segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Espírito Santo e Missões


Capítulo XIV

Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres (...). E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram.Enviados, pois, pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.
Atos 13:1-4

Já foi dito que os Atos dos Apóstolos bem poderiam ser chamados os Atos do Senhor Exaltado ou os Atos do Espírito Santo. A promessa de Cristo ao partir: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (Atos 1:8) é sem dúvida uma daquelas palavras-semente na qual está contida o reino dos céus no poder de um infinito crescimento, com a certeza de sua manifestação e a profecia de seu cumprimento. No livro de Atos vemos traçado o caminho pelo qual a promessa recebeu seu cumprimento inicial, na jornada de Jerusalem para Roma. Ele nos dá o divino relato da vinda, habitação e obra do Espírito Santo como o poder dado aos discípulos de Cristo para serem testemunhas Dele perante judeus e pagãos, e do triunfo do nome de Cristo em Antioquia e Roma como os centros para a conquista das partes mais remotas da terra. O livro revela, como que com uma luz celestial, que o único propósito e objetivo da descida do Espírito de nosso Senhor glorificado dos céus para os discípulos – para revelar neles Sua presença, Seu governo e Seu poder – era equipá-los para serem Suas testemunhas até as partes mais longínquas da terra. Missões para alcançar os perdidos são o objetivo máximo do Espírito.

Na passagem que tomamos por texto, temos o primeiro relato de que parte da igreja é chamada para se encarregar da obra das missões. Na pregação de Filipe em Samaria e de Pedro em Cesaréia temos o exemplo de homens exercendo individualmente sua função de ministros, sob a liderança do Espírito, entre aqueles que não eram judeus. Na pregação dos homens de Chipre e Cirene aos gregos em Antioquia temos o instinto divino do Espírito do amor e da vida levando homens a abrir novos caminhos onde os líderes da igreja ainda não haviam ido. Mas esta condução do Espírito em separar indivíduos específicos estava para se tornar agora parte da organização da igreja, e toda a comunidade de crentes deveria ser ensinada a fazer sua parte na obra para a qual o Espírito veio especificamente à terra. Se Atos 2 é importante para nos mostrar a capacitação da igreja para sua obra em Jerusalém, Atos 13 é de não menos importância no que se refere à igreja ser separada para a obra das missões. Não podemos agradecer suficientemente a Deus pelo aumento do interesse em missões nos nossos dias. Se desejamos que nosso interesse seja permanente e pessoal, se queremos que ele seja expresso em amor e devoção entusiasmados ao nosso bendito Senhor e aos perdidos que Ele veio salvar, e se almejamos que ele seja frutífero em elevar a obra da igreja ao verdadeiro nível de poder do Pentecostes, devemos aprender a lição de Antioquia. A obra missionária deve ter sua iniciativa e poder no reconhecimento direto e distinto da liderança do Espírito Santo.

Diz-se freqüentemente que a verdadeira obra missionária sempre nasce de um avivamento da espiritualidade da igreja. A obra de despertamento do Espírito Santo nos encoraja à nova devoção ao bendito Senhor a quem Ele revela e à dedicação aos perdidos por quem Ele morreu. É em tal condição do coração e da mente que o anseio do Espírito é ouvido. Assim foi em Antioquia. Havia certos profetas e mestres ali que passavam parte de seu tempo ministrando ao Senhor em jejum e oração. Ao serviço público a Deus na igreja eles combinaram um espírito de separação do mundo. Eles sentiram a necessidade de comunhão íntima e contínua enquanto esperavam pelas Suas ordens dos céus. Eles acreditaram que o Espírito que habitava neles não poderia ter livre e pleno governo a menos que mantivessem direta comunhão com Ele. Estes eram seu estado mental e seus hábitos de vida quando o Espírito Santo lhes revelou que Ele havia chamado dois deles para um ministério especial e pediu-lhes que os separassem, na presença de toda a igreja, para esta obra.

A lei do reino não mudou. Ainda é o Espírito Santo quem está encarregado de todo o trabalho missionário. Ele revelará Sua vontade na designação de tarefas e na seleção daqueles que estão esperando no Senhor. Uma vez que o Espírito Santo, em qualquer tempo, ensina homens de fé e oração a levar a cabo Sua obra, torna-se mais provável que outros, admirando e aprovando o que estes fazem, vejam a harmonia da conduta deles com com a Escritura e desejem seguir seu exemplo. Ainda assim, o verdadeiro poder da liderança  e da obra do Espírito, bom como o amor e devoção pessoais a Jesus como Senhor podem estar presentes apenas em um pequeno nível. É porque tanto do interesse na causa missionária é devido a isso que, muitas vezes, há dificuldade em convencer seus cooperadores de sua genuína necessidade e validade. O mandamento do Senhor é conhecido da forma em que é registrado na Bíblia; a viva voz do Espírito, que revela o Senhor em viva presença e poder, nem sempre é ouvida. Não é suficiente que os crentes sejam incitados e encorajados a ter mais interesse em missões, a orar ou colaborar mais financeiramente. Há uma necessidade mais urgente. Na vida do indivíduo, a habitação do Espírito Santo e a presença e governo do Senhor da glória que Ele preserva devem novamente se tornar o objetivo primeiro da vida cristã. Na comunhão de igreja devemos aprender a esperar mais diligentemente pela liderança do Espírito na seleção dos obreiros e dos campos de trabalho e no despertamento do interesse e busca por suporte. A missão que se origina em oração e espera no Espírito pode esperar por Seu poder.

