E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; Falando
entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao
Senhor no vosso coração;
Efésios 5:18-19
Estas palavras são um mandamento. Elas nos ensinam não somente como
devem ser os apóstolos e ministros, mas qual deve ser a experiência consistente
de todo cristão genuíno. É um privilégio que todo filho de Deus pode pedir a
seu Pai – ser cheio do Espírito. Nada menos que isso irá capacitá-lo a viver a
vida para a qual ele foi redimido: habitar em Cristo, guardar os Seus
mandamentos e produzir fruto. Ainda assim, raramente este mandamento é contado
entre aqueles que devem ser guardados a qualquer custo! Alguns até mesmo pensam
que seja impossível ou pouco razoável que se espere que todos o cumpram.
Sem dúvida, uma razão é que estas palavras foram mal entendidas. Porque
no dia de Pentecostes, e outras ocasiões subseqüentes, o enchimento com o
Espírito foi acompanhado de manifestações sobrenaturais, esta condição foi
considerada inconsistente com a vida cristã normal. Estas manifestações, como o
falar em línguas e as chamas de fogo, foram tão ligadas com a idéia de ser
cheio do Espírito que muitas vezes se pensa que seja uma bênção possível apenas
para uns poucos. Os cristãos sentem que não devem ter expectativas tão altas,
mesmo que a bênção seja dada, seria impossível mantê-la.
A mensagem que eu gostaria de trazer a vocês, meus leitores, é que este
mandamento é para todos os crentes e que a promessa e o poder são tão certos
quanto a sua redenção. Que Deus nos de graça em nossa meditação em Sua Palavra não
somente para desejar esta bênção mas também para ter a certeza de que este
privilégio é designado para todos nós, e que o caminho para ele não é tão
difícil, e que o Espírito anseia em habitar no Seu povo.
Em países como a África do Sul, onde eu nasci e ministrei por muitos
anos, freqüentemente sofremos com a seca. Há dois tipos de represa ou
reservatório feitos para conter e armazenar a água. Em algumas fazendas há uma
fonte natural, mas a corrente muitas vezes é fraca demais para irrigar as
plantações. Então, um reservatório é construído para coletar a água, e o seu
enchimento é resultado do fluir silencioso e gentil da fonte dia e noite. Em
outras áreas, as fazendas não possuem fontes naturais, e assim o reservatório é
construído no leito de um córrego ou numa reentrância onde, quando a chuva cai,
a água pode ser coletada. Nestes locais, o enchimento do reservatório por uma
chuva forte muitas vezes acontece em poucas horas e é acompanhado por uma
correnteza ruidosa e violenta. O fluir silencioso da água na primeira fazenda
na verdade é mais seguro, porque, apesar de sem ruído, o suprimento é estável e
permanente. Em locais onde a chuva é escassa, um reservatório pode permanecer
vazio por meses ou até mesmo anos.
Isto pode ser comparado à maneira pela qual vem a plenitude do Espírito.
Assim como no dia de Pentecostes, alguns derramamentos do Espírito são
manifestações repentinas, poderosas e estrondosas. Estas são como os
reservatórios pluviais sendo cheios repentinamente. Em contraste, a silenciosa
presença do Espírito quando uma alma se converte é estável e segura ainda que
não seja tão facilmente identificada. A bênção é muitas vezes grandemente
dependente da comunhão com os outros ou se estende somente às correntes
superiores da vida da alma. O derramamento e enchimento repentinos, entretanto,
podem ser superficiais, as profundezas da vontade e da vida interior podem não
ser tocadas. Há outros que jamais estiveram presentes quando uma manifestação
tão notável do Espírito ocorreu, mas em quem a plenitude do Espírito é vista em
profunda devoção a Jesus, num caminhar na luz do Seu semblante e na consciência
de Sua presença, ou na vida inculpável de simples confiança e obediência. São
como Barnabé: um filho da consolação, um bom homem, e cheio do Espírito Santo.
