"Orarás o teu Pai, que está em
secreto."
“Tu, porém, quando
orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em
secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”. - Mateus 6.6
Após chamar Seus primeiros
discípulos, Jesus lhes transmitiu Seu primeiro ensino público no Sermão da Montanha.
Explicou-lhes sobre o reino de Deus, suas leis e sua vida. Nesse reino, Deus
não é apenas Rei, mas Pai; Ele não apenas dá tudo, mas Ele mesmo é tudo.
Somente no conhecimento d'Ele e no relacionamento com Ele temos essa
bem-aventurança. Por esta razão, era natural que a revelação da oração e a vida
de oração fossem parte de seu ensino a respeito do Novo Reino que Ele veio
estabelecer. Moisés não deu mandamento nem regras sobre oração, e mesmo os
profetas fazem pouca menção sobre o dever de orar; é Cristo quem ensina a orar.
E a primeira coisa
que o Senhor ensina aos Seus discípulos é que eles devem ter um lugar secreto
para oração; cada um deve ter algum lugar de refúgio onde possa estar sozinho
com seu Deus. Todo professor deve ter uma sala de aula. Aprendemos a conhecer e
aceitar Jesus como nosso único professor na escola de oração. Ele já nos
ensinou em Samaria que a adoração não está mais limitada a tempo e lugar; que a
adoração, a verdadeira adoração espiritual, é algo de espírito e vida; o homem
deve, com todo o seu ser e por toda sua vida, adorar em espírito e em verdade.
E mais: Ele quer que cada um escolha para si um lugar específico onde Ele possa
diariamente encontrá-lo. Este quarto secreto ou lugar solitário é a sala de
aula de Jesus. Esse espaço pode ser em qualquer lugar; pode mudar de um dia
para outro se tivermos de mudar nossa residência; mas esse lugar secreto tem de
ser um tempo tranqüilo em que o aluno se coloca na presença do Mestre para ser
preparado por Ele para adorar o Pai. Somente lá, esteja certo, Jesus vem para
nos ensinar a orar.
Um professor sempre
anseia que sua sala de aula seja alegre e atraente, cheia de luz e ar
celestial, um lugar onde os alunos desejam vir e amam estar. Em Suas primeiras
palavras sobre oração no Sermão da Montanha Jesus procura apresentar-nos um
quadro do quarto secreto o mais atraente possível. Se ouvirmos cuidadosamente,
logo notaremos que o assunto principal que Ele tem a nos dizer é sobre nossa
permanência lá. Três vezes Ele usa o nome do Pai:
·
"Orarás a teu Pai";
·
"Teu Pai te recompensará";
·
"Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes
necessidade".
A primeira coisa no
quarto de oração é: eu preciso encontrar meu Pai. A luz que brilha no quarto
deve ser: a luz do semblante do Pai. O ar fresco do céu com o qual Jesus o
encherá e a atmosfera pela qual vou respirar e orar são: o amor de Deus Pai e
sua infinita Paternalidade. Assim
cada pensamento ou petição que emitirmos serão simples, sinceros, de uma
confiança infantil no Pai. É assim que o Mestre nos ensina a orar: Ele nos
introduz na presença viva do Pai. Nossa oração deve ser eficaz. Ouçamos atenciosamente
o que o Pai tem a nos dizer.
Primeiro, "orarás a teu Pai, que está em secreto". Deus é um
Deus que Se oculta do olho carnal. Em nossa adoração a Deus, enquanto nos
ocuparmos principalmente com nossos próprios pensamentos e exercícios não
encontraremos Aquele que é Espírito, o Invisível. Mas àquele que se afasta de
tudo que é do mundo e do homem e se prepara para esperar somente em Deus, o Pai
Se revelará. À medida que renuncia, desiste e exclui o mundo, e a vida do
mundo, e se entrega para ser guiado por Cristo na presença secreta de Deus, a
luz de amor do Pai virá sobre ele. A intimidade do quarto secreto e da porta
fechada, a total separação de tudo que nos cerca, é uma imagem, e também uma
ajuda, daquele santuário espiritual interior, o segredo do tabernáculo de
Deus, dentro do véu, onde nosso espírito verdadeiramente entra em contato com o
Deus invisível.
E assim somos
ensinados, bem no início de nossa busca do segredo da oração eficaz, a lembrar
que ele está no quarto secreto; onde ficamos a sós com o Pai, que nos ensinará
a orar corretamente. O Pai está em secreto: com essas palavras Jesus nos ensina
onde Ele está nos esperando, onde Ele pode ser sempre achado.
Os cristãos muitas
vezes reclamam que a oração individual não é o que deveria ser. Sentem-se
fracos e pecadores, com o coração frio e pesado; como se tivessem tão pouco
para orar, e naquele pouco nenhuma fé ou alegria. Eles estão desencorajados e
impedidos de orar porque pensam que não podem ir ao Pai como deveriam ou como
desejariam.
