sexta-feira, 17 de julho de 2009

A ORIGEM E QUEDA DE SATANÁS



Na história do Universo nunca houve – nem haverá – traição maior. A criatura que representava a mais magnificente obra de seu Criador ressentiu-se de que sua glória era apenas emprestada, de que o papel que lhe estava destinado era o de tão somente refletir a infinita majestade do Deus que lhe deu o fôlego da vida. Dessa maneira, nasceu no coração de Lúcifer – e, em última análise, no recém-criado universo moral – o desprezível impulso da rebelião. Esse impulso originou a insurreição angélica que foi a mais terrível sedição na história em todos os tempos.
Uma questão preliminar
Por mais importante e original que tenha sido essa rebelião angélica, as Escrituras não incluem um registro específico do evento. No Antigo Testamento, Satanás aparece pela primeira vez no relato da queda de Adão (Gn 3). Ali, no entanto, ele já era o tentador caído que seduziu os primeiros seres humanos ao pecado. Dessa forma, já no início das Escrituras, a queda de Satanás é tratada como fato. Mas, por razões que não são esclarecidas em nenhum lugar, o próprio relato de sua queda está ausente nesse registro.
Ainda assim, o evento é lembrado duas vezes nos escritos dos profetas: por Isaías, em meio a uma inspirada diatribe contra a Babilônia (Is 14.11-23), e, mais tarde, por Ezequiel, quando ele repreende duramente o rei de Tiro (Ez 28.11-19). Essas duas passagens contam-nos a maior parte do que sabemos sobre a queda de Satanás.
Entretanto, aqui temos algumas dificuldades exegéticas. Em ambas as passagens, a menção da rebelião de Lúcifer aparece abruptamente num contexto que não trata, especificamente, de Satanás. Esse fato levou muitos estudiosos da Bíblia a rejeitar a idéia de que as passagens se referem a uma rebelião luciferiana e a insistir que elas focalizam exclusivamente os governantes humanos das nações pagãs às quais são dirigidas.
Apesar disso, é preferível entender que Isaías e Ezequiel propositalmente queriam levar os leitores para além dos crimes de reis humanos, guiando-os até a percepção do grande arquétipo do mal e da rebelião, o próprio Satanás. Essas passagens incluem descrições que, mesmo levando em conta a inclinação ao exagero por parte de governantes da Antiguidade, não poderiam ser atribuídas a qualquer ser humano. O emprego da primeira pessoa do singular (por exemplo: “Eu subirei...”; “exaltarei o meu trono...”; “me assentarei...”) em Isaías 14.13-14 refletiria um nível de ostentação indicativo de insanidade, caso fosse proferido por um mero ser humano, mesmo em se tratando de um dos monarcas pagãos babilônicos, que a si mesmos divinizavam. E qual rei de Tiro poderia ser descrito como “cheio de sabedoria e formosura... Perfeito... nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado...” (Ez 28.12,15)?
Além disso, a Bíblia ensina explicitamente que a perversidade do mundo visível é influenciada e animada por um domínio povoado por espíritos caídos, invisíveis (Dn 10.12-13; Ef 6.12), e que, em sua campanha traiçoeira e condenável de frustrar os propósitos do Deus verdadeiro, esses espíritos maus são dirigidos por Satanás, o “deus deste século” (2 Co 4.4).
Nos tempos primitivos da Terra após a queda, os rebeldes de Babel estavam determinados a construir “uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus” (Gn 11.4).
É característico dos escritores bíblicos fazer a conexão entre o mundo visível e o invisível, e isso de forma tão abrupta que pega o leitor momentaneamente desprevenido. Quando Pedro expressou seu horror ante o pensamento da morte de Jesus, o Senhor lhe respondeu “Arreda, Satanás!” (Mt 16.23; cf. 4.8-10). De forma semelhante, repentinamente e sem aviso, o profeta Daniel pula de uma descrição profética sobre Antíoco Epifânio (Dn 11.3-35) para uma descrição similar do Anticristo dos tempos do fim (Dn 11.36-45). Antíoco, governante selêucida no período intertestamentário, precede o vilão maior que conturbará a terra nos últimos dias. Um salto abrupto e não-anunciado do mundo político ganancioso, auto-engrandecedor, visível, para o drama arquetípico que se desenrola num mundo invisível aos seres humanos – mas que, apesar de não ser visto, deu origem às atitudes denunciadas nessas passagens –, tal salto não está fora de lugar nas Escrituras.
Finalmente, por trás das conexões feitas nessas duas passagens pode muito bem estar um tema que freqüentemente retorna nas Escrituras. Nos tempos primitivos da Terra após a queda, os rebeldes de Babel estavam determinados a construir “uma cidade e uma torre” (Gn 11.4). A cidade era um centro de atividade comercial, enquanto a torre representava o ponto focal do culto pagão. Essa dupla caracterização do cosmo como expressão de egoísmo (o espírito ganancioso do comercialismo não-santificado) e de rebelião (a busca por ídolos) ressoa ao longo de toda a Palavra de Deus, chegando a um clímax em Apocalipse 17-18, onde anjos que se mantiveram fiéis a Deus anunciam a tão esperada e muito merecida destruição da Babilônia religiosa e comercial.
É instrutivo notar que enquanto todo o trecho de Ezequiel 26-28 repreende severamente a Tiro – o mais importante centro de comércio e de riqueza nos dias desse profeta – Isaías 14 denuncia Babilônia, que representa o centro da falsa religião ao longo de toda a Escritura. Talvez essa caracterização do cosmo caído como “cidade e torre” – tão importante naquilo que a Escritura afirma em relação ao mundo em rebelião contra Deus – ajude a explicar o salto dado pelos profetas nas passagens que consideramos. Quando contemplavam a cultura de seu tempo, que incorporava perfeitamente um elemento do cosmo caído, cada um deles se sentiu compelido pelo Espírito superintendente de Deus a focalizar a rebelião angélica dos tempos primitivos, a qual animava a rebelião humana que estavam denunciando.
Dessa forma, essas duas críticas severas, que identificam os espíritos perversos de cobiça inescrupulosa e rebelião espiritual, ajudam a explicar por que tais espíritos predominam tantas vezes ao longo da história humana. Os textos referidos, ao mesmo tempo, também antecipam a destruição profeticamente narrada em Apocalipse 17 e 18.
A linhagem de Satanás
De Isaías 14 e Ezequiel 28 emerge um quadro relativamente extenso de Satanás antes de sua rebelião.
Lúcifer: essa palavra vem de uma raiz hebraica que significa “brilhar”, sendo usada unicamente como título para referir-se à estrela de maior brilho e cujo resplendor mais resiste ao nascimento do Sol.
Sua pessoa: Ele foi o ser mais exaltado de toda a criação (Ez 28.13,15), a mais grandiosa das obras de Deus, um ser celestial radiante, que refletia da maneira mais perfeita o esplendor de seu Criador. Assim, ele apropriadamente era chamado de Lúcifer. Essa palavra vem de uma raiz hebraica que significa “brilhar”, sendo usada unicamente como título para referir-se à estrela de maior brilho e cujo resplendor mais resiste ao nascimento do Sol. O nome Lúcifer tornou-se amplamente usado como título para Satanás antes de sua rebelião porque é o equivalente latino dessa palavra. Na realidade, é difícil saber com certeza se o termo foi empregado com o sentido de nome próprio ou de expressão descritiva.
Seu lugar: Ezequiel afirmou que esse anjo exaltado estava “no Éden, jardim de Deus” (Ez 28.13). Aqui, a referência não é ao Éden terreno que Satanás invadiu para tentar a humanidade, mas à sala do trono em que Deus habita em absoluta majestade e perfeita pureza (veja Is 6; Ez 1). Ezequiel 28 também chama esse lugar de “monte santo de Deus”, onde Lúcifer andava “no brilho das pedras” (v. 14). Essas descrições não são apropriadas ao Éden terreno, mas adequadas à sala do trono de Deus, conforme representações em outros lugares da Escritura.
Sua posição: Satanás é denominado “querubim da guarda ungido” (Ez 28.14). Querubins representam a mais alta graduação da autoridade angélica, sendo seu papel guardar simbolicamente o trono de Deus (compare os querubins esculpidos flanqueando a arca da aliança – o trono de Javé – no Tabernáculo ou Templo, Êx 25.18-22; Hb 9.5; cf. Gn 3.24; Ez 10.1-22). Lúcifer foi ungido (consagrado) por sentença deliberada de Deus (Ez 28.14: “te estabeleci”) para a tarefa indizivelmente santa de guardar o trono do todo-glorioso Criador. Ele é descrito como sendo dotado de beleza inigualável, vestido de luz radiante, equipado com sabedoria e capacidade ilimitadas, mas também criado com o poder de tomar decisões morais reais. Portanto, a obrigação moral mais básica de Satanás era a de permanecer leal a Deus, de lembrar sempre que, independentemente de quão elevada fosse a sua posição, seu estado era o de um ser criado.
A queda de Satanás
Neste ponto, encontramo-nos diante de um dos mais profundos mistérios do universo moral, conforme revelado nas Escrituras: “Como é que o pecado entrou no universo?” Está claro que a entrada do pecado tem conexão com a rebelião de Satanás. Mas, como foi que o impulso perverso surgiu no coração de alguém criado por um Deus perfeitamente santo? Diante de tal enigma, temos de reconhecer que as coisas encobertas de fato pertencem a Deus; as reveladas, no entanto, pertencem a nós (Dt 29.29). E três dessas realidades claramente reveladas merecem ser enfatizadas:
Primeiro: a queda de Lúcifer foi resultado de sua insondável e pervertida determinação de usurpar a glória que pertence unicamente a Deus. Esse fato é explicitado em uma série de cinco afirmações que empregam verbos na primeira pessoa do singular, conforme registradas em Isaías 14.13-14. Nisto consiste a essência do pecado: o desejo e a determinação de viver como se a criatura fosse mais importante que o Criador.
Lúcifer andava “no brilho das pedras” (Ez 28.14). Essa descrição refere-se à sala do trono de Deus, conforme representações em outros lugares da Escritura.
Segundo: Satanás é inteira e exclusivamente responsável por sua escolha perversa. Nisso existe uma dimensão inescrutável. Alguns têm argumentado que Deus deve ter Sua parcela de responsabilidade por este (e todo outro) crime, porque, caso fosse de Seu desejo, poderia ter criado um mundo em que tal rebelião fosse impossível. Outros dizem que, se Deus tivesse criado um mundo em que apenas se pudesse fazer o que o seu Criador quisesse, nele não poderiam ser incluídos agentes morais feitos à imagem de Deus, dotados da capacidade de tomar decisões reais – e, conseqüentemente, de escolher adorar e amar a Deus. Há verdade nessa observação, mas também há mistério. O relato deixa claro que o orgulho fez com que Lúcifer caísse numa terrível armadilha (Is 14.13-14; Ez 28.17; cf. 1 Tm 3.6), mas nada explica como tal orgulho de perdição pode surgir no coração de uma criatura de Deus não caída e perfeita.
No entanto, não há mistério quanto ao fato de que Satanás é, totalmente e com justiça, responsável pelo seu crime. Ezequiel 28.15 afirma explicitamente que Lúcifer era perfeito desde o dia em que foi criado, “até que se achou iniqüidade em ti”. A culpabilidade moral é dele, e apenas dele. Na verdade, em toda sua extensão, a Bíblia afirma que Deus governa soberanamente o universo moral e controla todas as coisas – inclusive a maldade de homens e anjos – para que correspondam aos seus perfeitos propósitos. Mas ela também ensina que Deus não deve e não será responsabilizado por essa maldade, em qualquer sentido.
Finalmente, por causa de sua rebelião, Satanás tornou-se o arquiinimigo de Deus e de tudo o que é divino. Sua queda – bem como a dos espíritos que se uniram a ele – é irreversível; não há esperança de redenção. Satanás foi privado da comunhão com o Deus santo de forma final e irrecuperável. Para ser exato, Satanás ainda tem acesso à sala judicial do trono do Universo por causa de seu papel de acusador dos irmãos, papel este que lhe foi designado divinamente (Jó 1 e 2; Zc 3; Lc 22.31; Ap 12.10). Tal acesso, no entanto, é destituído da comunhão com Deus ou da Sua aceitação. Devido à sua traição, que foi a mais terrível na história do cosmo, Satanás e seus anjos somente podem esperar a condenação e a punição eternas (Mt 25.41). (Douglas Bookman - Israel My Glory - http://www.chamada.com.br/)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A BASE DA IGREJA

