Ele me glorificará, porque há de receber do que é
meu e vo-lo há de anunciar. João 16:14
A
Escritura fala de uma dupla glorificação do Filho. Uma é pelo Pai, a outra pelo
Espírito: uma se dá no céu, a outra aqui na terra. Por uma Ele é glorificado
“no próprio Deus”; por outra, “em nós” (João 13:32; 17:10). Da primeira, Jesus
disse: “se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará nele mesmo; e
glorificá-lo-á imediatamente”. E novamente, na oração sacerdotal, “Pai, é chegada
a hora; glorifica a teu Filho [...] e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo
mesmo, com a glória que eu tive junto de ti” (João 17:1,5). Da última, Ele
disse: “há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”.
Glorificar
é manifestar a excelência e valor ocultos de uma pessoa. Jesus, o Filho do
Homem, seria glorificado quando Sua natureza humana fosse admitida em plena
participação do poder e glória em
que Deus habita. Ele entrou na perfeita vida espiritual do
mundo celestial, do ser divino. Todos os anjos O louvaram como o Cordeiro no
trono. Esta glória celestial e espiritual de Cristo, a mente humana não pode
conceber ou compreender. Ela só pode ser conhecida verdadeiramente por
experiência, sendo comunicada e apropriada pela vida interior. Esta é a obra do
Espírito Santo, como o Espírito do Cristo glorificado. Ele vem como o Espírito
da glória e revela a glória de Cristo em nós pelo Seu habitar e trabalhar. Da
mesma maneira, Ele O glorifica em nós e através de nós naqueles que têm olhos
para ver. O Filho não busca a Sua própria glória: o Pai O glorifica nos céus, o
Espírito O glorifica em nossos corações.
Mas
antes que o Espírito pudesse glorificar a Cristo, Ele primeiro precisava se
afastar de Seus discípulos. Eles não poderiam tê-Lo em Espírito e na carne
também; Sua presença física impediria a habitação espiritual. Eles tinham de se
separar do Cristo que conheceram e amaram antes que pudessem receber a
habitação do Cristo glorificado pelo Espírito Santo. O próprio Cristo teve de
abrir mão da vida que tinha para que pudesse ser glorificado nos céus e em nós. Mesmo em união com
ele, devemos abrir mão daquela medida de vida que tínhamos Nele se desejamos
tê-Lo glorificado para nós e em nós pelo Espirito Santo.
Estou
convencido de que, neste ponto, muitos dos filhos de Deus precisam do
ensinamento: “convém-vos que eu vá”. Conforme os discípulos, eles também creram
em Jesus; eles O amam e obedecem, e experimentaram muito da bênção inexprimível
de conhecer e seguir a Ele. Ainda assim, sentem que o profundo descanso e gozo,
a santa luz e o divino poder de Sua habitação presente, conforme a veem nas
Sagradas Escrituras, ainda não pertencem a eles. Primeiro em segredo e então
sob a bendita influência da comunhão dos santos, o ensino dos servos de Deus
tem sido ajudado e maravilhosamente abençoado. Cristo se tornou muito precioso.
Mesmo assim, ainda veem algo adiante deles – promessas ainda não cumpridas,
desejos não plenamente satisfeitos. Pode ser que a razão para isto seja que
eles ainda não tenham herdado plenamente a promessa: “quando vier, porém, o
Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si
mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de
vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de
anunciar.” (João 16:13-14). Não entenderam plenamente a conveniência da partida
de Cristo para que voltasse glorificado no Espírito. Ainda não puderam dizer
que apesar de terem conhecido Cristo segundo a carne, até agora ainda não O
conhecem.
