Capítulo XIV
Havia na igreja de Antioquia profetas e
mestres (...). E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a
obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre
eles as mãos, os despediram.Enviados, pois, pelo Espírito Santo, desceram a
Selêucia e dali navegaram para Chipre.
Atos 13:1-4
Já foi dito que os Atos dos Apóstolos bem poderiam
ser chamados os Atos do Senhor Exaltado ou os Atos do Espírito Santo. A
promessa de Cristo ao partir: “mas recebereis poder, ao descer sobre
vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (Atos 1:8) é sem dúvida uma daquelas
palavras-semente na qual está contida o reino dos céus no poder de um infinito
crescimento, com a certeza de sua manifestação e a profecia de seu cumprimento.
No livro de Atos vemos traçado o caminho pelo qual a promessa recebeu seu
cumprimento inicial, na jornada de Jerusalem para Roma. Ele nos dá o divino
relato da vinda, habitação e obra do Espírito Santo como o poder dado aos
discípulos de Cristo para serem testemunhas Dele perante judeus e pagãos, e do
triunfo do nome de Cristo em Antioquia e Roma como os centros para a conquista
das partes mais remotas da terra. O livro revela, como que com uma luz
celestial, que o único propósito e objetivo da descida do Espírito de nosso
Senhor glorificado dos céus para os discípulos – para revelar neles Sua
presença, Seu governo e Seu poder – era equipá-los para serem Suas testemunhas
até as partes mais longínquas da terra. Missões para alcançar os perdidos são o
objetivo máximo do Espírito.
Na passagem que
tomamos por texto, temos o primeiro relato de que parte da igreja é chamada
para se encarregar da obra das missões. Na pregação de Filipe em Samaria e de
Pedro em Cesaréia temos o exemplo de homens exercendo individualmente sua
função de ministros, sob a liderança do Espírito, entre aqueles que não eram
judeus. Na pregação dos homens de Chipre e Cirene aos gregos em Antioquia temos
o instinto divino do Espírito do amor e da vida levando homens a abrir novos
caminhos onde os líderes da igreja ainda não haviam ido. Mas esta condução do
Espírito em separar indivíduos específicos estava para se tornar agora parte da
organização da igreja, e toda a comunidade de crentes deveria ser ensinada a
fazer sua parte na obra para a qual o Espírito veio especificamente à terra. Se
Atos 2 é importante para nos mostrar a capacitação da igreja para sua obra em
Jerusalém, Atos 13 é de não menos importância no que se refere à igreja ser
separada para a obra das missões. Não podemos agradecer suficientemente a Deus
pelo aumento do interesse em missões nos nossos dias. Se desejamos que nosso interesse
seja permanente e pessoal, se queremos que ele seja expresso em amor e devoção
entusiasmados ao nosso bendito Senhor e aos perdidos que Ele veio salvar, e se
almejamos que ele seja frutífero em elevar a obra da igreja ao verdadeiro nível
de poder do Pentecostes, devemos aprender a lição de Antioquia. A obra
missionária deve ter sua iniciativa e poder no reconhecimento direto e distinto
da liderança do Espírito Santo.
Diz-se
freqüentemente que a verdadeira obra missionária sempre nasce de um avivamento
da espiritualidade da igreja. A obra de despertamento do Espírito Santo nos
encoraja à nova devoção ao bendito Senhor a quem Ele revela e à dedicação aos
perdidos por quem Ele morreu. É em tal condição do coração e da mente que o
anseio do Espírito é ouvido. Assim foi em Antioquia. Havia
certos profetas e mestres ali que passavam parte de seu tempo ministrando ao
Senhor em jejum e oração. Ao serviço público a Deus na igreja eles combinaram
um espírito de separação do mundo. Eles sentiram a necessidade de comunhão
íntima e contínua enquanto esperavam pelas Suas ordens dos céus. Eles
acreditaram que o Espírito que habitava neles não poderia ter livre e pleno
governo a menos que mantivessem direta comunhão com Ele. Estes eram seu estado
mental e seus hábitos de vida quando o Espírito Santo lhes revelou que Ele
havia chamado dois deles para um ministério especial e pediu-lhes que os
separassem, na presença de toda a igreja, para esta obra.
A lei do reino não
mudou. Ainda é o Espírito Santo quem está encarregado de todo o trabalho
missionário. Ele revelará Sua vontade na designação de tarefas e na seleção
daqueles que estão esperando no Senhor. Uma vez que o Espírito Santo, em
qualquer tempo, ensina homens de fé e oração a levar a cabo Sua obra, torna-se
mais provável que outros, admirando e aprovando o que estes fazem, vejam a
harmonia da conduta deles com com a Escritura e desejem seguir seu exemplo.
