quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

SEU PODER DO COMEÇO AO FIM

Continuação do estudo do livro de Efésios.

Exposição sobre Efésios

CAPÍTULO 35

"E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que mani­festou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus." - Efésios 1:19-20
Eis a mais urgente questão prática para todos os cristãos:
Ü Estarí­amos cientes do fato de que o poder onipotente de Deus está agindo em nós? Compreenderíamos que somos única e inteira­mente pela graça e pelo poder de Deus? Damo-nos conta em nossas vidas e experiências pessoais de que é este extraordinariamente gran­de poder de Deus que explica tudo o que ocorre na vida cristã?
Volto a insistir nestas perguntas porque estou convencido de que o principal problema da maioria de nós é a nossa incapacidade de perceber a grandeza da salvação a que fomos levados, e que todos desfrutamos. Não se pode ler o Novo Testamento, e especialmente o livro mais lírico, que denominamos livro de Atos dos Apóstolos, e também as Epístolas, observando a sua terminologia, sem perceber que havia uma qualidade jubilosa, de fato emocionante, quanto aos cristãos primitivos, os cristãos do Novo Testamento. Vê-se isso claramente na Epístola aos Filipenses, o que num sentido é um gran­dioso refrão sobre o tema do regozijo:
"Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos" (Fp 4:4).
Regozijo é o tema do Novo Testamento todo:
Ü O propósito é que o cristão seja uma pessoa que se regozija;
Ü E, todavia, se formos sinceros, teremos que admitir que muitíssimas vezes não damos a impressão de regozijo, e sim de depressão.
Damos a impressão de que ser cristão é levar um grande fardo nos ombros e ter infindáveis preocupações, aborrecimentos e ansiedades. De fato, o mundo caricaturiza o cristão dessa maneira pelo que somos tão frequentemente. "Zombar dos prazeres e viver dias laboriosos" demasiadamente é a ideia do que a vida cristã é e significa. Indubitavelmente deve-se isso ao fato de que:
Ü Por alguma razão não nos damos conta da grandeza da nossa salvação. Não nos aperce­bemos da grandeza do que aconteceu conosco; ou da grandeza do que nos está acontecendo, o processo pelo qual estamos passando agora mesmo. E não compreendemos a grandeza da perfeição para a qual estamos indo e para a qual estamos sendo preparados.
Isso leva, não somente à falta de regozijo, mas também à ausência de um sentimento de encanto. Não se pode ler estas Epís­tolas de Paulo sem sentir constantemente que ele se admirava consi­go próprio. Vejam uma notável declaração dele na Epístola aos Gálatas:
"Vivo, não mais eu..." (Gl 2:20).
Paulo não pode entender a si próprio. Ele se tornou um enigma e um problema para ele próprio. Este assombro face a si próprio deve-se à sua compreensão do tre­mendo feito que Deus está realizando nele. Nós deveríamos ficar igualmente espantados com nós mesmos, e deveríamos pôr-nos de pé, olhar para nós mesmos e dizer: "Será possível? Será verdade a meu respeito? Todavia não eu, mas Cristo vive em mim". Essa é uma das melhores provas da nossa profissão de fé cristã.
