver assim em tudo que acaba de passar perante os nossos olhos, neste capítulo, o cuidado misericordioso com que Jeová fez provisão para as necessidades do Seu povo, permitindo que eles vissem aquele que estava prestes a atuar a seu favor e a representá-nos na Sua presença vestido como os vestidos que correspondiam diretamente à condição do povo, tal qual Ele os conhecia. Nada que o coração pudesse desejar ou de pudesse ter necessidade foiesquecido. Podiam contemplar Arão dos pés à cabeça e ver que tudo estava completo. Desde a mitra santa na cabeça de Arão às companhias de ouro e romãs que bordavam o seu manto, tudo era como devia estar, porque tudo estava conforme o modelo que fora mostrado no monte —tudo era segundo o cálculo que o Senhor fazia das necessidades do Seu povo e das Suas próprias exigências.


Fios de Ouro Entretecidos

Mas existe ainda um ponto relacionado com as vestes de Arão que requer a atenção do leitor: e este é a forma como o ouro é introduzido na sua confecção. Este assunto acha-se no capítulo 39; contudo a sua interpretação cabe muito bem aqui. "E estenderam as lâminas de ouro, e as cortaram em fios, para entretecer entre o pano azul, e entre a púrpura, e entre o carmesim, e entre o linho fino da obra mais esmerada" (capítulo 39:3). Já fizemos notar que o "azul, a púrpura, o carmesim e o linho fino torcido" apresentam as várias fazes da humanidade de Cristo, e que o ouro representa a Sua natureza divina. Os fios de ouro estavam curiosamente introduzi­dos nos demais materiais, de modo a estarem inseparavelmente unidos, e todavia perfeitamente distintas deles. A aplicação desta admirável imagem ao caráter do Senhor Jesus é cheia de interesse. Em diferentes cenas apresentadas nos relatos dos evangelhos, pode­mos discernir facilmente esta rara e formosa união da humanidade e divindade, e, ao mesmo tempo, a distinção misteriosa.
Por exemplo, considerai Cristo no mar da Galiléia, no meio da tempestade. Ele "estava dormindo sobre uma almofada" (Mc 4:38). Que preciosa demonstração da sua humanidade! Porém, num mo­mento eleva-Se da atitude de verdadeira humanidade à dignidade completa e majestade da divindade, e, como supremo Governador do universo, acalma a tempestade e impõe silêncio ao mar. Não se nota aqui nenhum esforço, nenhuma precipitação, nem preparação pré­via para este momento. Com perfeita naturalidade, Ele passa da condição de humanidade positiva à esfera essencial da divindade. O repouso daquela não é mais natural que a atividade desta. Ele está perfeitamente no Seu elemento tanto numa como na outra.
Vede-O ainda no caso dos cobradores do tributo, segundo Mateus, 17. Como "Deus Altíssimo, possuidor dos céus e da terra", estende a Sua mão sobre os tesouros do oceano, e diz, "são meus"; e, havendo declarado que o oceano é Seu, "pois Ele o fez" (SI 95:5), volta-Se e, numa demonstração de perfeita humanidade, associa-Se ao seu pobre servo, por meio dessas palavras tocantes, "toma-o e dá-o por mim e por ti". Palavras cheias de graça! Sobretudo quando as consideramos em ligação com o milagre tão expressivo da divindade d'Aquele que assim se ligava, em infinita condescendência, com um pobre verme.
Mas vede-O, mais uma vez, junto da sepultura de Lázaro 0o 11). Comove-Se e chora, e essa emoção e essas lágrimas provêm das profundidades de uma humanidade perfeita—desse coração perfei­tamente humano, que sentia, como nenhum outro coração podia sentir, o que era achar-se no meio da cena em que o pecado havia produzido tão terríveis frutos. Mas logo, como a Ressurreição e a Vida, como Aquele que segura em Suas mãos as chaves do inferno e da morte (Ap 1:18) clama: "Lázaro, sai para fora"; e à voz de poder de Jesus a morte e a sepultura abrem as suas portas e deixam sair o seu cativo.
O espírito do leitor poderá facilmente recordar outras cenas dos evangelhos que ilustram esta união dos fios de ouro com o "azul, a púrpura, o carmesim e o linho fino torcido"; quer dizer, da união da deidade com a humanidade, na Pessoa misteriosa do Filho de Deus. Não há nada de novo neste pensamento, frequentemente assinalado por aqueles que têm estudado com algum cuidado as Escrituras do Velho Testamento.
Porém, é sempre proveitoso pensar no bendito Senhor Jesus como Aquele que é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. O Espírito Santo uniu estas duas naturezas por meio de uma obra delicada e apresenta-as ao espírito regenerado do crente para serem admiradas e desfrutadas por ele.
Consideremos, agora, antes de terminarmos esta parte do Livro do Êxodo, o capítulo 29.