Que ninguém imagine que quando falamos dessa maneira pretendemos desviar os crentes dos aspectos práticos da obra que deve ser feita. Há muita coisa que necessita de cooperação e diligência para que se realize uma obra em outro país ou mesmo em outra cidade. A informação deve circular, pessoas devem ser recrutadas, fundos devem ser levantados, oração suficiente deve ser feita e diretores devem se reunir, consultar e decidir. Tudo isso é necessário. Mas só será bem feito, e feito como um serviço agradável ao Mestre, na medida em que é feito no poder do Espírito Santo. O Espírito chamou a igreja para ter mente missionária, inspirar e capacitar os discípulos de Cristo para espalhar o evangelho aos ocnfins da terra.

A origem, o progresso, o sucesso das missões são Dele. É Ele quem desperta nos corações dos crentes o zelo pela honra do Senhor, a compaixão pelas almas dos perdidos, a fé em Suas promessas, a obediência voluntária aos Seus mandamentos, pelos quais um ministro cresce e é bem sucedido. É Ele quem planeja um esforço conjunto, que chama obreiros para enviá-los, que abre as portas e prepara os corações daqueles que irão ouvir a Palavra. É Ele que minuciosamente abençoa a colheita, e nos lugares em que o poder de Satanás está estabelecido, se reúne aos redimidos do Senhor para destruir as fortalezas. As missões são a obra especial do Espírito Santo. Ninguém pode esperar ser cheio do Espírito se não deseja ser usado de alguma forma na colheita. E ninguém que deseja trabalhar ou orar pelas missões precisa temer sua prórpia fraqueza ou pobreza. O Espírito Santo é o poder que é capaz de equipá-lo para tomar seu lugar divinamente designado na obra do evangelho. Que todos os que oram pelas missões, que anseiam por um maior espírito missionário na igreja, orem primeiro para que em cada um que delas toma parte, o poder do Espírito de habitação possa ter plena influência e controle.

O envio de obreiros é igualmente a obra da igreja e do Espírito. Esse é o ponto comum. Mas há alguns que são enviados pelo Espírito somente, de entre a oposição ou indiferença da igreja. Contrariamente, alguns vão sob a tutela da igreja sem a bênção e sanção do Espírito Santo. Bem-aventurada é a igreja cujos esforços missionários são originados no Espírito, onde Lhe é permitido liderar, guiar e enviar. Após dez dias orando e esperando na terra, o Espírito desceu em fogo: este foi o nascimento da igreja em Jerusalém. Após ministrar e jejuar, esperar e orar, o Espírito enviou a Barnabé e a Saulo: esta foi, em Antioquia, a consagração da igreja como igreja missionária.

Eu diria para qualquer missionário que esteja lendo este texto em sua casa longe de casa: “eu o encorajo, irmão ou irmã! O Espírito Santo, qué o poder de Deus, que é a presença de Jesus dentro de você, está com você, em você e é por você. A obra é Dele: dependa Dele, renda-se a Ele, espere Nele; a obra é Dele e Ele a cumprirá.

Para todos os crentes, sejam diretores de missões, cooperadores em oração, contribuidores financeiros, ou de qualquer outra maneira obreiros que apressam a vinda do reino, “sejam encorajados”. Do tempo de espera e do recebimento do batismo do Espírito, os discípulos prosseguiram até atingir Antioquia. Lá eles esperaram, oraram, jejuaram, e então seguiram para Roma e as regiões ao redor. Que nós aprendamos o segredo de poder desses nossos irmãos. Convidemos todos os crentes que se interessam por missões a virem conosco e serem cheios do Espírito, cuja obra é a obra de missões. Levantemos claro testemunho de que a necessidade da igreja e do mundo é um grupo de crentes que podem testificar de um Cristo interior que neles habita pelo Espírito e que provem que Seu poder é operoso. Reunamo-nos na antecâmara da presença do Rei – a espera em Jerusalém, o ministério e jejum em Antioquia. O Espírito ainda vem da maneira que vinha nessa época. Ele ainda se move e envia; Ele ainda é poderoso para convencer de pecado e revelar a Jesus Cristo e trazer multidões a Seus pés. Ele espera por nós: esperemos Nele e estejamos prontos para receber Seu chamado.

O Derramamento do Espírito

Queridos irmãos em Cristo, segue mais um estudo sobre a Pessoa e Obra do Espírito Santo. Como precisamos entender qual a Obra do Espírito o qual está nos moldando a Imagem do Filho. O Espírito quer nos fazer a cada dia mais e mais parecido como o Cabeça do Novo Homem que é CRISTO. Que o Senhor fale aos nossos corações por meio desses preciosos estudos.


