Mas eu vos
digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não
virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. João 16:7
Quando nosso Senhor deixou
este mundo, Ele prometeu aos discípulos que Sua partida lhes seria um ganho; o
Ajudador [também chamado o Consolador em algumas versões] tomaria Seu lugar e
seria para eles muito melhor que Ele fora ou poderia ser em Sua presença
física. Isto seria verdade particularmente em dois aspectos. Sua comunhão com
eles nunca fora quebrada, mas estava sujeita a interrupção; agora ela seria
quebrada pela morte e eles não O veriam novamente. O Espírito, porém, habitaria
com eles para sempre. Sua própria comunhão com eles havia sido bastante exterior,
e por causa disso não resultou naquilo que se poderia esperar. O Espírito
estaria neles; Sua vinda seria como uma presença residente, no poder da qual
eles teriam com eles também a Jesus, como sua vida e força.
Durante a vida de nosso
Senhor na terra, cada um de Seus discípulos fora ministrado por Ele de acordo
com seu caráter individual e as circunstâncias especiais nas quais ele deveria
ser colocado. A comunhão com cada um era intensamente pessoal. Em tudo Ele provou conhecer
Suas ovelhas pelo nome. Para cada um foram demonstradas seriedade e sabedoria
que supriram o que era necessário. O Espírito supriria também essas
necessidades com o mesmo interesse pessoal e a especial atenção individual que
tornou a liderança de Jesus tão preciosa? Não havia dúvidas. Tudo o que Cristo
era para eles o Espírito seria até em maior poder e bênção que nunca cessariam.
Eles seriam mais felizes, mais seguros, e mesmo mais fortes do que quando Jesus
andou com eles na terra. A habitação do Espírito foi designada para restaurar a
comunhão e liderança mais pessoais de Cristo, e até mesmo sua amizade pessoal.
Para muitos é um problema
de grande dificuldade conceber este fato, quanto mais crer nele e
experimentá-lo. A idéia de Cristo andando com homens e mulheres na terra, tendo
comunhão com eles e guiando-os é clara. A idéia do Espírito habitando em nós e
falando nas profundezas secretas de nosso ser faz a Sua liderança mais difícil
de compreender.
Ainda assim, aquilo que
constitui a dificuldade da nova liderança e comunhão espirituais é também o que
lhes dá valor e bênção. É o mesmo princípio encontrado na vida diária: a
dificuldade revela as forças dormentes, fortalece a vontade, desenvolve o
caráter e constrói a personalidade. Nas primeiras lições de uma criança, ela é
ajudada e encorajada; conforme as lições aumentam em dificuldade, o professor
pode deixá-la exercitar suas próprias habilidades e utilizar de seus próprios
recursos. O jovem um dia deixa a casa de seus pais para testar os princípios
que foram insitados nele desde a infância. Em cada caso é conveniente que a
presença e ajuda externas sejam retiradas e que o indivíduo seja lançado em si
mesmo para aplicar e assimilar as lições que lhe foram ensinadas.
Deus sem dúvida deseja nos
ensinar uma perfeita humanidade – não governada por uma lei externa, mas pela
vida interior. Enquanto Jesus esteve com os discípulos na terra, tinha de
trabalhar com eles de fora, nunca alcançando efetivamente o ser interior.
Quando Ele se foi, enviou o Espírito para estar neles de forma que seu
crescimento viesse de dentro. Tomando posse primeiramente dos mais íntimos
recônditos do ser deles por Seu Espírito, Ele os teria em rendição e
consentimento voluntários a Sua inspiração e liderança. Assim eles teriam a
emolduração de suas vidas – a formação de seu caráter – em suas próprias mãos,
no poder do Espírito divino, que verdadeiramente se tornou o espírito deles.
Eles cresceriam em verdadeira autoconfiança – independência das influências
externa – na qual se tornariam como Cristo, que tendo vida em Si mesmo viveu em
plena dependência do Pai.