— CAPÍTULO 29 —

A CONSAGRAÇÃO
DO SARCEDOTE


A Lavagem com Água

Já frisámos que Arão e seus filhos representam Cristo e a Igrej a, porém nos primeiros versículos deste capítulo é dado o primeiro lugar a Arão. "Então, farás chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os lavarás com água" (versículo 4). A lavagem da água tornava Arão simbolicamente aquilo que Cristo é intrinseca­mente, isto é: santo. A Igreja é santa em virtude de estar ligada a Cristo na vida de ressurreição. Ele é a definição perfeita daquilo que ela é perante Deus. O ato cerimonial da lavagem da água representa a ação da palavra de Deus (veja-se Ef 5:26).
"E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade" (Jo 17:19), disse o Senhor Jesus. Separou-Se para Deus no poder de uma perfeita obediência, orien-tando-Se em todas as coisas, como homem, pela Palavra, mediante o Espírito eterno, a fim de que todos aqueles que são d'Ele pudessem ser inteiramente separados pelo poder moral da verdade.


A Unção

"E tomarás o azeite da unção e o derramarás sobre a sua cabeça " (versículo 7). Nestas palavras temos o Espírito, mas é preciso notar que Arão foi ungido antes de o sangue ser derramado, porque nos é apresentado como figura de Cristo, que, em virtude daquilo que era em Sua Própria Pessoa, foi ungido com o Espírito Santo muito antes que fosse cumprida a obra da cruz. Em contrapartida, os filhos de Arão não foram ungidos senão depois de ser espargido o sangue, "degolarás o carneiro, e tomarás do seu sangue, e o porás sobre a ponta da orelha direita deArão,e sobre a ponta da orelha direita de seus filhos, como também sobre o dedo polegar da sua mão direita, e sobre o dedo polegar do seu pé direito: e o resto do sangue espalharás sobre o altar ao redor" (¹). "Então, tomarás do sangue que estará sobre os altar e do azeite da unção e o espargirás sobre Arão e sobre as suas vestes e sobre seus filhos, e sobre os as vestes de seus filhos com ele" (versículos 20 e 21). No que diz respeito à Igreja, o sangue da cruz é o fundamento de tudo. Ela não podia ser ungida com o Espírito Santo até que a sua Cabeça ressuscitada tivesse subido ao céu e depositado sobre o trono da Maj estade divina o relato do sacrifício que havia oferecido. "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai e promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis" (At 2:32-33); compa-rem-se também Jo 7:39; At 19:1 - 6). Desde os dias de Abel que haviam sido regeneradas almas pelo Espírito Santo e experimenta­do a Sua influência, sobre as quais operou e a quem qualificou para o serviço; porém a Igreja não podia ser ungida com o Espírito Santo até que o Seu Senhor tivesse entrado vitorioso no céu e recebesse para ela a promessa do Pai. A verdade desta doutrina é ensinada, da forma mais direta e completa, em todo o Novo Testamento; e a sua integridade estreita é mantida, em figura, no símbolo que temos perante nós, pelo fato claro que, embora Arão fosse ungido antes de o sangue haver sido derramado (versículo 7), contudo os seus filhos não o foram, e não podiam ser ungidos senão depois (versículo 21).
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(¹) O ouvido, as mãos e os pés são consagrados a Deus no poder da expiação efetuada e mediante a energia do Espírito Santo.


