sábado, 4 de agosto de 2012

A Conveniência da Vinda do Espírito



Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. João 16:7
        Quando nosso Senhor deixou este mundo, Ele prometeu aos discípulos que Sua partida lhes seria um ganho; o Ajudador [também chamado o Consolador em algumas versões] tomaria Seu lugar e seria para eles muito melhor que Ele fora ou poderia ser em Sua presença física. Isto seria verdade particularmente em dois aspectos. Sua comunhão com eles nunca fora quebrada, mas estava sujeita a interrupção; agora ela seria quebrada pela morte e eles não O veriam novamente. O Espírito, porém, habitaria com eles para sempre. Sua própria comunhão com eles havia sido bastante exterior, e por causa disso não resultou naquilo que se poderia esperar. O Espírito estaria neles; Sua vinda seria como uma presença residente, no poder da qual eles teriam com eles também a Jesus, como sua vida e força.
        Durante a vida de nosso Senhor na terra, cada um de Seus discípulos fora ministrado por Ele de acordo com seu caráter individual e as circunstâncias especiais nas quais ele deveria ser colocado. A comunhão com cada um era intensamente pessoal. Em tudo Ele provou conhecer Suas ovelhas pelo nome. Para cada um foram demonstradas seriedade e sabedoria que supriram o que era necessário. O Espírito supriria também essas necessidades com o mesmo interesse pessoal e a especial atenção individual que tornou a liderança de Jesus tão preciosa? Não havia dúvidas. Tudo o que Cristo era para eles o Espírito seria até em maior poder e bênção que nunca cessariam. Eles seriam mais felizes, mais seguros, e mesmo mais fortes do que quando Jesus andou com eles na terra. A habitação do Espírito foi designada para restaurar a comunhão e liderança mais pessoais de Cristo, e até mesmo sua amizade pessoal.
        Para muitos é um problema de grande dificuldade conceber este fato, quanto mais crer nele e experimentá-lo. A idéia de Cristo andando com homens e mulheres na terra, tendo comunhão com eles e guiando-os é clara. A idéia do Espírito habitando em nós e falando nas profundezas secretas de nosso ser faz a Sua liderança mais difícil de compreender.
        Ainda assim, aquilo que constitui a dificuldade da nova liderança e comunhão espirituais é também o que lhes dá valor e bênção. É o mesmo princípio encontrado na vida diária: a dificuldade revela as forças dormentes, fortalece a vontade, desenvolve o caráter e constrói a personalidade. Nas primeiras lições de uma criança, ela é ajudada e encorajada; conforme as lições aumentam em dificuldade, o professor pode deixá-la exercitar suas próprias habilidades e utilizar de seus próprios recursos. O jovem um dia deixa a casa de seus pais para testar os princípios que foram insitados nele desde a infância. Em cada caso é conveniente que a presença e ajuda externas sejam retiradas e que o indivíduo seja lançado em si mesmo para aplicar e assimilar as lições que lhe foram ensinadas.
        Deus sem dúvida deseja nos ensinar uma perfeita humanidade – não governada por uma lei externa, mas pela vida interior. Enquanto Jesus esteve com os discípulos na terra, tinha de trabalhar com eles de fora, nunca alcançando efetivamente o ser interior. Quando Ele se foi, enviou o Espírito para estar neles de forma que seu crescimento viesse de dentro. Tomando posse primeiramente dos mais íntimos recônditos do ser deles por Seu Espírito, Ele os teria em rendição e consentimento voluntários a Sua inspiração e liderança. Assim eles teriam a emolduração de suas vidas – a formação de seu caráter – em suas próprias mãos, no poder do Espírito divino, que verdadeiramente se tornou o espírito deles. Eles cresceriam em verdadeira autoconfiança – independência das influências externa – na qual se tornariam como Cristo, que tendo vida em Si mesmo viveu em plena dependência do Pai.
