domingo, 30 de março de 2014

"Para Que Eles Sejam Um, Assim Como Nós Somos Um"




Volume 1
Por T. Austin-Sparks

Primeiro de Vinte e Duas Reuniões em
Manila, Filipinas, 1964

"Para que eles sejam um; assim como Tu, oh Pai, és em Mim, e Eu em ti, que eles também sejam um em Nós: para que o mundo creia que Tu Me enviaste. E a glória que Tu me deste, Eu tenho dado a eles; para que eles sejam um, assim como Nós somos um". João 17:21,22
  
Reunião 1 – Os Caminhos de Deus são Diferentes Dos nossos Caminhos
Primeira Reunião
(Janeiro 30, 1964 P.M.)
Bem, posso apenas repetir as palavras de minha esposa e dizer: como estou feliz em estar com vocês novamente! Os preciosos momentos que tivemos juntos em minhas duas últimas visitas têm permanecido frescos, como uma lembrança muito vibrante. Mas quero agradecê-los, caros amigos, pelas calorosas boas vindas que vocês nos têm dado. Manila sempre nos dá boas vindas muito calorosas. Digo a vocês que faz apenas dois dias que deixamos a congelante Londres; e embarcamos no avião com todas as roupas de inverno. Quando chegamos a Manila, recebemos uma boa vinda muito calorosa, mais de uma vez. Não acho que o calor daqui, em termos de temperatura, seja maior do que o calor das boas vindas de vocês, quando olhamos do avião para o aeroporto ontem, e vimos a multidão de rostos felizes, e ouvimos aquelas vozes alegres, e sentimos aquelas mãos felizes. Vocês tinham que estar em nosso lugar para entender o que quero dizer quando agradeço a vocês pela boa vinda calorosa. E esta é a primeira coisa que eu quero dizer a vocês. Espero que quando formos embora, vocês não se esfriem conosco.
Agora me deixem dizer uma palavrinha sobre como é que chegamos e por quê. Tenho recebido muitos convites urgentes para vir a Manila por aproximadamente quase dois anos. Durante esse tempo, os convites têm se tornado cada vez mais fortes. Talvez vocês se perguntem por que eu esperei por quase dois anos. A explicação é uma bem importante, e será uma das questões mais vitais durante o tempo que estivermos juntos. Nós não nos atrasamos porque não queríamos vê-los, nem porque não queríamos vir tentar ajudá-los. Vocês sabem, caros amigos, somos prisioneiros de Jesus Cristo. Nós não podemos ir onde queremos ir. E não podemos nos mover quando queremos nos mover. Quando fizemos de Jesus o nosso "Senhor", nós O tornamos "Senhor" de todos os nossos movimentos e de todo o nosso tempo. Lembrem-se de que o apóstolo Paulo em duas ocasiões tentou tomar certas direções. Ele pensava que seria algo bom ir para Bitínia. Havia grande necessidade em Bitínia, e não há dúvida de que as pessoas de lá o estavam pressionando a ir ter com elas, mas Paulo disse: "o Espírito de Jesus não nos permitiu ir" (Atos 16:7). Ele sentiu o mesmo em relação a Ásia. Ele começou a se mover em direção a Ásia; e a Ásia era uma parte muito importante do mundo. As igrejas da Ásia iriam ser as sete igrejas para as quais seriam escritas as Cartas do Apocalipse. Mas naquela ocasião, ele foi impedido de pregar lá. Vocês sabem, não é a necessidade que decide. Não é porque sentimos que devemos fazer algo que este seja o tempo para fazê-lo. Não é porque pensamos que será uma boa coisa fazer isto.
O tempo do Senhor é uma coisa muito importante. Se vocês saírem do tempo do Senhor, vocês arruinarão a coisa toda. O Senhor conhece todas as necessidades. O Senhor conhece tudo sobre os convites das pessoas. Mas o Senhor diz: "Agora não. Eu tenho o meu tempo para isto". Ele não disse a Paulo o porquê de ele não poder ir a Bitínia ou a Ásia. Apenas lhe disse para não ir. Ele simplesmente disse: "Não, agora não". E Paulo, sendo prisioneiro de Jesus Cristo, sabia que não podia se mover até que o Senhor se movesse. Espero que vocês reconheçam que isto é um princípio muito importante em todas as coisas do Senhor. Pode até ser algo muito bom, muito correto, e pode até ser algo que o Senhor realmente irá fazer, porém deve ser no tempo dEle. Se eu tivesse chegado há um ano atrás, alguma coisa muito importante teria sido perdida. E eu teria que ir embora, dizendo: "Não, nós não chegamos lá ainda". Evidentemente o tempo não chegou. Mas isto não é o fim da nossa história.