O
conhecimento de Cristo segundo a carne deve chegar ao fim. Devemos abrir
caminho para o conhecimento Dele no poder do Espírito. “Segundo a carne”
significa no poder do que é externo, relativo a palavras e ideais, esforços e
sentimentos, influências e ajudas vindas de fora. O crente que recebeu o
Espírito Santo, mas não conhece plenamente o que isto implica e, portanto, não
se entrega inteiramente à Sua liderança, tem em grande parte sua confiança
somente na carne. Admitindo que não pode fazer nada sem o Espírito, ele ainda
trabalha e luta em vão para crer e viver como sabe que deve. Confessando seus
pecados sinceramente, e por vezes experimentando de maneira mais abençoada que
somente Cristo é sua vida e força, se entristece em pensar no quanto falha em
manter essa atitude de dependência confiante pela qual Cristo pode viver Sua
vida nele. Ele procura crer em tudo o que sabe sobre a presença, guarda e
habitação de Cristo, e mesmo assim, de alguma forma, ainda há brechas e
interrupções; é como se a fé não fosse o que deveria ser – a certeza daquilo
que se espera. A razão deve ser que a fé é ainda um exercício mental, no poder
da carne, na sabedoria do homem. Houve uma revelação de Cristo: o guarda fiel,
o amigo presente, mas essa revelação foi, em parte, apropriada pela carne e a
mente natural. Isso tornou a revelação impotente. O Cristo da glória, a
doutrina do Cristo de habitação, foi recebido apenas parcialmente pelo
espírito. Somente o Espírito de Cristo pode glorificar a Cristo. Devemos
desistir da velha maneira de conhecer a Cristo. Devemos não mais conhecê-Lo
segundo a carne.
O que
significa o Espírito glorificar a Cristo? Lemos em Hebreus:
Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo
sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que,
pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem. Porque convinha que
aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos
filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação
deles. (Hebreus 2:9-10, ênfase adicionada)
A Ele
todas as coisas foram sujeitadas. Assim, nosso Senhor conecta o fato de Ele ser
glorificado, na passagem que tomamos como nosso texto, com o de todas as coisas
serem dadas a Ele. “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e
vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que
há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” (João 16: 14-15). Ao
exaltá-Lo acima de todo o governo e poder e domínio, o Pai colocou todas as
coisas em sujeição sob Seus pés: Ele Lhe deu o nome que está acima de todo
nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho. O reino e o poder e a
glória são um: Ao que está assentado no trono, e ao Cordeiro entronizado, sejam
a glória e o domínio para sempre. É assentado no trono da glória divina, com
todas as coisas sujeitadas sob Seus pés, que Jesus foi glorificado nos céus
(veja Efésios 1:20-22; Filipenses 2:9-10).
Quando
o Espírito Santo glorifica a Jesus em nós, Ele O revela a nós em Sua glória.
Ele toma as coisas de Cristo e as declara para nós. Não é que Ele nos dê uma
idéia, imagem ou visão daquela glória como ela é nos céus, mas Ele nos mostra-a
como experiência e possessão pessoal. Ele nos habilita a participar dela em
nosso ser interior. Mostra a Cristo como presente em nós. Todo o verdadeiro e
vivo conhecimento que temos de Cristo é através do Espírito de Deus. Após o
nosso primeiro conhecimento de Cristo, e depois de tê-Lo convidado para o nosso
coração, Ele cresce, aumenta e é formado dentro em nós; quando aprendemos a
confiar e a seguir e a servi-Lo – isso também vem do Espírito Santo. Tudo isto,
entretanto, pode existir, como existiu nos discípulos, com certa quantidade de
trevas e erro. Mas quando o Espírito Santo faz Sua obra perfeita e revela o
Senhor glorificado, o trono de Sua glória é erguido no coração e Ele governa
sobre todos os inimigos. Todo poder é trazido à sujeição, todo pensamento
cativo à obediência de Cristo. Através de toda a natureza renovada se levanta a
canção, “Glória ao que está assentado no trono”. Ainda que a confissão
permaneça verdadeira até o fim, “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
nenhum”, a santa presença de Cristo como Senhor e Governador de tal forma enche
o coração e a vida que Sua autoridade governa sobre tudo. O pecado não tem
poder. A lei do Espírito da vida em Cristo Jesus me libertou da lei do pecado e da
morte.