Ü É devido nos faltar esse elemento que - para tomar emprestada a linguagem do apóstolo - não "resplandecemos como astros (como luzes) no mundo, no meio de uma geração corrompida e perversa" (Filipenses 2:15).
De um modo ou de outro, não captamos a ideia desta poderosa ação de Deus na salvação. Muitas e muitas vezes só pensamos nela em termos de perdão. Pensamos na vida cristã ape­nas como uma questão de saber que estamos perdoados, e então viver a vida cristã o melhor que pudermos. Omitimos o drama, a grandeza e a grandiosidade disso tudo, e especialmente este poder que o apóstolo está desejoso de que os efésios conheçam. Concebe­mos a vida cristã em termos que não postulam como necessidade absoluta "a excessiva grandeza do poder" do onipotente Deus. Con­tudo a vida cristã é isso.
Ao que parece, falta-nos esta concepção até quando considera­mos o próprio Senhor nosso. Não compreendemos a grandeza do que aconteceu quando Ele, o Filho de Deus, veio à terra. Porventura pensamos habitualmente nesse evento em termos do capítulo 2 da Epístola aos Filipenses, versículos 5-9 –
"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sen­do em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou­-se a si mesmo, sendo obediente ate à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome"?
Essa é a medida da salvação e do poder que estava envolvido em Cristo e em Sua obra. Parece que esquecemos que, quando Ele morreu na cruz, ofereceu-Se, como se nos diz na Epístola aos Hebreus, "pelo Espírito eterno" (9:14). Ficamos tão familiarizados com os fatos acerca da cruz e da morte do Senhor que parece que perdemos o senso do poder que estava envolvido ali. E quando chegamos à ressurreição do Senhor Jesus Cristo, aca­so compreendemos que ela foi a mais grandiosa manifestação da energia da força do poder de Deus que o mundo já conheceu? Segundo as Escrituras, nada senão o onipotente poder de Deus poderia ressuscitá-lO dentre os mortos e exaltá-lO à alta posição na qual Ele está neste momento, à direita de Deus. Esquecemos que Ele foi "declarado Filho de Deus em poder... pela ressurreição dos mortos" (Romanos 1:4).
Ü Parece que nos falta essa ideia de poder em todos os aspectos da vida cristã. É um milagre que exista um único cristão no mundo, ou que alguma vez tenha existido. Por natureza nenhum de nós creria ou poderia crer no evangelho; nada, senão o poder de Deus, pode fazer-nos crentes.
Mas é também por esse mesmíssimo poder que continuamos na vida cristã:
Ü Requer-se o mesmo poder que nos capacitou a crer, para capacitar-nos a simplesmente continuar na vida cristã.
Não seríamos capazes de resistir uma hora sequer na vida cristã, não fora este poder que está agindo em nós. Isso é verdade, apesar do fato de que temos em nós um novo princípio de vida, bem como uma nova mente e uma nova perspectiva. E quando pensarmos na perfeição à qual fomos destinados, deveria ser óbvio que, sem este poder de Deus, a nossa situação seria completamente sem espe­rança, se não tivéssemos nada senão a nossa própria força e poder.
Não há dificuldade em mostrar que o que o apóstolo ensina aqui, nesta Epístola, é fartamente confirmado por outras declarações que constam nas Escrituras. Fazemos isso, porque esta questão é vital para o nosso gozo da vida cristã.