Para que se tenha a vida prática da igreja há dois aspectos básicos e principais. Devemos estar totalmente claros a respeito deles, pois sem eles não temos a realidade da vida da igreja. O primeiro é que o próprio Cristo é a vida, o conteúdo e tudo na igreja. Não é absolutamente uma questão de formas, doutrinas ou certos tipos de expressão.
Os que realmente estão na "vida da igreja" são os que estão experimentando Cristo como a sua própria vida dia a dia. Cristo é tudo para eles, portanto, Cristo é a vida e o conteúdo deles quando se congregam.
A prática da "vida da igreja" é uma vida com Cristo e a vida de Cristo como tudo.
O segundo aspecto principal da vida da igreja é o da posição ou base da igreja. Esse termo, a "base da igreja", foi usada pela primeira vez pelo irmão Watchman Nee em 1937. Antes de 1937, jamais,havíamos ouvido ou visto esse termo; e a questão da base da igreja, tanto quanto fomos capazes de determinar, não era conhecida.
Base da igreja não é a mesma coisa que fundamento da igreja.
O fundamento da igreja é Cristo. "Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo" (1 Co 3:11). A base é completamente diferente do fundamento.
O fundamento é uma parte básica e inseparável da construção de um edifício, ao passo que a base não é. A base é um pedaço de terra, chamado terreno, sobre o qual é lançado o fundamento. Ela não é parte da construção, mas simplesmente um terreno sobre o qual a construção está colocada. Não devemos confundir a base com o fundamento ou vice-versa. São duas entidades vitais para a construção de um edifício, porém distintas.
Embora o fundamento possa estar profundamente alicerçado no solo, é, todavia, distinto e separado deste. A base é o terreno sobre o qual está colocado o fundamento.
Estabelecidas, na cidade de Nova Iguaçu há muitas assim chamadas igrejas. Uma, a Igreja Católica Romana, proclama estar edificada sobre Cristo como seu fundamento. Outra, a Igreja Presbiteriana, também proclama que seu fundamento não é outro senão Cristo. Os batistas, os presbiterianos, os nazarenos e muitos outros proclamam a mesma coisa. Na verdade, não há uma assim chamada igreja cristã que não faça isso. Todas proclamam que Cristo é o fundamento delas, mas têm negligenciado totalmente a questão da base. Quais são as verdadeiras bases sobre as quais tantas dessas assim chamadas igrejas puseram Cristo como seu fundamento?
Qual é a base da Igreja Católica Romana? Sem dúvida, é Roma. A Igreja Católica Romana, que proclama Cristo como sendo seu fundamento, está erguida sobre a base do catolicismo romano.
Sobre que base está erguida a Igreja Presbiteriana? É óbvio que sua base é um certo sistema de governo chamado presbitério. Eles colocaram o fundamento de Cristo sobre a base do presbitério. E com respeito aos batistas? Estes, tendo Cristo como seu fundamento, estão posicionados sobre a base do batismo por imersão. Temos também os luteranos, que puseram seu fundamento sobre a base de Lutero e seus ensinamentos. Veja, todas as "igrejas" reivindicam o mesmo fundamento, que é Cristo, mas todas elas permanecem sobre bases diferentes. São as diferentes bases que criam o problema para a unidade da igreja, não Cristo como fundamento.
Suponhamos que cada grupo de cristãos em Nova Iguaçu estivesse disposto a renunciar sua própria base particular: Os católico-romanos abandonariam a base do catolicismo romano, os presbiterianos abandonariam a base do presbitério os batistas, a base do batismo, etc. Todos os grupos estariam dispostos a abandonar a sua própria base. Qual seria o resultado? Todas as bases sectárias desapareceriam e espontaneamente existiria apenas uma base única e comum, a base da cidade, a base de Nova Iguaçu. Todos os santos em Nova Iguaçu então estariam na única igreja em Nova Iguaçu, sem nenhuma divisão.
Todas as diferentes denominações desapareceriam, e apenas restariam os santos com Cristo. Então, todos os santos aqui, com o único Cristo, formariam a única igreja em Nova Iguaçu. Juntos e edificados sobre Cristo como seu fundamento, eles estariam colocados simplesmente sobre a base de Nova Iguaçu, que é a base local, a única base da unidade genuína. Esta é a única base correta para a igreja em Nova Iguaçu e a única base que pode manter todos os santos nessa cidade em unidade.
Quando Paulo foi a Corinto pregar o evangelho e fazer a obra do Senhor, será que ele estabeleceu uma igreja "Paulina" com Cristo como seu fundamento? E Apolo, que também ministrou em Corinto, estabeleceu uma igreja sobre a base de Apolo tendo Cristo como seu fundamento? Ou ainda Pedro, que possivelmente também tenha ido a Corinto, formou ele uma igreja "Petrina" com Cristo como fundamento? É óbvio que nenhum deles fez isso. Em Corinto não havia uma igreja "Paulina", nem "Apolônica", nem "Petrina". Sendo assim, que fizeram eles?
Quando Paulo foi a Corinto e conduziu as pessoas ao Senhor, ele estabeleceu a igreja em Corinto. Sobre que base? Sobre a base de Corinto. Ele estabeleceu a igreja em Corinto com Cristo como seu fundamento e sobre a base única da cidade. Quando Apolo foi a Corinto, ele não estabeleceu outra igreja, mas edificou os santos sobre o mesmo único fundamento e sobre a mesma única base, a base de Corinto. Paulo plantou-os naquela base e Apolo regou-os sobre a mesma base. Em 1 Coríntios 1:2 diz-se: "À igreja [no singular] de Deus que está em Corinto". Paulo, Apolo e Pedro trouxeram seus diversos ministérios a Corinto, mas eles todos edificaram unia igreja com um fundamento, sobre a única base da unidade. Dessa maneira, enfim, apenas uma única igreja existia em Corinto com um tipo de santos, um fundamento que é Cristo e uma base que era a posição comum na cidade inteira. Uma igreja, um fundamento, única base - é algo muito claro!
O problema hoje não está com o fundamento, mas com a base. É por causa disso que dizemos que, se quisermos ter a vida da igreja, precisamos considerar a base como o segundo ponto essencial que devemos levar em consideração. Sem Cristo como a nossa vida e conteúdo e sem a base da unidade com os santos na cidade na qual vivemos como nossa posição definida não podem praticar a vida da igreja.
Há em Goiânia diversas assim chamadas igrejas e muitos grupos livres. Por que há tanta divisão? O problema, como vimos, não se deve ao fundamento, mas à base. Você pode argumentar que os grupos livres não têm base. Mas é difícil crer que qualquer grupo livre exista sem alguma base. A base pode não estar escrita ou declarada, mas de qualquer modo é percebida. Como poderia haver um grupo sem uma base?
Se assim fosse, estariam flutuando no ar! Até mesmo um homem sozinho precisa de uma base sobre a qual ficar, ainda que seja apenas meio metro quadrado de chão. Em todo grupo livre deve existir algum tipo de base. Não se deixe iludir, não se deixe enganar. Eles não têm nenhuma base declarada ou denominada, mas por certo têm uma base que é percebida.
Irmãos e irmãs, sobre que base vocês estão? Estão sobre alguma base denominacional ou sectária, declarada ou não declarada, escrita ou não escrita? Qualquer base que apóie uma divisão entre o povo de Deus não é correta. Qualquer base sectária não é Justificada pela Palavra de Deus e é contrária ao princípio básico do Corpo de Cristo.
Precisamos desistir de qualquer outra base e congregar-nos tão somente na base da cidade, que é a base da unidade, a única base da igreja. Não importa onde estejamos, nós temos de nos reunir sobre a única base da igreja a fim de preservar a unidade do Corpo de Cristo.
Apenas ao tomarmos a base da unidade é que a unidade do Espírito será preservada (Ef 4:3), e tão-somente deste modo é que teremos uma adequada e genuína expressão local do Corpo de Cristo.
As Escrituras mostram claramente que em cada cidade a expressão do Corpo de Cristo, isto é, a igreja, deve ser uma. Não há lugar na Bíblia que registre mais de uma igreja numa cidade. Se você está vivendo em Nova Iguaçu, você deve ser edificado juntamente com os outros crentes em Nova Iguaçu, como a igreja nessa cidade. Se você estiver em Nilópolis, deverá ser edificado com a igreja naquela cidade, que são os salvos em Nilópolis. Como cristão vivendo numa cidade, você deve ser edificado com os cristãos naquela cidade como a única base local ali, a qual deveria ser chamada a igreja naquele lugar. A igreja edificada em Jerusalém era chamada a igreja em Jerusalém (At 8:1), e a que estava em Antioquia era chamada a igreja em Antioquia (At 13:1). No mesmo princípio, a igreja em Nova Iguaçu deveria ser chamada a igreja em Nova Iguaçu.
Quão simples e singelo é esse modo divino que as Escrituras nos mostram! Onde quer que vivamos, somos a igreja naquele lugar e edificamos a igreja naquele lugar. Se todo o povo de Deus pudesse ver esse princípio e permanecer nele, não haveria divisões. Podemos testificar que vimos essa base da unidade e a vida da igreja praticada sobre ela em muitos lugares, e ainda hoje estamos vendo.
Segundo a nossa observação e a nossa própria experiência, podemos ousadamente declarar que ela de fato funciona e é o caminho mais abençoado. Apesar das bases sobre as quais outros se posicionam, devemos pagar o preço para permanecer sobre essa única base da cidade, a base da unidade, para sermos edificados com os crentes como a igreja correta na cidade onde vivemos.
Precisamos sair das divisões, não para formar outra divisão, e, sim, para retornar à base genuína, a base da unidade. Não há razão para estarmos divididos. Somos todos membros da única igreja. Por que simplesmente não nos ajuntarmos com os crentes, na cidade onde vivemos, para sermos a expressão da igreja? Não sejamos embaraçados nem confundidos pelo cristianismo. É uma coisa vergonhosa perguntar às pessoas a qual igreja elas pertencem. Se crêem, são nossos irmãos - isso é tudo!
Eu pertenço à única igreja, e elas pertencem à mesma única igreja.
Há mais de trinta e cinco anos, em São Paulo, um irmão com uma Bíblia na mão tomava o bonde para ir a uma reunião. No bonde, outro crente distribuía folhetos aos passageiros e, quando viu o irmão com a Bíblia, disse: "Oh! Você deve ser um irmão!" O irmão respondeu que de fato era. Então o outro perguntou: "A que igreja pertence?" O irmão respondeu: "Eu pertenço à mesma igreja que você pertence; à mesma igreja que o apóstolo Paulo, o apóstolo Pedro, o apóstolo João e Martinho Lutero pertenceram, e à mesma igreja que todos os que crêem pertencem”. Quando o outro ouviu isso, disse: "Isto seria maravilhoso!"
De fato, é maravilhoso. Oh! Reunamo-nos sobre a única base da unidade para termos uma genuína expressão dessa única igreja na cidade onde vivemos. Que o Senhor seja misericordioso conosco.

Por: Watchman Nee

DOENÇA

Watchman Nee
Publicação: 23/04/2009
Qual o propósito da enfermidade?