Se
esta é a glorificação de Cristo que o Espírito traz, é fácil ver a o caminho
que leva a ela. A entronização de Jesus em Sua glória somente pode acontecer no
coração que promete obediência implícita e irrestrita. É no coração que teve a
coragem de crer que Ele irá reinar, e na fé que espera que todo inimigo seja
mantido sob Seus pés. Esse coração clama e aceita a Cristo como Senhor de tudo,
tudo na vida, grande ou pequeno, possuído e guiado por Ele, através de Seu
Espírito Santo. É no discípulo que ama e obedece que o Espírito promete
habitar; nele o Espírito glorifica a Cristo.
Isso
acontece no tempo perfeito de Deus para o crente. A história da igreja como um
todo se repete em cada indivíduo. Até o tempo designado pelo Pai, que tem os
tempos e estações em Suas próprias mãos, o herdeiro permanece sob a tutela de
guardiões e mordomos, e não é diferente de um escravo. Quando a plenitude dos
tempos chega e a fé é aperfeiçoada, o Espírito d’O glorificado entra em poder e
Cristo habita no coração. Sim, a história do próprio Cristo se repete na alma.
No templo existiam dois lugares santos – um antes do véu, o outro após o véu, o
Santo dos Santos. Cristo, em Sua vida terrena, habitou e ministrou no Lugar
Santo de fora do véu: o véu da carne O afastou do Santíssimo. Foi somente
quando o véu da carne foi rasgado que Ele pôde entrar no santuário interior da
plena glória da vida do Espírito nos céus.
Da
mesma forma, o crente que anseia por ter Jesus glorificado em si pelo Espírito
deve, mesmo que sua vida tenha sido abençoada em conhecimento e serviço ao seu
Senhor, aprender que existe algo melhor. Nele, também, o véu da carne deve ser
rasgado; ele deve entrar nessa obra de Cristo através do novo e vivo caminho
para o Santo dos Santos. A alma deve ver quão completamente Jesus triunfou
sobre a carne e entrou na vida do Espírito. Ela deve perceber quão perfeito, em
virtude desse triunfo, é Seu poder sobre tudo aquilo que em nossa carne pode
atrapalhar; e quão perfeita no poder do Espírito a entrada e habitação de Jesus
pode ser. O véu é retirado e a vida antes vivida no Santo Lugar agora o é no
Santíssimo, na plena presença de Sua glória.
Este
rasgar do véu, esta entronização de Jesus como O glorificado no coração, não é
sempre com som de trombetas e clamores. Pode ser assim em algumas vezes, e com
alguns indivíduos, mas em outros acontece com profundo temor e quietude, onde
não se ouve nenhum som. O Rei de Sião ainda vem dócil e humilde, com o reino,
para o pobre de espírito. Sem beleza nem formosura Ele entra, e quando as ideias
e sentimentos falham, o Espírito Santo O glorifica na fé que não vê, mas crê.
Os olhos da carne não O viram no trono; para o mundo isto era um mistério;
então quando tudo parece vazio e sem esperança, o Espírito opera secretamente a
segurança divina, e a bendita experiência de que Cristo, O glorificado,
estabeleceu Sua residência no íntimo. A alma sabe, em adoração e louvor
silenciosos, que Jesus é o Mestre, que Seu trono no coração é estabelecido em
justiça e a promessa está agora cumprida.
Um comentário:
Amém! Glória ao Pai da Glória, ao Senhor da Glória, e ao Espírito da Glória por Suas Revelações Gloriosas da Glória em nossos corações! Ele em nós, A ESPERANÇA DA GLÓRIA! Estamos Nele, mas Ele necessita está em nós, pelo Espírito de Sabedoria e de Revelação, vindo do nosso espirito para nossa alma, levando-a, de Glória em Glória, do Santo Lugar para O Santo dos Santos, até que, Naquele Dia, nosso corpo, também, experimente Desta Graciosa Glória! Aleluia! Tudo seja para O Louvor da Glória da Graça do Criador de todas as coisas! Amém!
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