Capítulo XIII

 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
Atos 2:1,4

A obra de Cristo culmina no derramamento do Espírito Santo. O impressionante mistério da encarnação em Belém, a grande redenção conquistada no Calvário, a revelação de Cristo como o Filho de Deus no poder da vida eterna através da ressurreição, Sua entrada na glória pela ascensão – estes são apenas estágios preliminares; seu objetivo e coroação foi a vinda do Espírito Santo. O dia havia chegado em plenitude. O Pentecostes é a última e a maior das festas cristãs; nele as outras encontram seu cumprimento e realização. É porque a igreja pouco reconheceu isto e porque não viu a glória do Pentecostes como a maior glória do Pai e do Filho que o Espírito Santo não pôde revelar e glorificar plenamente o Filho nela. Examinemos o que significa o Pentecostes.
Deus fez o homem à Sua própria imagem e de acordo com Sua semelhança, com o propósito de que se tornasse semelhante a Ele. O homem deveria ser o templo da habitação de Deus; ele deveria ser a casa do descanso de Deus. A união mais próxima e íntima, a habitação de amor, era o que O Santo ansiava. O que foi anunciado apenas em tipo, inadequadamente, no templo em Israel, se tornou divina realidade em Jesus de Nazaré. Deus encontrou um homem em quem Ele pudesse repousar; cujo ser estava totalmente aberto ao governo de Sua vontade e à comunhão de Seu amor. Nele havia a natureza humana tomada pelo Espírito divino; Deus desejava que todos os homens fossem assim. E assim será com todos aqueles que aceitarem a Jesus como sua vida. Sua morte removeu a maldição e o poder do pecado e lhes tornou possível receber o Seu Espírito. Sua ressurreição foi a entrada da natureza humana, livre de todas as fraquezas da carne, na vida divina do Espírito. Sua ascensão foi a admissão como homem na própria glória de Deus, a participação da natureza humana na perfeita comunhão com Deus em glória na unidade do Espírito. E, ainda com tudo isso, a obra não estava completa. O elemento primário ainda faltava. Como o Pai poderia habitar no homem assim como habitou em Cristo? Esta era a pergunta para a qual o Pentecostes deu a resposta.
Das profundezas da mente do Pai, o Espírito é apresentado em um novo aspecto e um novo poder, como nunca havia sido antes. Na criação e na natureza, Ele surge da parte de Deus como o Espírito da vida. Na criação do homem, particularmente, Ele agiu como o poder no qual a semelhança de Deus se fundamentava, e mesmo depois da queda ainda testificava de Deus. Em Israel Ele apareceu como o Espírito da teocracia, inspirando e equipando distintivamente certos homens para suas missões. Em Jesus Cristo Ele veio como o Espírito do Pai, dado a Ele sem medida - e habitando Nele. Todas estas são manifestações, em diferentes graus, de um único e o mesmo Espírito. Mas agora veio a última, há tempos prometida, inteiramente nova manifestação do Espírito divino. O Espírito que habitou em Jesus Cristo, e em Sua vida de obediência levou Seu espírito humano à perfeita comunhão e unidade consigo mesmo, é agora o Espírito do Deus-homem exaltado. Quando o homem Cristo Jesus entra na glória de Deus e na plena comunhão da vida do Espírito na qual Deus habita, Ele recebe do Pai o direito de enviar Seu Espírito aos Seus discípulos, isto é, descer Ele mesmo em Espírito e habitar neles. O Espírito vem em um novo poder, o que não era possível antes porque Jesus não havia ainda sido crucificado nem glorificado. Ele vem como o próprio Espírito de Jesus glorificado. A obra do Filho, o anseio do Pai, recebe o seu cumprimento. O coração do homem se torna a casa de Deus.
Eu disse que o Pentecostes é a maior das festas da igreja. O mistério de Belém é, de fato, incompreensível e glorioso, mas quando eu creio nele, não há nada que pareça impossível. Que um corpo puro e santo seja formado para o Filho de Deus pelo poder do Espírito Santo, e que nesse corpo o Espírito habite,é de fato um milagre do poder divino. Mas que este mesmo Espírito agora venha e habite nos corpos de homens pecadores, e que neles também o Pai faça Sua residência, é um mistério de graça que ultrapassa todo entendimento. Mas essa é a bênção que o Pentecostes traz e recebe. A entrada do Filho de Deus na semelhança da nossa carne em Belém, na maldição e morte do pecado em nosso lugar, na natureza humana como o primogênito dos mortos no poder da vida eterna, e Sua entrada na própria glória do Pai – esses foram apenas os passos preparatórios: esta é a consumação para a qual todo o resto foi realizado. A promessa agora começa a ser cumprida: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles.” (Apocalipse 21:3).
É somente na luz de tudo o que precedeu o Pentecostes – do grande sacrifício que Deus não considerou grande demais para que pudesse habitar com homens pecadores – que a narrativa do derramamento do Espírito pode ser entendida. Ela é o reflexo terreno da exaltação de Cristo no céu, a participação que Ele dá a Seus amigos da glória que Ele agora tem com o Pai. Para ser entendida plenamente, precisamos de uma iluminação espiritual. Na história que é contada tão simplesmente, os mais profundos mistérios do reino são desvendados, e a escritura de propriedade deles é dada à igreja como sua santa herança até o retorno do seu Senhor. O que o Espírito deve ser para os crentes e para a igreja, para os ministros da Palavra e sua obra, e para o mundo descrente, são as três ênfases principais.