Ü Se não conhecemos este poder, mais cedo ou mais tarde ficaremos deprimidos e infelizes, e começaremos a indagar se afinal somos cristãos; e depois começa­remos a indagar se poderemos continuar e por fim chegar à glória. O diabo logo nos desencorajaria completamente.
No capítulo 3 desta Epístola o apóstolo diz:
"Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera...'' (versículo 20).
Ou vejam a declaração que há na Segunda Epístola aos Coríntios, capítulo 5:
"Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus." (versículo 1).
Ü Caso morrêssemos ou fôssemos mortos, tudo estaria bem; isso nós sabemos!
Depois ele prossegue e diz:
"Quem para isto mesmo nos preparou foi Deus" (versículo 5).
Ü Fomos produzidos, fomos feitos, fomos modelados, fomos formados por Deus, pelo poder de Deus para este destino. Essa é a nossa esperança, aquilo em que descan­samos, a base da nossa segurança.

Depois há a declaração registrada na Epístola de Paulo aos Filipenses:
"Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade." (Filipenses 2:12-13).
No capítulo 3 da mesma Epístola o apóstolo nos diz que o seu maior desejo era, "conhecê-lo e à virtude (poder) da sua ressurreição" (versículo 10). Ele desejava conhecer mais e mais deste mesmo poder de Deus que se manifes­tou na ressurreição de Cristo. Esse mesmo poder está atuando agora nos crentes. O apóstolo Paulo, que dera largos passos em seu progresso na vida cristã, deseja conhecer acima de tudo mais o poder da ressurreição do seu Senhor. Diz ele: "Não que já a tenha alcançado"; mas deseja alcançá-la. Por isso esquece as coisas que atrás ficam, sua conversão inicial, sua primeira experiência, e prossegue "para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus". Essa é a sua oração por si e por todos os outros crentes.
Há ainda a notável declaração disso tudo no último capítulo da Epístola aos Hebreus:
"Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas, vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é agradável" (13:20-21).
Ü Aquele que deseja agir naqueles cris­tãos hebreus é "o Deus de paz, que tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo". É uma exata repetição do que vimos na passagem que estamos estudando em Efésios, capítulo 1, versículo 20. Somente Ele pode "aperfeiçoar-nos em toda a boa obra".

Mas vejam mais um exemplo, tomado do apóstolo Pedro. Diz ele que como cristãos fomos gerados de novo
"para uma viva espe­rança, pela ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação já prestes para se revelar no último tempo" (1Pe 1:3-5).
Ü Somos pelo poder de Deus; e sem isso não poderíamos resistir.
Pedro escreve também na sua Segunda Epístola:
"Visto com o seu divino poder nos deu o que diz respeito à vida e piedade" (1:3).
Ü O Seu "divino poder" deu tudo.

De igual maneira, o apóstolo João, escrevendo como ancião, próximo do fim da vida, para encorajar os cristãos que ele ia deixar para trás neste mundo cruel, e que estavam sendo um tanto abala­dos por falso ensino, falsa maneira de viver e falsas práticas, diz:
"Maior é o que está em vós do que o que está no mundo" (4:4).
Ü É unicamente o poder de Deus que pode segurar-nos e sustentar-nos, até chegarmos à glória.

Depois também podemos ver a bênção que consta no fim da Epístola de Judas:

"Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória...".

Ü E Ele não somente pode guardar-nos, impedindo que caiamos, mas efetivamente o está fazendo.

Acima de tudo, no entanto, vamos às palavras do nosso bendito Senhor. Já à sombra da cruz Ele ora ao Seu Pai, e eis a Sua oração:
"E eu já não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós" (João 17:11).
Diz Ele:
"Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal" (VA: "... que os guardes do maligno).
Ü Seu eterno coração de amor pensa neste pequeno grupo de crentes que Ele está prestes a deixar neste mundo mau, pecaminoso, e a Sua petição é: "Pai, guarda-os", pois se o Pai não os guardar, eles estarão perdidos.
Por que este poder é essencial? Por que é importante que conheçamos este excessivamente grande poder que está operando em nós? Há duas respostas principais, uma negativa, outra positiva.