Há algumas questões com respeito à doença que gostaríamos de considerar juntos diante de Deus:
1. A relação entre doença e pecadoAntes da queda da humanidade não existia nenhuma espécie de enfermidade; a doença surgiu somente depois que o homem pecou. Alguém pode dizer que, de forma geral, tanto a doença como a morte resultaram do pecado; pois pela transgressão de um homem o pecado e a morte entraram no mundo (Rm 5.12). A doença se espalhou a todos os homens assim como a morte.
Embora nem todos tenham pecado da mesma maneira que Adão, todavia por causa da transgressão dele todos morrem. Onde há pecado há morte também. Entre estes dois está aquilo que comumente chamamos de doença. Este é, então, o fator comum a todas as doenças. Porém, há realmente mais de uma causa a ser explicada sobre os males que atacam as pessoas. Algumas doenças brotam de pecado, enquanto outras não. No tocante à humanidade, a doença não vem de pecado; mas com relação ao individuo pode ser ou não a causa. Precisamos distinguir entre estas duas aplicações da doença. É absolutamente verdadeiro que se não houvesse pecado não haveria nem morte nem doença; pois se não houvesse morte no mundo, como poderia jamais haver doença? A morte brota do pecado, e a enfermidade pelo princípio da morte. Mesmo assim isto não pode ser aplicado especifica e indiscriminadamente a todo individuo, pois embora muitos fiquem doentes por causa do pecado, há outros que adoecem por razões outras que não o pecado. Nesta questão do relacionamento entre pecado e doença devemos fazer uma distinção cuidadosa entre a aplicação do mesmo à humanidade como um todo e sua aplicação aos homens individualmente.
Devemos lembrar que em livros do Velho Testamento como Levítico e Números a promessa de Deus era que, se o povo de Israel O obedecesse, andasse em Seus caminhos, não se rebelasse em Seus caminhos, não se rebelasse contra Suas leis e não pecasse contra Ele, então o Senhor os protegeria de muitas enfermidades. Estas palavras claramente nos ensinam que muitas doenças têm origem no pecado ou rebelião contra Deus. Todavia no Novo Testamento descobrimos que algumas doenças não foram causadas por qualquer transgressão cometida pela pessoa.
Paulo escreveu certa vez que entregava a Satanás para a destruição de sua carne o homem que tinha pecado, vivendo com a mulher do pai (1 Co 5. 4,5). Isto indica definitivamente que algumas doenças procedem do pecado. A conseqüência do pecado é doença, se o pecado for leve, ou morte se for grave. A julgar pelas palavras de 2 Coríntios 7, este homem não ficou doente ao ponte de morte porque o seu pesar produziu arrependimento que o levou à salvação e não trouxe desgosto (vv. 9, 10). Paulo pediu à igreja em Corinto para perdoar tal homem (2 Co 2. 6,7). Em 1 Corintios 5 é dito para entregar a carne desse homem ( não sua vida) a Satanás; ele devia ficar doente mas não ser morto.
Paulo, além disso, escreveu que os membros da igreja em Corinto, que comiam e bebiam do pão e do cálice do Senhor sem discernir o corpo do Senhor, haviam ficado fracos e doentes e alguns haviam até morrido (1 Co 11. 29,30). Isto revela que a desobediência ao Senhor foi a causa de sua doença.
As Escrituras fornecem informação suficiente no sentido de que muitos (mas não todos) ficam doentes por causa do pecado. Desse modo, a primeira atitude que devemos tomar quando doentes, é nos examinar para determinar se pecamos ou não contra Deus. Pelo exame muitos descobrirão que seus males são na verdade devidos ao pecado; em algum ponto de suas vidas rebelaram-se contra Deus ou desobedeceram à Sua Palavra. Eles se desviaram. Tão logo esse pecado particular for encontrado e confessado, a doença desaparecerá. Incontáveis irmão e irmã no Senhor têm passado por tais experiências. Logo depois da causa ser descoberta diante de Deus a doença se vai. Este é um fenômeno que ultrapassa o conhecimento da medicina.
A doença não surge necessariamente do pecado, porém, grande parte dela tem essa origem. Reconhecemos que muitas moléstias têm causas naturais, mas declaramos igualmente que não podemos atribuir toda doença a causas naturais.
Lembro-me de um irmão, professor numa escola de medicina, que ensinou aos seus alunos: “Temos encontrado muitas explicações naturais para as doenças. Por exemplo: um certo tipo de cocus causa um tipo particular de doença. Como médicos, podemos determinar que tipo de organismo produz tal tipo de enfermidade, mas não temos como explicar porque entre certas pessoas igualmente expostas, algumas são contaminadas enquanto outras permanecem imunes. Suponhamos, por exemplo, que dez pessoas entrem no mesmo cômodo simultaneamente e sejam expostas ao mesmo tipo de cocus. Deveríamos esperar que as mais fracas fossem contaminadas; todavia, pode perfeitamente acontecer que as fracas sejam poupadas e as fortes atacadas. Temos de reconhecer,” ele concluiu, “que além das causas naturais existe o controle da Providência”. Pessoalmente concordo com as palavras desse irmão. Quão frequentemente as pessoas adoecem a despeito de toda medida preventiva.
Também me lembro do que me foi relatado por um dos meus colegas sobre sua experiência na Faculdade Médica de Pequim. Havia um professor na faculdade que tinha muito conhecimento, mas pouca paciência. Por isso, frequentemente fazia perguntas simples nos exames. Uma vez ele perguntou por que as pessoas contraíam a tuberculose. Era uma pergunta bastante simples; porém, muitos falharam em dar a resposta certa. Eles responderam que certo tipo de pessoa tinha o bacilo da tuberculose. Todas as provas que continham esta resposta foram consideradas erradas. O professor explicou que a terra estava cheia de bacilos da tuberculose, mas que nem todos eram abatidos pela tuberculose. É somente sobre certas condições favoráveis, ele lembrou, que estes bacilos causam a doença chamada tuberculose. Os bacilos por si só não podem causar a doença. Muitos estudantes esqueceram a importância dessas condições favoráveis. Estejamos cientes, portanto, que a despeito da presença de muitos fatores naturais, os cristãos só adoecem com a permissão de Deus, dada sob condições apropriadas.
Cremos francamente que existem explicações naturais para a doença; isto tem sido provado cientificamente. Confessamos, todavia, que muitas moléstias entre os filhos de Deus são conseqüências do pecado contra Deus conforme o caso citado em 1 Coríntios onze. É, portanto, essencial pedir primeiro perdão e depois cura. Frequentemente podemos detectar, logo depois de termos sido abatidos com doença, onde transgredimos contra o Senhor ou como temos sido desobedientes à Sua Palavra. Quando o pecado é confessado e o problema resolvido, a doença se vai. Isto é realmente um acontecimento maravilhosíssimo. De forma que o ponto inicial que precisamos conhecer é a relação entre pecado e doença. De forma geral a doença resulta do pecado; e individualmente também, ela pode resultar do pecado.
2. A Obra do Senhor e a doença“Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós O reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades” (Is. 53:4,5). De todos os escritos do Velho Testamento este capítulo 53 de Isaias é o mais citado no Novo Testamento. Ele faz referências ao Senhor Jesus Cristo, principalmente como nosso Salvador. O verso 4 afirma que “tomou sobre Si as nossas enfermidades e carregou com as nossas dores”, enquanto que Mateus 8:17 declara que isto aconteceu “para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças”. O Espírito Santo indica aqui que o Senhor Jesus veio ao mundo para tomar as nossas enfermidades e carregar as nossas doenças. Anteriormente à Sua crucificação Ele já tinha tomado nossas enfermidades e carregado nossas doenças; isto quer dizer que durante Seu ministério terreno o Senhor Jesus fez da cura Seu encargo e tarefa. Ele não somente pregou, Ele também curou.
Ele pregou as boas novas por um lado, mas por outro fortaleceu o fraco, restaurou a mão mirrada, purificou o leproso e levantou o paralítico. Enquanto estava sobre a terra o Senhor Jesus devotou-Se à realização de milagres como também ao ministério da Palavra. Ela saiu fazendo o bem, curou os doentes e expulsou os demônios. O propósito de Sua obra foi destruir a doença, o resultado do pecado. Ele veio para tratar com a morte e a doença, como também com o pecado.
O salmo 103 é familiar a muitos dos filhos de Deus; eu mesmo gosto muito de lê-lo. Davi proclama: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor; e tudo o que há em mim, bendiga o Seu santo nome!” Por que bendizer ao Senhor? “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não se esqueça de nenhum dos seus benefícios.” Quais são os Seus benefícios? “É Ele quem perdoa todas as tuas iniqüidades, e quem cura todas as tuas enfermidades” (vv.1-3). Desejo que os irmãos e irmãs vejam que a doença está associada com dois elementos: morte por um lado, e pecado do outro. Mencionamos anteriormente como a morte é o resultado do pecado, com a doença incluída nela. Tanto a doença como a morte brotam do pecado. Aqui no Salmo 103 vemos que a doença está associada com o pecado. Por causa do pecado na alma existe doença no corpo. Junto com o perdão da nossa iniqüidade vem a cura da nossa doença. O problema no corpo é o pecado por dentro e a doença por fora. Mas o Senhor Jesus tira ambos.
Todavia, existe uma diferença básica entre o tratamento de Deus para com a nossa iniqüidade e o Seu tratamento da nossa doença. Por que esta diferença? Nosso Senhor carregou nossos pecados em Seu corpo sobre a Cruz. Algum pecado permanece sem perdão? Nenhum absolutamente, pois a obra de Deus é tão completa que o pecado é totalmente destruído. Mas quanto ao tomar nossas enfermidades e carregar nossas doenças enquanto Ele vivia na terra, o Senhor Jesus não erradicou todas as doenças e todas as enfermidades. Pois observe que Paulo nunca diz: “quando peco então estou santificado,” mas, ele declara que “quando estou fraco, então sou forte” (2 Co. 12:10). Portanto o pecado é tratado completa e ilimitadamente enquanto que a doença o é em parte.
Na redenção de Deus o tratamento da doença é diferente do tratamento do pecado. Com o último, sua destruição é totalmente limitada; com o anterior não é assim. Timóteo, por exemplo, continuou tendo um estômago fraco. O Senhor permitiu que esta doença permanecesse com Seu servo. Assim na salvação de Deus a doença não foi erradicada tão completamente como o pecado. Alguns afirmam que o Senhor Jesus trata somente com o pecado e não com a doença também; outros imaginam que a esfera do Seu tratamento da doença é tão ampla e inclusiva quanto o Seu tratamento do pecado. Todavia, as Escrituras manifestamente indicam a nós que o Senhor Jesus trata tanto com o pecado como com a doença; só que Seu tratamento com o pecado é ilimitado, enquanto que com a doença é limitado. Devemos contemplar o Cordeiro de Deus tirando todo o pecado do mundo. Ele carregou o pecado de cada uma e de todas as pessoas. O problema do pecado, portanto, já está resolvido. Entretanto a doença ainda penetra os filhos de Deus.