A Preeminência de Cristo

Porém, aprendemos alguma coisa mais com a ordem da unção neste capítulo, além da verdade importante acerca da obra do Espírito, e a posição que a Igreja ocupa. A preeminência do Filho é-nos também apresentada. "Amaste a justiça e aborreceste a inquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros" (SI 45:7; Hb 1:9). É preciso que o povo de Deus mantenha sempre esta verdade nas suas convicções e experiências. Por certo, a graça infinita de Deus é manifestada no fato maravilhoso que pecadores culpados e dignos do inferno sejam chamados companheiros do Filho de Deus; mas nunca devemos esquecer, nem por um momento, o vocábulo "mais". Por mais íntima que seja a união—e é tão íntima quanto os desígnios eternos do amor divino a podiam fazer—, é, contudo, necessário que Cristo tenha em tudo a preeminência" (Cl 1:18). Não podia ser de outra maneira. Ele é Cabeça sobre todas as coisas — Cabeça da Igreja, Cabeça sobre a criação, Cabeça sobre os anjos, o Senhor do universo. Não existe um só astro de todos os que se movem no espaço que não Lhe pertença e não se mova sob a Sua orientação. Não existe um verme sequer que se arrasta sobre a terra, que não esteja sob os Seus olhos incansáveis. Ele está acima de todas as coisas; é toda a criatura "o primogénito de entre os mortos" "o princípio da criação de Deus" (Cl l:15-18;Ap 1:5). "Toda a família nos céus ena terra" (Ef 3:15) deve alinhar, na classe divina, sob Cristo. Tudo isto será reconhe­cido com gratidão por todo o crente espiritual; sim, a sua própria articulação produz um estremecimento no coração do crente. Todos os que são guiados pelo Espírito regozijar-se-ão com cada nova manifestação das glórias pessoais do Filho; da mesma maneira que não poderão tolerar qualquer coisa que se levante contra elas. Que a Igreja se eleve às mais altas regiões e glória, será seu gozo ajoelhar aos pés d'Aquele que se baixou para a elevar, em virtude do Seu sacrifício, à união Consigo; o qual havendo plenamente correspondido a todas as exigências da justiça divina, pode satisfa­zer todos os afetos divinos, unindo-a em um Consigo Mesmo, em toda a aceitação infinita com o Pai, na Sua glória eterna: "Não se envergonha de lhes chamar irmãos" (Hb 2:11).
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Nota: Evitei propositadamente tocar no assunto das ofertas em capítulo 29 visto que teremos ocasião de considerar as diferentes classes de sacrifícios, por sua ordem, nos nossos estudos sobre o Livro de Levítico, se o Senhor permitir.