Enquanto o cristão pede
somente por aquilo que é fácil e agradável, ele jamais entenderá que é melhor
para nós que Cristo não esteja conosco na terra. Mas assim que as idéias de
dificuldade e sacrifício forem postas de lado no sincero desejo de se tornar
uma pessoa verdadeiramente piedosa, carregando a plena imagem do Filho e
vivendo de maneira agradável ao Pai, a idéia da partida de Jesus para que Seu
Espírito possa se tornar nossa própria vontade será bem-vinda com gratidão e
alegria. Se seguir a liderança do Espírito, e particularmente a amizade e
liderança pessoal de Jesus, é um caminho mais difícil do que o seria segui-Lo
na terra, devemos nos lembrar que o privilégio de que desfrutamos, a nobreza que
atingimos, a intimidade de comunhão com Deus em que entramos é infinitamente
maior. Ter o Santo Espírito de Deus vindo através da natureza humana de nosso
Senhor, entrando em nossos espíritos, identificando-Se conosco e tornando-Se
nosso, assim como Ele foi o Espírito de Cristo na terra – certamente isto é uma
bênção que vale qualquer sacrifício, porque ela é o início da habitação do
próprio Deus.
Ver
que isto é tamanho privilégio e desejá-lo honestamente não remove a
dificuldade. Então o problema surge novamente: a comunhão de Jesus com Seus
discípulos na terra – tão condescendente em sua ternura, tão particular em seu
interesse, tão pessoal em seu amor – como ela pode ser nossa no mesmo nível,
agora que Ele está ausente e o Espírito é nosso guia? A resposta é simplesmente
esta: pela fé. Com Jesus na terra, os discípulos, uma vez que creram, andaram
por vista. Nós andamos por fé. Na fé devemos aceitar e regozijar na palavra de
Jesus: “convém-vos que eu vá”. Devemos gastar tempo para deixar que isso se torne
parte de nós, regozijar-nos porque Ele foi para o Pai. Agradeçamos e louvemos a
Ele porque nos chamou para essa vida no Espírito. Creiamos que neste dom do
Espírito a presença e comunhão de nosso Senhor são dadas a nós de maneira mais
efetiva. Isto pode ser de fato algo que não entendemos ainda, porque temos
acreditado e regozijado tão cautelosamente no dom do Espírito Santo. Mas a fé
deve crer e louvar por aquilo que ela ainda não entende. Seja confiante e
alegre porque o Espírito Santo, e Jesus mesmo através Dele, nos ensinarão como
a comunhão e liderança devem ser experimentadas.
Devemos
ter cuidado para não compreender mal a palavra que o Espírito nos ensinará.
Geralmente ligamos ensinamentos com idéias. Queremos que o Espírito nos sugira
certos conceitos de como Jesus estará conosco e dentro de nós. Isso não é o que
Ele faz. O Espírito não habita na mente, mas na vida; não no que sabemos, mas
no que somos. Não busque ou espere de uma só vez uma compreensão clara, uma
nova revelação, a respeito desta ou qualquer outra verdade divina.
Conhecimento, pensamento, sentimento, ação – todos são parte daquela carreira
externa que Jesus imprimiu em Seus discípulos. O Espírito veio, e mais profundo
que tudo isso, Ele deveria ser a presença oculta de Jesus nas profundezas de
suas personalidades. A vida divina em novidade de poder deveria se tornar a
vida dos discípulos. O ensino do Espírito começaria não em palavras ou idéias,
mas em poder. Este
seria o poder de uma vida operando neles em segredo, mas com energia divina; o
poder de uma fé que se regozija em Jesus estar próximo e tomando controle de
toda a sua vida em cada circunstância. O Espírito os inspiraria com a fé do
Jesus que neles habita. Este seria o início de Seu ensino. Eles teriam a vida
de Jesus dentro de si e saberiam por fé que realmente era Jesus. Sua fé seria
tanto a causa quanto o efeito da presença do Senhor pelo Espírito.
É por
esta fé – uma fé nascida do Espírito – que a presença de Jesus torna-se real e
toda-suficiente como era quando Ele estava na terra. Porque é que os crentes,
que têm o Espírito, não experimentam Sua presença mais consciente e plenamente?
A resposta é simples: eles pouco conhecem e honram o Espírito que está dentro
deles. Eles têm fé em Jesus que morreu, que reina nos céus, mas pouca fé em
Jesus que habita neles pelo Seu Espírito. Precisamos de mais fé em Jesus como o
cumprimento da promessa “Aquele que crer em mim, como diz a Escritura, do seu
interior fluirão rios de águas vivas” (João 7:38). Devemos crer que o Espírito
está dentro de nós como a presença de nosso Senhor Jesus. E devemos crer nisso
não somente com a fé de nosso entendimento – conforme procura se persuadir da
verdade do que Cristo diz – mas devemos crer com o coração, um coração no qual
o Espírito Santo habita. O pleno dom do Espírito, o pleno ensinamento de Jesus
acerca do Espírito é reforçar a mensagem “o reino de Deus está dentro de vós”
(João 7:38). Se quisermos ter a verdadeira fé do coração, devemos olhar para
dentro e humildemente nos render ao Espírito Santo para que Ele faça Sua obra
em nós.