Porém, nós asseveramos que visto o Senhor Jesus ter realmente levado nossas doenças, não deveria haver tanta enfermidade como há entre os filhos de Deus. Enquanto Jesus esteve na terra Ele indubitavelmente dedicou-Se à cura dos doentes. Ele incluiu a cura em Sua obra. Isaias 53:4 cumpriu-se em Mateus 8, não em Mateus 27. Ela foi realizada antes do Calvário. Tivesse sido realizada na cruz, a cura seria ilimitada. Mas não, o Senhor Jesus levou nossas antes de Sua crucificação, com o resultado de que este aspecto da Sua obra não é ilimitado como foi o carregar dos nossos pecados por Ele.
Mesmo assim, inúmeros santos permanecem doentes porque perderam a oportunidade de serem curados. Deixe-me acrescentar mais algumas palavras sobre este ponto. A menos que tenhamos a segurança que Paulo teve após orar três vezes, de que sua fraqueza permaneceria porque seria útil para ele, nós devemos pedir a cura. Paulo só aceitou sua fraqueza depois de orar pela terceira vez e de lhe ter sido mostrado distintamente pelo Senhor que Sua graça era suficiente para ele e que Sua força seria aperfeiçoada em sua fraqueza. Até que tenhamos certeza de que Deus quer que levemos nossa fraqueza, nós devemos pedir ousadamente que o Senhor mesmo a leve e tire nossa doença. Os filhos de Deus vivem sobre a terra não para ficar doentes, mas para glorificar a Deus. Se ficarem doentes e trouxerem glória a Deus, isso é ótimo; mas muitas doenças não O glorificam necessariamente. Consequentemente devemos aprender a confiar no Senhor enquanto doentes e devemos reconhecer que Ele carrega nossa doença também. Ele curou um grande número de pessoas enquanto estava na terra. E Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Entreguemos nossa enfermidade a Ele e peçamos a Ele pela cura.
3. A Atitude do crente para com a doençaToda vez que o cristão ficar doente, a primeira coisa a fazer é investigar a causa do mal diante do Senhor, não devendo ficar ansioso demais pela cura. Paulo estabelece um bom exemplo nos mostrando como ele conhecia bem a sua fraqueza. Devemos examinar se temos desobedecido ao Senhor, se pecamos em algum lugar, se devemos algo a alguém, se violamos alguma lei natural, ou negligenciamos alguma obrigação especial. Devemos saber que nossa quebra da lei natural, frequentemente pode constituir pecado contra Deus, pois é Deus quem estabelece estas leis naturais pelas quais governa o universo. Muitos têm medo de morrer; quando adoecem buscam apressadamente os médicos, porque estão ansiosos para serem curados. Esta não deve ser a atitude do cristão. Ele deve primeiro procurar isolar a causa de sua doença. Infelizmente quantos irmãos e irmãs não possuem qualquer paciência. No momento em que adoecem eles procuram pelo remédio. Você está tão temeroso de perder sua preciosa vida que através da oração você se apega a Deus para a cura, mas simultaneamente se apega ao médico para os remédios e injeção? Isto revela quão cheio do “eu” você está. Mas como poderia estar menos cheio do “eu” na doença se nos dias comuns você está cheio do “eu”? Aqueles que geralmente estão cheios do “eu”, serão aqueles que buscarão ansiosamente pela cura tão logo fiquem doentes.
Posso lhes dizer que a ansiedade de nada vale? Visto que você pertence a Deus, sua cura não é tão simples. Mesmo que você seja curado desta vez, ficará doente de novo. É preciso que se resolva o problema diante de Deus primeiro; e depois poderá ser resolvido o problema no corpo.
Aprenda a aceitar qualquer lição que a doença possa lhe trazer. Porque se você tiver tratos com Deus, muitos dos seus problemas serão resolvidos rapidamente. Você descobrirá que frequentemente sua doença é devida a algum pecado ou falta. Após confessar seu pecado e pedir perdão, você pode esperar a cura de Deus. Ou, se você tiver avançado um pouco mais com seu Senhor, talvez possa discernir que o ataque do inimigo está envolvido nisso. Ou a questão da disciplina de Deus pode estar associada com sua falta de saúde. Deus corrige com doença para torná-lo mais santo, mais maleável ou submisso. Quando você trata destes problemas diante de Deus, poderá ver a razão exata de sua enfermidade. Algumas vezes Deus poderá permitir que você receba alguma ajuda médica, mas em outras Ele poderá curá-lo instantaneamente sem tal assistência.
Devemos ver que a cura está nas mãos de Deus. Aprenda a confiar Naquele que cura. No Velho Testamento Deus tem um nome especial que é: “Eu sou o Senhor, teu curador” (Ex 15:26). Busque-O e Ele será gracioso para com os Seus nesta questão particular.
O passo inicial que o crente deve, portanto, dar quando fica doente, é descobrir a causa; depois ele pode recorrer a vários e diferentes modos de cura, um dos quais é chamar os presbíteros da igreja para orar e ungi-lo com óleo. Esta é a única ordem na Bíblia com respeito à doença.
“Está doente alguém entre vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5:14,15).
Não se apresse em buscar a cura, mas antes tenha tratos com Deus no início. Uma das coisas a ser feita é chamar os anciãos da igreja para ungir você com óleo. Isto fala do fluir do óleo do Cabeça a você, como um dos membros do corpo. O óleo que o Cabeça recebe, corre pelo corpo inteiro. Como membro do corpo de Cristo, alguém pode esperar que o óleo no Cabeça flua até ele. Onde a vida flui, a doença é levada. O propósito da unção é, portanto, trazer o óleo do Cabeça. Através da desobediência, do pecado, ou talvez por alguma outra razão, o crente colocou-se fora da circulação do corpo e separou-se da vida do corpo. Por conseguinte ele precisava chamar os anciãos da igreja para reinstalá-lo na circulação e no fluxo da vida do corpo de Cristo. Acontece exatamente como no corpo físico; pois quando algum dos seus membros está prejudicado a vida do corpo não pode fluir livremente para ele. De forma que a unção é para restaurar tal fluxo. Os anciãos representam à igreja local; eles ungem o crente em nome do corpo de Cristo a fim de que o óleo do Cabeça possa fluir para ele novamente. Que venha o óleo do Cabeça sobre aquele membro através do qual a vida tem sido obstruída! Nossa experiência nos diz que tal unção pode levantar instantaneamente o que está seriamente doente.
Algumas vezes alguém identifica a explicação para sua doença como sendo individualismo. Esta pode ser a causa principal da doença. Alguns cristãos são altamente individualistas. Eles fazem tudo conforme sua própria vontade. Fazem tudo por si mesmos. Se a mão de Deus vem sobre eles, eles adoecem, porque o suprimento do corpo não atinge tais membros. Eu não ouso simplificar demais estes assuntos. As causas para a doença podem ser muitas e variadas. Uma doença pode ser por desobedecer ao mandamento do Senhor, recusa em realizar Sua vontade; outra pode ser por algum pecado particular cometido; mas outro ainda pode ser uma conseqüência de individualismo. No caso de certos indivíduos Deus passa por cima e não disciplina; mas especialmente no caso daqueles que conhecem a igreja, Ele os corrige com doenças caso comecem a agir independentemente. O Senhor não deixará que estes sigam sem alguma disciplina.
É possível também que a enfermidade seja a conseqüência de um corpo maculado. Se alguém profanar seu corpo, Deus destruirá esse templo. Muitos estão enfermos porque corrompem seus corpos.
Em resumo, portanto, dizemos que nenhuma doença acontece sem uma causa. Se um cristão contrai uma doença ele deve tentar localizar sua causa ou causas. Depois de confessá-las uma a uma diante de Deus, ele deve chamar os anciãos da igreja para que possam confessar uns aos outros e orar uns pelos outros. Os anciãos ungirão o doente com óleo para que a vida do corpo de Cristo possa ser-lhe restaurada. O influxo da vida fará desaparecer a doença. Cremos nas causas naturais, mas adicionalmente devemos afirmar que as causas espirituais têm prioridade sobre as naturais. Se as espirituais forem cuidadas, a doença será curada completamente.
4. A correção de Deus e a doençaUm fato maravilhoso é encontrado na Bíblia: é relativamente fácil que um “pagão” seja curado, mas a cura do cristão não é tão fácil. O Novo Testamento nos mostra claramente que sempre que um incrédulo buscar o Senhor ele é curado imediatamente. O dom da cura é dado tanto aos irmãos quanto aos não crentes. Todavia, a Bíblia fala de alguns crentes que não são curados; entre eles estão Trófimo, Timóteo e Paulo. E estes são os melhores entre os irmãos. Paulo deixou Trófimo doente em Mileto (2 Tm 4:20). Ele exortou Timóteo para que usasse um pouco de vinho por causa do seu estômago e das suas freqüentes enfermidades (1 Tm 5:230. o PRÓPRIO Paulo experimentou um espinho na carne, que o fez sofrer muito, sendo reduzido a grande fraqueza (2 Co 12:7). Seja qual for a natureza do espinho, problema nos olhos ou alguma outra doença, ela maltratava sua carne. Há pessoas que sentem grande incômodo quando um simples dedo é ferido por um espinho. O de Paulo, todavia, era um espinho enorme. Ele o incomodou tanto que só podia descrever sua condição física como fraqueza. Os três que foram citados, são irmãos por excelência, porém, nenhum foi curado. Eles tiveram de suportar a doença.
É evidente que a doença difere bastante do pecado em suas conseqüências. O pecado não produz nenhum fruto de santidade, mas a doença sim. Quanto mais uma pessoa peca, mais corrupta se torna; a doença, porém, produz o fruto da santidade porque a mão disciplinar de Deus está sobre o doente. Sob tais circunstâncias convém que o filho de Deus aprenda como submeter-se à potente mão de Deus.
Se alguém está doente deve tratar de toda causa da sua doença diante do Senhor. Se depois de tratar de tudo, a mão de Deus ainda permanecer sobre ele, ele deve então entender que esta enfermidade tem o propósito de refreá-lo para que não seja orgulhoso, libertino ou por alguma outra razão. Ele deve aceitá-la e aprender sua lição. Ficar doente não terá valor se a lição não for aprendida. A doença por si só, não torna um homem santo, mas o fato de aceitar sua lição produz santidade. Alguns pioram espiritualmente durante a doença; tornam-se mais egocêntricos. É por isso que o indivíduo deve descobrir a lição nessas ocasiões. Que proveito ou fruto pode ser extraído dela? A mão de Deus está sobre mim para me manter mais humilde como Ele fez com Paulo, “para que não me exaltasse pela excelência das revelações” (2Co 12:7)? Ou é porque Deus deseja enfraquecer meu individualismo obstinado? Qual a utilidade da doença se ela não induz a aprender a lição da fraqueza? Muitos estão doentes em vão porque jamais aceitam o tratamento do Senhor para seus problemas particulares.