— CAPÍTULO 30 —

O CULTO, A COMUNHÃO
E A ADORAÇÃO


O Altar de Cobre e o Altar de Ouro

Instituído o sacerdócio, como vimos nos dois capítulos prece­dentes, somos introduzidos aqui na posição do verdadeiro culto e comunhão sacerdotal. A ordem é notável e instrutiva; e, além disso, corresponde exatamente com a ordem da experiência do crente. No altar de bronze, o crente vê as cinzas dos seus pecados; e vê-se imediatamente unido com Aquele que, embora pessoalmente puro e incontaminado, de forma que podia ser ungido sem sangue, tem-nos, contudo, associado Consigo na vida, em justiça e favor; e, por fim, o crente vê no altar de ouro a preciosidade de Cristo, como sendo a substância com a qual é alimentado o amor divino.
É sempre assim: é necessário que haja um altar de cobre e um sacerdote antes que possa haver um altar de ouro e incenso. Mui­tíssimos filhos de Deus nunca passaram do altar de cobre; nunca entraram, em espírito, no poder e realidade do verdadeiro culto sacerdotal. Não se regozijam no pleno e perfeito sentimento divino de perdão e justiça; nunca conseguiram chegar ao altar de ouro. Esperam alcançá-lo quando morrerem; ao passo que já têm o privilégio de estar ali agora. A obra da cruz tirou do caminho tudo que podia representar um obstáculo a um culto livre e inteligente. A posição atual de todos os crentes verdadeiros é junto do altar de ouro do incenso.
Este altar é figura de uma posição de maravilhosa bem-aventurança. Ê ali que desfrutamos a realidade e eficácia da intercessão de Cristo. Havendo acabado com o ego e tudo quanto lhe diz respeito, ainda que esperássemos algumbem dele, temos de estar ocupados com aquilo que Cristo é perante Deus. Nada encontraremos no ego senão corrupção; todas as suas manifestações são corrompidas; já foi condenado e posto de parte pelo juízo de Deus, e nem só um fio ou partícula dele se pode encontrar no incenso ou no fogo do altar de ouro puro. Isso seria impossível. Fomos introduzidos no santuário "pelo sangue de Jesus", santuário de serviço e culto sacerdotal, no qual não existe nem sequer um vestígio de pecado. Vemos a mesa pura, o castiçal puro e o altar puro; mas não existe nada que nos recorde o ego e a sua miséria. Se fosse possível que alguma coisa do ego se apresentasse à nossa vista, isso só serviria para destruir o nos so culto, contaminar o nosso alimento sacerdotal e ofuscara nossa luz. A natureza não pode ter lugar no santuário de Deus: foi consumida e reduzida a cinzas com tudo quanto lhe pertence; e agora as nossas almas são chamadas para gozar o bom cheiro de Cristo, subindo como perfume agradável a Deus: é nisto que Deus Se deleita. Tudo o que apresenta Cristo na Sua própria excelência é agradável a Deus. Até a mais débil expressão ou manifestação de Cristo, na vida ou adoração de um dos Seus santos, é cheiro agradável, no qual Deus acha o Seu prazer.
Enfim, temos muitíssimas vezes de estar ocupados com as nossas faltas e fraquezas. Se os efeitos do pecado, que habita em nós, se manifestam, temos de tratar com Deus acerca deles, pois o Senhor não pode concordar com o pecado. Pode perdoar o pecado e purif icar-nos; pode restaurar as nossas almas pelo ministério precioso do nosso grande Sumo Sacerdote; porém não pode associar-se a um simples pensa­mento pecaminoso. Um pensamento ligeiro ou louco bem como uma ideia impura ou cobiçosa, são o bastante para perturbar a comunhão do crente e interromper o seu culto. Se um tal pensa­mento se levanta, deve ser confessado e julgado antes de podermos desfrutar outra vez os gozos sublimes do santuário. Um coração em que opera a concupiscência não tem parte nas ocupações do santuário. Quando nos encontramos na nossa própria condição sacerdotal, a natureza é como se não tivesse existência; é então que nos podemos alimentar de Cristo. Podemos provar o prazer divino de estarmos inteiramente livres de nós próprios e completamente absorvidos por Cristo.
Mas tudo isto só pode ser produzido pelo poder do Espírito. É inútil procurar excitar os sentimentos naturais de devoção pelos diferentes instrumentos da religião sistemática. É necessário que haja fogo puro e incenso puro (comparem-se Lv 10:1 com 16:12). Todos os esforços para adorar a Deus por meio das faculdades profanas da natureza estão incluídos na caregoria de "fogo estra­nho". Deus é o verdadeiro objeto de adoração; Cristo é o f undamen-to e a substância de adoração; e o Espírito Santo é o seu poder.
Propriamente falando, portanto, assim o altar de cobre nos apre­senta Cristo no valor do Seu sacrifício, o altar de ouro mostra-nos Cristo no valor da Sua intercessão. Este fato dará ao leitor uma melhor compreensão do motivo por que a ocuapação sacerdotal é introduzida entre os dois altares. Existe, como podia esperar-se, uma relação íntima entre os dois altares, pois que a intercessão de Cristo está fundada sobre o Seu sacrifício.
"E uma vez no ano Arão fará expiação sobre as pontas do altar, com o sangue do sacrifício das expiações; uma vez no ano fará expiação sobre ele, pelas vossas gerações; santíssimo é ao Senhor" (versículo 10). Tudo repousa sobre o fundamento inabalável do SANGUE ESPARGIDO. "Quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas, as próprias coisas celestiais, com sacrifícios melhores do que estes. Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém, no mesmo céu, para agora comparecer, por nós, perante a face de Deus" (Hb 9:22-24).