Como as fontes silenciosas, o Espírito flui e alimenta a alma continuamente.
Qual dessas é a verdadeira maneira de ser cheio do Espírito? A resposta
é simples. Assim como existem fazendas com ambos os reservatórios mencionados,
assim também há indivíduos nos quais se percebe o enchimento estável do
Espírito, enquanto outros desfrutaram poderosas visitações do Espírito. O fluxo
regular, silencioso e diário da fonte mantém a fazenda suprida em tempos de
seca; em tempos de chuva, a que está equipada com grandes reservatórios está
pronta para receber e armazenar grandes suprimentos de água. Benditos são
aqueles que reconhecem a Deus em ambas e se mantêm prontos para ser abençoados
por qualquer maneira em que
Ele decida vir.
Quais são as condições para a plenitude do Espírito? A Palavra de Deus
tem uma resposta – fé. É somente a fé que vê e recebe o invisível e que vê e recebe
a Deus mesmo. A purificação do pecado e a rendição em amor à obediência, que
foram as condições da primeira recepção do Espírito, são o fruto da fé que vê o
que é o pecado, o que o sangue pode fazer, e o que a vontade e o amor de Deus
são. Mas não estamos falando desta experiência aqui.
Esta palavra é para cristãos que foram fiéis em obedecer, mas ainda não
receberam aquilo pelo que anseiam. Pela fé eles devem descobrir o que é que
deve ser lançado fora. O enchimento requer primeiro um vaso vazio. E não falo
aqui de purificação do pecado e rendição à plena obediência que são a salvação.
Esse é o primeiro passo essencial. Mas falo a cristãos que pensam ter feito o
que Deus requer e ainda assim não receberam a bênção da plenitude do Espírito.
Lembre-se, a primeira condição do enchimento é o esvaziamento. O que é um
reservatório, senão um grande espaço oco – um vazio – preparado, esperando,
ansiando pela vinda da água? A verdadeira plenitude permanente do Espírito é
precedida pelo esvaziamento. “Busquei a bênção
diligente e persistentemente,” disse alguém, “ e me perguntei porque ela
não vinha. Por fim descobri que era porque não havia espaço em meu coração para
recebê-la”. Neste esvaziamento existem vários elementos envolvidos: uma
profunda insatisfação com a “religião” que temos tido até agora. Uma profunda
consciência do quanto tem havido da sabedoria e obra da carne. Uma descoberta,
confissão e desistência de tudo o que é de governo próprio, em que o eu tem
tido o controle, de tudo em que não temos considerado necessário que Jesus seja
consultado e agradado. Uma profunda convicção da nossa inabilidade e
incapacidade definitiva de compreender ou obter aquilo que foi oferecido. E
finalmente uma rendição em pobreza de espírito esperando no Senhor por sua grande
misericórdia e poder. De acordo com as riquezas de Sua glória, Ele nos
fortalecerá pelo Seu Espírito no homem interior. Necessitamos de um grande
anseio, sede, espera e oração incessante para que o Pai cumpra a Sua promessa e
tome posse completa de nós.
Juntamente com isso, precisamos da fé que aceita, recebe e mantém o dom.
É pela fé em Cristo e no Pai que a divina plenitude fluirá para dentro de nós.
Sobre os mesmo efésios a quem foi dado o mandamento “enchei-vos do Espírito”, Paulo disse, “em Cristo, havendo crido, fostes selados com o Espírito Santo da
promessa”. O mandamento se refere ao que eles já haviam recebido. A fonte
estava dentro deles, mas precisava ainda ser aberta. Ela iria então borbulhar e
encher o seu ser. Ainda assim, isto não seria realizado em seu próprio poder.