1) Aspecto negativo:
O mundanismo
A primeira é que devemos conhecer e compreender este poder por causa do poder das forças que se põe contra nós. O cristão nesta vida e neste mundo é como o seu Senhor antes dele; e há certas coisas que ele tem que enfrentar. Ele tem que travar uma constante luta contra a mente e a perspectiva do mundo. Receio que muitos de nós não estão cientes do sutil poder do mundanismo - de tudo aquilo pelo que o mundo luta. Permitam-me citar de novo o apósto­lo João:
" 15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; 16 porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo." (1 João 2:15-16).
Nada é tão perigoso para a alma, por causa da sua sutileza, como o mundanismo com que nos deparamos a cada passo. Você começa isso com os seus jornais de manhã. Eles não se limitam a importantes notícias internacionais ou nacionais, a matérias de urgência e de crise, ou a ameaças de guerra, porém constantemente em suas notícias e opiniões sugerem luxúria, desejo e tudo o que se opõe aos mandamentos de Deus. A mesma influência perniciosa vê-se na interminável sucessão de livros e filmes de maneira muito sedutora e atraente.
A soberba da vida
Depois há o que o apóstolo descreve como "soberba da vida", tudo o que é representado pela "vida social", assim chamada, orgulho dos antepassados e de classe, e a pompa e a exibição exteriores. É tão agradável e tão encantador para o homem natural, e tanta gente boa participa nisso! Esta é certamente a maior luta que a Igreja Cristã tem que empreender na hora pre­sente. Houve um rebaixamento dos padrões morais em toda parte. Temos nos desviado para muito longe dos dias do puritanismo. A ilha entre a Igreja e o mundo é quase invisível, e o povo de Deus não sobressai mais em sua singularidade como outrora. O Novo Testamento está cheio de advertências acerca deste tremendo e sutil poder do mundo, que quer arrastar-nos para longe do Cristo em quem cremos, que quer fazer com que O neguemos na prática e quer reduzir-nos ao estado descrito pelas palavras:
"Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela" (2 Timóteo 3:5).
A carne
Não temos, porém, que lutar somente contra o mundo, mas também contra a carne. "Carne" nem sempre significa pecado gros­seiro; pode aparecer na forma de letargia e ociosidade. Como é fácil sentir-nos indispostos, física ou intelectualmente, para ler a Bíblia! Você sente um impulso para ler a Bíblia, mas diz: "Estou cansado, tive um dia pesado no escritório, minha mente não está boa para isso, e não é direito ler as Escrituras quando não se está nas melhores condições; por isso vou ler o jornal agora, mais tarde lerei as Escrituras, quando me sentir renovado e melhor". O resultado é que você var dormir sem ter lido as Escrituras. Temos que travar uma constante batalha contra a letargia e a preguiça, e contra a igualmente sutil tentação para a procrastinação. São instrumentos que o diabo usa para estorvar o nosso progresso.

As condições físicas

Depois há a luta contra as condições físicas, como saúde enfer­ma: Se vocês lerem as vidas dos santos, verão que os homens que mais realizaram neste mundo muitas vezes eram homens que foram obrigados a lutar muito contra alguma fraqueza ou doença física. Contem quantos livros estão sob o nome de João Calvino, por exemplo. Todos aqueles comentários das Escrituras, e outras obras, foram produzidos por um homem que foi um mártir a vida inteira, padecendo asma e indigestão crônica, e que morreu com a idade de 55 anos. Mas nós temos a tendência de fazer das nossas fraquezas físicas uma desculpa. Tudo isso mostra que, se não fosse o poder de Deus, nunca faríamos coisa alguma, não resistiríamos nem por um momento, estaríamos arruinados.