Mas nós estamos aqui. Finalmente estamos aqui. E isto não é por causa da pressão do convite, mas é porque, como nós continuamente esperamos no Senhor, tivemos a sensibilidade de que o Senhor estava dizendo: "Agora é a hora". Vocês sabem, muitas coisas são necessárias quando se trata de ir de um lado do mundo para o outro, especialmente quando você já é bem velho. Nós não somos mais jovens. Costumávamos viajar bastante pelo mundo. Isto não significava nada em nossos dias mais jovens. Mas já não é tão fácil hoje em dia. Estamos ficando velhos. Contudo, isto apenas faz com que seja mais necessário andar com o Senhor. Então, assim que sentimos que o tempo do Senhor havia chegado, começamos a receber dEle aqueles vários sinais de confirmação. Não irei importuná-los com todos os detalhes, mas acho que esta tarde eu tenha aprendido pela primeira vez aquilo que o Senhor falou a minha esposa. Se ela já me falou esta palavra da parte do Senhor, eu não me lembro. Mas eu fui ao Senhor e Lhe pedi uma palavra. Disse: Senhor é muito importante que Tu me dês uma palavra para prosseguir. Numa manhã eu estava lendo a Bíblia; lia um capítulo que conhecia muito bem; estava lendo o capítulo 52 de Isaías. Eu não sabia que iria obter a resposta para a minha oração naquele capítulo. Mas, à medida que lia, cheguei a este versículo, e foi como se o Senhor dissesse: 'Esta é a Minha palavra para você sobre Manila’. E as palavras são essas: "O Senhor irá adiante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda"' (Isa. 52:12).
Assim, o Senhor disse que quando viéssemos, descobriríamos que Ele estaria sempre adiante de nós. Poderíamos descobrir que Ele tinha vindo antes. E, então, havia muitas coisas a serem deixadas para trás. Muitas responsabilidades, e precisávamos de cautela. Mas a Palavra disse: "o Deus de Israel será a vossa retaguarda. O Senhor irá adiante de vós e o Senhor será a vossa retaguarda". Será que vocês poderiam querer algo melhor do que isto? Bem, viemos na força desta palavra; e estamos esperando encontrar o Senhor adiante de nós aqui todos os dias.
Agora, o que é isto que está em meu coração em relação ao tempo que passaremos juntos aqui? Eu não quero que vocês compreendam o que vou falar agora. Espero que isto não os desaponte. Eu não sinto que o Senhor tenha nos trazido aqui para dar a vocês mais uma porção de ensino. Quero dizer, não sinto que tenhamos vindo aqui para dar a vocês algo que eu tenha estudado na Palavra de Deus, dar a vocês um monte de sermões sobre alguns assuntos. Não é algo que eu tenha obtido de outra pessoa, nem de homens, nem de livros. Sinto que o Senhor quer que eu fale de experiência. Experiência é uma coisa muito valiosa. Há muitas pessoas que podem nos dar um maravilhoso sermão bíblico. Mas experiência é muito mais importante que isso. E, como vocês sabem, nós temos tido uma longa experiência com o Senhor.
Pessoalmente eu tenho estado na obra do Senhor por mais de cinquenta anos. Tem havido cinquenta anos de ampla e profunda experiência espiritual na escola do Senhor. Ele tem procurado me ensinar coisas em minha própria vida. E a principal coisa que Ele está me ensinando são os princípios sobre os quais Ele trabalha. Terei muito que falar a vocês sobre isto. Mas quero colocar a ênfase aqui. Não é teoria que irei dar a vocês. Não é algo preparado para reuniões. É aquilo que procede de experiência prática sob a mão do Senhor. Portanto, a coisa será muito prática.
