sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Capítulo XXVI Enchei-vos do Espírito






E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração;
Efésios 5:18-19

Estas palavras são um mandamento. Elas nos ensinam não somente como devem ser os apóstolos e ministros, mas qual deve ser a experiência consistente de todo cristão genuíno. É um privilégio que todo filho de Deus pode pedir a seu Pai – ser cheio do Espírito. Nada menos que isso irá capacitá-lo a viver a vida para a qual ele foi redimido: habitar em Cristo, guardar os Seus mandamentos e produzir fruto. Ainda assim, raramente este mandamento é contado entre aqueles que devem ser guardados a qualquer custo! Alguns até mesmo pensam que seja impossível ou pouco razoável que se espere que todos o cumpram.
Sem dúvida, uma razão é que estas palavras foram mal entendidas. Porque no dia de Pentecostes, e outras ocasiões subseqüentes, o enchimento com o Espírito foi acompanhado de manifestações sobrenaturais, esta condição foi considerada inconsistente com a vida cristã normal. Estas manifestações, como o falar em línguas e as chamas de fogo, foram tão ligadas com a idéia de ser cheio do Espírito que muitas vezes se pensa que seja uma bênção possível apenas para uns poucos. Os cristãos sentem que não devem ter expectativas tão altas, mesmo que a bênção seja dada, seria impossível mantê-la.
A mensagem que eu gostaria de trazer a vocês, meus leitores, é que este mandamento é para todos os crentes e que a promessa e o poder são tão certos quanto a sua redenção. Que Deus nos de graça em nossa meditação em Sua Palavra não somente para desejar esta bênção mas também para ter a certeza de que este privilégio é designado para todos nós, e que o caminho para ele não é tão difícil, e que o Espírito anseia em habitar no Seu povo.
Em países como a África do Sul, onde eu nasci e ministrei por muitos anos, freqüentemente sofremos com a seca. Há dois tipos de represa ou reservatório feitos para conter e armazenar a água. Em algumas fazendas há uma fonte natural, mas a corrente muitas vezes é fraca demais para irrigar as plantações. Então, um reservatório é construído para coletar a água, e o seu enchimento é resultado do fluir silencioso e gentil da fonte dia e noite. Em outras áreas, as fazendas não possuem fontes naturais, e assim o reservatório é construído no leito de um córrego ou numa reentrância onde, quando a chuva cai, a água pode ser coletada. Nestes locais, o enchimento do reservatório por uma chuva forte muitas vezes acontece em poucas horas e é acompanhado por uma correnteza ruidosa e violenta. O fluir silencioso da água na primeira fazenda na verdade é mais seguro, porque, apesar de sem ruído, o suprimento é estável e permanente. Em locais onde a chuva é escassa, um reservatório pode permanecer vazio por meses ou até mesmo anos.
Isto pode ser comparado à maneira pela qual vem a plenitude do Espírito. Assim como no dia de Pentecostes, alguns derramamentos do Espírito são manifestações repentinas, poderosas e estrondosas. Estas são como os reservatórios pluviais sendo cheios repentinamente. Em contraste, a silenciosa presença do Espírito quando uma alma se converte é estável e segura ainda que não seja tão facilmente identificada. A bênção é muitas vezes grandemente dependente da comunhão com os outros ou se estende somente às correntes superiores da vida da alma. O derramamento e enchimento repentinos, entretanto, podem ser superficiais, as profundezas da vontade e da vida interior podem não ser tocadas. Há outros que jamais estiveram presentes quando uma manifestação tão notável do Espírito ocorreu, mas em quem a plenitude do Espírito é vista em profunda devoção a Jesus, num caminhar na luz do Seu semblante e na consciência de Sua presença, ou na vida inculpável de simples confiança e obediência. São como Barnabé: um filho da consolação, um bom homem, e cheio do Espírito Santo. Como as fontes silenciosas, o Espírito flui e alimenta a alma continuamente.
Qual dessas é a verdadeira maneira de ser cheio do Espírito? A resposta é simples. Assim como existem fazendas com ambos os reservatórios mencionados, assim também há indivíduos nos quais se percebe o enchimento estável do Espírito, enquanto outros desfrutaram poderosas visitações do Espírito. O fluxo regular, silencioso e diário da fonte mantém a fazenda suprida em tempos de seca; em tempos de chuva, a que está equipada com grandes reservatórios está pronta para receber e armazenar grandes suprimentos de água. Benditos são aqueles que reconhecem a Deus em ambas e se mantêm prontos para ser abençoados por qualquer maneira em que Ele decida vir.
Quais são as condições para a plenitude do Espírito? A Palavra de Deus tem uma resposta – fé. É somente a fé que vê e recebe o invisível e que vê e recebe a Deus mesmo. A purificação do pecado e a rendição em amor à obediência, que foram as condições da primeira recepção do Espírito, são o fruto da fé que vê o que é o pecado, o que o sangue pode fazer, e o que a vontade e o amor de Deus são. Mas não estamos falando desta experiência aqui.
