sábado, 21 de março de 2015

Experimentando as Profundezas de Jesus Cristo Através da Oração




Madame Guyon

Capítulo 3. As Profundezas – Mesmo para os Iletrados

Aqueles que não podem ler, não estão excluídos da oração. O grande livro que ensina todas as coisas, escrito por toda sua extensão, por dentro e por fora, é o próprio Jesus Cristo.
O método que devem praticar é o seguinte: Em primeiro lugar, assimilem esta verdade fundamental: "O Reino de Deus está no meio de vós" (Lc 17.21) e somente ali deve ser procurado.
O clero foi encarregado de transmitir esta verdade aos fiéis, tanto no catecismo como na oração. É bem verdade que pregam sobre a finalidade da criação do homem, mas não fornecem instruções suficientes de como alcançá-la.
Os fiéis devem ser ensinados, desde o princípio, por um ato de profunda adoração e anulação diante de Deus: fechem os olhos corporais e abram os da alma; reconheçam interiormente, através de uma fé viva, o Deus que habita ali; penetrem na presença Divina, sem permitir que os sentidos se desviem, mas mantendo-os submissos o quanto possível.
Repitam a oração do Senhor, na língua materna, ponderando sobre os significados das palavras e sobre o infinito desejo do Deus interior de tornar-Se, de fato, SEU PAI. Neste estado, derramem suas necessidades diante Dele e ao pronunciarem a palavra Pai, permaneçam por alguns minutos em silêncio reverencial, esperando surgir aquele desejo de que o Pai celestial seja manifestado.
Mais uma vez, o Cristão, num estado de frágil criança, endurecida e machucada por repetidas faltas, sem forças para resistir, ou sem poder de purificar a si próprio, deve colocar sua deplorável situação diante dos olhos do Pai, em humilde vergonha, inserindo algumas palavras de amor e pesar; mergulhando novamente no silêncio diante Dele. Continuem então a oração do Senhor, implorando a este Rei da Glória para que reine em cada um de vocês; abandonem-se em Deus, a fim de que Ele possa habitar em vocês e reconhecer seu Direito de governar.
Se sentirem uma inclinação à paz e ao silêncio, não continuem com as palavras da oração enquanto perdurar esta sensação; quando ela diminuir continuem com a segunda petição: "SEJA FEITA A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU"; permitam assim, humildes suplicantes, que Deus realize em vocês e através de vocês a Sua vontade, entreguem os corações e a liberdade nas mãos de Deus, para serem dispostos como Lhe aprouver. Quando descobrirem que a vontade deve ser empregada amorosamente, desejarão amar e implorarão a Deus pelo seu AMOR; tudo isso ocorrerá doce e tranquilamente; o mesmo se aplica ao resto da oração.
Não se sobrecarreguem com repetições frequentes de fórmulas ou orações decoradas, pois a oração que o Senhor nos ensinou, uma vez realizada como acabo de descrever, produzirá frutos abundantes.
Em outros momentos, poderão se colocar como ovelhas diante de seu Pastor, buscando o verdadeiro alimento: "Oh, divino Pastor, tu alimentas teu rebanho de ti mesmo, sendo, de fato, o pão diário". Mostrem a Ele as necessidades de seus familiares: Mas que tudo seja feito a partir do princípio e da grande visão de fé, de que Deus está dentro de cada um. Todas as imaginações sobre Deus não levam a nada; uma fé viva em sua presença, basta. Pois, não devemos formar nenhuma imagem da Divindade, embora possamos formar uma imagem de Jesus Cristo, observando seu nascimento, crucificação ou algum outro estado ou mistério, fazendo com que a alma O busque sempre em seu próprio centro.
Em outra oportunidade, podemos buscá-Lo como a um Terapeuta, apresentando à Sua virtude curadora, todas as nossas doenças, mas sempre sem perturbações e com pausas de tempo, a fim de que o silêncio seja intercalado com a ação e gradualmente estendido; para que nosso próprio esforço seja ouvido, até que pelo contínuo apelo pelas operações divinas, com o tempo, Ele obtenha a completa ascendência, como explicaremos mais adiante.
Quando a presença divina nos é confiada e gradualmente começamos a apreciar o silêncio e o repouso, este desfrutar experimental da presença de Deus introduz a alma no segundo grau da oração, que realizada pelos procedimentos descritos acima, é alcançada tanto por analfabetos, como por eruditos; algumas almas privilegiadas, de fato, são favorecidas por esta presença, desde o início.

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