A força dos hábitos
Considerem a seguir a força dos hábitos. Vocês entraram na vida cristã sabendo da regeneração e tendo a experiência dela. Vocês se regozijaram com a declaração de que "as coisas velhas já passa­ram; eis que tudo se fez novo" (2 Coríntios 5:17). Mas o novo convertido logo descobre que estas coisas não significam exatamente o que ele pensava que significavam. É o seu entendimento que está em falta, encorajado, talvez, por uma falsa evangelização. Ele começa a ver que há certos hábitos de há muito arraigados ne1e e que são muito difíceis de romper. Os hábitos tendem a persistir e a velha natureza não é aniquilada. Ela continua ali, e ele tem que lidar com ela. Recebemos ordem para mortificar "as obras do corpo" (Romanos 8:13). Os maus hábitos não desaparecem todos subita­mente da nossa vida. Deus, em Sua graça, pode remover alguns deles, e às vezes o faz, porém deixa outros. A força do hábito é um poder terrível, tão grande que não há nada, exceto o poder de Deus, que possa livrar-nos e preservar-nos contra ele. Apesar de termos uma nova mente, uma nova perspectiva e um desejo de viver a nova vida, certos hábitos tendem a impedir-nos, Somente o poder de Deus pode habilitar-nos a vencê-los.
O diabo
Depois há o diabo. Às vezes penso que a nossa falha em não nos darmos conta da extraordinária grandeza do poder de Deus deve-se ao fato de que nunca nos damos conta do poder do diabo. Quão pouco falamos sobre ele! E, contudo, no Novo Testamento as suas atividades são mencionadas enfaticamente! Se tão-somente compreendêssemos algo do poder do diabo, faríamos esta oração que Paulo elevou em favor dos efésios, no sentido de que "os nossos olhos fossem abertos para vermos a grandeza do poder de Deus" em nós. A Bíblia ensina que o poder do diabo só vem em segundo lugar depois do de Deus. O poder do diabo mostra-se terrivelmente claro na história de Adão e Eva. Ambos eram perfeitos. O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus; estava em comunhão com Deus, falava com Deus, conhecia a Deus. Além disso, ele estava no Paraíso - ambiente perfeito. Ele nunca tinha pecado, e não havia nele nada que o arrastasse para baixo - nenhuma cobiça, nenhuma corrupção. Fora dada a ele uma justiça original; ele se mantinha íntegro, e na verdade era um reflexo de Deus. E, apesar disso, ele caiu; e caiu por causa do poder e da astúcia do diabo. Todavia, muitos cristãos consideram o diabo quase como uma cria­tura de brinquedo, e podem até negar a sua existência. Por isso eles não se dão conta da sua necessidade deste poder de Deus. Adão, o homem perfeito, foi derrotado e derrubado por este inimigo pode­roso. Judas nos diz em sua Epístola que o poder do diabo é tão grande que até o arcanjo Miguel, quando contendia com ele acerca do corpo de Moisés, "não ousou pronunciar juízo de maldição con­tra ele; mas disse: o Senhor te repreenda" (versículo 9). O arcanjo sabia do poder do diabo. O apóstolo Pedro escreve: "O diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, bus­cando a quem possa tragar" (l Pedro 5:8). Porventura sabemos disso, como o apóstolo Paulo sabia, e como ele no-lo faz lembrar no versículo 12 do capítulo 6 desta Epístola aos Efésios:
"Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, e potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais"?
Por causa destas coisas precisamos ser iluminados com relação ao poder de Deus operante em nós. Nenhuma outra coisa pode capacitar-nos a resistir contra as ciladas do diabo.