O Meio Siclo de Resgate

Os versículos 11 a 16, inclusive, tratam do dinheiro das expiações para a congregação. Todos tinham de pagar da mesma maneira. "O rico não aumentará, e o pobre não diminuirá da metade do siclo, quando derem a oferta ao Senhor, para fazer expiação por vossas almas". Na questão doresgate todos são postos ao mesmo nível. Pode haver uma grande diferença em conhecimento, de experiência, de aptidão, de progresso, de zelo e de dedicação, porém o fundamento de expiação é igual para todos. O grande apóstolo dos gentios e o mais débil cordeiro do rebanho de Cristo estão no mesmo nível no que se refere à expiação. É uma verdade muito simples e feliz ao mesmo tempo. Nem todos podem ser igualmente fervorosos e abundar em frutos; porém o fundamento sólido e eterno do repouso do crente é "o precioso sangue de Cristo" (1 Pe 1:19), e não a dedicação ou abundância de frutos. Quanto mais compenetrados estivermos da verdade e poder destas coisas tanto mais frutos daremos.
Bendito seja Deus, sabemos que todos os Seus direitos foram cumpridos e os nossos votos satisfeitos por Aquele que era ao mesmo tempo o representante dos Seus direitos e o Expoente da Sua graça, o mesmo que consumou a obra de expiação sobre a cruz e está agora à destra de Deus. Nisto existe doce descanso para o coração e a consciência. Aexpiação é a primeira coisa que alcançamos, e nunca mais a perdemos de vista. Por muito extenso que se j a o curso da nossa inteligência, por muito rica que seja a nossa experiência, por muito elevado que seja o dom da nossa piedade, teremos sempre de nos retirar para a doutrina simples, divina, inalterável e fortalecedora doutrina do O SANGUE. Assim tem sido sempre na história do povo de Deus o assim é e assim será em todos os tempos. Os mais dotados e instruídos servos de Cristo têm regressado sempre com regozijo a "esta única fonte de delícias", na qual os seus espíritos sequiosos beberam quando conheceram o Senhor; e o cântico eterno da Igreja, na glória, será: "Aquele que nos ama e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados" (Apl:5). As cortes do céu ressoarão para sempre com a doutrina gloriosa do sangue.