Estou certo de que vocês já possuem teoria de sobra. Vocês têm muito ensino. Talvez eu não pudesse ensiná-los mais do que aquilo que vocês já sabem. Talvez estes cabelos cinzentos falem por si mesmo. Eles falam de profunda experiência na escola de Deus. O que eu tenho para dizer a vocês é aquilo que Deus tem feito em mim. Vocês não terão algo agradável, caros amigos. Vocês irão se deparar com questões muito práticas. Agora, se vocês não quiserem compromisso com o Senhor, não venham às reuniões. Vou entender que os que vierem realmente querem compromisso com Deus.
Vocês têm sido muito ensinados a respeito do propósito de Deus. Espero, se lhes fosse pedido, que cada um de vocês pudesse colocar num pedaço de papel o que vocês sabem ser o propósito de Deus. Mas há uma coisa mais importante que o propósito de Deus. É como Deus realiza o Seu propósito. É quase mais importante conhecer como Deus cumpre os Seus propósitos do que saber qual é o Seu propósito. Deus tem uma maneira, não apenas um fim; e é muito importante conhecer os caminhos de Deus tanto quanto o Seu propósito. Se há uma coisa que temos aprendido mais do que qualquer outra na escola de Deus é isto. Os caminhos de Deus são muito diferentes dos nossos caminhos. Muito frequentemente poderíamos fazer algo de certa maneira, e o Senhor falar: "Esta não é a minha maneira. Os vossos caminhos não são os Meus caminhos. Os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos. Eu tenho os Meus próprios modos de fazer aquilo que quero fazer". Vocês não podem simplesmente dizer: "sei que o Senhor quer que tal e tal coisa seja feita, por isso, eu vou fazê-la!" O Senhor diz: "espere um pouco, Eu tenho a minha própria maneira de fazer isto, e minha maneira é tão importante quanto o meu objetivo". E eu penso que o Senhor quer que aprendamos algo de Seus caminhos nesses dias que estivermos juntos – aprender aquelas leis espirituais que governam o propósito de Deus.
Apenas uma última palavra, especialmente aos jovens, e a todos os demais. Este aprendizado sobre os caminhos de Deus é um negócio para a vida toda. Eu não conheço tudo. Ainda não aprendi tudo. Ainda tenho muito para aprender sobre os caminhos de Deus. O Senhor precisa constantemente dizer para mim: "Não, não por este caminho". "Não, não agora". É um aprendizado que dura a vida toda. Mas o Senhor é muito fiel conosco. Se realmente estivermos em Suas mãos, Ele irá nos ensinar os Seus caminhos. Vocês sabem, a palavra para Israel era a seguinte: "que para Israel o Senhor mostrou Suas obras, mas para Moisés e Arão, Ele mostrou os Seus caminhos". E os caminhos são muito mais importantes do que as obras. Moisés e Arão foram servos honrados do Senhor, e o Senhor lhes mostrou os Seus caminhos. Para todo o povo Ele podia apenas mostrar as Suas obras. Vocês ficarão satisfeitos em apenas ver as obras do Senhor? Ou vocês prefeririam entrar no segredo do Senhor? O segredo do Senhor é para aqueles que O temem; e Ele lhes mostrará os Seus caminhos (Sal. 25:14; 103:7). As demais pessoas irão apenas ver as Suas obras.
Peço que nestes dias vocês apliquem os seus corações para conhecer os caminhos do Senhor. Esta é realmente a coisa mais importante. Eu apenas pretendia dar a vocês uma palavra de saudação, agradecer pela recepção, e dizer que muitas pessoas em Londres falaram: 'Dê as nossas saudações aos nossos amigos lá'. E, como vocês podem ver, eu acabei extrapolando. Mas espero não tê-los cansado.

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