Ainda assim, o verdadeiro poder da liderança
e da obra do Espírito, bom como o amor e devoção pessoais a Jesus como
Senhor podem estar presentes apenas em um pequeno nível. É porque tanto do
interesse na causa missionária é devido a isso que, muitas vezes, há
dificuldade em convencer seus cooperadores de sua genuína necessidade e
validade. O mandamento do Senhor é conhecido da forma em que é registrado na
Bíblia; a viva voz do Espírito, que revela o Senhor em viva presença e poder,
nem sempre é ouvida. Não é suficiente que os crentes sejam incitados e
encorajados a ter mais interesse em missões, a orar ou colaborar mais
financeiramente. Há uma necessidade mais urgente. Na vida do indivíduo, a
habitação do Espírito Santo e a presença e governo do Senhor da glória que Ele
preserva devem novamente se tornar o objetivo primeiro da vida cristã. Na
comunhão de igreja devemos aprender a esperar mais diligentemente pela
liderança do Espírito na seleção dos obreiros e dos campos de trabalho e no
despertamento do interesse e busca por suporte. A missão que se origina em
oração e espera no Espírito pode esperar por Seu poder.
Que ninguém
imagine que quando falamos dessa maneira pretendemos desviar os crentes dos
aspectos práticos da obra que deve ser feita. Há muita coisa que necessita de
cooperação e diligência para que se realize uma obra em outro país ou mesmo em
outra cidade. A informação deve circular, pessoas devem ser recrutadas, fundos
devem ser levantados, oração suficiente deve ser feita e diretores devem se
reunir, consultar e decidir. Tudo isso é necessário. Mas só será bem feito, e
feito como um serviço agradável ao Mestre, na medida em que é feito no poder do
Espírito Santo. O Espírito chamou a igreja para ter mente missionária, inspirar
e capacitar os discípulos de Cristo para espalhar o evangelho aos ocnfins da
terra.
A origem, o
progresso, o sucesso das missões são Dele. É Ele quem desperta nos corações dos
crentes o zelo pela honra do Senhor, a compaixão pelas almas dos perdidos, a fé
em Suas promessas, a obediência voluntária aos Seus mandamentos, pelos quais um
ministro cresce e é bem sucedido. É Ele quem planeja um esforço conjunto, que
chama obreiros para enviá-los, que abre as portas e prepara os corações
daqueles que irão ouvir a Palavra. É Ele que minuciosamente abençoa a colheita,
e nos lugares em que o poder de Satanás está estabelecido, se reúne aos redimidos
do Senhor para destruir as fortalezas. As missões são a obra especial do
Espírito Santo. Ninguém pode esperar ser cheio do Espírito se não deseja ser
usado de alguma forma na colheita. E ninguém que deseja trabalhar ou orar pelas
missões precisa temer sua prórpia fraqueza ou pobreza. O Espírito Santo é o
poder que é capaz de equipá-lo para tomar seu lugar divinamente designado na
obra do evangelho. Que todos os que oram pelas missões, que anseiam por um
maior espírito missionário na igreja, orem primeiro para que em cada um que
delas toma parte, o poder do Espírito de habitação possa ter plena influência e
controle.
O envio de
obreiros é igualmente a obra da igreja e do Espírito. Esse é o ponto comum. Mas
há alguns que são enviados pelo Espírito somente, de entre a oposição ou
indiferença da igreja. Contrariamente, alguns vão sob a tutela da igreja sem a
bênção e sanção do Espírito Santo. Bem-aventurada é a igreja cujos esforços
missionários são originados no Espírito, onde Lhe é permitido liderar, guiar e
enviar. Após dez dias orando e esperando na terra, o Espírito desceu em fogo:
este foi o nascimento da igreja em Jerusalém. Após ministrar e jejuar, esperar e
orar, o Espírito enviou a Barnabé e a Saulo: esta foi, em Antioquia, a
consagração da igreja como igreja missionária.
Eu diria para
qualquer missionário que esteja lendo este texto em sua casa longe de casa: “eu
o encorajo, irmão ou irmã! O Espírito Santo, qué o poder de Deus, que é a
presença de Jesus dentro de você, está com você, em você e é por você. A obra é
Dele: dependa Dele, renda-se a Ele, espere Nele; a obra é Dele e Ele a
cumprirá.
Para todos os
crentes, sejam diretores de missões, cooperadores em oração, contribuidores
financeiros, ou de qualquer outra maneira obreiros que apressam a vinda do
reino, “sejam encorajados”. Do tempo de espera e do recebimento do batismo do
Espírito, os discípulos prosseguiram até atingir Antioquia. Lá eles esperaram,
oraram, jejuaram, e então seguiram para Roma e as regiões ao redor. Que nós
aprendamos o segredo de poder desses nossos irmãos. Convidemos todos os crentes
que se interessam por missões a virem conosco e serem cheios do Espírito, cuja
obra é a obra de missões. Levantemos claro testemunho de que a necessidade da
igreja e do mundo é um grupo de crentes que podem testificar de um Cristo
interior que neles habita pelo Espírito e que provem que Seu poder é operoso.
Reunamo-nos na antecâmara da presença do Rei – a espera em Jerusalém, o
ministério e jejum em
Antioquia. O Espírito ainda vem da maneira que vinha nessa
época. Ele ainda se move e envia; Ele ainda é poderoso para convencer de pecado
e revelar a Jesus Cristo e trazer multidões a Seus pés. Ele espera por nós:
esperemos Nele e estejamos prontos para receber Seu chamado.