Filho de Deus, ouça
seu Professor! Ele lhe diz que quando você vai orar sozinho seu primeiro
pensamento deve ser: o Pai está em secreto, o Pai me espera lá. Mesmo que seu
coração esteja frio e sem vontade de orar, entre na presença do Pai amoroso.
Como um pai se compadece de seu filho, assim o Senhor Se compadece de você.
Não pense no pouco
que tem para oferecer a Deus, mas no quanto Ele lhe quer dar. Apenas se coloque
diante d'Ele e contemple Sua face; medite no Seu amor, nas Suas maravilhas,
na Sua ternura e amor compassivo. Apenas diga a Ele como tudo é pecaminoso, frio e
pesado: é o coração amoroso do Pai que iluminará e aquecerá o seu.
Faça o que Jesus
disse: feche a porta do quarto e ore a seu Pai que está em secreto. Não é
maravilhoso, ser capaz de ficar sozinho com Deus, o Deus infinito, e depois
erguer os olhos e dizer: meu Pai?
"... e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará." Aqui Jesus nos assegura que a oração secreta não pode
ser infrutífera: sua bênção se manifestará em nossa vida. Se tão somente em
secreto, sozinhos com Deus, confiarmos a Ele nossa vida diante dos homens, Ele
nos recompensará abertamente. Ele cuidará para que a resposta à oração se
manifeste por meio de Sua bênção sobre nós. Desta forma, nosso Senhor nos
ensina que é por Sua infinita Paternalidade
e Fidelidade que Deus nos encontra em
secreto, de forma que cabe a nós ter a fé simples de uma criança, a confiança
de que nossa oração traz a bênção até nós. Aquele que se aproxima de Deus deve
crer que Ele é o galardoador daqueles que O buscam. Não que a bênção do quarto
secreto dependa do sentimento forte ou fervoroso com que eu oro, mas do amor e
do poder do Pai a quem eu confio minhas necessidades. E assim o Mestre tem
apenas um desejo: lembrar que seu Pai está, vê e ouve em secreto; vá e
permaneça lá, e saia de lá com esta confiança: Ele o recompensará. Confie n'Ele
para isso; dependa d'Ele: a oração para o Pai nunca é vã; Ele o recompensará
abertamente.
Para confirmar ainda
mais essa fé no amor paterno de Deus, Cristo faz uma terceira declaração:
"Porque Deus, o vosso Pai, sabe o de
que tendes necessidade, antes que lho peçais". À primeira vista pode
parecer que esse pensamento torna a oração menos necessária: Deus sabe melhor
do que nós o que precisamos. Mas à medida que adquirirmos um discernimento mais
profundo do que realmente é a oração, essa verdade ajudará, e muito, a
fortalecer nossa fé. Ela nos ensinará que não necessitamos, como os gentios,
com a multidão e urgência de nossas palavras, convencer um Deus indisposto a
nos ouvir. Ela conduzirá a uma santa meditação e silêncio na oração como sugere
a pergunta: meu Pai realmente sabe que eu necessito disso? Ela nos dará - uma
vez que já fomos conduzidos pelo Espírito à certeza de que nossa petição é de
fato, de acordo com a Palavra, uma necessidade para a glória de Deus - uma
maravilhosa confiança para dizer: meu Pai sabe que eu preciso disso
e devo ter isso. E se houver qualquer demora na resposta, essa verdade nos
ensinará a afirmar em tranqüila perseverança: Pai, tu bem sabes que eu preciso
disso. Ó, a bendita liberdade e simplicidade de um filho que Cristo, nosso
Professor, quer cultivar de bom grado em nós à medida que nos achegamos a
Deus. Ergamos os olhos para o Pai até que Seu Espírito opere isso em nós.
Algumas vezes em nossas orações, quando corremos o risco de estar tão ocupados
com nossas fervorosas e insistentes petições, a ponto de esquecermos que o Pai
sabe e ouve, vamos permanecer quietos e apenas mansamente dizer: meu Pai vê, meu Pai ouve, meu Pai sabe.
Isso ajudará nossa fé a receber a resposta e a dizer: sabemos que temos
recebido o que Lhe pedimos.
E
agora, você que entrou na escola de Cristo para aprender a orar, pegue essas
lições, pratique-as e confie n'Ele para seu aperfeiçoamento nelas. Gaste tempo
no quarto secreto, com a porta fechada - fechada para os homens e fechada com
Deus; é lá que o Pai espera por você, é lá que Jesus o ensinará a orar. Estar a
sós em secreto com o Pai: isso deve ser sua
maior alegria. Estar certo de que o Pai recompensará abertamente a oração secreta,
de modo que ela não pode ficar sem ser abençoada: essa será sua força dia após
dia. E saber que o Pai sabe que você
necessita daquilo que pede: essa será sua liberdade para apresentar cada
necessidade, na certeza de que nosso Deus a suprirá de acordo com Suas riquezas
em glória em Cristo Jesus.
"SENHOR, ensina-nos a orar."
Extraído do livo: Com Cristo na escola da oração.