Para
receber este ensino e esta fé que se baseia na vida e poder do Espírito,
devemos acima de tudo temer o que mais ofende a Ele: a vontade e sabedoria do
homem. Estamos cercados pela vida do eu – da carne – no serviço a Deus. Mesmo
em nossos esforços para exercitar a fé, a carne se adianta, ostentando sua
própria força. Todo pensamento, seja bom ou mau, no qual nossa mente passa
adiante do Espírito, deve ser trazido ao cativeiro. Traga sua própria vontade e
sua própria sabedoria cativas aos pés de Jesus e espere em fé e quietude de
alma. A profunda consciência de que o Espírito está dentro de você e de que sua
vida divina está vivendo e crescendo em você aumentará. Conforme O honramos e
nos doamos a Ele, conforme trazemos nossas atividades na carne em sujeição a
Ele, Ele não nos envergonhará, mas fará a Sua obra em nós. Ele fortalecerá
nossa vida interior, avivará nossa fé, revelará Jesus, nós iremos, passo a
passo, aprender que a presença e comunhão pessoal e liderança de Jesus são
nossas tão clara e preciosamente – ou até mais – quanto eram quando Ele estava
aqui na terra.
Senhor Jesus, apesar de eu não tê-Lo conhecido na terra como os
discípulos, reconheço que a comunhão contigo é mais real, mais próxima, mais
terna, mais efetiva do que se estivesses ainda aqui na terra. Eu te louvo
porque Teu Santo Espírito habita dentro de mim e me permite conhecer o que é
esta comunhão – a realidade da Sua perfeita habitação.
Santo Senhor! Perdoa-me porque eu não Te louvei e amei
plenamente por este dom tão maravilhoso e pelo amor do Pai. Ensina-me com uma
fé esperançosa a crer em Ti de quem, dia a dia, a renovada unção flui e enche a
minha vida.
Ouve-me, Senhor, quando clamo a Ti em favor de tantos dos
seus remidos que ainda não vêem o que significa desistir de sua vida na carne,
para receber em lugar dela a vida que está no poder do Espírito. Com muitos
outros eu peço que despertes a igreja para conhecer a marca de sua eleição, o
segredo de seu gozo na Tua presença, o poder para cumprir o seu chamado: de que
cada crente seja levado a conhecer o Espírito de habitação. A presença
residente do Senhor conosco como guarda, guia e amigo é, sem dúvida, nossa
certa recompensa. Conceda isto, Senhor, por amor do Teu nome. Amém.
Sumário
1.
O fato de que o Consolador não viria se Jesus não
se fosse é prova convincente de que o dom do Espírito no dia de Pentecostes é
algo distinto de qualquer coisa antes daquele tempo – uma nova dispensação.
2.
O conhecimento que os discípulos tinham de Jesus na
terra era algo tão bendito e divino que eles não poderiam conceber que houvesse
nada melhor. Eles poderiam apenas sentir com angústia a expectativa de perder
aquilo que sabiam vir de Deus. Há muitos cristãos evangélicos que devem
desistir também do conhecimento que tinham anteriormente de Cristo se desejam
que Ele seja revelado no poder do Espírito Santo. “Pelo contrário, porque vos
tenho dito estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração. Mas eu vos digo a
verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá
para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.” (João 16:6-7). Estas
palavras somente podem ser completamente entendidas quando elas se tornarem uma
experiência pessoal. Um mero conhecimento externo de Cristo pelo qual conhecemos
uma vida de esforço e falhas deve dar caminho a uma habitação espiritual.
3.
A lei do reino é da morte para a vida, perdendo
tudo para ganhar o que é maior. O grande tropeço para muitos cristãos é sua
confiança na ortodoxia e suficiência de seu conhecimento religioso. Se eles,
como dizem, pudessem apenas ser mais diligentes e fiéis... Mas perceba que na
vida dos discípulos, novos e mais extenuantes esforços teriam somente levado a
novas e mais amargas falhas. Eles, apesar de verdadeiros discípulos, tiveram
que abrir mão, morrer para sua velha maneira de conhecer a Cristo, e receber
como um presente uma vida inteiramente nova de comunhão com Ele. Se os crentes
de hoje apenas pudessem ver a maneira mais excelente de se viver uma vida
santa: através da habitação do Espírito de Cristo, revelando e os mantendo na
presença de seu Senhor em poder.
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