Não olhe para a doença como sendo algo terrível. Na mão de quem está essa faca? Lembre-se que está na mão de Deus. Por que devemos ficar ansiosos por nossa enfermidade como se estivesse na mão do inimigo? Saiba que Deus mediu todas as nossas doenças. Para ser correto, Satanás é o originador delas; é ele quem torna as pessoas doentes. Todavia, todos os que leram o livro de Jó reconhecem que isso é apenas através da permissão de Deus e está completamente sob a restrição de Deus. Sem a permissão de Deus, Satanás não pode tornar ninguém doente. Deus permitiu que Jó fosse atacado por uma doença, mas observe que Ele não permitiu que o inimigo tocasse em sua vida. Por que então, ficamos tão agitados, tão cheios de desespero, tão ansiosos para sermos curados, tão temerosos de morrer quando somos abatidos pela doença?
Sempre é bom ter em mente a lembrança de que a doença está na mão de Deus. Ela foi medida e limitada por Ele. Depois que Jó cumpriu o curso da sua prova, sua doença terminou, pois tinha realizado seu propósito nele – “Ouvistes da paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu, porque o Senhor é cheio de misericórdia e compaixão” (Tg 5:11).
Que vergonha tantos doentes sem reconhecer o propósito da doença e sem aprender sua lição. Todas as enfermidades estão na mão do Senhor e são medidas para nós, para que possamos aprender nossas lições. Quanto mais cedo aprendemos, mais rápido estas enfermidades passarão.
Falando francamente, muitos estão doentes porque amam demais a si mesmos. A menos que o Senhor remova este amor-próprio dos seus corações, Ele não pode usá-los. Portanto devemos aprender a ser aqueles que não amam a si mesmos. Algumas pessoas não pensam em mais nada senão em si mesmas. O universo inteiro parece revolver ao redor delas. Elas são o centro da terra e do universo. Dia e noite estão ocupadas consigo mesmas. Toda criatura existe para elas e tudo roda ao seu redor. Até mesmo Deus, nos céus, é para elas, Cristo é para elas, a igreja também. Como Deus pode destruir tal egocentrismo? Por que algumas doenças são difíceis de serem curadas? Quão propositalmente solicitam a condolência dos homens! Se rejeitassem a condolência humana, suas doenças logo seriam curadas.
Um fato notável é que muitos estão doentes porque gostam de ficar doentes. Na doença recebem a atenção e o amor que comumente não desfrutam na saúde. Eles frequentemente se tornam doentes para que possam habitualmente ser amados. Tais pessoas precisam ser repreendidas severamente; se estivessem dispostas a receber o tratamento de Deus nesta questão particular logo ficariam boas.
Conheço um irmão que sempre esperava amor e bondade dos outros. Sempre que lhe perguntavam sobre seu bem-estar, ele habitualmente respondia com queixas sobre sua fraqueza física. Ele dava um relatório detalhado de quantos minutos sofreu com febre, quanto tempo durou a dor de cabeça, quantas vezes por minuto respirou e quão irregular era a batida do seu coração. Ele vivia em constante desconforto. Gostava de contar às pessoas sua angústia para que pudessem se compadecer dele. Nada tinha para relatar senão sua história de doença interminável. E às vezes queria saber por que não era nunca curado.
É difícil falar a verdade e algumas vezes pode custar caro. Um dia me senti fortalecido interiormente para lhe dizer candidamente que sua longa doença era devida ao seu amor pela enfermidade. Ele naturalmente negou-o. Todavia eu continuo apontando a ele: você tem medo que sua doença o deixe. Você se apega à condolência, amor e cuidado. Visto que não pode conseguir estas coisas de outra forma, você as obtém ficando doente. Deve livrar-se desse desejo egoísta antes que Deus possa curá-lo. Quando as pessoas perguntarem como está, deve aprender a dizer que “tudo está bem”. Seria isto mentir quando não passou bem a noite? Lembre-se da história da mulher em Sunem. Ela deitou o filho morto na cama do homem de Deus e foi ver Eliseu. Quando lhe foi perguntado: “Vais bem? Vai bem teu marido? Vai bem teu filho? Ela respondeu: Vai bem” (2 Reis 4:26). Como podia ela dizer isso, sabendo que a criança já havia morrido e estava deitada sobre a cama de Eliseu? Porque ela tinha fé. Ela cria que Deus ia ressuscitar seu filho. Assim você deve crer hoje também.
Seja qual for a causa, intrínseca ou extrínseca, a doença terminará quando Deus tiver alcançado Seu propósito. Pessoas como Paulo, Timóteo e Trófimo são exceções. Embora suas doenças fossem prolongadas, eles reconheciam que isto era útil para sua obra. Eles aprenderam como cuidar de si para a glória de Deus. Paulo persuadiu Timóteo a tomar um pouco de vinho e tomar cuidado com o que comia e bebia. A despeito da fragilidade deles a obra de Deus não foi negligenciada. O Senhor lhes deu graça suficiente para vencer suas dificuldades. Paulo trabalhou em fraqueza. Lendo seus escritos podemos facilmente concluir que ele realizou tanto quando dez pessoas poderiam fazer. Deus usou este homem fraco para exceder a dez pessoas fortes. Embora seu corpo fosse frágil, Deus, entretanto, lhe deu força e vida. Estes, porém, são exceções na Bíblia. Alguns dos vasos especiais de Deus podem receber o mesmo tratamento. Mas os soldados rasos principalmente os iniciantes, devem examinar se pecaram; e após confessar seus pecados verão suas doenças imediatamente curadas.
Finalmente, desejo que vocês vejam diante do Senhor que algumas vezes Satanás pode desfechar ataques repentinos, ou vocês quebram involuntariamente alguma lei natural. Ainda assim pode levar isso diante do Senhor. Se for ataque do inimigo, repreenda em nome do Senhor. Certa vez uma irmã ficou prostrada com febre. Depois de descobrir que era um ataque satânico, ela a repreendeu em nome do Senhor e a febre a deixou. Se você violar uma lei natural colocando sua mão no fogo, certamente ficará queimado. Cuide bem de você. Não espere até ficar doente para confessar sua negligência. É importante cuidar do seu corpo durantes os dias comuns.
5. O modo de buscar a curaComo devem os homens buscar a cura diante de Deus? Três sentenças no Evangelho de Marcos são dignas de serem aprendidas. Eu as considero muitíssimo úteis, pelo menos o são para mim. A primeira menciona o poder do Senhor; a segunda a vontade do Senhor; e a terceira a ação do Senhor.
a) O Poder do Senhor: “Deus pode”. “E Jesus perguntou ao pai dele: Há quanto tempo sucede-lhe isto?” E ele disse: “Desde a infância. E muitas vezes o tem lançado no fogo e na água para destruí-lo; mas se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.” E Jesus disse a ele: “Se podes! Tudo é possível ao que crê” (9.21-23). O Senhor simplesmente repetiu as três palavras que o pai da criança havia pronunciado. O pai clamou: “Se tu podes, ajuda-nos.” O Senhor Respondeu: “Se tu podes! Ora, todas as coisas são possíveis ao que crê”. O problema aqui não é “se tu podes”, mas “se tu podes crer”.
Não é verdade que o primeiro problema que surge com a doença é uma dúvida quanto ao poder de Deus? Sob um microscópio o poder da bactéria parece ser maior do que o poder de Deus. Raramente o Senhor interrompe as pessoas quando ainda estão falando, mas aqui Ele parece como que irado. (Que o Senhor me perdoe por falar assim!). Quando Ele ouviu o pai da criança dizer “se tu podes, tem compaixão e ajuda-nos”. Ele bruscamente reagiu dizendo: “Por que dizes, se tu podes? Todas as coisas são possíveis ao que crê. Na doença a questão não é se eu posso ou não, mas se você crê ou não”.
O passo inicial para o filho de Deus dar na doença, portanto, é levantar a cabeça e dizer: “Senhor, Tu podes!”. Você se lembra com certeza, do primeiro estágio da cura do paralítico pelo Senhor? Ele perguntou aos fariseus: “Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Perdoados estão os teus pecados, ’ ou dizer: ‘Levanta-te, toma o teu leito, e anda’?” (Mc 2:9). Os fariseus naturalmente pensaram que era mais fácil dizer que os pecados estão perdoados, pois quem poderia provar se estavam ou não? Mas as palavras do Senhor e seus resultados mostraram a eles que Ele podia curar as doenças e perdoar pecados. Ele não perguntou qual era mais difícil, mas qual era mais fácil. Para Ele, ambos eram igualmente fáceis. Para o Senhor era tão fácil ordenar ao paralítico que se levantasse e andasse, quanto perdoar os seus pecados. Para os fariseus ambos eram difíceis.
b) A Vontade do Senhor: “Deus quer”. Sim, Ele realmente pode, mas como posso saber se Ele quer? Eu não conheço Sua vontade; talvez Ele não queira curar-me. Esta é outra história que lemos em Marcos novamente. “E veio a ele um leproso que, de joelhos, lhe rogava dizendo: ‘Se quiseres, bem podes tornar-me limpo’. Jesus, pois, compadecido dele, estendendo a mão, tocou-o e disse-lhe: ‘Quero, sê limpo’” (Mc 1:40,41).
Não importa quão grande seja o poder de Deus. Se Ele não tiver o desejo de curar, Seu poder não me ajudará. O problema a ser resolvido no início é: Deus pode?; O segundo é: Deus quer? Não existe doença tão impura quanto a lepra. É tão impura que segundo a lei qualquer pessoa que tocasse num leproso tornava-se impura. Todavia o Senhor tocou o leproso e lhe disse: “Eu quero”. Se Ele quis curar nossas doenças. Podemos proclamar com intrepidez: “Deus pode” e “Deus quer”.
c) A Ação do Senhor: “Deus fez”. Deus deve fazer mais uma coisa. “Em verdade vos digo que qualquer que disser a esse monte. Erga-te e lança-te ao mar; e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, assim lhe será feito. Por isso vos digo que tudo o que pedirdes, em oração, creia que o recebestes, e tê-lo-eis” (Mc 11:23,24). O que é fé? A fé crê que Deus pode, Deus quer, e Deus fez. Se você crer que recebeu, você o receberá. Se Deus lhe der sua Palavra, você pode agradecer a Ele dizendo: “Deus me curou; Ela já o Fez!”
Muitos crentes esperam ser curados. A esperança considera as coisas do futuro, mas a fé trata com o passado. Se crermos realmente, não esperaremos por vinte ou cem anos, mas nos levantaremos imediatamente e diremos: “Graças a Deus, Ele me curou. Graças a Deus, eu recebi. Graças a Deus, estou limpo! Graças a Deus, estou bem”. Uma fé perfeita pode proclamar que Deus pode, Deus quer e que Deus fez.
A fé trabalha com o que “é” e não com o “desejo”. Permita-me usar uma simples ilustração. Suponhamos que você pregue o evangelho e alguém professe que creu. Pergunte a ele se está salvo, e se ele responder que espera ser salvo, então você sabe que sua resposta é inadequada. Se ele disser: serei salvo, a resposta ainda está incorreta. Mesmo que ele responda dizendo: acho que serei definitivamente salvo, ainda está faltando algo. Mas quando ele responde: eu estou salvo, você sabe que ele está certo. Se alguém crê, então ele está salvo. Toda fé trata com o passado. Dizer eu creio que serei curado não é a verdadeira fé. Se ele crê, agradecerá a Deus e dirá: Eu recebi a cura.
Retenha estes três passos: Deus pode, Deus quer, Deus fez. Quando a fé possuída pelo homem chega ao terceiro estágio, a doença se vai.