        Enquanto o cristão pede somente por aquilo que é fácil e agradável, ele jamais entenderá que é melhor para nós que Cristo não esteja conosco na terra. Mas assim que as idéias de dificuldade e sacrifício forem postas de lado no sincero desejo de se tornar uma pessoa verdadeiramente piedosa, carregando a plena imagem do Filho e vivendo de maneira agradável ao Pai, a idéia da partida de Jesus para que Seu Espírito possa se tornar nossa própria vontade será bem-vinda com gratidão e alegria. Se seguir a liderança do Espírito, e particularmente a amizade e liderança pessoal de Jesus, é um caminho mais difícil do que o seria segui-Lo na terra, devemos nos lembrar que o privilégio de que desfrutamos, a nobreza que atingimos, a intimidade de comunhão com Deus em que entramos é infinitamente maior. Ter o Santo Espírito de Deus vindo através da natureza humana de nosso Senhor, entrando em nossos espíritos, identificando-Se conosco e tornando-Se nosso, assim como Ele foi o Espírito de Cristo na terra – certamente isto é uma bênção que vale qualquer sacrifício, porque ela é o início da habitação do próprio Deus.
        Ver que isto é tamanho privilégio e desejá-lo honestamente não remove a dificuldade. Então o problema surge novamente: a comunhão de Jesus com Seus discípulos na terra – tão condescendente em sua ternura, tão particular em seu interesse, tão pessoal em seu amor – como ela pode ser nossa no mesmo nível, agora que Ele está ausente e o Espírito é nosso guia? A resposta é simplesmente esta: pela fé. Com Jesus na terra, os discípulos, uma vez que creram, andaram por vista. Nós andamos por fé. Na fé devemos aceitar e regozijar na palavra de Jesus: “convém-vos que eu vá”. Devemos gastar tempo para deixar que isso se torne parte de nós, regozijar-nos porque Ele foi para o Pai. Agradeçamos e louvemos a Ele porque nos chamou para essa vida no Espírito. Creiamos que neste dom do Espírito a presença e comunhão de nosso Senhor são dadas a nós de maneira mais efetiva. Isto pode ser de fato algo que não entendemos ainda, porque temos acreditado e regozijado tão cautelosamente no dom do Espírito Santo. Mas a fé deve crer e louvar por aquilo que ela ainda não entende. Seja confiante e alegre porque o Espírito Santo, e Jesus mesmo através Dele, nos ensinarão como a comunhão e liderança devem ser experimentadas.
        Devemos ter cuidado para não compreender mal a palavra que o Espírito nos ensinará. Geralmente ligamos ensinamentos com idéias. Queremos que o Espírito nos sugira certos conceitos de como Jesus estará conosco e dentro de nós. Isso não é o que Ele faz. O Espírito não habita na mente, mas na vida; não no que sabemos, mas no que somos. Não busque ou espere de uma só vez uma compreensão clara, uma nova revelação, a respeito desta ou qualquer outra verdade divina. Conhecimento, pensamento, sentimento, ação – todos são parte daquela carreira externa que Jesus imprimiu em Seus discípulos. O Espírito veio, e mais profundo que tudo isso, Ele deveria ser a presença oculta de Jesus nas profundezas de suas personalidades. A vida divina em novidade de poder deveria se tornar a vida dos discípulos. O ensino do Espírito começaria não em palavras ou idéias, mas em poder. Este seria o poder de uma vida operando neles em segredo, mas com energia divina; o poder de uma fé que se regozija em Jesus estar próximo e tomando controle de toda a sua vida em cada circunstância. O Espírito os inspiraria com a fé do Jesus que neles habita. Este seria o início de Seu ensino. Eles teriam a vida de Jesus dentro de si e saberiam por fé que realmente era Jesus. Sua fé seria tanto a causa quanto o efeito da presença do Senhor pelo Espírito.
        É por esta fé – uma fé nascida do Espírito – que a presença de Jesus torna-se real e toda-suficiente como era quando Ele estava na terra. Porque é que os crentes, que têm o Espírito, não experimentam Sua presença mais consciente e plenamente? A resposta é simples: eles pouco conhecem e honram o Espírito que está dentro deles. Eles têm fé em Jesus que morreu, que reina nos céus, mas pouca fé em Jesus que habita neles pelo Seu Espírito. Precisamos de mais fé em Jesus como o cumprimento da promessa “Aquele que crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de águas vivas” (João 7:38). Devemos crer que o Espírito está dentro de nós como a presença de nosso Senhor Jesus. E devemos crer nisso não somente com a fé de nosso entendimento – conforme procura se persuadir da verdade do que Cristo diz – mas devemos crer com o coração, um coração no qual o Espírito Santo habita. O pleno dom do Espírito, o pleno ensinamento de Jesus acerca do Espírito é reforçar a mensagem “o reino de Deus está dentro de vós” (João 7:38). Se quisermos ter a verdadeira fé do coração, devemos olhar para dentro e humildemente nos render ao Espírito Santo para que Ele faça Sua obra em nós.