Primeiro, Cristo prometeu aos Seus discípulos que no Ajudador (o Consolador) Ele viria novamente para eles. Durante Sua vida terrena, Sua presença pessoal manifesta, revelando o Pai invisível, era a dádiva do Pai aos homens – aquilo pelo que os discípulos ansiavam e necessitavam. Esta seria a porção deles em mais poder do que antes. Cristo entrou na glória com este propósito, de - agora de uma maneira divina - “preencher todas as coisas”, particularmente os membros do Seu corpo, com Sua vida glorificada. Quando o Espírito Santo veio, Ele veio como uma vida pessoal dentro deles. Anteriormente Ele era uma vida separada deles, fora de sua vida natural. O próprio Espírito do Filho de Deus, como viveu e amou, obedeceu e morreu, ascendeu e foi glorificado e agora se tornaria uma vida vibrante dentro deles. Da maravilhosa transação que aconteceu no céu, na colocação de seu Senhor no trono do céu, o Espírito Santo veio para ser testemunha, para comunicá-la e mantê-la com eles como uma realidade celestial. De fato não é de se admirar que quando o Espírito Santo veio do Pai através do Filho glorificado, toda a natureza deles foi preenchida até transbordar com o gozo e poder do céu, com a presença de Jesus, e seus lábios exultaram em louvor das maravilhosas obras de Deus.
 Assim foi o nascimento da igreja de Cristo e assim também deveria ser seu crescimento e fortalecimento. O primeiro elemento da sucessão da igreja no Pentecostes são os membros batizados com o Espírito Santo e fogo – cada coração preenchido com a experiência da presença do Senhor glorificado, cada língua e vida testemunhando da maravilhosa obra que Deus fez ao levantar Jesus à glória e então preencher Seus discípulos com essa mesma glória. Não é tanto o batismo de poder para nossos pregadores que buscamos; ao invés disso, é que cada membro do corpo de Cristo possa conhecer, possuir e testemunhar da presença de Cristo que habita neles através do Espírito Santo. Isso é o que atrairá a atenção do mundo e compungir à confissão do poder de Jesus.
Segundo, foi pelo interesse e pelos questionamentos que foi despertada a visão desta regozijante e adoradora comitiva de crentes, na multidão para que Pedro se levantou e pregou. A história do Pentecostes nos ensina a verdadeira posição do ministério e o segredo do seu poder. Uma igreja cheia do Espírito Santo é o poder de Deus para despertar os despreocupados e atrair os corações honestos e desejosos. É para essa audiência – despertada pelo testemunho dos crentes – que a pregação virá com poder. É de uma igreja de homens e mulheres cheios do Espírito Santo que surgirão pregadores guiados pelo Espírito, ousados e livres, para falar a cada crente como testemunha viva da verdade de sua pregação e do poder de seu Senhor.
A pregação de Pedro é um evidente exemplo do que são todas as pregações do Espírito Santo. Ele prega o Cristo das Escrituras. Em contraste com os pensamentos dos homens, que rejeitaram a Cristo, Ele apresenta os pensamentos de Deus, que enviou a Cristo, se deleitou Nele, e agora O exaltou à Sua destra. Toda pregação no poder do Espírito Santo fará o mesmo. O Espírito é o Espírito de Cristo, o Espírito de Sua vida pessoal, tomando posse de nossa personalidade e testemunhando com o nosso espírito daquilo que Cristo conquistou para nós. O Espírito veio com o propósito de continuar a obra que Cristo começou na terra, de tornar os homens participantes de Sua redenção e Sua vida. Não poderia ser de forma diferente; o Espírito sempre testemunha de Cristo. Ele assim o fez nas Escrituras; Ele assim o faz nos crentes; o testemunho do crente será sempre de acordo com a Escritura. O Espírito em Cristo, o Espírito nas Escrituras, o Espírito na igreja; enquanto este triplo cordão estiver entrelaçado, ele não poderá ser quebrado.
Terceiro, o efeito desta pregação foi algo maravilhoso, mas não mais do que se esperava. A presença e poder de Jesus eram uma realidade na companhia dos discípulos. O poder do trono encheu a Pedro. A visão que ele teve de Cristo exaltado à destra de Deus foi tão espiritualmente real que o poder emanou dele. Quando a pregação atingiu seu cerne: “Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (Atos 2:36), milhares se curvaram em quebrantamento de espírito, prontos para reconhecer o crucificado como seu Senhor e Salvador. O Espírito veio aos discípulos e através deles convenceu os ouvintes de sua descrença. Os inquiridores penitentes ouviram o comando para se arrepender e crer, e receberam o dom do Espírito Santo. As maiores obras que Cristo prometeu fazer através dos discípulos, Ele fez. Em um momento, o preconceito de uma vida e o ódio amargo deram caminho à rendição, amor e adoração. Do Senhor glorificado, o poder encheu a Pedro, e dele esse poder saiu para subjugar o pecado e salvar o pecador.
O Pentecostes é o glorioso amanhecer “daquele dia”, o primeiro “daqueles dias” de que os profetas e nosso Senhor tão freqüentemente falaram, a promessa e penhor do que a história da igreja deveria ser. Admite-se universalmente que a igreja está aquém de cumprir seu destino, que mesmo agora, depois de vinte séculos, ela não ascendeu à altura de seus gloriosos privilégios. Mesmo quando ela luta para aceitar seu chamado, testemunhar de seu Senhor até os confins da terra, ela não o faz na fé do Espírito do Pentecostes e na posse de Seu poder. Ao invés de considerar o Pentecostes como um amanhecer, ela muito freqüentemente fala e age como se ele fosse o meio-dia, a partir do qual a luz logo começa a esmaecer. Se a igreja retornar ao Pentecostes, o Pentecostes retornará a ela. O Espírito de Deus não pode tomar posse dos crentes além de sua capacidade de recebê-Lo. A promessa está esperando; o Espírito está disponível em toda a Sua plenitude. Nossa capacidade precisa ser aumentada. Enquanto os crentes continuarem em um único acordo em louvor, amor e oração, se agarrando à promessa em fé, e olhando fixamente para o Senhor exaltado na confiança de que Ele Se fará conhecer em poder no meio de Seu povo, então virá - aos pés do trono - o Pentecostes. Jesus Cristo é ainda o Senhor de todos, coroado com poder e glória. Seu anseio de revelar Sua presença em Seus discípulos – fazê-los compartilhar a vida gloriosa em que Ele habita – é tão fresco e pleno como quando Ele primeiro ascendeu ao trono. Tomemos nosso lugar aos pés do trono. Rendamo-nos em expectativa de fé para sermos preenchidos com o Espírito Santo e testificar Dele. Que o Cristo que em nós habita seja nossa vida, nossa força, nosso testemunho. De tal igreja, líderes preenchidos com o Espírito se levantarão com o poder que fará os inimigos de Cristo se curvarem aos Seus pés.