Revista à Maturidade – Primavera de 1985

COMO SENHOR JULGARÁ OS SEUS SANTOS

O Senhor fala com todas as igrejas e a todos os santos
Gostaria que olhássemos no livro de Apocalipse algumas coisas das quais certamente já temos antes, no passado, conversado ou lido. Especificamente, estou recordando agora o livro do irmão Watchman Nee chamado "A ortodoxia da Igreja", onde li a respeito disto. Mas não por havê-lo lido vou privar a vocês de recordar-lhe porque é útil, porque é a verdade.
Nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse, o Senhor fala com todas as igrejas de todos os lugares, de todos os tempos e de todas as épocas, ao falar especificamente com as sete igrejas da Ásia Menor. Ele falou com aquelas sete igrejas históricas; e ao falar com elas, ele tratou certos assuntos que se apresentariam ao longo da história da Igreja, e que nos mostram como o Senhor encontraria, em sua vinda, às igrejas.
Dois grupos de igrejas
O irmão Watchman Nee nos chamava a atenção, especialmente nesse livro, para dois grupos específicos de igrejas que aparecem aqui entre as sete mencionadas nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse; e esses dois grupos se distinguem por várias coisas. Uma delas, a sua terminação.
Se vocês me acompanharem para ver essas terminações às sete igrejas, no capítulo 2, quando fala com a igreja em Éfeso, ele apela primeiro para a igreja -que era a primitiva- e em seguida, então, apela aos vencedores. Ele diz: "Aquele que tem ouvido, ouça o que o Espírito diz às igrejas". E então agora se dirige ao grupo dos vencedores, e diz: "Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, o qual está no meio do paraíso de Deus".
No final da mensagem à igreja em Esmirna, o Espírito também mantém a mesma ordem que em Éfeso, e o fará também com Pérgamo. Primeiro fala com as igrejas em geral, e em seguida aos vencedores.
O irmão Stephen Langdom, um arcebispo de Canterbury no século XII, que dividiu a Bíblia em capítulos, colocou quatro igrejas no capítulo 2 e três igrejas no capítulo 3. Possivelmente se tivéssemos sido nós, ou o irmão Watchman Nee, ou eu, pelo menos teríamos colocado diferentemente os números dos capítulos; teria posto o capítulo 2 com as três primeiras igrejas, e o capítulo 3 com as quatro últimas igrejas. Porque realmente há uma divisão em dois grupos.
Nas três primeiras igrejas, o Espírito fala com a Igreja em geral, à Igreja quando ainda estava mais próxima da sua origem, e não tinha tido os embates que teve que acontecer na idade média, chamadas 'obscuras' por alguns. E então, para Stephen Langdom, Tiatira aparece colocada dentro do capítulo 2.
Mas, se vocês se fixarem, no capítulo 2, agora na mensagem a Tiatira, diz o verso 26: "Ao que vencer e guardar as minhas obras até o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações, e as regerá com vara de ferro, e serão quebradas como vaso do oleiro; como também eu a recebi de meu Pai; e lhe darei a estrela da manhã". Vemos que a partir daqui, primeiro fala aos vencedores, e em seguida diz: "Aquele que tem ouvido, ouça o que o Espírito diz às igrejas". A partir de Tiatira, o Espírito muda a ordem. E o Espírito começa a apelar primeiro para os vencedores.
O mesmo acontece nas três igrejas mencionadas no capítulo 3. Assim, por esta mudança do Espírito, por esta mudança de ordem no falar do Espírito, podemos agrupar as três primeiras igrejas, Éfeso, Esmirna e Pérgamo em um grupo, e podemos agrupar as 4 últimas igrejas, de Tiatira a Laodicéia em outro grupo.
A segunda vinda mencionada no segundo grupo de igrejas
Mas há, além disto, outra coisa também que nos chama a atenção. Quando o Senhor fala com as quatro igrejas do segundo grupo, quando ele apela primeiro aos vencedores antes do que para as igrejas em geral, o Senhor menciona-lhes a sua segunda vinda. É como se o Senhor estivesse dando a entender que, quando ele vier, irá encontrar muitas pessoas da cristandade nos diferentes estados descritos por cada carta.
Porque estas cartas não somente falavam com as igrejas históricas da Ásia Menor, mas Deus utilizou as situações descritas por Cristo, nessas igrejas históricas da Ásia Menor, para falar profeticamente. Porque todo o Apocalipse, do primeiro capítulo até o último, é chamado uma profecia. "Bem-aventurado o que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia" (1:3). O qual nos conduz a interpretar estes capítulos 2 e 3 de Apocalipse também como profecia a respeito da situação da Igreja em geral. Embora fale com aquelas primeiras igrejas históricas, ao mesmo tempo fala com todas as igrejas, ou seja, às diferentes condições, características, pelas quais o povo de Deus teria que passar os diferentes desafios que a Igreja do Senhor nas distintas circunstâncias iria enfrentar.
E de maneira profética, o Senhor reforça, aprova certas coisas, e ao mesmo tempo, como sumo sacerdote, usando as tesourinhas, a espevitadeira, diz também a cada igreja o que ele desaprova. Por isso, no capítulo 1, ele aparece vestido como sumo sacerdote. Assim como entre os sacerdotes, uma de suas tarefas era manter diante de Deus os candeeiros acesos. Um dos trabalhos sumo sacerdotais de Cristo glorificado é manter os candeeiros em funcionamento. E por isso ele diz: "Tenho contra ti…", mas também: "Tens isto…". Ele aprova certas coisas e desaprova certas coisas, e assim o Senhor se apresenta como a resposta para todos os desafios do povo de Deus em qualquer circunstância.
Uma das coisas deste segundo grupo de igrejas, as quatro últimas, desde Tiatira até Laodicéia, é que é mencionada a segunda vinda do Senhor; o que significa que quando o Senhor voltar vai achar à cristandade em diferentes situações. Nem todos os cristãos serão achados na mesma situação. Oxalá todos fossem vencedores, e oxalá todos vencessem qualquer tipo de desafio; mas nem todos os cristãos serão achados na mesma situação, e isto nos chama a atenção.
Grupos entre grupos
Alguns, quando o Senhor vier, serão achados na situação de Tiatira, porque o Senhor menciona a sua vinda a Tiatira. E por sua vez também diz: "Mas a vós…". Quando o Senhor diz: "Mas a vós…", está fazendo um contraste entre o que tinha denunciado de Tiatira até aqui, a estes "vós". Nem todos em Tiatira estavam na mesma situação. Ele fala de Jezabel, fala do tempo que lhe deu para arrepender-se, fala dos que fornicaram com Jezabel, fala dos filhos de Jezabel. Mas nem todos estão enredados com Jezabel.
Ele diz: "Mas a vós…". Este "vós" é uma minoria dentro da maioria em Tiatira. "…a vós e aos demais…". Ou seja, que aqui vemos um duplo remanescente. "…os demais" não são todos os de Tiatira. "Vós" é como dizer de um grupo seleto, um grupo de elite, de avançados, em Tiatira, com alguns que os acompanham, que são chamados "os demais", e que se distinguem do resto de toda Tiatira.
Então, diz o verso 24: "Mas a vós…". Esse é esse grupo seleto, o remanescente, ao qual o Senhor não lhe impõe outra carga, nem lhe diz o que está repreendendo aos de Tiatira. "…a vós e aos demais que estão em Tiatira, a quantos não têm essa doutrina…". Ou seja, alguns em Tiatira tinham a doutrina de Jezabel, e das profundezas de Satanás, mas não todos. "…e não conheceram o que eles…". Não a vós nem esse grupinho que está com vocês, mas o resto dos de Tiatira. Há uma diferença entre "eles" e "vós"; inclusive entre "os demais" e "eles".
"…O que eles chamam as profundezas de Satanás, eu vos digo: Não vos imporei outra carga…". A uns, impõe-lhes carga. Mas "…a vós -distinto do resto- não vos imporei outra carga".
"Mas o que tens…". O Senhor não diz que tem tudo, mas pelo menos têm algo. Algo que ele valoriza, algo que ele quer encontrar quando vier; encontrar naqueles que lhes tem correspondido viver no ambiente destacado por Tiatira. "…o que tens, retende-o até que eu venha". Quer dizer: 'Mantenham-no; eu aprecio isso, eu quero encontrar isto entre vocês. Não vou impor para vocês outra carga. Mas isto que tens, isto que eu aprovo, isto que eu quero encontrar quando voltar, retenham até que eu venha'.
E então, apela aos vencedores, e aqui nos damos conta do por que mudou a modalidade. Mudou, a partir de Tiatira, à modalidade de falar primeiro aos vencedores. Antes era às igrejas e por último aos vencedores; agora começa a falar primeiro aos vencedores. Ele quer encontrar vencedores entre aqueles cristãos a quem tem correspondido viver nas circunstâncias de Tiatira.
Medida personalizada
É muito interessante notar como o Senhor tem em conta os diferentes tipos de circunstâncias em que as pessoas têm que viver e desenvolver o seu trabalho. O Senhor não mede a todas as pessoas pela mesma medida, primeiro porque ele conhece integralmente toda a realidade. Nós, ao contrário, não conhecemos senão algumas coisas, e geralmente julgamos segundo as aparências, e às vezes contaminados por nossas próprias projeções. O Senhor, não.Irmãos, temos que aprender isto. O Senhor não vai julgar os nossos irmãos com os nossos paradigmas pessoais, mas com os paradigmas nos meios pelos quais eles tiveram que desenvolver-se. O Senhor Jesus disse assim: "Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados, e com a medida com que medis, vos será medido" (Mat. 7:1-2).
Irmão, não se equivoque. Não pense que Deus vai julgar os outros pelos seus paradigmas. Deus vai julgar a ti com os teus paradigmas; mas vai julgar aos outros com os paradigmas com que eles viveram. Com o juízo com que eles julgaram, com esse juízo serão julgados; com a medida com que eles mediram, com essa medida eles serão medidos. Eles não serão medidos com a sua medida, mas com a medida com que eles mediram; eles não serão julgados com o seu juízo, mas julgados com o juízo com o qual eles julgaram.
Paradigmas e rigor
Porque às vezes nós pensamos ou sentimos que todos os filhos e servos e pessoas da terra, que são criados alheios, vão ser julgados por nossos próprios paradigmas. Mas nós sabemos que os nossos paradigmas estão em formação; ainda os nossos paradigmas têm que ser ajustados. E Deus não vai julgar a todos com paradigmas em formação, alheios. Aos que estão em Tiatira, não lhes imporá outra carga.
O Senhor diz que no dia do juízo haverá mais tolerância, por exemplo, para Sodoma e Gomorra, que são tão terríveis, do que para algumas outras cidades. E ele diz: "No dia do juízo, os de Sodoma e de Gomorra, aquela geração, se levantará contra esta outra geração, porque eles teriam se arrependido se tivessem tido as mesmas oportunidades que tiveram estes outros".
Mas o Senhor sabe que nem todos tiveram as mesmas oportunidades, nem todos tiveram o mesmo processo. Portanto, o Senhor é muito justo em seu exame das coisas, e ele tem em conta a história de cada um. O Senhor tem em conta o que a pessoa ignora, e ele tem em conta as oportunidades que teve ou que não teve. "Ai de vós, porque a vós se vos pedirá maior conta!", diz aos seus apóstolos, "porque vocês tiveram maiores oportunidades que outros; o juízo contra vocês será mais rigoroso". Nem todos os julgamentos serão com o mesmo rigor, nem com a mesma medida; mas o Senhor, a cada qual, o julgará com a sua medida.
Políticas de terra arrasada
Porque às vezes nós fazemos, da nossa política, uma política de terra arrasada, como faziam os muçulmanos. O paradigma muçulmano, uma vez que Maomé pretendia falar em nome de Deus, mas projetando a sua personalidade violenta, contraditória, ele impunha o seu paradigma pela força, e aos que não se convertia ele os matavam, ou os escravizavam, e com essa tipo de conceito de Deus é que eles julgam.
O Senhor Jesus disse assim: "Vem a hora -e isso veio muitas vezes na história da Igreja- em que qualquer que vos mate pensará que preste um serviço a Deus". Haverá pessoas que estarão matando e perseguindo os cristãos, pensando que estão fazendo bem.
Uma vez, um homem que tinha participado da matança dos hugonotes na França -os cristãos bíblicos- na noite de São Bartolomeu e outras perseguições subseqüentes, em que se fizeram massacres terríveis, e quando estava morrendo um destes duques perseguidores, o sacerdote católico lhe perguntou se não tinha que arrepender-se disso, e ele disse: 'Não, essa era a melhor coisa que pude fazer em minha vida'. Essa era a glória com a qual ele pensava apresentar-se diante de Deus: Ter exterminado os 'hereges', que eram os filhos de Deus.
O Senhor diz: "Vem a hora em que qualquer que vos mate pensará -esse é o seu paradigma- que rende um serviço a Deus". Por isso, o Senhor Jesus dizia aos fariseus: "Mas como dizeis que vêem, maior pecado tem. Porque se não vissem, nenhum pecado terias, mas como dizem que vêem, o seu pecado permanece".
Os paradigmas, as situações, os crescimentos dentro do povo de Deus são diferentes. Portanto, temos que ter muito cuidado quando vamos apresentar a palavra do Senhor no meio do povo do Senhor. Não podemos ter a política de terra arrasada, tipo muçulmano, que não tem em conta os paradigmas daqueles aos quais estão invadindo.
Sabe o que os inquisidores faziam quando queimavam aos protestantes? Quando eles estavam na estaca, sendo queimados e confessando e invocando o nome do Senhor Jesus, os inquisidores não queriam que mencionassem a Jesus, mas sim a Maria. E punham em uma haste uma estátua de Maria. E o pobre irmão estava sendo queimado e lhe colocavam a estátua de Maria pelo nariz: 'Diz: Salve Rainha. Diz, diz, diz', querendo que ele invocasse a Maria, e não ao Senhor Jesus. Que paradigmas, não é verdade? E aqueles que faziam isso queriam 'salvar' ao 'herege'.