        Para receber este ensino e esta fé que se baseia na vida e poder do Espírito, devemos acima de tudo temer o que mais ofende a Ele: a vontade e sabedoria do homem. Estamos cercados pela vida do eu – da carne – no serviço a Deus. Mesmo em nossos esforços para exercitar a fé, a carne se adianta, ostentando sua própria força. Todo pensamento, seja bom ou mau, no qual nossa mente passa adiante do Espírito, deve ser trazido ao cativeiro. Traga sua própria vontade e sua própria sabedoria cativas aos pés de Jesus e espere em fé e quietude de alma. A profunda consciência de que o Espírito está dentro de você e de que sua vida divina está vivendo e crescendo em você aumentará. Conforme O honramos e nos doamos a Ele, conforme trazemos nossas atividades na carne em sujeição a Ele, Ele não nos envergonhará, mas fará a Sua obra em nós. Ele fortalecerá nossa vida interior, avivará nossa fé, revelará Jesus, nós iremos, passo a passo, aprender que a presença e comunhão pessoal e liderança de Jesus são nossas tão clara e preciosamente – ou até mais – quanto eram quando Ele estava aqui na terra.
        Senhor Jesus, apesar de eu não tê-Lo conhecido na terra como os discípulos, reconheço que a comunhão contigo é mais real, mais próxima, mais terna, mais efetiva do que se estivesses ainda aqui na terra. Eu te louvo porque Teu Santo Espírito habita dentro de mim e me permite conhecer o que é esta comunhão – a realidade da Sua perfeita habitação.
        Santo Senhor! Perdoa-me porque eu não Te louvei e amei plenamente por este dom tão maravilhoso e pelo amor do Pai. Ensina-me com uma fé esperançosa a crer em Ti de quem, dia a dia, a renovada unção flui e enche a minha vida.
        Ouve-me, Senhor, quando clamo a Ti em favor de tantos dos seus remidos que ainda não vêem o que significa desistir de sua vida na carne, para receber em lugar dela a vida que está no poder do Espírito. Com muitos outros eu peço que despertes a igreja para conhecer a marca de sua eleição, o segredo de seu gozo na Tua presença, o poder para cumprir o seu chamado: de que cada crente seja levado a conhecer o Espírito de habitação. A presença residente do Senhor conosco como guarda, guia e amigo é, sem dúvida, nossa certa recompensa. Conceda isto, Senhor, por amor do Teu nome. Amém.
Sumário
1.   O fato de que o Consolador não viria se Jesus não se fosse é prova convincente de que o dom do Espírito no dia de Pentecostes é algo distinto de qualquer coisa antes daquele tempo – uma nova dispensação.
2.   O conhecimento que os discípulos tinham de Jesus na terra era algo tão bendito e divino que eles não poderiam conceber que houvesse nada melhor. Eles poderiam apenas sentir com angústia a expectativa de perder aquilo que sabiam vir de Deus. Há muitos cristãos evangélicos que devem desistir também do conhecimento que tinham anteriormente de Cristo se desejam que Ele seja revelado no poder do Espírito Santo. “Pelo contrário, porque vos tenho dito estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração. Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.” (João 16:6-7). Estas palavras somente podem ser completamente entendidas quando elas se tornarem uma experiência pessoal. Um mero conhecimento externo de Cristo pelo qual conhecemos uma vida de esforço e falhas deve dar caminho a uma habitação espiritual.
3.   A lei do reino é da morte para a vida, perdendo tudo para ganhar o que é maior. O grande tropeço para muitos cristãos é sua confiança na ortodoxia e suficiência de seu conhecimento religioso. Se eles, como dizem, pudessem apenas ser mais diligentes e fiéis... Mas perceba que na vida dos discípulos, novos e mais extenuantes esforços teriam somente levado a novas e mais amargas falhas. Eles, apesar de verdadeiros discípulos, tiveram que abrir mão, morrer para sua velha maneira de conhecer a Cristo, e receber como um presente uma vida inteiramente nova de comunhão com Ele. Se os crentes de hoje apenas pudessem ver a maneira mais excelente de se viver uma vida santa: através da habitação do Espírito de Cristo, revelando e os mantendo na presença de seu Senhor em poder.

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