sábado, 4 de agosto de 2012

O Espírito Glorifica a Cristo



Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. João 16:14
        A Escritura fala de uma dupla glorificação do Filho. Uma é pelo Pai, a outra pelo Espírito: uma se dá no céu, a outra aqui na terra. Por uma Ele é glorificado “no próprio Deus”; por outra, “em nós” (João 13:32; 17:10). Da primeira, Jesus disse: “se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará nele mesmo; e glorificá-lo-á imediatamente”. E novamente, na oração sacerdotal, “Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho [...] e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti” (João 17:1,5). Da última, Ele disse: “há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”.
        Glorificar é manifestar a excelência e valor ocultos de uma pessoa. Jesus, o Filho do Homem, seria glorificado quando Sua natureza humana fosse admitida em plena participação do poder e glória em que Deus habita. Ele entrou na perfeita vida espiritual do mundo celestial, do ser divino. Todos os anjos O louvaram como o Cordeiro no trono. Esta glória celestial e espiritual de Cristo, a mente humana não pode conceber ou compreender. Ela só pode ser conhecida verdadeiramente por experiência, sendo comunicada e apropriada pela vida interior. Esta é a obra do Espírito Santo, como o Espírito do Cristo glorificado. Ele vem como o Espírito da glória e revela a glória de Cristo em nós pelo Seu habitar e trabalhar. Da mesma maneira, Ele O glorifica em nós e através de nós naqueles que têm olhos para ver. O Filho não busca a Sua própria glória: o Pai O glorifica nos céus, o Espírito O glorifica em nossos corações.
        Mas antes que o Espírito pudesse glorificar a Cristo, Ele primeiro precisava se afastar de Seus discípulos. Eles não poderiam tê-Lo em Espírito e na carne também; Sua presença física impediria a habitação espiritual. Eles tinham de se separar do Cristo que conheceram e amaram antes que pudessem receber a habitação do Cristo glorificado pelo Espírito Santo. O próprio Cristo teve de abrir mão da vida que tinha para que pudesse ser glorificado nos céus e em nós. Mesmo em união com ele, devemos abrir mão daquela medida de vida que tínhamos Nele se desejamos tê-Lo glorificado para nós e em nós pelo Espirito Santo.
        Estou convencido de que, neste ponto, muitos dos filhos de Deus precisam do ensinamento: “convém-vos que eu vá”. Conforme os discípulos, eles também creram em Jesus; eles O amam e obedecem, e experimentaram muito da bênção inexprimível de conhecer e seguir a Ele. Ainda assim, sentem que o profundo descanso e gozo, a santa luz e o divino poder de Sua habitação presente, conforme a veem nas Sagradas Escrituras, ainda não pertencem a eles. Primeiro em segredo e então sob a bendita influência da comunhão dos santos, o ensino dos servos de Deus tem sido ajudado e maravilhosamente abençoado. Cristo se tornou muito precioso. Mesmo assim, ainda veem algo adiante deles – promessas ainda não cumpridas, desejos não plenamente satisfeitos. Pode ser que a razão para isto seja que eles ainda não tenham herdado plenamente a promessa: “quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” (João 16:13-14). Não entenderam plenamente a conveniência da partida de Cristo para que voltasse glorificado no Espírito. Ainda não puderam dizer que apesar de terem conhecido Cristo segundo a carne, até agora ainda não O conhecem.
        O conhecimento de Cristo segundo a carne deve chegar ao fim. Devemos abrir caminho para o conhecimento Dele no poder do Espírito. “Segundo a carne” significa no poder do que é externo, relativo a palavras e ideais, esforços e sentimentos, influências e ajudas vindas de fora. O crente que recebeu o Espírito Santo, mas não conhece plenamente o que isto implica e, portanto, não se entrega inteiramente à Sua liderança, tem em grande parte sua confiança somente na carne. Admitindo que não pode fazer nada sem o Espírito, ele ainda trabalha e luta em vão para crer e viver como sabe que deve. Confessando seus pecados sinceramente, e por vezes experimentando de maneira mais abençoada que somente Cristo é sua vida e força, se entristece em pensar no quanto falha em manter essa atitude de dependência confiante pela qual Cristo pode viver Sua vida nele. Ele procura crer em tudo o que sabe sobre a presença, guarda e habitação de Cristo, e mesmo assim, de alguma forma, ainda há brechas e interrupções; é como se a fé não fosse o que deveria ser – a certeza daquilo que se espera. A razão deve ser que a fé é ainda um exercício mental, no poder da carne, na sabedoria do homem. Houve uma revelação de Cristo: o guarda fiel, o amigo presente, mas essa revelação foi, em parte, apropriada pela carne e a mente natural. Isso tornou a revelação impotente. O Cristo da glória, a doutrina do Cristo de habitação, foi recebido apenas parcialmente pelo espírito. Somente o Espírito de Cristo pode glorificar a Cristo. Devemos desistir da velha maneira de conhecer a Cristo. Devemos não mais conhecê-Lo segundo a carne.
        O que significa o Espírito glorificar a Cristo? Lemos em Hebreus:
Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem. Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles. (Hebreus 2:9-10, ênfase adicionada)
