Madame
Guyon
Capítulo 3. As Profundezas – Mesmo para os Iletrados
Aqueles que não
podem ler, não estão excluídos da oração. O grande livro que ensina todas as
coisas, escrito por toda sua extensão, por dentro e por fora, é o próprio Jesus
Cristo.
O método que devem
praticar é o seguinte: Em primeiro lugar, assimilem esta verdade fundamental: "O Reino de Deus está no meio de
vós" (Lc 17.21)
e somente ali deve ser procurado.
O clero foi encarregado
de transmitir esta verdade aos fiéis, tanto no catecismo como na oração. É bem
verdade que pregam sobre a finalidade da criação do homem, mas não fornecem
instruções suficientes de como alcançá-la.
Os fiéis devem ser
ensinados, desde o princípio, por um ato de profunda adoração e anulação diante
de Deus: fechem os olhos corporais e abram os da alma; reconheçam
interiormente, através de uma fé viva, o Deus que habita ali; penetrem na
presença Divina, sem permitir que os sentidos se desviem, mas mantendo-os
submissos o quanto possível.
Repitam a oração do
Senhor, na língua materna, ponderando sobre os significados das palavras e
sobre o infinito desejo do Deus interior de tornar-Se, de fato, SEU PAI. Neste estado, derramem suas
necessidades diante Dele e ao pronunciarem a palavra Pai, permaneçam por alguns
minutos em silêncio reverencial, esperando surgir aquele desejo de que o Pai
celestial seja manifestado.
Mais uma vez, o
Cristão, num estado de frágil criança, endurecida e machucada por repetidas
faltas, sem forças para resistir, ou sem poder de purificar a si próprio, deve
colocar sua deplorável situação diante dos olhos do Pai, em humilde vergonha,
inserindo algumas palavras de amor e pesar; mergulhando novamente no silêncio
diante Dele. Continuem então a oração do Senhor, implorando a este Rei da
Glória para que reine em cada um de vocês; abandonem-se em Deus, a fim de que
Ele possa habitar em vocês e reconhecer seu Direito de governar.
Se sentirem uma
inclinação à paz e ao silêncio, não continuem com as palavras da oração
enquanto perdurar esta sensação; quando ela diminuir continuem com a segunda
petição: "SEJA FEITA A VOSSA
VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU"; permitam assim, humildes
suplicantes, que Deus realize em vocês e através de vocês a Sua vontade,
entreguem os corações e a liberdade nas mãos de Deus, para serem dispostos como
Lhe aprouver. Quando descobrirem que a vontade deve ser empregada amorosamente,
desejarão amar e implorarão a Deus pelo seu AMOR; tudo isso ocorrerá doce e
tranquilamente; o mesmo se aplica ao resto da oração.
Não se
sobrecarreguem com repetições frequentes de fórmulas ou orações decoradas, pois
a oração que o Senhor nos ensinou, uma vez realizada como acabo de descrever,
produzirá frutos abundantes.
Em outros momentos,
poderão se colocar como ovelhas diante de seu Pastor, buscando o verdadeiro
alimento: "Oh, divino Pastor, tu alimentas teu rebanho de ti mesmo, sendo,
de fato, o pão diário". Mostrem a Ele as necessidades de seus familiares: Mas
que tudo seja feito a partir do princípio e da grande visão de fé, de que Deus
está dentro de cada um. Todas as imaginações sobre Deus não levam a nada; uma
fé viva em sua presença, basta. Pois, não devemos formar nenhuma imagem da
Divindade, embora possamos formar uma imagem de Jesus Cristo, observando seu
nascimento, crucificação ou algum outro estado ou mistério, fazendo com que a
alma O busque sempre em seu próprio centro.
Em outra
oportunidade, podemos buscá-Lo como a um Terapeuta, apresentando à Sua virtude
curadora, todas as nossas doenças, mas sempre sem perturbações e com pausas de
tempo, a fim de que o silêncio seja intercalado com a ação e gradualmente
estendido; para que nosso próprio esforço seja ouvido, até que pelo contínuo
apelo pelas operações divinas, com o tempo, Ele obtenha a completa ascendência,
como explicaremos mais adiante.
Quando a presença
divina nos é confiada e gradualmente começamos a apreciar o silêncio e o
repouso, este desfrutar experimental da presença de Deus introduz a alma
no segundo grau da oração, que realizada pelos procedimentos descritos acima, é
alcançada tanto por analfabetos, como por eruditos; algumas almas
privilegiadas, de fato, são favorecidas por esta presença, desde o início.
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