Vocês se dão conta, irmãos? Dão-se conta das diferenças? Quando o Senhor Jesus vier, ele vai encontrar irmãos que tem vivido no contexto de Tiatira. E fala com os vencedores, e lhes fala do que ele espera deles.
Privilégios e responsabilidades
Mas em seguida chegamos a Sardes. Sardes representa outra situação, outras circunstâncias, uma mudança de paradigmas na época. Outra época, outras lições aprendidas, outros desafios. E o Senhor menciona também a sua segunda vinda aos de Sardes. Aqui, no verso 3, diz a Sardes: "lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido".
A Tiatira disse: "O que tens". Mas a Sardes não diz "o que tens". 'Porque tinha mais e estás perdendo. Estão perdendo as coisas'. Olhe, "lembra-te … do que tens recebido…". Ou seja, agora está tendo menos do que tinha recebido. Aos de Tiatira diz: "O que tens, isto retende-o", mas aos de Sardes diz: 'Espero que tenham mais do que têm'. Tem perdido as coisas que já tinham.
"…guarda-o, e arrepende-te. Pois se não vigiares, virei sobre ti como ladrão, e não saberás a que hora virei sobre ti". Aqui ele menciona a sua vinda. Alguns, na vinda do Senhor, vão ser achados na condição de Sardes, o que Sardes representa na história da Igreja. Porque o Senhor vai cobrar de Sardes o que deu a Sardes, e vai pedir a Tiatira o que deu a Tiatira.
Às vezes nós discutimos acerca do assunto dos cinco talentos, dos de dois talentos, os de um talento, e dizemos: 'Mas, Senhor, como é que a uns vai dar cinco talentos, e a mim somente me dá dois. Eu teria dividido melhor as coisas, eu teria repartido melhor que você. Eu teria agarrado os cinco deste e os dois deste e o outro desse, e teria feito oito e teria repartido de dois em dois, todos iguais. Não é verdade que somos iguais?'.
Mas o Senhor não entra nesse joguinho. Ele é a cabeça do Corpo; ele reparte como ele quer. Ao que dá cinco, lhe dá cinco, e não podemos lhe dizer que o de cinco só vai responder por dois, como tampouco podemos esperar que ao que lhe deu dois responda por cinco. Ao que lhe deu cinco, vai pedir-lhe conta por cinco; ao que lhe deu dois, vai pedir-lhe conta por dois; ao que lhe deu um, vai pedir-lhe conta por um. Ele não vai pedir conta a ti como pede a outro irmão, nem vai pedir a outro irmão como pede a ti. Você não sabe o que Deus vai pedir a outro irmão.
"O que a ti?"
Você ocupe-se com você. Que não aconteça a você o que aconteceu com Simão Pedro, que estava tão interessado colocando o nariz na relação do Senhor com João, que o Senhor teve que lhe dizer: "E a ti, o que te importa, Pedro? E a ti, o que te importa? O que a ti? Você, siga-me; não coloque o nariz onde não tem sido chamado. Você, siga-me. A minha relação com João, é com João. Não vou tratar contigo igual, nem você tem que se meter muito em minha relação com João. Eu sei o que dou a João, e o que vou pedir a João. Mas você é Pedro, você não é João. Você faça o melhor que sabe; mas não te metas com João. Eu me meto com João.
"Quem é você, que julgas o servo alheio? Para seu próprio Senhor está em pé ou cai, mas poderoso é o Senhor para o firmar" a qualquer irmão. Não julguemos antes do tempo, porque os seus irmãos não vão ser julgados segundo os seus paradigmas; mas você, sim. Você sim vai ser julgado com o juízo com que você julga; você sim vai ser medido com a medida com que você mede, mas não os seus irmãos. Você.
A Filadélfia
Então, aqui, o Senhor fala agora de sua vinda também a Filadélfia. "Porquanto guardaste a palavra da minha paciência…". Para interpretar bem este verso, temos que ir a todas as outras ocasiões quando o Senhor fala da palavra da sua paciência. A palavra da perseverança, assim como no discurso escatológico do Senhor lá no monte, dois dias antes da páscoa, que está registrado em uma parte em Mateus 24 e 25, outra parte em Marcos 13 e 14, outra parte em Lucas, que citou um pedacinho no 17 e outro no 21, porque ele citou o segundo tema, não cronologicamente. E você tem que reconstruir aquele discurso completo, escatológico, aquele pequeno Apocalipse do Senhor Jesus, e ver o que ele ensinou.
Ali é quando aparece pela primeira vez nas palavras do Senhor Jesus este assunto da palavra da perseverança: "…aquele que perseverar até o fim, este será salvo". E diz: "Quando virem no lugar santo a abominação desoladora de que falou o profeta Daniel … então os que estiverem na Judéia, fujam para os montes ... Mas o que perseverar até o fim…". E esse é o contexto desta frase.
E essa mesma frase aparece lá em Apocalipse 14, quando diz o Senhor, depois de ter falado desses três anjos que levam a sua mensagem a respeito da Babilônia, e dos que recebem a marca da besta, e que não terão repouso nem de dia nem de noite os que adoram à besta e recebem a sua imagem e a sua marca. Diz: "Aqui está a paciência dos santos". Esse é o contexto da palavra da perseverança.
E diz: "Porquanto guardaste a palavra da minha paciência -que é outra tradução, mas no grego é o mesmo-, eu também te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para provar os que habitam sobre a terra. Eis que venho sem demora; guarda o que tens" - assim como disse a Tiatira.
Certamente, o que os de Tiatira têm é diferente do que têm os de Filadélfia. Os de Filadélfia têm muito mais; mas o Senhor não imporá outra carga a Tiatira. Mas espera que os de Filadélfia retenham também o que têm, "…para que ninguém tome a tua coroa". E então menciona ao vencedor: "Ao que vencer…", e depois, às igrejas.
A Laodicéia
Já, na mensagem a Laodicéia, está implicada a vinda do Senhor em três passagens. Primeiro no verso 14, quando diz: "Eis aqui o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus, diz isto". Quando o Senhor diz aqui "o Amém", o Amém é o que termina, o Amém é o ponto final. Ele é o princípio e ele é o fim, o primeiro e o último. Então, na palavra "o Amém" está implicado a conclusão, ou seja, a vinda do Senhor.
Logo, diz também desta maneira: "Eis que, eu estou à porta e chamo". Essa frase pode ter uma tripla leitura. Pode ter uma leitura cristológica, de relação pessoal com cada filho de Deus durante a sua vida. "Eu estou à porta e chamo". Também pode ter um sentido eclesiológico: Está falando com a igreja de que o têm fora; a igreja está realizando coisas sem tê-lo em conta, a direção própria e direta do Espírito do Senhor.
Mas também esta frase pode ser entendida de forma cristológica, eclesiológica e escatologicamente. Pode haver uma terceira leitura desta palavra, "Eu estou à porta…". Porque certamente ele, todos os dias, está à porta, e também, da igreja, ele está à porta; mas também a sua vinda está à porta. Então, sem necessidade de pôr uma interpretação ou combater a outra, as três são válidas.
A leitura escatológica também nos permite entender como uma sugestão da segunda vinda de Cristo à igreja em Laodicéia, quando lhe diz: "Estou à porta e chamo; se alguém ouve a minha voz e abre a porta, entrarei a ele, e cearei com ele, e ele comigo". Essa ceia pode ser durante a nossa vida, mas pode ser a ceia das bodas do Cordeiro. Também há uma leitura escatológica válida para aqui.
E no verso 21, quando diz: "Ao que vencer, lhe darei…". Aí está implicada a vinda do Senhor, porque ele dá o seu galardão em sua vinda. "Eis que, cedo venho, e meu galardão comigo, para dar a cada um segundo as suas obras". Ou seja, que, na vinda do Senhor, ele galardoará o seu povo.
Então, podemos dizer que a segunda vinda do Senhor está inserida na mensagem a Laodicéia. Muito mais está quando nos damos conta de que é a sétima igreja. E isto temos que ler no contexto da profecia, porque todo o Apocalipse é uma profecia, esta igreja está nos revelando as pessoas cristãs dos últimos tempos.
"Ao que vencer, lhe darei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci, e me sentei com meu Pai em seu trono". Então, quando o Senhor vier, ele vai encontrar irmãos na situação de Laodicéia. Alguns, vencedores; oxalá fossem todos. Alguns vão ser encontrados na situação de Filadélfia. Alguns, vencedores; oxalá todos.
Alguns vão ser achados na situação de Sardes, como hoje na cristandade há pessoas que têm uma constituição católica romano, outras pessoas têm uma constituição protestante, outras têm uma constituição da visão da Igreja, e outros tem se deslizado para a contemporização dos tempos laodizaicos finais.
Uma ilustração de exame segundo o paradigma
Permitam-me fazer uma ilustração. Não vou fazer doutrina desta ilustração; só é uma ilustração. A doutrina é a da palavra de Deus, a de Cristo e dos apóstolos. Existe a doutrina de Cristo, e a dos apóstolos, e a da igreja. Claro que na vida e na verdade. Vou dar uma ilustração:
Eu escutei isto das minhas três filhas: Elizabeth, Diana Patrícia e Salomé, que estudavam no mesmo colégio. Chegou ali uma senhora. A diretora do colégio permitiu a esta senhora, católica, que teve uma experiência de morte clínica, contar o seu testemunho no colégio.
Ela era uma doutora nas coisas seculares, e era de tradição católica, mas só de tradição. Ela estudava não sei o que na Universidade Nacional, ali perto de casa.
E enquanto ela falava por telefone celular, um raio ou relâmpago deu um golpe na pobre senhora, que ficou em coma; foi chamuscada, mas não morreu; estava quase morta, ou seja, entre a vida e a morte. E essa senhora se encontrou do outro lado; esse era o testemunho que ela contou, que estava como entre o céu e o inferno. Ou o paraíso e o Hades, vamos dizer. E um anjo a sustentava para que não fosse para baixo, mas tampouco podia ir para cima.
Ela via que sua mãe estava como no paraíso, pedindo a Deus: 'Ai Senhor, tenha misericórdia dela, que ela não se vá para o inferno. E no Hades ela via o seu pai, que já tinha morrido; o pai e a mãe já tinham morrido. E o pai estava ali: 'Ai, que a minha filha não venha para este lugar'. Ela via os dois, e ela estava no meio. E aí, nessa hora, pois, todo o seu doutorado não lhe serviu de nada, e a única coisa que lembrava era que era católica.
Então, começou a gritar ao anjo, como para salvar-se: 'Eu sou católica!'. Aí se lembrou que era católica. 'Eu sou católica!'. Isso era a única coisa que podia responder, que era católica. 'Eu sou católica. Como vão me mandar para o inferno!'. Então, o anjo lhe perguntou: 'Bom, se és católica, conhece os dez mandamentos?' Isso foi o que o anjo lhe perguntou. 'Conhece os dez mandamentos?'. E esta doutora não se lembrava dos dez mandamentos.
Ela não se lembrava dos dez mandamentos, e aí se lembrou da síntese. E disse: 'Ah, sim, sim, sim', como se fora uma fórmula mágica para ir para o céu. Os seus paradigmas. 'Ah, sim, sim, sim. Amarás a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo. Lembrei-me, pelo menos da síntese!'. E então o anjo lhe disse: 'E você, tem amado a Deus sobre todas as coisas?'. Agora mudou a coisa: Não era repetir de cor. E aí se deu conta de que não.
E o anjo lhe fez a segunda pergunta. Só lhe fez duas perguntas. 'E amaste ao próximo como a ti mesma?'. E ela se deu conta de que também não. O anjo não lhe perguntou se tinha lido a Watchman Nee nem a Austin-Sparks. Nada disso. Não lhe ia perguntar isso. Pode ser que a nós sim. 'Você leu a Austin-Sparks, é?'. Mas a ela não. Disse-lhe se sabia os dez mandamentos, e esta doutora não sabia. Só a síntese. E lhe perguntou pelo que sabia. E lhe disse: 'Você deveria ir lá onde está o seu pai; mas Deus lhe deu uma segunda oportunidade, porque vejo esse velhinho lá…'.
Havia um velhinho em Valledupar, que tinha ido comprar um doce de cana em uma venda. E o embrulharam em uma folha de jornal onde contavam o caso dessa senhora que caiu um raio e estava em coma. E este camponês, que era crente, levou o doce para casa, tirou o jornal, começou a lê-lo, e viu esta notícia. E ele começou a interceder a Deus por essa pobre senhora que estava em coma, entre a vida e a morte.
Deus ouviu a oração desse velhinho, que ela nem conhecia. E o anjo lhe disse: 'Vê esse ancião lá, esse camponês, ele esteve orando por ti, e Deus te dará uma segunda oportunidade'. E tornou para a vida, e começou a contar o seu testemunho nos colégios de Bogotá, e minhas filhas escutaram.
Essa é uma ilustração, irmãos, de que Deus te julgará com o juízo com que você julga.
Misericórdia e juízo
"Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia". Mas, ai dos que não têm misericórdia! Porque não se terá deles.
A misericórdia triunfa sobre o juízo. Com o juízo com que você julga você será julgado. Ninguém será julgado com o seu juízo, senão você; ninguém será medido pelo seu paradigma, senão você. Cada um será julgado com o juízo com que julgou e medido com a medida com que mediu.
Quando o Senhor vier, encontrará muitos filhos de Deus em diferentes situações. Se aprendermos estas coisas, Deus nos ajudará a andarmos melhor no meio do povo de Deus, e a tratar às pessoas com mais misericórdia, para que nós mesmos não sejamos julgados. Porque o Senhor, depois que terminar de corrigir ao outro, iniciará contigo.
Babilônia pensava que era melhor, porque estava dando uma surra em Israel? Não, era a hora de Israel; mas depois chegou a hora da Babilônia. E depois chegou a hora da Pérsia, e depois chegou a hora da Grécia, e depois de Roma. Aqui na Colômbia, os conservadores tiveram a sua hora, e em seguida os liberais, em seguida os guerrilheiros, em seguida os paramilitares. Agora quem vai atrever-se a fazer algo. Porque nós pensamos: 'Bom, nós somos os corregedores dos outros'. E depois chegam os nossos, e em seguida chegam os seus.
Então, irmãos, caminhemos com cuidado, para que não façamos mal, e para que a edificação prospere.
Síntese de uma mensagem ministrada no Retiro de Sasaima (Colômbia), em Julho de 2008.