        A Ele todas as coisas foram sujeitadas. Assim, nosso Senhor conecta o fato de Ele ser glorificado, na passagem que tomamos como nosso texto, com o de todas as coisas serem dadas a Ele. “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” (João 16: 14-15). Ao exaltá-Lo acima de todo o governo e poder e domínio, o Pai colocou todas as coisas em sujeição sob Seus pés: Ele Lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho. O reino e o poder e a glória são um: Ao que está assentado no trono, e ao Cordeiro entronizado, sejam a glória e o domínio para sempre. É assentado no trono da glória divina, com todas as coisas sujeitadas sob Seus pés, que Jesus foi glorificado nos céus (veja Efésios 1:20-22; Filipenses 2:9-10).
        Quando o Espírito Santo glorifica a Jesus em nós, Ele O revela a nós em Sua glória. Ele toma as coisas de Cristo e as declara para nós. Não é que Ele nos dê uma idéia, imagem ou visão daquela glória como ela é nos céus, mas Ele nos mostra-a como experiência e possessão pessoal. Ele nos habilita a participar dela em nosso ser interior. Mostra a Cristo como presente em nós. Todo o verdadeiro e vivo conhecimento que temos de Cristo é através do Espírito de Deus. Após o nosso primeiro conhecimento de Cristo, e depois de tê-Lo convidado para o nosso coração, Ele cresce, aumenta e é formado dentro em nós; quando aprendemos a confiar e a seguir e a servi-Lo – isso também vem do Espírito Santo. Tudo isto, entretanto, pode existir, como existiu nos discípulos, com certa quantidade de trevas e erro. Mas quando o Espírito Santo faz Sua obra perfeita e revela o Senhor glorificado, o trono de Sua glória é erguido no coração e Ele governa sobre todos os inimigos. Todo poder é trazido à sujeição, todo pensamento cativo à obediência de Cristo. Através de toda a natureza renovada se levanta a canção, “Glória ao que está assentado no trono”. Ainda que a confissão permaneça verdadeira até o fim, “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum”, a santa presença de Cristo como Senhor e Governador de tal forma enche o coração e a vida que Sua autoridade governa sobre tudo. O pecado não tem poder. A lei do Espírito da vida em Cristo Jesus me libertou da lei do pecado e da morte.
        Se esta é a glorificação de Cristo que o Espírito traz, é fácil ver a o caminho que leva a ela. A entronização de Jesus em Sua glória somente pode acontecer no coração que promete obediência implícita e irrestrita. É no coração que teve a coragem de crer que Ele irá reinar, e na fé que espera que todo inimigo seja mantido sob Seus pés. Esse coração clama e aceita a Cristo como Senhor de tudo, tudo na vida, grande ou pequeno, possuído e guiado por Ele, através de Seu Espírito Santo. É no discípulo que ama e obedece que o Espírito promete habitar; nele o Espírito glorifica a Cristo.
        Isso acontece no tempo perfeito de Deus para o crente. A história da igreja como um todo se repete em cada indivíduo. Até o tempo designado pelo Pai, que tem os tempos e estações em Suas próprias mãos, o herdeiro permanece sob a tutela de guardiões e mordomos, e não é diferente de um escravo. Quando a plenitude dos tempos chega e a fé é aperfeiçoada, o Espírito d’O glorificado entra em poder e Cristo habita no coração. Sim, a história do próprio Cristo se repete na alma. No templo existiam dois lugares santos – um antes do véu, o outro após o véu, o Santo dos Santos. Cristo, em Sua vida terrena, habitou e ministrou no Lugar Santo de fora do véu: o véu da carne O afastou do Santíssimo. Foi somente quando o véu da carne foi rasgado que Ele pôde entrar no santuário interior da plena glória da vida do Espírito nos céus.
        Da mesma forma, o crente que anseia por ter Jesus glorificado em si pelo Espírito deve, mesmo que sua vida tenha sido abençoada em conhecimento e serviço ao seu Senhor, aprender que existe algo melhor. Nele, também, o véu da carne deve ser rasgado; ele deve entrar nessa obra de Cristo através do novo e vivo caminho para o Santo dos Santos. A alma deve ver quão completamente Jesus triunfou sobre a carne e entrou na vida do Espírito. Ela deve perceber quão perfeito, em virtude desse triunfo, é Seu poder sobre tudo aquilo que em nossa carne pode atrapalhar; e quão perfeita no poder do Espírito a entrada e habitação de Jesus pode ser. O véu é retirado e a vida antes vivida no Santo Lugar agora o é no Santíssimo, na plena presença de Sua glória.
        Este rasgar do véu, esta entronização de Jesus como O glorificado no coração, não é sempre com som de trombetas e clamores. Pode ser assim em algumas vezes, e com alguns indivíduos, mas em outros acontece com profundo temor e quietude, onde não se ouve nenhum som. O Rei de Sião ainda vem dócil e humilde, com o reino, para o pobre de espírito. Sem beleza nem formosura Ele entra, e quando as ideias e sentimentos falham, o Espírito Santo O glorifica na fé que não vê, mas crê. Os olhos da carne não O viram no trono; para o mundo isto era um mistério; então quando tudo parece vazio e sem esperança, o Espírito opera secretamente a segurança divina, e a bendita experiência de que Cristo, O glorificado, estabeleceu Sua residência no íntimo. A alma sabe, em adoração e louvor silenciosos, que Jesus é o Mestre, que Seu trono no coração é estabelecido em justiça e a promessa está agora cumprida.