Jesus disse, “aquele que crer em mim, do
seu interior fluirão rios de água viva”. A plenitude do Espírito é tão
verdadeiramente uma revelação de Jesus, que o recebimento Dele deve acontecer
na continuidade inquebrável de uma comunhão viva. O fluir incessante da seiva
Dele, a videira viva, deve ser conjugado a uma fé consistentemente humilde,
para que a liberação dessa fonte interior resulte da nossa completa dependência
de Jesus. Por nossa fé em Jesus – cujo batismo no Espírito tem um começo tão
claro quanto tem a Sua purificação no sangue – experimentaremos uma contínua
renovação em nossos próprios espíritos.
A fé em Jesus e o senso constante do Espírito não prescindem da fé no
dom do Pai e intercessão por um cumprimento renovado da Sua promessa. Pelos
efésios, que possuíam neles o Espírito como penhor de sua herança, Paulo ora ao
Pai: “para que, segundo as riquezas da
Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no
homem interior” (Efésios 3:16). Os verbos não denotam uma obra, mas um ato
– algo feito de uma vez por todas. A expressão “segundo as riquezas da Sua
glória” indica uma grande demonstração de poder e amor divinos. Eles possuíam o
Espírito habitando neles. Paulo orou para que a intervenção direta do Pai lhes
concedesse tal operação do Espírito, tamanha plenitude do Espírito, que a
habitação de Cristo com Sua vida de amor que ultrapassa o entendimento fosse
sua experiência pessoal.
No tempo do dilúvio, as janelas do céu e as fontes do abismo juntamente
se abriram. O cumprimento da promessa do Espírito também é assim: “porque
derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca; derramarei o meu
Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus
descendentes” (Isaías 44:3). Quanto mais clara e mais profunda a nossa fé
no Espírito de habitação, e mais simples nossa espera Nele, mais abundante será
o derramamento renovado do Espírito do coração do Pai diretamente para o
coração de Seu filho sedento.
Há outro aspecto no qual é essencial lembrarmos que esta plenitude vem
pela fé. Deus ama revelar-se em um estado humilde e improvável, coberto de
vestimentas de humildade, que Ele também espera que Seus filhos amem e vistam.
“O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda”: somente a fé pode conhecer
a glória que há nessa pequenez. De maneira semelhante o Filho habitou na terra
e habita também o Espírito nos corações. Ele pede que creiamos Nele que não
vemos ou sentimos nada. Creia que a fonte que jorra e flui em correntes está dentro
de você, mesmo quando tudo parece estar seco. Separe tempo para retirar-se nos
aposentos interiores do seu coração, e de lá elevar louvores e oferecer
adoração a Deus na certeza da presença interior do Espírito Santo. Separe tempo
para estar em quietude e perceber Sua presença; deixe que o próprio Espírito
preencha o seu espírito com esta maravilhosa verdade: Ele habita em você. Não nos
pensamentos e sentimentos em primeiro lugar, mas na vida – mais profunda do que
ver e sentir, ela é o Seu templo, Seu lugar oculto de habitação. Assim que a fé
percebe que possui aquilo de que precisa, ela pode suportar ser paciente e
transbordar em ações de graças mesmo quando a carne murmuraria. A fé confia no
Jesus invisível e no Espírito oculto. Ela pode acreditar naquela pequena e
improvável semente. Ela pode confiar e dar glória a Ele que é capaz de fazer
infinitamente mais do que aquilo que pedimos ou pensamos, e pode fortalecer o
homem interior justamente quando tudo parece fraco e prestes a desmaiar.
Cristão, não espere que a plenitude do Espírito venha em uma forma elaborada
por sua razão humana, mas como a vinda do Filho de Deus sem beleza ou
formosura, de maneira louca à sabedoria humana. Espere a força divina em grande
fraqueza; humilhe-se para receber a sabedoria divina que o Espírito ensina;
anseie por ser nada, porque Deus escolhe “as
coisas que não são para envergonhar as que são”. Você aprenderá a não se
gloriar na carne, mas no Senhor. Na profunda alegria de uma vida de obediência
diária e simplicidade infantil, você conhecerá o que é ser cheio do Espírito.
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