Gino Iafrancesco

domingo, 5 de julho de 2009

ADORAÇÃO

Uma das falácias mais solene e destruidora de almas nestes dias é a idéia de que almas não-regeneradas são capazes de adorar a Deus. Provavelmente a razão maior pela qual este erro tem ganho tanto espaço deve-se à imensa ignorância espalhada acerca da
NATUREZA REAL DA VERDADEIRA ADORAÇÃO
As pessoas imaginam que, se elas freqüentarem um culto religioso, forem reverentes em seu comportamento, participarem do período de hinos, ouvirem respeitosamente o pregador, e contribuirem com ofertas, então realmente adoraram a Deus. Pobres almas iludidas... um engano que é levado adiante pelo falso-profeta e explorador do dia. Contra toda esta ilusão, temos as palavras de Cristo em João 4.24, que são surpreendentes em seu caráter restritivo e pungente: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.
A VAIDADE DA FALSA ADORAÇÃO
“Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens” (Marcos 7.6,7). Estas palavras solenes foram ditas pelo Senhor Jesus aos escribas e fariseus. Eles vieram a Ele com a acusação de que Seus discípulos não se conformavam às suas tradições e práticas em relação à pureza e lavagens cerimoniais. Em Sua resposta, Cristo expôs a inutilidade da religião deles...
Estes escribas e fariseus estavam levantando a questão do “lavar de mãos” cerimonial, enquanto seus corações permaneciam sujos perante Deus. Oh, querido leitor, as tradições dos antigos podem ser diligentemente seguidas, suas ordenanças religiosas observadas estritamente, suas doutrinas devocionalmente guardadas, e ainda assim a consciência jamais foi sondada na presença de Deus quanto a questão do pecado. O fato é que a religião é uma das maiores obstruções para a verdade de Deus abençoar as almas dos homens.
A verdade de Deus nos leva a um nível em que Deus e o homem são tão distantes quanto o pecado é da santidade: portanto, a primeira grande necessidade do homem é purificação e reconciliação. Mas a “religião” atua na suposição de que a depravação e culpa humanas podem ter relacionamento com Deus, podem aproximar-se dEle, e mais, adorá-lO e serví-lO. Por todo o mundo, a religião humana é baseada na falácia de que o homem pecador e caído pode ter um relacionamento com Deus. A religião é um dos principais meios usados por Satanás para cegar a humanidade quanto à sua verdadeira e terrível condição. É o anestésico do diabo para fazer pecadores perdidos sentirem-se confortáveis e tranqüilos em seu vil afastamento de Deus. A religião esconde deles Deus em Seu verdadeiro caráter – um Deus santo que é “tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar” (Hb 1.13).
Teremos muito esclarecimento em relação a este ponto de nosso assunto se considerarmos atentamente o abominável incidente registrado em Mateus 4.8,9: “Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”. O diabo busca adoração. Quão poucos na cristandade estão alertas quanto a isto, ou percebem que as principais atividades do inimigo se mantêm na esfera religiosa!
Escute o testemunho de Deuteronômio 32.17 – ”Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que não conheceram”. Isto se refere a Israel em seus primeiros dias de apostasia. Escute agora 1 Coríntios 10.20 “Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus”. Que luz isto nos lança sobre a idolatria e abominações do paganismo! Ouça mais uma vez 2 Coríntios 4.4 “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”. Isto significa que Satanás é o inspirador e dirigente da religião do mundo. Sim, ele busca adoração, e é o promotor principal de toda falsa adoração.
A EXCLUSIVIDADE DA VERDADEIRA ADORAÇÃO
“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (João 4.24). Este “importa” é definitivo; não existe alternativa, não há escolha neste assunto. Não é a primeira vez que temos esta palavra profundamente enfática no Evangelho de João. Existem dois versículos notáveis em que isto ocorre anteriormente. “Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” (João 3.7). “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado” (João 3.14). Cada uma dessas três “necessidades” é igualmente importante e inequívoca. (N.T.: Em inglês a palavra sempre é “must”).
A primeira passagem faz referência a Deus Espírito, pois é Ele quem regenera. A segunda refere-se à obra de Deus Filho, pois foi Ele quem fez a expiação pelo pecado. A terceira faz referência a Deus Pai, pois é Ele quem procura adoradores (João 4.23). Esta estrutura não pode ser alterada: apenas aqueles que nasceram do Espírito, que repousam sob a obra expiatória de Cristo, que podem adorar o Pai.
Citando novamente as palavras de Cristo à religiosidade de Seus dias, “Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim; Em vão, porém, me honram” (Marcos 7.6,7); Ah, meu leitor, o mundano pode ser um filantropo generoso, um religioso sincero, um denominacionalista zeloso, um membro de igreja devoto, um assíduo participante da comunhão, ainda assim ele não é mais capaz de adorar a Deus que um mudo é de cantar. Caim tentou e falhou. Ele não foi irreligioso. Ele “trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR.” (Gênesis 4.3), mas “Mas para Caim e para a sua oferta [Deus] não atentou”. Por quê? Porque ele se recusou a aceitar sua condição incapaz e sua necessidade de um sacrifício expiatório.
Para se adorar a Deus, Deus deve ser conhecido: e Ele não pode ser conhecido a não ser por Cristo. Muito pode ser ensinado e crido sobre um “Deus” teórico ou teológico, mas Ele não pode ser conhecido à parte deo Senhor Jesus. Ele disse “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (João 14.6). Portanto, é uma crença artificial pecaminosa, uma ilusão fatal, uma farsa maligna, levar pessoas não-regeneradas a imaginarem que elas podem adorar a Deus. Enquanto o pecador permanece longe de Cristo, ele é “inimigo” de Deus, um filho da ira. Como então poderia ele adorar a Deus? Enquanto permanece em seu estado não-regenerado ele está “morto em seus pecados e delitos”. Como, então, ele pode adorar a Deus?
O que foi dito acima é quase universalmente repudiado hoje, e repudiado em nome da Religião. E, repetimos, religião é o principal instrumento usado pelo diabo para enganar almas, ao insistir – não importa que seja a “religião budista” ou a “religião cristã” – que o homem, ainda em seus pecados, pode manter um relacionamento e aproximar-se do Deus três vezes santo. Negar essa idéia é provocar a hostilidade e ser censurado a ponto de ser uma oposição a todos os meros religiosos. Sim, isto foi muito do que levou Cristo a ser odiado impiedosamente pelos religiosos de Seus dias. Ele refutou suas afirmações, expôs sua hipocrisia, e então provocou seu ódio.
Aos “príncipes dos sacedotes e anciões do povo” (Mateus 21.23), Cristo disse “os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus” (Mateus 21.31) e no final de seu discurso é dito que estavam “pretendendo prendê-lo” (v. 46). Eles atentaram para coisas externas, mas seu estado interno foi negligenciado. E por que os “publicanos e fariseus” entraram no reino de Deus adiante deles? Porque nenhuma pretensão religiosa obstruiu seu caminho; eles não tinham uma profissão de justiça própria para manter a qualquer custo, nem uma reputação piedosa para zelar. Pela pregação da Palavra, foram convencidos de seu estado de perdição, então colocaram-se no devido lugar diante de Deus e foram salvos. Algo que só pode acontecer com adoradores
A NATUREZA DA VERDADEIRA ADORAÇÃO
“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4.24). Adorar “em espírito” contrastava com os ritos humanos e cerimônias impostas do Judaísmo. Adorar “em verdade” se opunha às superstições e ilusões idólatras dos perdidos. Adorar a Deus “em espírito e em verdade” quer dizer adorar de uma maneira apropriada para a revelação plena e final que Deus fez de Si mesmo em Cristo. Significa adorar espiritualmente e verdadeiramente. Significa dar a Ele o louvor proveniente de um entendimento iluminado e o amor de um coração regenerado.
Adorar “em espírito e em verdade” se opõe à adoração carnal que é externa e espetacular. Exclui toda adoração a Deus com os sentidos. Nós não podemos adorá-lO, que é “Espírito”, observando uma arquitetura linda e janelas de vitrais, ouvindo as notas de um órgão caro ou sentindo o aroma doce de incenso. Nós não podemos adorar a Deus com nossos olhos e ouvidos, ou nariz e mãos, porque eles são “carne” e não “espírito”. “Importa que adorem em espírito e em verdade” exclui tudo aquilo que é do homem natural.
Adorar “em espírito e em verdade” exclui toda adoração emocional. A alma é o centro das emoções, e muitas das supostas adorações do Cristianismo atual são apenas emocionais. Anedotas tocantes, apelos entusiastas, oratória comovente de uma personalidade religiosa, tudo é calculado para produzir isto. Hinos lindos cantados por um coro bem ensaiado, trabalhados de uma forma que nos leva às lágrimas ou a êxtases de alegria. Isto pode excitar a alma, mas não pode, nem jamais afetará o homem interior.
A verdadeira adoração é a adoração de um povo redimido, unido ao próprio Deus. Os não-regenerados entendem “adoração” como uma observância daquilo que Deus requer deles, e que não dá a eles nenhuma alegria como eles procuram demonstrar. Muito diferente disto é o que acontece com aqueles que nasceram do alto e foram redimidos pelo sangue precioso. A primeira vez que a palavra “redimido” ocorre na Escritura é em Êxodo 15 , e é lá também, pela primeira vez, que vemos um povo cantando, adorando e glorificando a Deus. Lá, às margens do Mar Vermelho, esta Nação que foi tirada da casa da servidão e liberta de todos os seus inimigos une-se em louvor a Jeová. (N.T.: Na maioria das versões em português, a palavra em Êxodo 15 é “libertado”; a NVI se aproxima mais ao usar “resgatado”).
“Adoração” é a nova natureza no crente levando-o à ação, voltando-se à sua divina e prazeroza Origem. É aquilo que é “espírito” (João 3.6) voltando-se a Ele, que é “Espírito”. É aquilo que é “feitura” de Cristo (Efésios 2.10) voltando-se a Ele, que nos recriou. São os filhos, de forma espontânea e grata, voltando-se em amor a seu Pai. É o novo coração gritando “Graças a Deus pelo seu dom inefável!” (2 Coríntios 9.15). São os pecadores, purificados pelo sangue, exclamando “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Efésios 1.3). Isto é adoração; assegurada de nossa aceitação no Amado, adorando a Deus porque Ele fez Cristo estar em nós, e porque Ele fez nós estarmos em Cristo.
É digno de nossa atenção especial observar que a única vez em que o Senhor Jesus chegou a falar sobre o assunto da Adoração foi em João 4. Mateus 4.9 e Marcos 7.6,7 são citações do Antigo Testamento. Isto certamente tocará nossos corações se percebermos que a única ocasião em que Cristo fez alguma observação direta e pessoa quanto à adoração foi quando Ele conversava, não com um homem religioso como Nicodemos, ou mesmo com Seus apóstolos, mas com uma mulher, uma adúltera, uma Samaritana, uma quase pagã! Verdadeiramente os caminhos de Deus são diferentes dos nossos.
A esta pobre mulher nosso Senhor bendito declarou “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (João 4.23). E como o Pai “procura” adoradores? O contexto inteiro não nos dá a resposta? No início do capítulo, o Filho de Deus inicia uma jornada (vv. 3 e 4). Seu objetivo era buscar uma de Suas ovelhas perdidas, revelar-Se a uma alma que não O conhecia, livrar a mulher dos desejos da carne, e encher seu coração com Sua graça suficiente, e isto, para que ela pudesse encontrar a infinitude do amor divino e dar, em retorno, este louvor e adoração que apenas um pecador salvo pode dar.
Quem pode não perceber que, na jornada que Ele tomou a Sicar com o objetivo de encontrar esta alma desolada e ganhá-la para Si próprio, temos uma bendita sombra da jornada ainda maior que o Filho de Deus tomou – deixar a paz, o gozo e a luz dos céus, descer a este mundo de conflito, escuridão e desventura. Ele veio aqui procurar pecadores, não apenas salvá-los do pecado e da morte, mas concedê-los beber e deleitar-se com o amor de Deus como nenhum anjo pôde prová-lo; que, de corações transbordantes com a consciência de sua dívida com o Salvador, e a gratidão ao Pai por ter entregue Seu Filho amado a eles, ao perceber e aceitar Sua excelência suprema, possam expressar-se diante dEle como aroma suave de louvor. Isto é adoração, e o reconhecimento do amor irresistível de Deus e o sangue redentor de Cristo são a causa disto.
Uma dos mais abençoados e belos exemplos registrados no Novo Testamento do que a adoração é se encontra em João 12.2,3. “Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando um arrátel de ungüento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento”. Como alguém já disse, “ela não veio ouvir um sermão, apesar do Príncipe dos Pregadores estar ali. Sentar-se aos Seus pés e ouvir Sua palavra não era naquele momento seu objetivo, não importa quão abençoador isto seja em sua devida circunstância. Ela não veio para encontrar os santos, entretanto preciosos santos estavam ali; nem a comunhão com eles; mesmo sendo uma benção, naquele instante não era seu objetivo. Ela não procurou, depois de uma semana de trabalho, por descanso; mesmo sabendo bem dos abençoados campos de descanso que havia nEle. Não, ela veio para pôr diante dEle aquilo que ela tinha ajuntado por tanto tempo, aquilo que era a mais valiosa de suas posses terrenas. Ela não pensou como Simão, o leproso, sentado agora como um homem limpo; ela foi além ds apóstolos; e, então, também, de Marta e Lázaro, irmã e irmão na carne e em Cristo. O Senhor Jesus preencheu seus pensamentos: Ele havia ganho o coração de Maria e agora tomou todos os seus sentimentos. Ela não tinha olhos para ninguém além dEe. Adoração e homenagem eram, naquele momento, seu único pensamento – extravasar a devoção de seu coração diante dEle”. Isto é adoração.
O assunto da adoração é muito importante, ainda asim é um dos temas que temos as idéias mais vagas. Lemos em Mateus 2 que os magos levavam seus “tesouros” para presentear a Cristo (v. 11). Eles deram ofertas caras. Isto é adoração. Não é vir para receber dEle, mas render-se diante dEle. É a expressão de amor do coração. Oh, que possamos trazer ao Salvador “ouro, incenso e mirra”, isto é, adorá-lO por causa de Sua glória divina, Sua perfeição moral e Sua morte de aroma suave...
O alvo da adoração é Deus; e o inspirador da adoração é Deus. Só pode satisfazer a Deus aquilo Ele tenha por Si mesmo produzido. “SENHOR... tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras” (Isaías 26.13). É somente quando o Cordeiro é exaltado no poder do Espírito que os santos ão levados a cantar “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lucas 1.46,47). A ausência generalizada e concupiscente desta adoração que é “em espírito e em verdade” deve-se a uma ordem de coisas sobre as quais o Espírito de Deus não guia, onde o mundo, a carne e o diabo têm toda liberdade. Mas mesmo em círculos onde o mundanismo, em suas formas mais vis, nao é tolerado, e em que a ortodoxia é tolerada, e onde a ortodoxia ainda é preservada, existe, quase sempre, uma notável ausência desta unção, esta liberdade, esta alegria, que são inseparáveis do espírito da verdadeira adoração. Por que isto acontece? Por que em algumas igrejas, grupos familiares, uniões masculinas, onde a mensagem da Palavra de Deus é ministrada, nós agora mui raramente encontramos este transbordar do coração, estes manifestações espontâneas de adoração, estes “sacrifícios de louvor”, que deveriam ser achados entre o povo de Deus? Ah, a resposta é difícil de encontrar? É porque há um espírito entristecido neste meio. Esta, meus amigos, é a razão pela qual hoje existem tão poucos ministérios de Cristo vivos, confortadores e que produzem adoração.
OBSTÁCULOS À ADORAÇÃO
O que é adoração? Louvor? Sim, e mais; é um amor fluindo de um coração que está completamente seguro da excelência dAquele diante de quem o coração ajoelha-se, expressando sua mais profunda gratidão por Seu dom inefável. Aqui está claramente algo que é o primeiro obstáculo à adoração de um filho de Deus – a falta de segurança. Quanto mais eu retenho dúvidas quanto à minha aceitação em Cristo, mais eu permanecerei em um estado de incerteza em relação à expiação por meus pecados no Calvário. É impossível que eu, realmente, adore e louve a Ele por Sua morte por mim; certamente não poderei dizer “eu sou do meu Amado e Ele é meu”. É uma das ferramentas favoritas do inimigo para manter os cristãos no “Cativeiro da Rejeição”, já que seu objetivo é que Cristo não receba dos cristãos a honra de seus corações...
Outro grande obstáculo à adoração é a falha em julgar a nós mesmos pela Sagrada Palavra de Deus. Os sacerdotes de Israel não podiam ir de qualquer jeito até o altar de bronze no átrio exterior do tabernáculo. Era necessário cuidar que, antes que entrassem no Santo Lugar, para queimar o incenso, eles se lavassem na pia. Aproximar-se da pia de bronze nos fala do rigoroso julgamento do crente sobre si mesmo (cf. 1 Coríntios 11.31). O uso de sua água aponta para a aplicação da Palavra a todos os nosso atos e caminhos.
Agora, assim como os filhos de Arão estavam debaixo de pena de morte (Exôdo 30.20) se não se lavassem na pia antes de entrarem no Santo Lugar para queimar incenso, também o cristão hoje deve ter as impurezas do caminho removidas antes que ele possa aproximar apropriadamente de Deus como um adorarador. Falhar neste ponto leva à morte, isto é, eu continuo sob o poder contaminador das coisas mortas. As impurezas do caminho são resultado de minha caminhada através de um mundo de “separados da vida de Deus” (Efésios 4.18). Se isto não for removido, então eu continuo debaixo do poder da morte num sentido espiritual, e a adoração se torna impossível. Isto nos é demonstrado plenamente em João 13, em que o Senhor diz a Pedro “Se eu te não lavar, não tens parte comigo”. Quantos são os cristãos que, ao falharem em não colocar seus pés nas mãos de Cristo para limpeza, são impedidos de exercer suas funções e privilégios sacerdotais.
Um outro obstáculo fatal à adoração precisa ser mencionado, e este é o Mundanismo, que signifca as coisas do mundo obtendo lugar nos desejos do cristão, seus caminhos tornando-se “conformados com este mundo” (Romanos 12.2). Um exemplo disto é encontrado na história de Abraão. Quando Deus o chamou para deixar a Caldéia e ir para Canaã, ele abriu uma concessão: foi apenas até Harã (Gênesis 11.31, Atos 7.4) e habitou ali. Harã foi uma casa à meio-caminho, uma área inóspita entre ela e as bordas de Canaã. Mais tarde Abraão atendeu completamente ao chamado de Deus e entrou em Canaã, e “edificou ali um altar (algo que fala de adoração) ao SENHOR” (Gênesis 12.7). Mas não existe menção alguma de ele contruir qualquer “altar” durante os anos em que viveu em Harã! Oh, quantos filhos de Deus hoje estão comprometidos, habitando numa casa no meio do caminho, e como conseqüência, eles não são adoradores. Oh, que o Espírito de Deus possa trabalhar de tal forma sobre e dentro de nós que o idioma das nossas vidas, assim como dos nossos corações e lábios, possa ser “Digno é o Cordeiro” – digno de uma consagração do coração por completo, digno de uma devoção imensa, digno deste amor que é manifestado por guardar Seus mandamentos, digno de uma adoração verdadeira. Que seja assim, por amor de Seu nome.

Por Arthur W. Pink