A Conveniência da Vinda do Espírito



Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. João 16:7
        Quando nosso Senhor deixou este mundo, Ele prometeu aos discípulos que Sua partida lhes seria um ganho; o Ajudador [também chamado o Consolador em algumas versões] tomaria Seu lugar e seria para eles muito melhor que Ele fora ou poderia ser em Sua presença física. Isto seria verdade particularmente em dois aspectos. Sua comunhão com eles nunca fora quebrada, mas estava sujeita a interrupção; agora ela seria quebrada pela morte e eles não O veriam novamente. O Espírito, porém, habitaria com eles para sempre. Sua própria comunhão com eles havia sido bastante exterior, e por causa disso não resultou naquilo que se poderia esperar. O Espírito estaria neles; Sua vinda seria como uma presença residente, no poder da qual eles teriam com eles também a Jesus, como sua vida e força.
        Durante a vida de nosso Senhor na terra, cada um de Seus discípulos fora ministrado por Ele de acordo com seu caráter individual e as circunstâncias especiais nas quais ele deveria ser colocado. A comunhão com cada um era intensamente pessoal. Em tudo Ele provou conhecer Suas ovelhas pelo nome. Para cada um foram demonstradas seriedade e sabedoria que supriram o que era necessário. O Espírito supriria também essas necessidades com o mesmo interesse pessoal e a especial atenção individual que tornou a liderança de Jesus tão preciosa? Não havia dúvidas. Tudo o que Cristo era para eles o Espírito seria até em maior poder e bênção que nunca cessariam. Eles seriam mais felizes, mais seguros, e mesmo mais fortes do que quando Jesus andou com eles na terra. A habitação do Espírito foi designada para restaurar a comunhão e liderança mais pessoais de Cristo, e até mesmo sua amizade pessoal.
        Para muitos é um problema de grande dificuldade conceber este fato, quanto mais crer nele e experimentá-lo. A idéia de Cristo andando com homens e mulheres na terra, tendo comunhão com eles e guiando-os é clara. A idéia do Espírito habitando em nós e falando nas profundezas secretas de nosso ser faz a Sua liderança mais difícil de compreender.
        Ainda assim, aquilo que constitui a dificuldade da nova liderança e comunhão espirituais é também o que lhes dá valor e bênção. É o mesmo princípio encontrado na vida diária: a dificuldade revela as forças dormentes, fortalece a vontade, desenvolve o caráter e constrói a personalidade. Nas primeiras lições de uma criança, ela é ajudada e encorajada; conforme as lições aumentam em dificuldade, o professor pode deixá-la exercitar suas próprias habilidades e utilizar de seus próprios recursos. O jovem um dia deixa a casa de seus pais para testar os princípios que foram insitados nele desde a infância. Em cada caso é conveniente que a presença e ajuda externas sejam retiradas e que o indivíduo seja lançado em si mesmo para aplicar e assimilar as lições que lhe foram ensinadas.
        Deus sem dúvida deseja nos ensinar uma perfeita humanidade – não governada por uma lei externa, mas pela vida interior. Enquanto Jesus esteve com os discípulos na terra, tinha de trabalhar com eles de fora, nunca alcançando efetivamente o ser interior. Quando Ele se foi, enviou o Espírito para estar neles de forma que seu crescimento viesse de dentro. Tomando posse primeiramente dos mais íntimos recônditos do ser deles por Seu Espírito, Ele os teria em rendição e consentimento voluntários a Sua inspiração e liderança. Assim eles teriam a emolduração de suas vidas – a formação de seu caráter – em suas próprias mãos, no poder do Espírito divino, que verdadeiramente se tornou o espírito deles. Eles cresceriam em verdadeira autoconfiança – independência das influências externa – na qual se tornariam como Cristo, que tendo vida em Si mesmo viveu em plena dependência do Pai.
        Enquanto o cristão pede somente por aquilo que é fácil e agradável, ele jamais entenderá que é melhor para nós que Cristo não esteja conosco na terra. Mas assim que as idéias de dificuldade e sacrifício forem postas de lado no sincero desejo de se tornar uma pessoa verdadeiramente piedosa, carregando a plena imagem do Filho e vivendo de maneira agradável ao Pai, a idéia da partida de Jesus para que Seu Espírito possa se tornar nossa própria vontade será bem-vinda com gratidão e alegria. Se seguir a liderança do Espírito, e particularmente a amizade e liderança pessoal de Jesus, é um caminho mais difícil do que o seria segui-Lo na terra, devemos nos lembrar que o privilégio de que desfrutamos, a nobreza que atingimos, a intimidade de comunhão com Deus em que entramos é infinitamente maior. Ter o Santo Espírito de Deus vindo através da natureza humana de nosso Senhor, entrando em nossos espíritos, identificando-Se conosco e tornando-Se nosso, assim como Ele foi o Espírito de Cristo na terra – certamente isto é uma bênção que vale qualquer sacrifício, porque ela é o início da habitação do próprio Deus.
        Ver que isto é tamanho privilégio e desejá-lo honestamente não remove a dificuldade. Então o problema surge novamente: a comunhão de Jesus com Seus discípulos na terra – tão condescendente em sua ternura, tão particular em seu interesse, tão pessoal em seu amor – como ela pode ser nossa no mesmo nível, agora que Ele está ausente e o Espírito é nosso guia? A resposta é simplesmente esta: pela fé. Com Jesus na terra, os discípulos, uma vez que creram, andaram por vista. Nós andamos por fé. Na fé devemos aceitar e regozijar na palavra de Jesus: “convém-vos que eu vá”. Devemos gastar tempo para deixar que isso se torne parte de nós, regozijar-nos porque Ele foi para o Pai. Agradeçamos e louvemos a Ele porque nos chamou para essa vida no Espírito. Creiamos que neste dom do Espírito a presença e comunhão de nosso Senhor são dadas a nós de maneira mais efetiva. Isto pode ser de fato algo que não entendemos ainda, porque temos acreditado e regozijado tão cautelosamente no dom do Espírito Santo. Mas a fé deve crer e louvar por aquilo que ela ainda não entende. Seja confiante e alegre porque o Espírito Santo, e Jesus mesmo através Dele, nos ensinarão como a comunhão e liderança devem ser experimentadas.