Esta palavra é para cristãos que foram fiéis em obedecer, mas ainda não receberam aquilo pelo que anseiam. Pela fé eles devem descobrir o que é que deve ser lançado fora. O enchimento requer primeiro um vaso vazio. E não falo aqui de purificação do pecado e rendição à plena obediência que são a salvação. Esse é o primeiro passo essencial. Mas falo a cristãos que pensam ter feito o que Deus requer e ainda assim não receberam a bênção da plenitude do Espírito. Lembre-se, a primeira condição do enchimento é o esvaziamento. O que é um reservatório, senão um grande espaço oco – um vazio – preparado, esperando, ansiando pela vinda da água? A verdadeira plenitude permanente do Espírito é precedida pelo esvaziamento. “Busquei a bênção diligente e persistentemente,” disse alguém, “ e me perguntei porque ela não vinha. Por fim descobri que era porque não havia espaço em meu coração para recebê-la”. Neste esvaziamento existem vários elementos envolvidos: uma profunda insatisfação com a “religião” que temos tido até agora. Uma profunda consciência do quanto tem havido da sabedoria e obra da carne. Uma descoberta, confissão e desistência de tudo o que é de governo próprio, em que o eu tem tido o controle, de tudo em que não temos considerado necessário que Jesus seja consultado e agradado. Uma profunda convicção da nossa inabilidade e incapacidade definitiva de compreender ou obter aquilo que foi oferecido. E finalmente uma rendição em pobreza de espírito esperando no Senhor por sua grande misericórdia e poder. De acordo com as riquezas de Sua glória, Ele nos fortalecerá pelo Seu Espírito no homem interior. Necessitamos de um grande anseio, sede, espera e oração incessante para que o Pai cumpra a Sua promessa e tome posse completa de nós.
Juntamente com isso, precisamos da fé que aceita, recebe e mantém o dom. É pela fé em Cristo e no Pai que a divina plenitude fluirá para dentro de nós. Sobre os mesmo efésios a quem foi dado o mandamento “enchei-vos do Espírito”, Paulo disse, “em Cristo, havendo crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa”. O mandamento se refere ao que eles já haviam recebido. A fonte estava dentro deles, mas precisava ainda ser aberta. Ela iria então borbulhar e encher o seu ser. Ainda assim, isto não seria realizado em seu próprio poder. Jesus disse, “aquele que crer em mim, do seu interior fluirão rios de água viva”. A plenitude do Espírito é tão verdadeiramente uma revelação de Jesus, que o recebimento Dele deve acontecer na continuidade inquebrável de uma comunhão viva. O fluir incessante da seiva Dele, a videira viva, deve ser conjugado a uma fé consistentemente humilde, para que a liberação dessa fonte interior resulte da nossa completa dependência de Jesus. Por nossa fé em Jesus – cujo batismo no Espírito tem um começo tão claro quanto tem a Sua purificação no sangue – experimentaremos uma contínua renovação em nossos próprios espíritos.
A fé em Jesus e o senso constante do Espírito não prescindem da fé no dom do Pai e intercessão por um cumprimento renovado da Sua promessa. Pelos efésios, que possuíam neles o Espírito como penhor de sua herança, Paulo ora ao Pai: “para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior” (Efésios 3:16). Os verbos não denotam uma obra, mas um ato – algo feito de uma vez por todas. A expressão “segundo as riquezas da Sua glória” indica uma grande demonstração de poder e amor divinos. Eles possuíam o Espírito habitando neles. Paulo orou para que a intervenção direta do Pai lhes concedesse tal operação do Espírito, tamanha plenitude do Espírito, que a habitação de Cristo com Sua vida de amor que ultrapassa o entendimento fosse sua experiência pessoal.
No tempo do dilúvio, as janelas do céu e as fontes do abismo juntamente se abriram. O cumprimento da promessa do Espírito também é assim: “porque derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes” (Isaías 44:3). Quanto mais clara e mais profunda a nossa fé no Espírito de habitação, e mais simples nossa espera Nele, mais abundante será o derramamento renovado do Espírito do coração do Pai diretamente para o coração de Seu filho sedento.
Há outro aspecto no qual é essencial lembrarmos que esta plenitude vem pela fé. Deus ama revelar-se em um estado humilde e improvável, coberto de vestimentas de humildade, que Ele também espera que Seus filhos amem e vistam. “O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda”: somente a fé pode conhecer a glória que há nessa pequenez. De maneira semelhante o Filho habitou na terra e habita também o Espírito nos corações. Ele pede que creiamos Nele que não vemos ou sentimos nada. Creia que a fonte que jorra e flui em correntes está dentro de você, mesmo quando tudo parece estar seco. Separe tempo para retirar-se nos aposentos interiores do seu coração, e de lá elevar louvores e oferecer adoração a Deus na certeza da presença interior do Espírito Santo. Separe tempo para estar em quietude e perceber Sua presença; deixe que o próprio Espírito preencha o seu espírito com esta maravilhosa verdade: Ele habita em você. Não nos pensamentos e sentimentos em primeiro lugar, mas na vida – mais profunda do que ver e sentir, ela é o Seu templo, Seu lugar oculto de habitação. Assim que a fé percebe que possui aquilo de que precisa, ela pode suportar ser paciente e transbordar em ações de graças mesmo quando a carne murmuraria. A fé confia no Jesus invisível e no Espírito oculto. Ela pode acreditar naquela pequena e improvável semente. Ela pode confiar e dar glória a Ele que é capaz de fazer infinitamente mais do que aquilo que pedimos ou pensamos, e pode fortalecer o homem interior justamente quando tudo parece fraco e prestes a desmaiar. Cristão, não espere que a plenitude do Espírito venha em uma forma elaborada por sua razão humana, mas como a vinda do Filho de Deus sem beleza ou formosura, de maneira louca à sabedoria humana. Espere a força divina em grande fraqueza; humilhe-se para receber a sabedoria divina que o Espírito ensina; anseie por ser nada, porque Deus escolhe “as coisas que não são para envergonhar as que são”. Você aprenderá a não se gloriar na carne, mas no Senhor. Na profunda alegria de uma vida de obediência diária e simplicidade infantil, você conhecerá o que é ser cheio do Espírito.

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