A Pia de Cobre

Nos versículos 17 a 21 temos a "pia de cobre com a sua base" — o vaso da purificação e a sua base. Estas duas coisas são sempre mencionadas conjuntamente (veja-se capítulos 30:28; 38:8; 40:11). Era nesta pia que os sacerdotes lavavam as mãos e os pés, e desta forma mantinham aquela pureza que era essencial ao cumprimen­to das suas funções sacerdotais. Não significava, de modo nenhum, uma nova questão do sangue; mas simplesmente um ato mediante o qual se mantinham em aptidão para o serviço sacerdotal e o culto.
"E Arão e seus filhos nela lavarão as suas mãos e os seus pés. Quando entrarem na tenda da congregação, lavar-se-ão com água, para que não morram, ou quando se chegarem ao altar para minis­trar, para acender a oferta queimada ao Senhor" (versículo 20). Não pode haver verdadeira comunhão com Deus se a santidade pessoal não for diligentemente mantida. "Se dissermos que temos comu­nhão com ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade" (1 Jo 1:6). Esta santidade pessoal só pode proceder da ação da Palavra de Deus nas nossas obras e nos nossos caminhos:"... pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor" (Sl 17:4). O nosso enfraquecimento constante no ministério sacerdo­tal pode ser causa de negligenciarmos o uso conveniente da pia de cobre. Se os nossos caminhos não são submetidos à noção purifica­dora da Palavra de Deus — se continuarmos em busca ou na prática de alguma coisa que, segundo o testemunho da nossa própria consciência, é claramente condenada pela Palavra de Deus, o nosso caráter sacerdotal carecerá certamente de poder. A perseverança deliberada no mal e o verdadeiro culto sacerdotal são de todo incompatíveis. "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17:17). Se houver em nós impureza, não podemos gozar a presença de Deus. O efeito da Sua presença será então convencer-nos do mal pela luz santa da Sua Palavra. Porém, quando, mediante a graça, sabemos purificar os nossos caminhos, acautelando-nos segundo a Palavra de Deus, então estamos moralmente em estado de gozar a Sua presença.
O leitor perceberá imediatamente que se abre aqui um vasto campo de verdade prática e como a doutrina da pia de cobre é largamente apresentada no Novo Testamento. Oh! que todos aqueles que têm o privilégio de pôr os pés nos átrios do santuário com vestidos sacerdotais e de se aproximarem do altar de Deus, par exercer o sacerdócio, mantenham as mãos e os pés limpos pelo uso da verdadeira pia de cobre!
Talvez seja interessante notar que a pia de cobre com a Sua base era feita "dos espelhos das mulheres que se ajuntaram, ajuntando-se à porta da tenda da congregação" (capítulo 38:8). Este fato é cheio de significado. Estamos sempre prontos a ser como o homem que "contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era" (Tg 1:28). O espelho da natureza nunca poderá dar-nos uma vista clara e perma­nente da nossa verdadeira condição. "Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito" (Tg 1:25). Aquele que recorre continuamente à Palavra de Deus e a deixa falar ao seu coração e à sua consciência será mantido na atividade santa da vida divina.


Um Grande Sumo Sacerdote

A eficácia do ministério sacerdotal de Cristo está intimamente ligada com a ação penetrante e purificadora da Palavra de Deus. "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamen­tos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar." E o apóstolo inspirado acres­centa imediatamente; "Visto que temos um grande sumo sacerdo­te, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firme­mente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança, ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno" (Hb 4:12-16).
Quanto mais vivamente sentirmos o fio da palavra de Deus, tanto mais apreciaremos o ministério misericordioso e gracioso do nosso Sumo Sacerdote. Estasduas coisas andam juntas. São os companheiros inseparáveis da senda do cristão. O Sumo Sacerdote simpatiza com as fraquezas que a Palavra de Deus descobre e expõe: Ele é um Sumo
Sacerdote "fiel" e "misericordioso". Por isso, só nos podemos aproxi­mar do altar na medida em que fazemos uso da pia de cobre. O culto deve ser sempre oferecido no poder da santidade. E necessário perder­mos de vista a natureza, tal qual é refletida num espelho, e estarmos ocupados inteiramente com Cristo, conforme no-Lo apresenta a Palavra de Deus. É só desta forma que "as mãos e os pés", as obras e os nossos caminhos são purificados, segundo a purificação do santuário.