        Devemos ter cuidado para não compreender mal a palavra que o Espírito nos ensinará. Geralmente ligamos ensinamentos com idéias. Queremos que o Espírito nos sugira certos conceitos de como Jesus estará conosco e dentro de nós. Isso não é o que Ele faz. O Espírito não habita na mente, mas na vida; não no que sabemos, mas no que somos. Não busque ou espere de uma só vez uma compreensão clara, uma nova revelação, a respeito desta ou qualquer outra verdade divina. Conhecimento, pensamento, sentimento, ação – todos são parte daquela carreira externa que Jesus imprimiu em Seus discípulos. O Espírito veio, e mais profundo que tudo isso, Ele deveria ser a presença oculta de Jesus nas profundezas de suas personalidades. A vida divina em novidade de poder deveria se tornar a vida dos discípulos. O ensino do Espírito começaria não em palavras ou idéias, mas em poder. Este seria o poder de uma vida operando neles em segredo, mas com energia divina; o poder de uma fé que se regozija em Jesus estar próximo e tomando controle de toda a sua vida em cada circunstância. O Espírito os inspiraria com a fé do Jesus que neles habita. Este seria o início de Seu ensino. Eles teriam a vida de Jesus dentro de si e saberiam por fé que realmente era Jesus. Sua fé seria tanto a causa quanto o efeito da presença do Senhor pelo Espírito.
        É por esta fé – uma fé nascida do Espírito – que a presença de Jesus torna-se real e toda-suficiente como era quando Ele estava na terra. Porque é que os crentes, que têm o Espírito, não experimentam Sua presença mais consciente e plenamente? A resposta é simples: eles pouco conhecem e honram o Espírito que está dentro deles. Eles têm fé em Jesus que morreu, que reina nos céus, mas pouca fé em Jesus que habita neles pelo Seu Espírito. Precisamos de mais fé em Jesus como o cumprimento da promessa “Aquele que crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de águas vivas” (João 7:38). Devemos crer que o Espírito está dentro de nós como a presença de nosso Senhor Jesus. E devemos crer nisso não somente com a fé de nosso entendimento – conforme procura se persuadir da verdade do que Cristo diz – mas devemos crer com o coração, um coração no qual o Espírito Santo habita. O pleno dom do Espírito, o pleno ensinamento de Jesus acerca do Espírito é reforçar a mensagem “o reino de Deus está dentro de vós” (João 7:38). Se quisermos ter a verdadeira fé do coração, devemos olhar para dentro e humildemente nos render ao Espírito Santo para que Ele faça Sua obra em nós.
        Para receber este ensino e esta fé que se baseia na vida e poder do Espírito, devemos acima de tudo temer o que mais ofende a Ele: a vontade e sabedoria do homem. Estamos cercados pela vida do eu – da carne – no serviço a Deus. Mesmo em nossos esforços para exercitar a fé, a carne se adianta, ostentando sua própria força. Todo pensamento, seja bom ou mau, no qual nossa mente passa adiante do Espírito, deve ser trazido ao cativeiro. Traga sua própria vontade e sua própria sabedoria cativas aos pés de Jesus e espere em fé e quietude de alma. A profunda consciência de que o Espírito está dentro de você e de que sua vida divina está vivendo e crescendo em você aumentará. Conforme O honramos e nos doamos a Ele, conforme trazemos nossas atividades na carne em sujeição a Ele, Ele não nos envergonhará, mas fará a Sua obra em nós. Ele fortalecerá nossa vida interior, avivará nossa fé, revelará Jesus, nós iremos, passo a passo, aprender que a presença e comunhão pessoal e liderança de Jesus são nossas tão clara e preciosamente – ou até mais – quanto eram quando Ele estava aqui na terra.
        Senhor Jesus, apesar de eu não tê-Lo conhecido na terra como os discípulos, reconheço que a comunhão contigo é mais real, mais próxima, mais terna, mais efetiva do que se estivesses ainda aqui na terra. Eu te louvo porque Teu Santo Espírito habita dentro de mim e me permite conhecer o que é esta comunhão – a realidade da Sua perfeita habitação.
        Santo Senhor! Perdoa-me porque eu não Te louvei e amei plenamente por este dom tão maravilhoso e pelo amor do Pai. Ensina-me com uma fé esperançosa a crer em Ti de quem, dia a dia, a renovada unção flui e enche a minha vida.
        Ouve-me, Senhor, quando clamo a Ti em favor de tantos dos seus remidos que ainda não vêem o que significa desistir de sua vida na carne, para receber em lugar dela a vida que está no poder do Espírito. Com muitos outros eu peço que despertes a igreja para conhecer a marca de sua eleição, o segredo de seu gozo na Tua presença, o poder para cumprir o seu chamado: de que cada crente seja levado a conhecer o Espírito de habitação. A presença residente do Senhor conosco como guarda, guia e amigo é, sem dúvida, nossa certa recompensa. Conceda isto, Senhor, por amor do Teu nome. Amém.
Sumário
1.   O fato de que o Consolador não viria se Jesus não se fosse é prova convincente de que o dom do Espírito no dia de Pentecostes é algo distinto de qualquer coisa antes daquele tempo – uma nova dispensação.
2.   O conhecimento que os discípulos tinham de Jesus na terra era algo tão bendito e divino que eles não poderiam conceber que houvesse nada melhor. Eles poderiam apenas sentir com angústia a expectativa de perder aquilo que sabiam vir de Deus. Há muitos cristãos evangélicos que devem desistir também do conhecimento que tinham anteriormente de Cristo se desejam que Ele seja revelado no poder do Espírito Santo. “Pelo contrário, porque vos tenho dito estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração. Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.” (João 16:6-7). Estas palavras somente podem ser completamente entendidas quando elas se tornarem uma experiência pessoal. Um mero conhecimento externo de Cristo pelo qual conhecemos uma vida de esforço e falhas deve dar caminho a uma habitação espiritual.
3.   A lei do reino é da morte para a vida, perdendo tudo para ganhar o que é maior. O grande tropeço para muitos cristãos é sua confiança na ortodoxia e suficiência de seu conhecimento religioso. Se eles, como dizem, pudessem apenas ser mais diligentes e fiéis... Mas perceba que na vida dos discípulos, novos e mais extenuantes esforços teriam somente levado a novas e mais amargas falhas. Eles, apesar de verdadeiros discípulos, tiveram que abrir mão, morrer para sua velha maneira de conhecer a Cristo, e receber como um presente uma vida inteiramente nova de comunhão com Ele. Se os crentes de hoje apenas pudessem ver a maneira mais excelente de se viver uma vida santa: através da habitação do Espírito de Cristo, revelando e os mantendo na presença de seu Senhor em poder.