2) Aspecto Positivo

Cristo nos chama para guardarmos os Seus mandamentos

Até aqui estivemos examinando o nosso problema negativa­mente. O lado positivo é que somos chamados para guardar os mandamentos de Deus. Cristo nos chama para guardarmos os Seus mandamentos. O propósito a nosso respeito é que honremos os Dez Mandamentos e a Lei Moral de Deus –
"Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segun­do o espírito" (Romanos 8:4).
Ü Somos chamados para obedecer a essa Lei Moral de Deus; somos chamados para viver de acordo com o ensino do Sermão do Monte; somos chamados para tomar a cruz e seguir a Cristo no "caminho estreito", e viver como Ele viveu. É essa a nossa vocação:
"Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5:48).
O capítulo 13 da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios também é uma descrição do que fomos destinados a ser. Não fomos destinados simplesmente a crer que os nossos pecados estão perdoados, e então procurar algum poder de Deus para viver uma vida virtuosa.
É quando compreendemos a natureza da nossa elevada vocação que começamos a entender o capítulo 7 da Epístola aos Romanos:
"O querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Miserável homem que eu sou!" (versículos 18,24).
Somente então nos vemos cantando de coração, não meramente com os lábi­os, o hino de Augustus Toplady -
O labor de minhas mãos
Não pode cumprir Tua lei;
Nem meu incansável zelo,
Nem meu incessante choro
Podem pecado expiar;
Só Tu salvas, Tu somente.
Devemos entender claramente o que o apóstolo está pedindo em oração para os efésios:
Ü Não é que percebam a sua necessidade de poder, e então que o peçam a Deus; ele ora no sentido de que eles compreendam que este poder está neles.
O conceito sobre o cristão que o retrata como alguém que pode ter vivido anos sem este poder de Deus, e de repente chega a perceber a sua necessidade e procura seu atendimento e o obtém, é um conceito antibíblico.
Ü Você não poderá ser cristão nem por um momento, se o poder de Deus não o sustentar.
Permitam-me sugerir um paralelo. Muitos parecem pensar na criação natural nestes termos: acreditam que Deus criou o mundo no princípio, e depois (para usar a velha ilustração), como faz o fabricante de relógios com um relógio, tendo feito o mundo, deu-lhe corda e o deixou continuar funcionando por si. Mas isso não é verdade. Segundo o ensino da Bíblia, Deus fez este mundo e o sustenta todos os momentos. Se Deus retirasse o Seu poder, o mundo entraria em colapso imediatamente; é o Espírito de Deus que dá vida, existência e sustento, a todas as coisas. Dá-se precisa­mente o mesmo na nova criação. É uma falácia completa pensar que Deus cria um homem novo, e depois o deixa entregue a si mes­mo; e que esse homem, quarenta ou cinquenta anos mais tarde, talvez se dê conta da sua necessidade de poder e o peça. Ele não poderia resistir por um momento, não fosse este poder de Deus que nele está. É a nossa compreensão disso que varia; entretanto:
Ü Desde o momento em que Deus põe Sua mão sobre um homem e o leva ao novo nascimento e à nova vida, Ele continua a exercer este poder nele.
O modo como o Seu poder opera em nós é exposto pelas pala­vras de Paulo aos filipenses, quando ele diz:
"Deus é o que opera em nós tanto o querer como o efetuar" (Filipenses 2:13).
Ü O poder de Deus se manifesta e opera em nós por meio da Palavra escrita e por meio do Espírito Santo.
Ele opera em minha personalidade, afeta a minha vontade, e cria desejos e anseios dentro de mim. Repentina­mente sinto o desejo de ler a Palavra, ou de orar a Deus. É resultado da operação de Deus o Espírito Santo gerando uma oração, ou me estimulando a alguma outra atividade. Ele está constantemente esti­mulando a minha vontade e me dando poder para agir. Como Isaac Watts nos lembra, "O Seu poder subjuga os nosso pecados". Ele está operando em nós constantemente; o seu Espírito "sopra sobre a Palavra" e ilumina o nosso entendimento, que, por sua vez, en­ternece os nossos corações e estimula as nossas vontades. O que precisamos compreender é que:
Ü Deus está operando, e que às vezes, mesmo quando não sabemos disso, Ele está operando.
Além disso:
Ü Se ignorarmos os Seus impulsos, as Suas solicitações e a Sua dire­ção, de repente poderemos ver-nos castigados por Deus. Então nos despertaremos para o fato de que nos esquecemos dEle e da nossa necessidade da Sua força e poder; e voltaremos para Ele e começaremos a orar pedindo perdão e forças. Esse é outro aspecto da operação de Deus em nós.
"Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo" (Hebreus 10:31).
Se vocês são filhos, diz o autor da Epístola aos Hebreus, estejam preparados para castigos. Se vocês têm em si a vida de Deus, se Ele começou em vocês a "boa obra", Ele não desistirá, Ele a levará à perfeição. Se vocês não se deixarem levar por Ele, serão levados à força; se recusarem ser induzidos e atraí­dos, serão castigados. Deus quer o nosso aperfeiçoamento, e Ele não Se deterá por nada menos que isso. A obra continuará, o poder de Deus continuará sendo exercido em nós até ficarmos sem defei­to; até que nos tornemos todos uma "igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante". Ele quer que sejamos santos e sem mancha em Sua presença.
Poderia haver algo mais importante para nós do que conhecer isso tudo? Estamos nas mãos de Deus, e Ele está operando em nós. Ele nos deu poder para crer, Ele está agindo em nós agora, modelando-nos, amoldando-nos, aperfeiçoando-nos. Não podemos fugir disso; estamos em Suas mãos, e ele continuará realizando a obra. Bendito seja o Seu nome!
Ah, se pudéssemos conhecer isto mais e mais, e compreender o alto privilégio da nossa vocação, a maravilha, o milagre desta nova vida que nos vem, toda ela, de Deus e por Deus. O meu conforto, a minha consolação, a minha força, a minha segurança, é saber que Deus está agindo em mim; e que Ele nunca cessará de agir em mim, até quando eu estiver diante dEle na glória.

Fonte: D.M Lloyd Jhones

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