A Santa Unção

Os versículos 22 e 23 tratam "do azeite da santa unção", com a qual eram ungidos os sacerdotes com todos os utensílios do santuário.
Nesta unção discernimos uma figura das várias graças do Espírito Santo, as quais se acharam em Cristo em toda a sua plenitude divina. "Todos os teus vestidos cheiram a mira, a aloés e a cássia, desde os palácios de marfim de onde te alegram" (SI 45:8). "Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude" (At 10:38). Todas as graças do Espírito Santo, em sua perfeita fragrância, se concentraram em Cristo; e é somente d'Ele que podem emanar. Quanto à Sua humanidade, foi concebido do Espírito Santo; e, antes de entrar no Seu ministério público, foi ungido com o Espírito Santo; e, finalmente, havendo tomado o Seu lugar nas alturas, derramou sobre o Seu corpo, a Igreja, os dons preciosos do Espírito, em testemu­nho da redenção efetuada (veja-se Mt 1.20; 3:16-17; Lc 4:18-19; At 2:33; 10:45-46; Ef 4:8-13).
É como aqueles que estão associados com este bendito e eterna­mente glorificado Senhor que os crentes são feitos participantes dos dons e graças do Espírito Santo; e, além disso, é na medida em que andam em intimidade com Ele que gozam ou emitem a Sua fragrância.
O homem não regenerado não conhece estas coisas. "Não se ungirá com ele a carne do homem" (versículo 32). As graças do Espírito nunca poderão ser ligadas com a carne, porque o Espírito Santo não pode reconhecer a natureza. Nem um só dos frutos do Espírito foi jamais produzido no solo estéril da natureza. E neces­sário nascer de novo (Jo 3:7). E só como unidos com o novo homem, como sendo parte da nova criação, que podemos conhecer alguma coisa dos frutos do Espírito Santo.
É inútil procurar imitar esses frutos e virtudes. Os mais belos frutos que jamais cresceram no campo da natureza, no seu mais alto grau de cultivo — os traços mais amáveis que a natureza pode apresentar— devem ser inteiramente rejeitados no santuário de Deus. "Não se ungirá com ele a carne do homem, nem fareis outro semelhante conforme a sua composição: santo é,e será santo para vós. O homem que compuser tal perfume como este, ou que dele puser sobre um estranho, será extirpado dos seus povos". Não deve haver imitação da obra do Espírito: tudo tem que ser do Espírito: inteiramente e realmente do Espírito. Demais, aquilo que é do Espírito não deve ser atribuído ao homem:"... o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritu­almente" (1 Co 2:14).
Num dos cânticos dos degraus há uma alusão magnífica a este azeite da unção. "Oh! quão bom e quão suave é", diz o salmista, "que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes" (Sl 133:1- 2). Os próprios vestidos do chefe da casa sacerdo­tal, depois de ele haver sido ungido com o azeite da santa unção, devem mostrar os seus preciosos efeitos. Que oleitor possa experi­mentar o poder desta unção, e conhecer o que é ter "a unção do Santo" e ser selado com o Espírito Santo da promessa! (lJo2:20;Ef 1:13). Nada tem valor, segundo a apreciação de Deus, salvo aquilo que está ligado com Cristo, e tudo aquilo que estiver assim ligado com Ele pode receber a santa unção.


O Perfume bemTemperado, Puro e Santo

No último parágrafo deste capítulo, tão rico em ensinos, temos o "perfume temperado, santo e puro". Este perfume precioso apre-senta-hos as perfeições incomensuráveis e ilimitadas de Cristo. Não é prescrita a quantidade de cada ingrediente, porque as virtudes de Cristo, as belezas e perfeições que se acham concentradas na Sua adorável Pessoa, são ilimitadas. Só a mente infinita de Deus pode medir as perfeições infindas d'Aquele em quem habita a plenitude da Divindade; e durante o curso de toda a eternidade essas gloriosas perfeições continuarão a desenrolar-se à vista dos santos e anjos prostrados em adoração. De vez em quando, à medida que novos raios de luz emanam desse Sol de glória divina, os átrios do céu, nas alturas, e os vastos campos da criaçãoabaixo dos céus, ressoarão com vibrantes Aleluias Aquele que era, e que é e que sempre será o objeto de louvor de todas as classes de entes criados com inteligência.
Porém não só não era prescrita a quantidade dos ingredientes que entravam na composição do incenso, como é dito que de cada um será igual o peso. Cada aspecto de beleza moral achou em Jesus o seu lugar e a sua justa proporção. Nenhuma quantidade se interpunha ou se chocava com a outra; tudo era "temperado, puro e santo" e exalava um odor tão fragrante que ninguém senão Deus podia apreciá-lo.
"E dele, moendo, o pisarás, e dele porás diante doTestemunho, na tenda da congregação, onde eu virei a ti; coisa santíssima vos será". Existe um significado profundo e extraordinário na expressão "o pisarás". Ensina-nos que cada simples movimento na vida de Cristo, cada uma das mais pequenas circunstâncias, cada ação, cada palavra, cada olhar, cada gesto, cada rasgo, cada feição do Seu rosto, esparge um odor produzido por proporção igual—o peso de todas as virtudes que compunham o Seu caráter era igual. Quanto mais pisado era o perfume, tanto mais se manifestava a sua rara e esquisita composição.
"...O incenso que farás conforme a composição deste, não o fareis para vós mesmos; santo será para o Senhor. O homem que fizer tal como este para cheirar será extirpado do seu povo". Este perfume fragrante estava destinado exclusivamente para o Senhor. O seu lugar estava "diante do testemunho". Existe em Jesus alguma coisa que só Deus pode apreciar. De certo, todo o coração crente pode aproximar-se da Sua incomparável Pessoa e achar inteira satisfação para os seus mais ardentes e profundos desejos; contudo, depois de todos os remidos terem esgotado a medida da sua compreensão, depois de os anjos terem contemplado em êxtase as glórias imaculadas do homem Cristo Jesus, tão ardentemente quanto a sua visão lhes permite, existe n'Ele qualquer coisa que só Deus pode profundar e apreciar. Nenhuma visão humana ou angélica poderia jamais discernir devidamente cada partícula desse perfume primo­rosamente " pisados". A terra tampouco podia oferecer uma esfera própria à manifestação do seu divino e celestial poder.


Resumo

Assim, pois, chegámos, no nosso rápido estudo, ao fim de uma parte distinta do livro do Êxodo. Começamos pela "arca do concer­to" até que chegámos ao "altar do cobre"; retrocedemos do altar de cobre e chegámos à "santa unção"; e oh! que divagação esta, se tãb somente for feita à luz infalível do Espírito Santo, em vez da companhia vacilante da luz da imaginação humana!
Que divagação, contanto que seja feita não por entre as sombras de uma dispensação que acabou, mas no meio das glórias e das poderosas atrações do Filho de Deus, representadas por estas coisas! Se o leitor ainda não fez esta divagação, verá mais do que nunca o seu afeto atraído para Cristo se a fizer; terá uma maior concepção da Sua glória, da Sua beleza, da Sua excelência e do Seu poder para sanar a consciência e satisfazer o coração sedento; os seus olhos estarão fechados para as atrações do mundo e os ouvidos não prestarão atenção às pretensões e promessas da terra. Em suma, estará pronto a pronunciar o amém fervoroso às palavras do após­tolo (1 Co 16:22), quando disse: "SE ALGUÉM NÃO AMA AO SENHOR JESUS CRISTO SEJA ANÁTEMA; MARANATA" (¹).
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(¹) É interessante notar o lugar que ocupa este anátema aterrador. Acha-se no final de uma longa epístola, no decorrer da qual o apóstolo teve de reprimir alguns pecados dos mais grosseiros e vários erros de doutrina. Quão solene e significativo é, portanto, o fato de que quando anuncia o seu anátema não o lança contra aqueles que haviam introduzido esses erros e pecados, mas sim contra todo aquele que não ama ao Senhor Jesus Cristo. Por que é isto assim' É acaso porque o Espírito de Deus faz pouco caso dos erros ou pecados' Seguramente que não; toda a epístola nos revela os Seus pensamentos quanto a estes males. A verdade é que quando o coração está cheio de amor para com o Senhor Jesus Cristo, existe uma salvaguarda positiva contra toda a espécie de falsa doutrina e má conduta. Se alguém não ama a Cristo não se pode calcular quais as ideias que possa adoptar ou o caminho que possa seguir. Logo, a forma do anátema e o lugar que ocupa na epístola.